Representações individuais e representações coletivas. In

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AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NUMA PERSPECTIVA TEÓRICA E
INTERFACES ENTRE O REAL E O SIMBÓLICO
Gema Galgani da Fonseca1
Geraldo Inácio Filho2
INTRODUÇÃO: Face as demandas de transformação do homem moderno buscamos
encontrar através do mundo das representações sociais, os subsídios necessários à
compreensão geral dessa realidade dinâmica e interacional (coletiva, individual, social e
psíquica). Isto por sua vez implica entrarmos em contato com as várias correntes de
pensamento e os diversos referenciais teórico-conceituais que envolvem essa área de
conhecimento, pois só assim acreditamos poder escolher o pressuposto filosófico que melhor
e mais coerentemente fundamente essa pesquisa.
OBJETIVO: Tem-se como propósito desenvolver um panorama geral sobre os conhecimentos
que contribuíram para a consolidação das pesquisas em representações sociais destacando
interfaces entre o real e o simbólico. Nesse processo o objetivo centra-se na análise da
construção das consciências e da vida representativa do ponto de vista durkheimiano, na
necessidade da construção ética e da prática
pedagógica, abordagens pelas quais
consideramos integrar a discussão e compreensão dialética e dinâmica da formação do
educador vista através das representações sociais.
METODOLOGIA: Para isso, realizaremos uma retomada histórica às áreas das ciências
sociais que integraram esse processo e apresentaremos especificamente uma caracterização da
perspectiva Moscoviciana, vertente pela qual buscaremos os fundamentos necessários à
construção das análises das representações sociais sobre essa perspectiva psicossociológica.
RESULTADOS: Ao basear-se na teoria moscoviciana não limitamos esse estudo de outras
interpretações, e sim estabelecemos face as perspectivas de formação docente, a consideração
da diversidade dos contextos que articulam-se na compreensão dialética e contraditória do
real. O discurso científico propagado entre as Entidades Acadêmicas e seus representantes
tem sido motivo de acirrados embates, sendo que no encontro das forças do que é coletivo,
reificado e consensual; o homem tende a buscar o sentido do conhecimento adquirido e/ou
tende negligenciar e mascarar suas responsabilidades e incompetência face os desafios atuais.
Inicialmente, consideramos imprescindível evidenciar que o pensamento, ou seja, o
conceito de representação social procede de diversas áreas do conhecimento das ciências
sociais; desde a Sociologia com os fundamentos de Émile Durkheim sobre representações
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Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Educação - Programa de Mestrado em Educação
coletivas, a Antropologia com os estudos de Lévi-Bruhl que também serviu do termo
“representações coletivas” como elemento decisivo para a elaboração da teoria da religião, do
pensamento mítico e da magia. E também, a Psicologia Social com os conceitos de Serge
Moscovici, que foi buscar na Sociologia durkheimiana um primeiro abrigo conceitual para a
caracterização do termo “representações sociais” e a História da Cultura com as pesquisas de
Roger Chartier, o qual retoma a denominação original de “representação coletiva”.
Destaca-se que, o referencial teórico apresentado por Serge Moscovici constituiu-se
numa modalidade de conhecimento com significativas mudanças para o campo de estudos em
representações sociais, pois implicou decisivo afastamento da perspectiva sociologista da
noção original em razão da construção teórico-conceitual de um espaço psicossociológico
próprio. Já, o referencial teórico na abordagem de Roger Chartier estabeleceu-se recuperando
o termo “representação coletiva” empregada além do conceito de mentalidade construída, pois
esta se veicula como o resultado de questões empregadas à História que volta-se para os
estudos dos processos com os quais se constrói um sentido em diferentes lugares e momentos
da realidade social, paralelamente às práticas que se estabelecem de forma plural
e
contraditória dando significado ao mundo.
Com efeito, ressalta-se que o conceito de representação social ou coletiva nasceu na
Sociologia e na Antropologia, sendo que a gênese propulsora desse campo do conhecimento
se deu com a teoria durkheimiana, onde a proposição do conceito de representação coletiva se
estabeleceu empiricamente a partir dos estudos da religião de povos ditos primitivos, dos
mitos, da linguagem, da ideologia, das categorias de espaço e tempo, da
ciência, etc.
Durkheim ( “Pai – fundador da sociologia” ) influenciado pela compreensão da sociologia
positivista do final do século e decisivamente oposto a qualquer tentativa de explicação
psicológica dos fatos, defendeu que as representações coletivas não poderiam ser reduzidas
às representações individuais distinguindo-as em 1898, a primeira como campo de estudo da
Sociologia e a segunda do domínio de estudo da Psicologia (FARR, 1997, pp.31-55).
Ao buscar compreender a consciência coletiva através dos processos do que poderia
ser familiar, sob o peso das tradições, das memórias e do passado, Durkheim emitiu ao
conceito de representação uma caracterização estática, de estabilidade garantida pelo
conhecimento social humano. Assim, as representações coletivas teorizadas por ele
correspondem aos produtos de pensamentos gerados pela sociedade, ou seja, pelas
experiências acumuladas entre os indivíduos, onde ao longo dos tempos se inter-relacionaram,
combinaram e misturaram idéias, sentimentos e formas de pensamento.
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Verifica-se que para Durkheim as formas de organização do conhecimento e a
consciência coletiva da humanidade é constituída por representações coletivas, as quais são
intrinsecamente veiculadas e pré-determinadas pela natureza social dos homens dentro da
sociedade. Assim, sociedade para ele é um conjunto social, como “um organismo”, “um
corpo social” que fixa e ordena o caminho e a forma das coisas acontecerem, pois o que se
estabelece é a consciência coletiva através da qual todo fenômeno pode acontecer em uma
vasta pluralidade, ou seja, através das representações coletivas construídas. Daí, a consciência
individual é negligenciada já que as inter-relações da consciência coletiva com a consciência
individual inexistem para Durkheim, quando também sutilmente está combatendo as idéias e
as possibilidades de mudanças e transformações através do homem.
Neste sentido, visto que a Teoria das Representações Sociais não diz respeito apenas
a uma única dimensão do conhecimento, é fato que as primeiras idéias sobre representação
social, pensamento cognitivo e construção de sistemas de signos tiveram muita dificuldade
em se fazerem aceitar e sofreram muitas resistências. Desde o campo teórico “sociologista” e
“individualizante” das representações coletivas proposto por Durkheim, que concebia uma
sociedade e homens numa relação unilateral ao campo da “Psicologia Social Clássica” de
tradição norte-americana dominante, em que a ênfase e preocupação básica se veicularam aos
processos psicológicos individuais.
No campo teórico proposto por Durkheim, a sociedade e os homens, ambos estariam
sob o controle da ideologia dominante produzida e imposta por determinada classe social
(Estado, Igreja, Escola, etc.). Também, desenvolveu-se uma conceituação estática e fechada
de representação coletiva que teve como conseqüência a fragmentação e separação dos
fenômenos sociais dos fenômenos psíquicos. No referencial teórico da Psicologia Social
Clássica, o indivíduo foi considerado como o único centro possível na análise dos fatos
psicossociais e a exclusiva referência para noções como atitude, esquemas e atribuições de
pensamento, daí
alastrou-se um individualismo teórico sobre a Teoria das RS que
fracassaram em negligenciar a tensão e dialética existente entre o indivíduo e a sociedade.
Na vertente psicossociológica proposta por Serge Moscovici, evidencia-se a tentativa
de resgatar as representações sociais como conceito e como fenômeno social, quando então
inaugurou-se um campo de estudos interdisciplinares que vem se desenvolvendo
principalmente no âmbito da Psicologia Social. Por um lado, Moscovici pensou com
Durkheim ao apoiar seus estudos iniciais sobre a concepção das representações coletivas, as
quais se encontram na força do que é coletivo, consensual e reificado. Por outro lado,
também pensou contra ele quando abriu-se para as possibilidades de atuação dos sujeitos,
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substituindo estudar representações coletivas por representações individuais, já que estas
foram consideradas mais adequadas à compreensão da realidade do mundo moderno.
Dentre as abordagens complementares à grande teoria das representações sociais
inaugurada por Moscovici, evidencia-se
as contribuições de sua principal colaboradora,
Denise Jodelet quem manteve-se mais fiel à teoria original. Interessada pelo esclarecimento
do conceito e os processos formadores das representações sociais, ela analisa a evolução desta
destacando sua complexidade e transversalidade no campo das ciências humanas e sociais.
Buscando o rompimento dos obstáculos entre as ciências sociais a premissa é de
conhecer o ser humano concebido a partir de uma perspectiva essencialmente social, ou seja,
há que se compreender o indivíduo considerando tantos os seus aspectos mentais como
afetivos. Então, o ato da representação se desprende das delimitações rígidas entre o universo
externo e interno, o que por sua vez implica reconhecer no homem sua capacidade de
construção e reconstrução na medida em que se desenvolve.
Na análise dos processos (Fenômenos, Conceitos e Teorias) responsáveis pela
construção das representações elaborada por Jodelet (1984, pp. 357-378), a autora distingue a
objetivação sob três fases: a construção seletiva, onde alguns elementos são retidos e outros
ignorados e/ou esquecidos; a esquematização estruturante, dinâmica pela qual resulta-se na
organização do núcleo figurativo e a naturalização, circunstância pela qual os elementos da
representação são concretizados e reconhecidos como partes da natureza. É nessa abordagem
que o ato da representação se estabelece como elemento crucial para a construção das
representações sociais, juntamente com a delimitação de algumas características fundamentais
para a viabilização desse conhecimento. Dentre elas; o aspecto referencial da representação
(referência de alguém para alguma coisa), o caráter imaginativo e construtivo da mesma e sua
natureza social, ou seja, os elementos que estruturam a representação advém de uma cultura
comum e estes elementos são aqueles da linguagem (JODELET, 1984, p. 365).
Outra teoria complementar das representações sociais inaugurada por Moscovici é a
perspectiva mais sociológica liderada por Willem Doise, o que significa a ênfase à influência
do que ele chama de metassistema social sobre o sistema cognitivo. Para ele o que importa
são os princípios geradores das representações, os quais podem levar os indivíduos a
diferentes tomadas de posição num determinado conjunto social (SÁ, 1998, pp.75-76).
É nessa perspectiva que Doise mostra que é possível estabelecer interconexões e trocas
entre o conceito de atitudes e os estudos das representações sociais, onde o estudo no nível do
homem não se limita às diferenças individuais e sim na inclusão das diferenças entre grupos e
culturas. Assim, o conteúdo de uma representação (elementos e relações cognitivas) traduzem
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a marca de um condicionamento social, o social construído através do consenso entre os seus
membros. Buscando uma abordagem mais integrada das atitudes ao campo das representações
sociais, o autor explicita a importância de se considerar os aspectos sociais, coletivos e
ideológicos presentes nesse tipo de saber. Nessa análise dois pontos se evidenciam como
determinantes das representações, a posição ou inserção dos indivíduos e grupos; onde a
ancoragem é interpretada em relação a um sistema de pensamento preexistente e a questão do
social, o qual pode ser concebido a partir de uma perspectiva sociológica ou psicológica.
Em face disso, comprova-se que: Doise não se apercebe da grande vantagem
epistemológica contida no conceito de Representação Social, superando a tradicional
fragmentação do ser humano e a estéril dicotomia indivíduo-sociedade (LANE, 1995, p.63).
Portanto, apreende-se que para esse autor as representações sociais se estabelecem como
princípios geradores de tomada de atitudes, por isso o que é enfatizado são os meios de
produção e circulação das representações.
E uma terceira corrente teórica que complementa os princípios conceituais divulgados
pela perspectiva moscoviciana é a de Jean-Claude Abric, abordagem pela qual enfatiza a
dimensão cognitivo-estrutural das representações sociais e a única que se efetivou como uma
teoria. Ou seja, a chamada teoria do núcleo central em que o interesse básico é com o
conteúdo cognitivo das representações, conjunto pelo qual se processa de forma estruturada e
organizada e não pela simples coleção de idéias e valores (SÁ, 1998, p.76-77). Dentre as
contribuições desse autor destaca-se a questão da transformação das representações e a
comparação entre as mesmas, as quais se estabelecem como proposições fundamentais para o
campo de pesquisa. Isto prediz que o conteúdo das representações apresenta características e
funções distintas, o que por sua vez implica a organização da representação num sistema
periférico (face as modificações acarretadas sobre as práticas sociais as representações se
diferenciam e se estruturam) e num sistema central (a diferenciação das representações é
determinada pelas composições de seus núcleos centrais).
Tomando-se por base esses apontamentos e rastreando a natureza de alguns estudos
realizados, identifica-se a importância e articulação dos elementos afetivos, mentais e sociais
na compreensão das representações. Observa-se que tanto o conceito de representação social
quanto as críticas acarretadas sobre esta e o campo de pesquisa, se estabeleceram como
elementos determinantes para surgimento de novas perspectivas nessa área de conhecimento.
Portanto, apreende-se que buscar analisar os indivíduos e/ou determinado conjunto
social e a sociedade através das representações sociais, significa a princípio considerar o ser
humano inserido numa determinada sociedade, cultura e momento histórico. Isto por sua vez
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implica compreender as representações sociais como um processo intercambiável e dinâmico,
ou seja, na construção desse saber estabelecem-se aspectos cognitivos, inconscientes, afetivos
e emocionais juntamente com as relações e as práticas sociais entre os homens.
DURKHEIM, E. (1973). As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Abril
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