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SANTOS, M. F. S.. A teoria das representações sociais. In: Maria de Fátima de Souza Santos e
Leda Maria de Almeida. (Org.). Diálogos com a teoria das representações sociais. 1 ed. Recife:
Ed. Universitária da UFPE/Ed. Universitária da UFAL, 2005, v. 1, p. 13-38.
A Teoria das Representações Sociais
Maria de Fátima de Souza Santos
Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de Psicologia/
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social
1 – A Psicologia Social Clássica X Psicossociologia: contexto histórico.
A Psicologia Social moderna teve seu desenvolvimento, sobretudo, nos Estados
Unidos, onde predominava naquele momento a corrente behaviorista que tinha o
comportamento humano como objeto de estudo.
Na Europa, os primeiros psicólogos sociais, como Tarde e Le Bon, ao estudar os
fenômenos de massa e de influência deram ênfase aos fatores emocionais, inconscientes,
irracionais do comportamento. E, como afirma Moscovici (1986, p. 38) “suas teorias se
fizeram aclamar nos meios reacionários e encontraram sucesso em particular nos meios
nazistas. Não é nada surpreendente que os psicólogos sociais notadamente os sábios
alemães como Lewin (1951) e Asch (1952) tivessem protestado contra esta maneira de
abordar o comportamento e as relações sociais”.
Com a Segunda Guerra Mundial eclodindo na Europa, há uma forte migração de
cientistas alemães e austríacos para os Estados Unidos, tais como Lewin e Asch,
desenvolvendo-se naquele país uma Psicologia Social que tinha a preocupação de trazer a
consciência para o centro do debate. A Psicologia Social naquele momento tira o foco do
comportamento e traz para a discussão os processos mentais subjacentes. Utilizando a
expressão consagrada na Gestalt, poderíamos dizer que a mente humana, através dos
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estudos dos fenômenos cognitivos, passa a ser "figura" para esses pesquisadores. É nesse
quadro que se desenvolve, nos EUA, os estudos sobre atitudes, influência social e
percepção social que se tornaram a marca de uma Psicologia Social denominada
"americana", ou como afirma Farr (1998, p.28) uma “psicologia social psicológica”.
“Emerge desses estudos uma visão de homem, animal racional. Doravante, o
comportamento e o pensar humanos foram estudados em um quadro social” (Moscovici,
1986, p. 38).
Uma das teorias de maior destaque nessa perspectiva é a Teoria da Dissonância
Cognitiva de Festinger. Moscovici (1986, p.39) afirma que “No período em que as atitudes
(e a influência social!) almejavam um lugar central na pesquisa, o homem foi, geralmente,
considerado como um animal racional. Mas, a teoria da dissonância cognitiva o revela
como uma criatura mais racionalizante que racional”.
Moscovici (1986, p 40) afirma que naquele momento há uma restrição do campo de
investigação da Psicologia Social e o foco recai sobre o indivíduo. “As relações entre
grupos foram substituídas pelas relações entre pessoas, a atenção que se tinha ao grupo foi
substituída pela atenção aos indivíduos”.
Em seguida, a relação com o outro é reintroduzida e a cognição social passa a ser o
foco de interesse dos psicólogos sociais americanos. É o momento da proliferação de
estudos sobre a percepção social e investigação sobre a análise das informações que o
indivíduo tem sobre o outro, a maneira que ele caracteriza esse outro e infere sua dimensão
psicológica. Sobre essa abordagem da psicologia social, Moscovici faz duas críticas: por
um lado, tudo é enfocado a partir das micro-relações. Por outro lado, o homem deixa de ser
considerado, nessa perspectiva, como um animal racional e passa a ser concebido como
"uma máquina pensante". Uma máquina, entretanto, imperfeita, que comete erros, não
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processa as informações corretamente. Uma máquina que "não reproduz o cérebro do sábio
profissional, mas o cérebro do sábio ingênuo”.(Moscovici, 1986, p.41)
Essa concepção do saber popular como um saber menor, porque não segue uma lógica
formal, está presente nas ciências humanas há longos anos. Encontramos concepções
semelhantes na Sociologia, na Antropologia (com o estudo das chamadas "culturas
primitivas") e na Psicologia. Baseada em uma perspectiva evolucionista, tudo se passa
como se o pensamento seguisse naturalmente uma evolução: do raciocínio pré-lógico,
fragmentado, ao raciocínio lógico, formal. Esse é um dos pressupostos que a teoria das
representações sociais vem romper. Moscovici opõe-se à natureza individual da psicologia
social e busca resgatar as dimensões culturais e históricas na pesquisa psicossocial.
A concepção de sujeito subjacente às propostas teóricas de Moscovici é a de um
sujeito ativo, construtor da realidade social e nela construído. Para ele, o sujeito não é um
simples processador de informações externas ou produto de uma realidade exterior a ele. O
sujeito é ativo no processo de apropriação da realidade objetiva, isto é, ele “remodela e
categoriza as informações as quais ele é confrontado e o faz no contexto de um conjunto de
relações com outros indivíduos e, é claro, a respeito de objetos ´socialmente importantes`
para ele.” (Bonardi & Roussiau, 1999, p. 22).
2 - A Diversidade do Conhecimento
Um dos grandes problemas que se coloca para nós, que estudamos a área das
ciências humanas e sociais, é saber como o homem compreende e se relaciona com a
realidade (física e social), como ele interpreta e dá sentido ao mundo em que vive.
Vários são os modos através dos quais o ser humano produz conhecimento.
Tomemos como exemplo a questão da origem do universo, podemos observar que há
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explicações - verdadeiras teorias - no âmbito da religião, teorias construídas no âmbito das
ciências e várias outras teorias populares, isto é, explicações no âmbito do senso comum.
São conhecimentos produzidos pelo homem na sua busca de respostas às questões que ele
se coloca na sua relação com o mundo. Tais conhecimentos se constituem em conjuntos de
conceitos articulados fornecendo um modelo de explicação teórica. Dentre as várias formas
de conhecimento vamos nos deter aqui no conhecimento produzido pelo senso comum, o
conhecimento popular.
Antes, porém, devemos nos perguntar o que diferencia o conhecimento popular do
conhecimento científico? Como um conhecimento da realidade é considerado científico e
diferenciado de outras formas de conhecimento, tais como o conhecimento religioso, o
conhecimento do senso comum? Como, um conjunto de proposições teóricas pode ser
considerado um Conhecimento Científico?
Entramos, portanto, no primeiro ponto de nossa discussão:
3 - Conhecimento científico X Conhecimento do senso comum
Uma teoria científica é uma forma de conhecimento da realidade com características
próprias. Ela reúne um conjunto de hipóteses e conceitos, articulados em um sistema
dedutivo de modo a que algumas dessas hipóteses sejam premissas e as outras a sucedam
logicamente.
Segundo Duarte Junior (2002) “uma teoria científica é um modelo construído para
representar determinado aspecto da realidade, dentro de seu campo específico de
significação” (p. 92).
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Existem duas características fundamentais nas modernas teorias científicas: sua
estreita ligação com a observação, logo com a pesquisa, e o seu caráter provisório.
Por um lado, a pesquisa contribui para o desenvolvimento de uma teoria
esclarecendo conceitos. Por outro lado, a teoria é, como afirma Bourdieu (1989, p.60) "um
modus operandi que orienta e organiza a prática científica".
O segundo ponto que nos chama a atenção, é o caráter provisório de uma teoria.
Atualmente, a teoria científica não é mais considerada como uma explicação definitiva,
uma formulação estática, uma verdade única. Uma de suas características é, ao contrário, a
possibilidade de modificação, já que ela é vista como uma explicação provisória dentro de
uma perspectiva específica. Como afirma Bourdieu:
A procura da originalidade a todo custo, freqüentemente facilitada pela
ignorância e a fidelidade religiosa a este ou àquele autor canônico que leva à
repetição ritual, impedem uma e outra, a justa atitude para com a tradição
teórica, que consiste em afirmar, ao mesmo tempo, a continuidade e a ruptura,
a conservação e a superação, em se apoiar em todo pensamento disponível
sem temer acusação de seguidismo ou de ecletismo, para ir além dos
antecessores, ultrapassados assim por uma utilização nova dos instrumentos
para cuja produção eles contribuíram." (Bourdieu, O poder simbólico, 1989,
p. 63)
Se considerarmos a teoria científica não como verdade acabada, mas como uma
explicação provisória, podemos admitir também a possibilidade de outras explicações
possíveis, de outros modelos a serem adotados.
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Adotar uma postura teórica é, pois, ter um guia de conduta para abordar o
problema estudado, dentre os inúmeros guias existentes. É também admitir os limites e
contribuições do modelo adotado. Uma teoria busca explicar um fenômeno ou conjunto de
fenômenos, delimitando, pois, o tipo de problema a ser investigado. Além disso, ela
delimita também as formas de abordar o problema. Por exemplo, se pretendemos estudar
atitudes adotando uma perspectiva comportamentalista, não podemos utilizar o método
clínico para abordar esse problema. Se estudo a representação social de um objeto qualquer
não posso utilizar os batimentos cardíacos ou apenas a reação galvânica da pele para
elucidar minha questão.
A metodologia escolhida é, portanto, conseqüência do modelo teórico adotado e
possibilita a relação prática com o objeto a ser estudado.
Existem, entretanto, outros modos de conhecer a realidade. Somos, como afirma
Moscovici (1988) uma "maioria de leigos" em um mundo que valoriza o conhecimento
científico.
Para este autor, no mundo contemporâneo o conhecimento científico e o
conhecimento do senso comum caracterizam-se por uma polarização que é conseqüência de
uma “sociedade bifurcada: uma minoria de especialistas e uma maioria de amadores,
consumidores do conhecimento absorvido através de uma educação sucinta ou através da
mídia. A oposição entre o pensamento standard e o que não o é, entre o pensamento
instruído do científico e o pensamento ‘ingênuo’ do homem da rua é, definitivamente,
menos de ordem lógica ou orgânica do que de ordem social”. (Moscovici, 1988, p. 541).
Para Moscovici, o conhecimento do senso comum não se contrapõe ao
conhecimento científico. Ele se inscreve numa outra ordem de conhecimento da realidade, é
uma forma de saber diferenciado tanto no que se refere a sua elaboração como na sua
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função. Enquanto o conhecimento científico é construído a partir de passos formalmente
delimitados (que envolvem a formulação de hipóteses, a observação e/ou experimentação
do objeto de estudo, a sua validação, comprovação ou interpretação, a previsão e aplicação
dos resultados) e tem como função principal conhecer a natureza e dominá-la, o
conhecimento do senso comum é elaborado a partir dos processos de objetivação e
ancoragem, segue uma lógica natural, e tem como funções orientar condutas, possibilitar a
comunicação, compreender e explicar a realidade social, justificar a posteriori as tomadas
de posição e as condutas do sujeito, e uma função identitária que permite definir
identidades e salvaguardar as especificidades dos grupos.
São, pois, formas de conhecimento de natureza diferente, construídos por processos
diversos e cada um deles com funções específicas. Iremos nos deter aqui no conhecimento
do senso comum e, mais especificamente, nas proposições contidas na teoria das
Representações Sociais.
4 – A Teoria das Representações Sociais
A primeira questão a ser esclarecida é que a expressão “representações sociais”,
utilizada na Psicologia Social, refere-se freqüentemente, ao mesmo tempo, à teoria e ao
objeto por ela estudado. Falar em representações sociais é remeter-se ao conhecimento
produzido no senso comum. Porém, não a todo e qualquer conhecimento, mas a uma forma
de conhecimento compartilhado, articulado, que se constitui em uma teoria leiga a respeito
de determinados objetos sociais. Por sua vez, falar na teoria das representações sociais é
referir-se a um modelo teórico, um conhecimento científico que visa compreender e
explicar a construção desse conhecimento leigo, dessas teorias do senso comum. Temos,
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portanto a teoria das representações sociais que visa compreender o fenômeno das
representações sociais.
É importante, aqui, ressaltar que a proposta contida na teoria das representações
sociais refere-se ao estudo de um fenômeno específico e delimitado: as teorias do senso
comum. Estas teorias são conjuntos de conceitos articulados que têm origem nas práticas
sociais e diversidades grupais cujas funções é dar sentido à realidade social, produzir
identidades, organizar as comunicações e orientar as condutas. Não é, portanto, todo e
qualquer conhecimento do senso comum que pode ser denominado de representação social.
Para gerar representações sociais o objeto deve ser polimorfo, isto é, passível de assumir
formas diferentes para cada contexto social e, ao mesmo tempo, ter relevância cultural para
o grupo. Como afirma Sá (1994, p. 42), só há representação social quando “o objeto se
encontra implicado, de forma consistente, em alguma prática do grupo, aí incluída a da
conversação e a da exposição aos meios de comunicação de massa”.
Comunicação e representação social são, portanto, inseparáveis, interdependentes.
Como afirma Moscovici (2003, p. 371) “uma condiciona a outra, porque nós não podemos
comunicar sem que partilhemos determinadas representações e uma representação é
compartilhada e entra na nossa herança social, quando ela se torna um objeto de interesse e
de comunicação”. Dentre os diferentes tipos de comunicação, a conversação é destacada
por Moscovici como o primeiro gênero de comunicação através do qual se constroem as
representações sociais. Destaca ainda como formas secundárias de comunicação a difusão,
propagação e a propaganda.
4.1 – As bases conceituais da teoria
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Em 1961, Moscovici lança o livro La psychanalyse, son image et son public,
traduzido em parte no Brasil com o nome de Representação Social da Psicanálise, no qual
apresenta os resultados de um estudo realizado na França a partir de questionários e
matérias de jornais, sobre as representações que circulavam sobre a psicanálise na
sociedade francesa.
Ao procurar entender como é assimilada a psicanálise pelo leigo, enquanto discurso
científico, Moscovici (1976) não tinha como objetivo discutir a teoria psicanalítica, mas
tentar compreender como o saber científico enraizava-se na consciência dos indivíduos e
dos grupos. Ao estudar como o leigo se apropria de um saber científico, ajustando-o a
representações anteriores e construindo assim uma representação social da psicanálise,
Moscovici estudava cientificamente o "senso comum". Esse estudo implicava, pois, na
análise das formas culturais de expressão dos grupos, na organização e transformação dessa
expressão além da análise de sua função mediadora entre o indivíduo e a sociedade.
A proposta básica do estudo da representação social é a busca de compreensão do
processo de construção social da realidade, para retomar a expressão de Berger &
Luckmann (1973).
Moscovici (1976) retoma o conceito de "representação coletiva" de Durkheim,
afirmando, porém que este último englobava como "representação coletiva" uma enorme
classe de conhecimentos e crenças que incluíam a ciência, a religião, os mitos e as
categorias de tempo e espaço, que devido a sua heterogeneidade e a impossibilidade de
defini-las através de poucas características gerais, dificultavam a delimitação do conceito.
Inicialmente, Moscovici (1976) definiu a representação social como " 'teorias',
'ciências coletivas', suis generis, destinadas à interpretação e construção do real (p.48). (...)
Elas determinam o campo de comunicações possíveis, valores ou idéias apresentadas nas
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visões compartilhadas pelos grupos e regulam, por conseqüência, as condutas desejáveis ou
admitidas" (p.49). Seria então necessário compreender as dimensões latentes sobre as quais
se constroem esse universo.
O estudo de Moscovici (1976) teve o grande mérito de propor uma noção
"carrefour", segundo a expressão de Doise e Palmonari (1986), que permite considerar o
sujeito não como um aparelho intra-psíquico, mas como produtor e produto de uma
determinada sociedade. Assim, ele abriu a perspectiva de interconectar conceitos de
Sociologia e da Psicologia considerando que a realidade social é construída em três
momentos que foram sintetizados por Berger & Luckmann (1973, p. 87) na expressão: "A
sociedade é um produto humano. A sociedade é uma realidade objetiva. O homem é um
produto social". A sociedade existe enquanto realidade objetiva e produto humano. Ao ser
apropriada pelos sujeitos ela se torna uma realidade subjetiva. Nesse processo de
apropriação da realidade, o sujeito não reproduz os elementos da realidade objetiva, há um
processo de reconstrução da realidade, uma reelaboração humana na qual aspectos
cognitivos e sociais entram em jogo.
“Toda realidade é uma construção histórica, e uma construção da qual se
pode seguir a história. Se há representações encarnadas na nossa
realidade e na nossa linguagem, podemos julgar sua verdade histórica.
De toda maneira, o construtivismo social, tal como o concebo, não é
antinômico ao real nem ao verdadeiro. É um modo ativo de conhecer toda
a realidade, porque nós a fizemos e refizemos, como o artista com sua
obra. Engels exprimiu a visão clássica da relação com a realidade
independente pelo provérbio inglês: "The proof of pudding is in the
eating". Na minha opinião, o construtivismo social não deve negar que há
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um pudim, logo o real, já que o comemos. Mas ele deve dar um sentido
diferente à relação com o pudim, lembrando-se que há um cozinheiro que
o prepara. Eis porque “the proof of the pudding is still in the eating” [em
inglês no texto]”.(Moscovici, 1994, p. 18-19)
Representar implica sempre em um sujeito e um objeto, intrinsecamente ligados.
Segundo Moscovici (1982, p.71) “este laço com o objeto é uma parte intrínseca do laço
social e ele deve ser interpretado neste quadro”.
Sendo a representação social uma construção do sujeito sobre o objeto e não a sua
reprodução, essa reconstrução se dá a partir de informações que ele recebe de e sobre o
objeto. "Essas informações seriam filtradas e arquivadas na memória de forma esquemática
e coerente, constituindo uma 'matriz' cognitiva do objeto que permite ao sujeito
compreendê-lo e agir sobre ele' (Silva, 1978, p.20). Seria o que Jodelet (1984) considera o
"crivo de leitura" da realidade.
Como afirma Abric (1994, p. 13), “isto permite definir a representação social como
uma visão funcional do mundo, que permite ao indivíduo ou grupo dar um sentido a suas
condutas e compreender a realidade através seu próprio sistema de referência, logo,
adaptar-se e definir seu lugar nessa realidade”. A representação social, continua Abric, “é
ao mesmo tempo ‘o produto e o processo de uma atividade mental pela qual um indivíduo
ou um grupo reconstitui o real ao qual ele é confrontado e lhe atribui uma significação
específica’ “ (Abric, 1987, p. 64) .
Na medida em que a representação social é compreendida enquanto conteúdo e
processo, seu estudo remete necessariamente aos processos perceptivos e imaginários do
sujeito, às forças sociais e conteúdos culturais subjacentes às relações numa sociedade
determinada bem como a sua função mediadora entre indivíduo e sociedade. Na verdade,
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para Moscovici, a representação social seria um fenômeno social que se fundamenta na
vida mental. Segundo Bonardi e Roussiau (1999, p. 17)
“Sua eficácia na dinâmica social é assim uma das suas características
essenciais, e a idéia de dialética entre indivíduo/sociedade desenvolvida na
antropologia por Lévi-Strauss retorna então ao primeiro plano: as relações
entre
indivíduos
favorecem
a
convergência
das
idéias
e
o
compartilhamento das representações. Porém as dinâmicas sociais, técnica,
ideológica, política, agem igualmente sobre as concepções individuais. A
posição de uma representação não é, portanto, nem inteiramente do
domínio social, nem totalmente do domínio individual; ‘interface` (Jodelet,
1989, p. 40) ou passarela entre os dois seria uma localização mais exata.”
Como afirma Jodelet (1989, p. 36), “as representações devem ser estudadas
articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da
linguagem e da comunicação, a consideração das relações sociais que afetam as
representações sociais e a realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir”.
Qualquer análise das representações sociais deve, por conseguinte, levar em conta
seus dois componentes: o componente cognitivo e o componente social, ou melhor, “(...)
convém se prender prioritariamente à análise das relações entre processo individual de
conhecimento, processo simbólico cultural e ideologia”. (Bonardi & Roussiau, 1999, p. 19)
Do ponto de vista de seu componente cognitivo, é preciso considerar que sendo a
representação sempre de alguém isto significa que é uma forma de conhecimento
submetido às regras dos processos cognitivos/afetivos do sujeito. Entretanto, tais processos
são considerados como diretamente determinados pelas condições sociais nas quais são
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elaboradas e transmitidas as representações. Logo, do contexto social emergem regras
diferentes da lógica formal, da “lógica cognitiva”. O conhecimento do senso comum é
regido por uma “lógica natural”, que lhe é própria, e que estaria na intercessão da lógica
cognitiva e da lógica social, segundo Abric (1994), o que possibilita a integração de
contradições, do racional e do irracional, dando, na maioria das vezes, a impressão de um
conhecimento incoerente ou ilógico.
Em seu estudo sobre a representação social da psicanálise Moscovici (1976) destaca
semelhanças entre o pensamento do senso comum e o pensamento infantil. Segundo Doise
(1992, p. 12), “esses dois pensamentos utilizam informações fragmentárias, tiram
conclusões muito gerais a partir de observações particulares, fazem prevalecer as
conclusões sobre as premissas, baseiam argumentos de causalidade sobre associações de
natureza avaliativa e recorrem a numerosas redundâncias tanto léxicas quanto sintáticas.”.
Moscovici coloca-se então a questão das características cognitivas das
representações sociais. Seria o conhecimento do senso comum baseado em organizações
intelectuais de uma idade infantil ou ele corresponderia à adaptação a uma situação e uma
interação coletivas? É nessa segunda vertente que ele desenvolve seu trabalho. A aparente
fragmentação e ausência de lógica do conhecimento do senso comum só podem ser
entendidas a partir do momento em que se compreende o contexto social no qual ele foi
produzido. Nesse sentido, o conteúdo do conhecimento é tão importante quanto o seu
processo de construção.
A teoria das representações sociais, como afirma Doise (1992), sustenta-se em torno
da noção da existência de dois sistemas cognitivos: o sistema operatório e o metassistema.
Enquanto o sistema operatório seria o responsável pelas associações, inclusões,
discriminações e deduções, o metassistema que “retrabalha a matéria produzida pelo
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primeiro” (Moscovici, 1976, p. 254 apud Doise,1992), responsável pelo controle,
verificação e seleção utilizando regras lógicas ou não.
Para Doise (1992, p.12) o estudo das representações sociais propriamente dita
refere-se ao estudo das regulações do metassistema, “na medida em que seus laços com
posições específicas num conjunto de relações sociais sejam explicitados.”
4. 1 – Por que construímos representações sociais acerca de determinados objetos?
Essa é uma das questões que se coloca Moscovici ao estudar as representações
sociais. Quais são os determinantes sociais das representações, isto é, por que construímos
teorias do senso comum a respeito de objetos sociais? O autor levanta três determinantes
sociais das representações:
a) a Pressão à Inferência - Considerando que o sujeito busca
constantemente o consenso com o seu grupo e que a ação o obriga a estimar, comunicar e
responder às exigências da situação a cada momento, essas múltiplas pressões tendem a
influenciar a natureza dos julgamentos, preparando respostas pré-fabricadas e forçando um
consenso de opinião para garantir a comunicação e assegurar a validade da representação.
b) a Focalização - "Refere-se à desigualdade de interesses dos sujeitos em
relação ao objeto" (Silva, 1978, p.27). O sujeito tende a dar uma atenção variável aos
aspectos do ambiente social. A intensidade de suas atitudes e o modo pelo qual ele
relaciona os dados da realidade depende de seus hábitos lógicos e lingüísticos, de tradições
históricas, do acesso à informação e da estratificação de valores. O modo como apreendo as
informações dependerão de outros conhecimentos que tenho. Uma informação sobre uma
nova doença, por exemplo, será apreendida diferentemente por médicos, engenheiros,
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agricultores ou estudantes. Porém não se trata apenas do nível de escolaridade. Se o
engenheiro ou agricultor é católico ou mulçumano, brasileiro ou asiático sua formação
religiosa e sua cultura terão também um papel importante na apropriação do novo
conhecimento.
c) Defasagem e Dispersão de Informação - "esse fator refere-se às
condições de acesso e exposição às informações sobre o objeto (inclusive do próprio
objeto)" (Silva, 1978, p.27). Essa diversidade de informação refere-se não só às
informações disponíveis, mas também às condições objetivas de acesso a elas, como, por
exemplo, obstáculos de transmissão, falta de tempo, barreiras educativas e até mesmo os
efeitos de especialização.
Diante da pressão à inferência, da focalização e da defasagem e dispersão de
informações, as pessoas constroem códigos comuns para “classificar e nomear de maneira
unívoca as partes de seu mundo, de sua história individual e coletiva” (Moscovici, 1976, p.
11). Em outras palavras, compartilhar teorias de senso comum a respeito de determinados
objetos assegura a comunicação entre as pessoas e fornece um guia para suas condutas.
Para Moscovici (2003, p. 54) “... a finalidade de todas as representações sociais é tornar
familiar algo não-familiar, ou a própria não-familiaridade”. Para o autor, os universos
consensuais são locais “onde todos querem se sentir em casa, a salvo de qualquer risco,
atrito ou conflito. Tudo o que é dito ou feito ali, apenas confirma as crenças e as
interpretações adquiridas, corrobora, mais do que contradiz, a tradição”. (p.54). Entretanto,
isso não significa que os universos consensuais sejam homogêneos. Ao se referir ao
pensamento socialmente compartilhado Moscovici não defende a idéia de que as formas de
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pensar são de fato consensos dentro do grupo, homogeneidade de pensamento. As
representações sociais incluem as convergências que trazem a “familiaridade” e as
divergências de pensamento, os conflitos que provocam a mudança.
Quais são as dimensões de uma representação social?
Ao analisar as dimensões latentes sobre as quais se constrói a representação social,
Moscovici (1976) propõe três dimensões que dizem respeito à formação do conteúdo da
representação e que remetem ao quadro social em que se insere o indivíduo:
a) Atitude - expressa uma resposta organizada (complexa) e latente
(encoberta). Uma tomada de posição com relação a um objeto. A atitude é ligada à história
do indivíduo ou do grupo.
b) Informação - remete à quantidade e qualidade do conhecimento possuído
a respeito do objeto social.
Esses dois elementos do conteúdo se estruturam no:
c) Campo da representação - "seria uma unidade hierarquizada dos
elementos que denota a organização desse conteúdo (preponderância, oposição, etc., de um
elemento sobre o outro) e o caráter vasto desse conteúdo, suas propriedades qualitativas e
imageantes" (Silva, 1978, p. 22). O campo representacional, assim, é uma estrutura que
organiza, estrutura e hierarquiza os elementos da informação apreendida e reelaborada.
A análise dessas dimensões permite, segundo Moscovici (1976) descrever as
linhas sociais de separação dos grupos, comparando o conteúdo das representações. Foi
assim que em seu estudo sobre a psicanálise, ele pode apreender representações sociais
diversas entre os diferentes grupos estudados. A imprensa católica, por exemplo, tinha um
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campo representacional e explicitava informações e atitudes referentes à Psicanálise
diferente da imprensa marxista.
4.2 – Como se constroem as representações sociais?
No que se refere à elaboração das representações sociais, Moscovici (1976) propõe
dois processos como sendo fundamentais:
1) Objetivação – o processo de objetivação é o processo através do qual o
que era desconhecido torna-se familiar. Ela torna concreto o que é abstrato. Transforma um
conceito em uma imagem ou em núcleo figurativo. Por exemplo, o complexo da teoria
psicanalítica deixa de ser uma hipótese teórica e passa, no senso comum, a ser um atributo
real do outro. As idéias construídas em contextos específicos são percebidas como algo
palpável, concreto e exterior ao sujeito. Segundo Moscovici (2003, p. 71),
“ a objetivação une a idéia de não –familiaridade com a de realidade,
torna-se a verdadeira essência da realidade. Percebida primeiramente como
um universo puramente intelectual e remoto, a objetivação aparece, então
diante de nossos olhos, física e acessível.”
A objetivação implica em três movimentos:
- a Seleção e a Descontextualização: Considerando a dispersão de
informações dos objetos sociais, apenas alguns elementos são retidos, retirados do contexto
no qual surgiram em função de significados já existentes. Os sujeitos retiram dos objetos
algumas informações a partir de conhecimentos anteriores, valores culturais ou religiosos,
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tradição cultural, experiência prévia etc. Do conjunto total de informações apenas algumas
são retidas pelos sujeitos.
- a Formação de um Núcleo Figurativo: é a construção de um modelo
figurativo, um núcleo imaginante a partir da transformação do conceito.
- a Naturalização dos elementos: os elementos que foram construídos
socialmente passam a ser identificados como elementos da realidade do objeto. Como
afirma Jodelet (1986) é a biologização do social. As representações acerca da mulher, por
exemplo, incluem a idéia de que toda mulher quer ser mãe, isso supostamente faria parte da
natureza feminina. Não apenas o fato de poder ser mãe, mas espera-se que toda e qualquer
mulher tenha o desejo da maternidade. Essa idéia é de tal modo enraizada socialmente que
o fato de uma mulher não desejar ser mãe é interpretado como um problema, um “defeito”,
seja de ordem física (ela não pode e então diz que não quer), seja de ordem moral (ela é
uma mulher fria, egoísta), seja de ordem psicológica (ela teve problemas com a própria
mãe, é “traumatizada”), conforme pesquisa realizada por Santos, Novelino e Nascimento
(2001).
2) Ancoragem - caracteriza-se pela inserção do objeto num sistema de
pensamentos preexistentes, estabelecendo uma rede de significações em torno do mesmo. É
um processo que transforma algo desconhecido e perturbador em algo conhecido, através
da comparação com categorias já conhecidas. O objeto novo é reajustado para que se
enquadre na categoria conhecida adquirindo características dessa categoria. Esse ato de
classificar não é neutro e implica necessariamente em uma avaliação do objeto. Para
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Moscovici (2003, p. 61), “ancorar é classificar e dar nome a alguma coisa”. A ancoragem
implica, portanto, em:
- Atribuição de sentido - o enraizamento de uma representação inscreve-se
numa rede de significados articulados e hierarquizados a partir de conhecimentos e valores
preexistentes na cultura. Quando apareceram as primeiras informações sobre a AIDS, a
imprensa imediatamente chamou a “nova doença” de “câncer gay” ou “peste gay”. O fato
de ter sido descoberta inicialmente em sujeitos homossexuais, de causar a morte sem que se
soubesse exatamente as causas e de ser contagiosa, levaram a imprensa a associar ao câncer
(mortal) e à peste (contagiosa e mortal). Um sentido foi atribuído ao novo objeto (AIDS) a
partir de conhecimentos anteriores e um nome lhe foi atribuído.
- Instrumentalização do saber - possibilita um valor funcional à
representação, na medida em que se torna uma teoria de referência possibilitando a
tradução e compreensão do mundo social.
- Enraizamento no sistema de pensamento - as novas representações se
inscrevem num sistema de representações preexistentes, desta forma o novo torna-se
familiar ao mesmo tempo em que transforma o conhecimento anterior. Assim, o sistema de
pensamento preexistente ainda predomina e serve como referência para os mecanismos de
classificação, comparação e de categorização do novo objeto. “Ao nomear algo, nós o
libertamos de um anonimato perturbador, para dotá-lo de uma genealogia e para incluí-lo
em um complexo de palavras específicas, para localizá-lo, de fato, na matriz de identidade
de nossa cultura”(Moscovici, 2003, p.66).
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4. 3 – Quais as funções da representação social?
Como já dissemos anteriormente, a representação social é um conjunto de conceitos
articulados que tem origem nas práticas sociais e diversidades grupais cuja função é dar
sentido à realidade social, produzir identidades, organizar as comunicações e orientar as
condutas. Temos assim, ao menos, quatro funções que se destacam:
a) Função de saber: as representações sociais servem para que possamos explicar,
compreender e dar sentido à realidade social. Na medida em que construímos
representações sociais sobre a AIDS, por exemplo, nós pudemos explicá-la,
compreendê-la e torná-la familiar no âmbito do senso comum.
b) Função de orientação: as representações sociais são guias de conduta. Elas
orientam as práticas sociais (na medida em que precedem o desenvolvimento da
ação). Porém, ela é ao mesmo tempo gerada nas práticas sociais e condicionada
à evolução dessas práticas em uma dada sociedade. A função de orientação,
como afirma Abric (1987) não depende das condições objetivas da realidade,
mas, sobretudo, do modo como o sujeito representa essa realidade.
c) Função identitária: ao compartilhar uma representação social um grupo pode ser
definido e diferenciado do outro grupo. Assim, a representação social possibilita
uma identidade grupal e, por conseqüência, permite a diferenciação grupal. Por
outro lado, o sujeito que compartilha uma representação social com um grupo
determinado sente-se como pertencente aquele grupo e não a outro.
d) Função justificadora: as representações sociais servem como referências
justificadoras do comportamento. Uma vez que as representações são guias de
conduta compartilhados socialmente, elas são utilizadas ao mesmo tempo para
justificar as condutas relativas a determinados objetios.
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5 – Representações sociais: uma proposta interdisciplinar.
Utilizar a proposta contida na teoria das representações sociais é, necessariamente,
lançar mão de conhecimentos produzidos em diferentes áreas de estudo. Ao tentar
compreender o conhecimento do senso comum na perspectiva de Moscovici é preciso
apreender o contexto cultural histórico e social em que tal conhecimento foi construído.
“(...) quando se estuda o senso comum, o conhecimento popular, nós estamos estudando
algo que liga sociedade, ou indivíduos, a sua cultura, sua linguagem, seu mundo familiar”
(Moscovici, 2003. p.322). Conhecimentos oriundos da antropologia, da história, da
sociologia e da comunicação são essenciais na apreensão das representações sociais.
Não basta descrever os conteúdos obtidos, é fundamental que se compreenda o
processo de construção de tais conteúdos, isto é, as bases sobre as quais os grupos vão
construindo os sentidos acerca dos diferentes objetos sociais. A pesquisa em representação
social exige que o pesquisador compreenda o processo de construção do conhecimento do
senso comum, em outras palavras, é necessário analisar os processos de objetivação e
ancoragem subjacentes às representações sociais. Isso abre, por conseqüência, uma enorme
leque de possibilidades metodológicas no estudo desse fenômeno.
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