A cultura da diferença

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A cultura da diferença
Vanderson Pedruzzi Gaburo
Vivemos numa sociedade capitalista que valoriza as individualidades e se configura
extremamente heterogenia. Nossa lógica de construção social moderna leva para um paradoxo
de polarização carência – privilégio que marca a sociedade brasileira, conforme aponta Marilena
Chauí (1995).
Ironicamente, a mesma sociedade marcada pelo diferente e pela diferença não aprendeu a lidar
com a diversidade, com aquele que se destaca do contexto linear. Todos que não se
enquadram num modelo elitista padronizado de comportamento, de gosto, de estética, de ser,
torna-se diferente, estranho, o outro e conseqüentemente tende a ser rejeitado. Da ação
contrária à rejeição surgem movimentos com o objetivo de romper esse processo e desconstruir
esse imaginário. Quase todos os Movimentos Sociais de defesa das minorias duelam nesse
contexto de forçar na sociedade atual.
Ter essa compreensão do contexto social é importante uma vez que os sujeitos atribuem
sentido aos objetos no contexto das relações sociais, conforme salienta Moscovici (1978).
Assim, a relação do eu com o outro é marcada por um sentido dado pelo eu no cotidiano com o
outro, cotidiano este marcado pela dominação do “normal” frente ao “diferente”, ou seja,
aquele que foge ao padrão linear estabelecido.
O sentido dado por essa relação social hierarquizada é quase sempre a do estranhamento, de
diferenciação desse outro, que o torna inferior. É o eu, plenamente localizado socialmente,
construindo significado sobre um outro, surgindo desse jogo de significação dois processos: o
primeiro que pretende deslocar para as margens do contexto social esse outro e o segundo que
visa desfazer suas diferenças aproximando-o do eu.
Aceitar-se dentro de suas identidades passa a ser um desafio para esses grupos que são vistos
pelo olhar do eu, porque antes de qualquer coisa é necessário que esse indivíduo se veja
pertencente ao grupo e reconheça suas diferenças nesse contexto pluralizado. Somente esse
movimento de valorização da identidade da diferença é capaz de barrar os dois movimentos de
marginalização e homogeneização propostos pelo eu no contado com o outro.
Por isso é importante a ação dos Movimentos Sociais, como também é necessário dar voz aos
tidos “diferentes” na sociedade, construir canais para que esses indivíduos assumam suas
condições sem receio ou demérito, como uma bandeira da luta contra esse olhar minimizador
lançado pelo eu, por quem analisa, por quem domina.
Nesse campo de lutas do eu do outro, as pessoas com deficiência, vistas historicamente como o
outro, têm conseguido alguns avanços na legitimação da suas condições, seja nas questões de
acessibilidade ou no entendimento da importância de especificidades para suas necessidades,
através de lutas e mobilização constante, como a Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual
e Múltipla, por exemplo. Para tanto, assumir-se diferente e entender que ser diferente é normal
no contexto social é parte constitutiva de uma identidade necessária que rebaterá o olhar
minimizador.
Uma sociedade marcadamente diversa não pode estranhar a cultura da diferença e deve
reconhecer que ela existe e é legitima.
Referências
CHAUÍ, M. Cultura política e política cultural. Estudos avançados, São Paulo, v.09, n. 23,
1995.
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e
contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997.
MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
Sociólogo e Mestre em História Social das Relações Políticas. [email protected]
Movimentos Sociais são aqui entendidos como “ações sóciopolíticas construídas por
atores coletivos de diferentes classes sociais, numa conjuntura específica de relações de
força na sociedade civil” (GOHN, 1997).
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