AC TORT 1/2009 1 Instituto de Fı́sica 1o Q UFRJ 2o Q a 2 Avaliação a Distância de Fı́sica 3A - AD2 - Soluções Primeiro Semestre de 2009 Pólo : 3o Q 4o Q Data: Nota Nome : Assinatura : ATENÇ ÃO : H Á UM TOTAL DE N=10× N ÚMERO DE PONTOS 14 ÷ 14 . PONTOS QUE VOC Ê PODE OBTER COM ESTA AD. S UA NOTA SER Á : Problema 1 (1pt) No primeiro problema da AP1 1/2009, eram dadas duas distribuições planas da carga de extensão infinita e densidades uniformes de mesmo valor absoluto σ, mas de sinais algébricos diferentes. As distribuições interceptavam-se perpendicularmente uma a outra. Em um dos itens do problema pedia-se um esboço das linhas de força. Eis a solução: +σ −σ Um aluno questionou esta solução com o argumento de que as linhas de força deveriam ser perpendiculares às distribuições, pois em caso contrário haveria movimento de cargas (i.e.: uma corrente elétrica) e o problema não seria mais de eletrostática. A solução dada acima deve ser modificada? Justifique cuidadosamente sua resposta. S OLUÇ ÃO 1: A solução dada acima está correta. Uma distribuição contı́nua de cargas estáticas não representa necessariamente um condutor, a menos que isto seja dito explicitamente! Uma distribuição pode ser formada por um arranjo de cargas fixas em um meio dielétrico. Pode também ser a nuvem eletrônica que envolve o núcleo do átomo. E, finalmente, podem ser as duas distribuiç ões planas da carga de extensão infinita e densidades uniformes do problema em questão. Para esse tipo de arranjo, outras forças ajudam a manter o equilı́brio eletrostático. Sobre uma superfı́cie dielétrica, o campo elétrico pode ter uma componente paralela à superfı́cie, isto não implica em deslocamento de carga. Já para uma superfı́cie condutora em equilı́brio eletrostático, o campo deve ser perpendicular à superfı́cie. AC TORT 1/2009 2 Problema 2 (2pts) Um cubo de aresta ℓ é colocado com um dos seus vértices na origem de um sistema de coordenadas cartesianas. Um campo elétrico não-uniforme dado por: E = −a x̂ + b ŷ + c ẑ. onde a, b e c são constantes reais positivas, atravessa o cubo. (a) Calcule o fluxo do campo elétrico através de cada uma das seis faces do cubo. (b) Calcule a carga contida dentro do cubo. S OLUÇ ÃO 2: (a) o fluxo do campo elétrico é dado por: Φ= Z E · n̂ dA. Note que a definição de fluxo não implica necessariamente em uma superfı́cie fechada (mas, a lei de Gauss sim!). Podemos aplicar esta equação a cada uma das faces do cubo, por exemplo, considere as faces cujos unitários normais paralelos ao eixo x, então: Φx = E · x̂ A + E · (−x̂) A = −aA + (−a)(−1)A = 0. Do mesmo modo, pdemos mostrar facilmente que: Φy = Φz = 0. (b) Como o fluxo total, Φx + Φy + Φz , é nulo, pela lei de Gauss segue que a carga contida dentro do cubo é nula. Problema 3 (5 pts) Uma distribuição de carga finita, esfericamente simétrica de raio R, porém não-uniforme, é descrita pela densidade de carga ρ(r): ρ(r) = 4r , 0 ≤ r < R; ρ0 1 − 3R 0, r > R. A constante ρ0 é uma constante positiva com dimensões de carga/(comprimento)3 . (a) Calcule a carga total da distribuição. (b) Obtenha uma expressão para o campo elétrico dentro da distribuição. (c) Obtenha uma expressão para o campo elétrico fora da distribuição. (d) Obtenha uma expressão para o potencial elétrico fora da distribuição. Faça o zero do potencial no infinito. (e) Obtenha uma expressão para o potencial elétrico dentro da distribuição. Não se esqueça que o potencial eletrostático deve ser uma função contı́nua! Calcule o potencial na origem. AC TORT 1/2009 3 S OLUÇ ÃO 3: (a) Como temos simetria esférica, Q= Z R 2 ρ(r) 4πr dr = 4πρ0 R Z 4 r 1− 3R 0 0 2 r dr = 4πρ0 " r3 4 r4 − 3 3 4R #R = 0. 0 (b) Com a lei de Gauss e levando em conta a simetria esférica podemos escrever: q(r) , ǫ0 E(r) 4πr 2 = onde q(r): r3 4 r4 − 3 3 R q(r) = 4πρ0 ! . Segue que: r3 1 r4 − 3 3 R ρ0 E(r) = ǫ0 r 2 ! r 1 r2 − 3 3 R ρ0 = ǫ0 ! , para 0 ≤ r < R. (c) Lei de Gauss + simetria esférica + carga total nula levam à: E = 0, para r > R. (d) Como para r > R, o campo elétrico é nulo, nessa região o potencial é uniforme: V (r) = C. Se o potencial é zero no infinito, então C= 0. (e) V (r) − V (R) = − Z r R ρ0 E(r ) dr = − ǫ0 ′ ′ " r2 ′ 1 r3 ′ − 6 9 R #r . R Efetuando a integral obtemos: V (r) − V (R) = − Z r R ρ0 E(r ) dr = − ǫ0 ′ ′ " r2 1 r3 − 6 9 R ! − R2 1 R3 − 6 9 R Ou ainda: V (r) − V (R) = − Z r R ρ0 E(r ) dr = ǫ0 ′ ′ " R2 − 18 r2 1 r3 − 6 9 R Por continuidade V (R) = 0, logo: ρ0 V (r) = ǫ0 " R2 − 18 r2 1 r3 − 6 9 R !# . !# . !# . AC TORT 1/2009 4 Segue que: V (0) = ρ0 R2 . ǫ0 18 Problema 4 (2pts) O potencial elétrico em uma região do espaço é dado por: V (x, y, z) = A x2 − 3y 2 + z 2 , onde A é uma constante. (a) Quais são as dimensões de A? (b) Calcule o campo elétrico no ponto P de coordenadas (0, 0, 0.25 m). S OLUÇ ÃO 4: (a) Como o potencial no SI é medido em volts, A deve ter dimensões de V/m2 . (b) E = −∇ V = −A (2x x̂ − 6y ŷ + 2z ẑ) . No ponto P (0, 0, 0.25 m): E = −0.50A ẑ. Problema 5 (4 pts) Na geometria plana, o cı́rculo é definido como o locus dos pontos do plano equidistantes de um ponto arbitrário O. Apolônio de Perga 1 (c. 262 a.C – 190 a.C.) descobriu outro modo de definir o cı́rculo. Eis sua definição: sejam dois pontos fixos P1 e P2 e um ponto arbitrário Q do plano. Seja P1 Q o segmento de reta que une P1 a Q e QP2 o segmento de reta que une Q a P2 . Se: |P1 Q| = κ, |QP2 | (1) onde κ é uma constante, então o locus geométrico dos pontos P que satisfazem está relação é o cı́rculo. A definição de Apolônio apresenta a importante propriedade: |OP1 | · |OP2 | = |OQ|2 = r 2 . (2) A distância |OQ| = r, é o raio do cı́rculo de Apolônio. A definição de Apolônio pode ser generalizada para dimensões superiores, por exemplo, para o espaço tridimensional euclidiano. Neste caso, o cı́rculo será substituı́do pela superfı́cie da esfera. 1 Apolônio de Perga, o grande geômetra como era conhecido por seus contemporâneos, é considerado pelos historiadores hodiernos da matemática como um dos três grandes matemáticos da Grécia Antiga, os outros dois são Euclides (c. 262 a.C – 190 a.C.) e Arquimedes (c. 262 a.C – 190 a.C.). Entre seus trabalhos encontra-se o importante tratado As cônicas, obra-prima da geometria clássica. Nesse tratado, Apolônio demonstra que as cônicas, i.e.: a parábola, a hipérbole e a elipse, são o resultado da intersecção do plano e do cone duplo. AC TORT 1/2009 5 Q′ Q b b |P1 Q| |QP2 | = |P1 Q ′ | |Q ′ P2 | b b b O P1 P2 O cı́rculo de Apolon̂io (e sua generalização tridimensional) pode ser aplicado a vários problemas fı́sicos. Entre esses problemas encontramos o seguinte problema de eletrostática: considere uma casca esférica condutora aterrada (V = 0, na superfı́cie da casca) de raio R. Seja P1 um ponto no interior da casca sito a uma distância D do seu centro geométrico, e P2 um ponto no exterior da mesma. Suponha que em P1 coloquemos uma carga puntiforme de valor q e perguntemo-nos: qual a magnitude da força entre a carga puntiforme e a casca condutora? Esta força é atrativa ou repulsiva? A casca esférica condutora, em razão da indução eletrostática, sofre um rearranjo na distribuição de suas cargas. Embora saibamos onde se encontra a carga puntiforme, a nova distribuição de cargas da casca esférica nos é desconhecida. É isto que torna o problema difı́cil de ser resolvido. Felizmente, há métodos para resolver este tipo de problema. Um desses métodos é conhecido como o método das imagens e, essencialmente, consiste em substituir a casca esférica condutora e sua distribuição complexa por uma carga fictı́cia, a carga-imagem q ′ , cuja localização, magnitude e sinal algébrico devemos determinar. A carga-imagem deve localizar-se fora da região de interesse, que no caso é o interior da casca, pois a carga total nessa região não pode ser modificada, caso contrário estarı́amos lidando com outro problema. Também não podemos modificar as condições especı́ficas do problema, por exemplo, o valore do potencial sobre superfı́cie do condutor. Coloquemos então a carga-imagem em P2 e escrevamos q ′ = κ q, onde κ é uma constante real a ser determinada. Agora, com a geometria do cı́rculo de Apolônio em mente, siga o roteiro abaixo. q O D R q′ AC TORT 1/2009 6 (a) Mostre que como a casca esférica está aterrada, os pontos P1 e P2 , onde estão localizadas as cargas q e q ′ respectivamente, e um ponto da superfı́cie da esfera definem uma esfera de Apolônio. (b) Mostre que a carga q ′ está a uma distância igual a R(R − D)/D do ponto da superfı́cie da casca condutora que está mais próximo. (c) Mostre que q ′ = −(R/D) q. (d) Mostre que a força coulombiana entre as duas cargas puntiformes é dada por: F =− R D q2 1 . 4πǫ0 (R2 − D 2 )2 O sinal algébrico indica que a força entre as cargas é atrativa e sua direção é determinada pelo segmento de reta que une as duas cargas. S OLUÇ ÃO 5: (a) Como a casca condutora está aterrada, V = 0 na superfı́cie (e na região interior da casca!), podemos escrever: q′ q + = 0, |P1 Q| |P2 Q| onde Q é um ponto na superfı́cie da casca condutora. Segue que: |P2 Q| q 1 =− ′ =− . q κ |P1 Q| Evidentemente κ < 0, como veremos no item (c). (b) Da figura vem que: |OP1 | = D, |OP2 | = R + x, |OQ| = R2 , onde x é a menor distância entre a superfı́cie condutora e a carga-imagem. Da propriedade (2) vem que: D(R + x) = R2 . Resolvendo para x: x= R(R − D) . D (c) Como a casca condutora está aterrada, V = 0 em qualquer ponto da superfı́cie, em particular, κq q + = 0. R−D x Segue que: κ=− Portanto a carga-imagem vale: R . D AC TORT 1/2009 7 q′ = − R q. D (d) A força entre a casca condutora e a carga puntiforme será dada pela lei de Coulomb: F = 1 qq′ κ q2 1 = − . 4πǫ0 (R − D + x)2 4πǫ0 (R − D + x)2 Substituindo os resultados para x e κ obtidos nos itens anteriores, obtemos: F =− 1 R D q2 . 4πǫ0 (R2 − D 2 )2 O sinal negativo indica que a força entre a carga puntiforme e a casca condutora é atrativa.