Epilepsia Definição É uma alteração temporária e reversível do

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Epilepsia
Definição
É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não
tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante
alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que
podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise
será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais,
generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou menos
evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos
importância se a crise for menos aparente.
Histórico
A epilepsia foi vista em animais filogeneticamente mais antigos que o homem,
sugerindo que já havia animais epilépticos antes que o homem surgisse. As
mais remotas descrições da epilepsia, porém, são dos egípcios e dos sumérios
e datam de 3500 a.C. Por volta de 1.700 a.C., o principal documento que trata
de neurologia no Egito Antigo, o Papiro de Smith, cita possíveis crises
convulsivas nos trechos que descrevem ferimentos na cabeça. Na Suméria
(Mesopotânia), nessa mesma época, vários textos, em acadiano, registram
muito bem crises epilépticas. Todas as idéias relacionadas à medicina
vinculavam-se a fenômenos sobrenaturais, magia e maldições. No século VI, a
medicina grega avançou significativamente na compreensão das doenças,
entre elas a epilepsia. Por volta de 400 a.C., Hipócrates, o pai da medicina,
afirmou que a causa da epilepsia não estava em espíritos malignos, e sim no
cérebro, tentando desfazer mitos sobrenaturais. Os escritos da época foram os
primeiros a atribuir causas físicas para as doenças e afecções neurológicas, e
identificaram o cérebro como o local chave para o entendimento do
comportamento humano. Remédios, dieta e hábitos saudáveis - e não
sacrifícios aos deuses, rezas ou magias - poderiam tratar os epilépticos. Para
fazer o diagnóstico, baseavam-se na observação cuidadosa dos sinais e
sintomas do doente. Há descrições, por exemplo, de auras visuais, auditivas e
vegetativas. O termo "aura" (que em grego significa "brisa") designa a
sensação que ocorre no início da crise e se originou na história de um
professor de Galeno, Pelops. Ao perguntar a um epiléptico o que ele havia
sentido durante a crise, este não soube responder, mas um amigo, que
presenciara o acontecimento, disse que era como se uma "brisa" tivesse
passado por ele (referia-se possivelmente ao olhar de surpresa e à expressão
facial que com freqüência está presente no início das crises). No final do século
XIX e no início do século XX, o estudo das auras se mostrou importante para a
localização da região do cérebro geradora de crises. Diversos pesquisadores
estudaram a epilepsia, destacando-se Areteus da Capadocia, Galeno de
Pergamo (a maior autoridade medica juntamente com Hipócrates durante o
domínio do Império Romano no século II d.C.) e Celso Aureliano. Na
Alexandria, Erasistrato e Herófilo fizeram dissecções humanas para estudo. Na
Renascença e com a Revolução Científica, a anatomia fundamental para o
conhecimento do corpo humano passou a ser realmente estudada, com
dissecções e observações meticulosas das estruturas. O livro de anatomia "De
Humanis Corpora Fabrica", de Andréa de Vesalius, concluído em 1543, é uma
das obras mais importantes da história da Medicina. René Descartes abriu as
portas para a pesquisa neurofisiológica experimental. Fez vários estudos
fisiológicos e anatômicos com animais, investigando exaustivamente o sistema
nervoso. Ele afirmava que a epilepsia originava-se no cérebro. Na Idade Média,
a epilepsia foi relacionada com doença mental e contagiosa--tabus que
persistem até hoje, devido à falta de divulgação de informações corretas.
Naquela época, freqüentemente tentava-se curar o mal por meios religiosos. O
neurologista John Hughlings Jackson afirmou, no século XVIII, que a disfunção
era causada por uma descarga anormal das células nervosas. A Bíblia também
cita a epilepsia: em Mateus 17:14-18, Marcos 9:17-27 e Lucas 9:38-42, relatase o caso de um jovem epiléptico levado a Jesus em busca de cura. Dados
históricos indicam que as seguintes personalidades podem ter sido epilépticas:
Francesco Petrarch, Charles Dickens, Molière, Blaise Pascal, Nicolo Paganini,
Lord Byron, Feodor Mykhailovisch Dostoievsky, Gustave Flaubert, Algernon
Charles Gogh, Alfred Nobel, William Morris, Pitágoras, Empedocies, Sócrates,
Torquato Tasso, Isaac Newton, Jonathan Swift, Sir Walter Scott, Dante,
Emmanuel Swedenborg, George Frederick Handel, Peter Ilich Tchaikovsky,
Robet Schumann, Ludwig van Beethoven, Samuel Jahnson, Leo Tolstoy, Guy
de Maupassant, Percy Bysshe Shelley, Truman Capote e Michael Wilding.
Origem
Fortes golpes na cabeça, infecções cerebrais, abuso de drogas e álcool são
acontecimentos relevantes na origem da epilepsia, ainda que possam se
passar dias, semanas ou anos entre a ocorrência da lesão e a primeira
convulsão. Na maioria dos casos, porém, desconhece-se as causas que levam
ao seu surgimento.
Fatores desencadeantes
Em alguns pacientes, as crises são desencadeadas por luzes piscantes, certos
tipos de ruídos, leitura prolongada, privação de sono, fadiga, uso de álcool,
hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) etc. Álcool, determinados
medicamentos ou ingredientes alimentares podem interagir com as drogas antiepilépticas e precipitar crises.
Incidência
A incidência da epilepsia varia de acordo com a localização geográfica. Ela
ocorre com maior freqüência nos países em desenvolvimento, onde há mais
desnutrição, doenças infecciosas e deficiência no atendimento médico. Em
países mais desenvolvidos, a incidência é de aproximadamente 1%, subindo
para 2% em nações menos desenvolvidas. A epilepsia é mais comum na
infância, quando aumenta a vulnerabilidade a infecções do sistema nervoso
central (meningite), acidentes (traumatismos do crânio) e doenças como
sarampo, varicela e caxumba, cujas complicações podem causar crises
epilépticas. O problema também poderá se manifestar com o envelhecimento e
suas complicações vasculares.
Manifestações e Sintomas
A epilepsia é caracterizada por crises epilépticas repetidas e não é contagiosa.
Às vezes, a pessoa com epilepsia perde a consciência, mas às vezes
experimenta apenas pequenos movimentos corporais ou sentimentos
estranhos. Porém, sintomas menores não significam que a crise seja de menor
importância. Se as alterações epilépticas ficam restritas a uma parte do
cérebro, a crise chama-se parcial; se o cérebro inteiro está envolvido, chamase generalizada. Crises parciais simples não ocasionam a perda da
consciência e caracterizam-se por distorções na percepção auditiva ou visual,
desconforto estomacal, sensação súbita de medo e/ou movimentos estranhos
de uma parte do corpo. Se uma crise parcial complexa ocorre a seguir, essas
sensações são denominadas "aura". Crises parciais complexas são crises que,
como as parciais simples, iniciam-se em um foco determinado no cérebro, mas
espalham-se para outras áreas, causando perturbação da consciência. A
pessoa aparenta estar confusa e pode caminhar sem rumo, falar sem
coerência, salivar em excesso, morder a língua e realizar automatismos, como
puxar a roupa ou virar a cabeça de um lado para outro repetidas vezes. Crises
de ausência constituem-se por lapsos de consciência que, em geral, duram de
cinco a 15 segundos. O paciente fica olhando para o nada e pode virar os
olhos, embora seja capaz de retomar normalmente sua atividade depois do
episódio. Essas crises não são tipicamente precedidas por aura e costumam
ocorrer na infância, desaparecendo por volta da adolescência. Crises tônicoclônicas são convulsões generalizadas, com perda de consciência, que
envolvem duas fases: na fase tônica, o corpo da pessoa torna-se rígido e ela
cai. Na fase crônica, as extremidades do corpo podem contrair-se e tremer. A
consciência é recuperada aos poucos. Apesar de ser o tipo mais óbvio e
aparente de epilepsia, não é o mais comum. Existem, ainda, várias outras
manifestações de epilepsia.
Sintomas
Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se "desligada" por alguns
instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises
parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como
distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do
corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver
ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise
será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera,
a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Tranqüilize-a e levea para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro
perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades
do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises.
Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a
consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.
Causas
Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos
sofridos na cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do parto, abusos
de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o
aparecimento da epilepsia.
Diagnostico
Exames como eletro encefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas
que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito
importante, já que exames normais não excluem a possibilidade de a pessoa
ser epiléptica. Se o paciente não se lembra das crises, a pessoa que as
presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo de epilepsia em
questão e, conseqüentemente, na busca do tratamento adequado.
Crises
Se a crise durar menos de 5 minutos e você souber que a pessoa é epiléptica,
não é necessário chamar um médico. Acomode-a, afrouxe suas roupas
(gravatas, botões apertados), coloque um travesseiro sob sua cabeça e espere
o episódio passar. Mulheres grávidas e diabéticos merecem maiores cuidados.
Depois da crise, lembre-se que a pessoa pode ficar confusa: acalme-a ou levea para casa.
Alterações cerebrais
As células do cérebro trabalham juntas e se comunicam por meio de sinais
elétricos. Às vezes, há uma descarga elétrica anormal em um grupo de células
nervosas e elas enviam sinais incorretos a outras células ou ao restante do
corpo, iniciando os "ataques" ou crises. Cada pessoa tem um limiar convulsivo
que a faz mais ou menos resistente a excessivas descargas elétricas no
cérebro; por isso, qualquer um pode ter uma crise sob determinadas
circunstâncias. Os tipos de crise epilépticas dependem da parte do cérebro
onde começam essas descargas anormais. Se as crises duram muito tempo, a
epilepsia pode causar danos ao cérebro. Porém, a maioria das crises não
provoca dano algum.
O que fazer e não fazer durante as crises
Mantenha-se calmo e procure acalmar os demais. Ponha algo macio sob a
cabeça do paciente. Remova da área objetos perigosos com os quais a pessoa
eventualmente possa se ferir. Caso o paciente esteja usando gravata, afrouxea. Faça o mesmo com o colarinho da camisa. Deixe seu pescoço livre de
qualquer coisa que o incomode. Mexa a cabeça dele para o lado para que a
saliva flua e não dificulte a respiração. Fique a seu lado até que sua respiração
volte ao normal e ele se levante. Leve-o para casa, caso ele não esteja seguro
de onde se encontra. Algumas pessoas ficam confusas após terem sofrido um
ataque. Se você tem certeza de que a pessoa sofre de epilepsia e que o
ataque não vai durar mais do que poucos minutos, é desnecessário chamar
uma ambulância. Caso, porém, o ataque se prolongue indefinidamente, seja
seguido por outros, ou a pessoa não volte a si, peça ajuda. Se a pessoa for
diabética, estiver grávida, machucar-se ou estiver doente durante o ataque,
chame uma ambulância. Não introduza nada em sua boca. Não prenda sua
língua com colher ou outro objeto semelhante (não existe perigo algum do
paciente engolir a língua). Não tente fazê-lo voltar a si lançando-lhe água ou
obrigando-o a tomá-la. Não o agarre na tentativa de mantê-lo quieto.
Diagnostico
O diagnóstico da epilepsia é clínico, ou seja, não se apóia exclusivamente em
exames físicos. O neurologista baseia-se na descrição do que acontece com o
paciente antes, durante e depois de uma crise. Se o paciente não lembra, as
pessoas que acompanharam o episódio são testemunhas úteis. Além dos
exames neurológicos de rotina, um eletrencefalograma (EEG) pode reforçar o
diagnóstico, ajudar na classificação da epilepsia e investigar a existência de
uma lesão cerebral. No EEG, eletrodos fixados no couro cabeludo registram e
amplificam a atividade cerebral. Não há passagem de corrente elétrica.
Hiperpnéia e fotoestimulação podem mostrar anomalias nas ondas cerebrais e,
por isso, costumam integrar o exame. Na primeira, o paciente respira fundo e
simula estar cansado; na segunda, é estimulado por algumas freqüências de
luz. O neurologista poderá solicitar, ainda, o exame durante o sono, com
privação de sono ou com monitoramento 24h. Entretanto, um resultado normal
no EEG não descarta a epilepsia. As alterações ocorrem, por vezes, tão no
interior do cérebro, que não são captadas; é possível também que nenhuma
alteração tenha ocorrido no momento do exame. Outros exames comumente
solicitados na investigação da epilepsia são tomografia computadorizada e
ressonância magnética, principalmente para verificar se a epilepsia está ligada
a um tumor ou a outra lesão cerebral.
Cura e tratamento
Quando se fala em epilepsia, é impossível falar em dados ou probabilidades
sem associá-los ao tipo de crise em questão. Algumas crises desaparecem
com o tempo e a medicação pode ser suspensa; outros pacientes precisam de
tratamento a vida inteira para controlar as crises, e outros não respondem bem
aos medicamentos. Da mesma forma, a eficácia do tratamento medicamentoso
depende de pessoa para pessoa e do tipo de crises que ela tem. Em geral,
cerca de 50% terão seus ataques totalmente controlados, 30% terão seus
ataques reduzidos em freqüência e intensidade a ponto de poderem levar vidas
normais, e os outros 20% ou serão resistentes à medicação, ou precisarão de
uma dose tão alta de remédio que será melhor aceitar um controle parcial. Mas
as pesquisas nessa área são constantes e novas drogas têm chegado ao
mercado. Atualmente, as substâncias mais usadas para tratar a epilepsia são:
carbamazepina, clobazam, clonazepam, etosuximida, fenitoína, fenobarbital,
primidona e valproato de sódio (ácido valpróico). Medicamentos mais novos
incluem a lamotrigina, a oxcarbazepina, o topiramato e a vigabatrina. Às vezes,
é necessário experimentar mais de um medicamento para obter o efeito
desejado, ou mesmo combinar mais de uma medicação. A maneira como os
anticonvulsivantes alteram o limiar convulsivo ou previnem a ocorrência de
descargas elétricas anormais não é totalmente conhecida. Pesquisas mostram
que algumas drogas podem evitar que os impulsos nervosos anormais se
espalhem, enquanto outras aumentam o fluxo de íons de cloro, que estabilizam
as células nervosas. Uma dieta rica em lipídios e calorias, a dieta cetogênica,
tem sido utilizada em especial nas crianças, mas deve ser muito bem
acompanhada pelo médico e estritamente seguida. O metabolismo criado pela
preparação cuidadosa dessa dieta pode aumentar o limiar convulsivo em
alguns indivíduos. A cirurgia torna-se uma solução quando a medicação falha e
quando apenas uma parte do cérebro é afetada, de forma que ela possa ser
removida com a segurança de não causar prejuízo à personalidade ou a outras
funções. Paralelamente ao tratamento médico, uma vida saudável tem efeitos
benéficos sobre a epilepsia. Isso inclui dieta balanceada, exercícios, descanso,
redução de stress e de depressão e a não utilização de álcool e drogas ilegais
Cura
Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser
considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o quanto antes,
a fim de receber o tratamento adequado. Foi-se o tempo que epilepsia era
sinônimo de Gardenal, apesar de tal medicação ainda ser utilizada em certos
pacientes. As drogas antiepilépticas são eficazes na maioria dos casos, e os
efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas pessoas que têm epilepsia levam
vida normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional.
Falsas crises
Tanto pessoas que têm quanto pessoas que não têm epilepsia podem sofrer
ataques desencadeados por um desejo consciente ou inconsciente de mais
atenção e cuidados. Sob stress, uma respiração rápida ocasiona a produção de
dióxido de carbono e muda a química corporal, podendo causar sintomas
semelhantes a determinados tipos de crises. Hipoglicemia, abuso de drogas e
febre, por exemplo, também podem ocasionar crises. O médico sempre deve
ser consultado, pois são os exames e o histórico do paciente que determinarão
o procedimento a ser seguido em relação às convulsões.
Sentimentos do paciente epilético: antes, durante e depois
Os sentimentos variam conforme o tipo de crise. Antes de uma convulsão
iniciar, algumas pessoas experimentam uma sensação ou advertência
chamada "aura". Uma descrição apurada do tipo de aura ao neurologista
poderá fornecer pistas sobre a parte do cérebro onde se originam as descargas
elétricas anormais. A aura pode ocorrer sem ser seguida de crise, e em alguns
casos pode ser considerada um tipo de crise parcial simples. Durante a crise,
incerteza, medo, cansaço físico e mental, confusão e perda de memória são
alguns dos sentimentos mais comuns, embora a pessoa possa não sentir
absolutamente nada, ou não se lembrar do que aconteceu. Da mesma forma,
quando a atividade do cérebro volta ao normal, em determinados casos o
paciente sente-se bem para retomar o que estava fazendo; em outros, tem dor
de cabeça e mal-estar.
Risco de morte
A morte, em virtude de ataque epilético é difícil de ocorrer. O risco é maior
quando a pessoa tem um ataque que se prolonga por 30 minutos ou mais, sem
recuperar a consciência (estado de mal epiléptico). Neste caso, ela deverá ser
conduzida a um serviço de pronto atendimento.
Epilepsia e os pais
Os pais geralmente reagem ao diagnóstico de epilepsia com uma mistura de
apreensão, vergonha, ansiedade, frustração e desesperança, colaborando para
que a criança veja sua condição como estigmatizante. Em um estudo feito com
familiares de crianças com epilepsia, foi observado que alguns pais sentem
vergonha de ter um filho epiléptico e centram o problema apenas na criança, e
não na família como um todo. A palavra "epilepsia" não é usada, nem dentro
nem fora do círculo familiar. A criança não pode discutir sua condição
abertamente e cedo começa a vê-la como algo negativo. A super-proteção
também deve ser evitada, pois leva a alterações de comportamento e
personalidade, com freqüência tornando a criança socialmente isolada. As
habilidades sociais de relacionamento não são aprendidas e ela permanece
insegura, dependente e emocionalmente imatura. Fica desadaptada
socialmente não pela epilepsia em si, mas pela super-proteção exagerada dos
pais.
O paciente epilético e sua família
A epilepsia pode romper com o senso familiar de autonomia e competência.
Para que o equilíbrio familiar seja recuperado, evitando conflitos e favorecendo
a união, é importante que seus membros consigam chegar a um consenso
sobre o que é epilepsia e como lidar com ela. O paciente e seus familiares
podem beneficiar-se de grupos de apoio, por meio do contato com outras
pessoas que convivem com a epilepsia e profissionais da área.
A criança epilética e a escola
Com diagnóstico e tratamento adequados, aproximadamente 80-90% das
crianças terão sua crises controladas com um mínimo de efeitos indesejados.
Isso lhes permitirá acesso a uma vida normal. O tempo de crise é infinitamente
pequeno em relação ao restante do tempo sem crises, e a criança não deve
organizar sua vida ou restringir atividades escolares em função desses
momentos críticos. Os pais podem avisar o(s) professor (es) da condição da
criança e orientá-los.
Dificuldades de aprendizagem
A epilepsia normalmente não afeta a inteligência. As dificuldades de
aprendizagem podem ocorrer por crises freqüentes e prolongadas ou por
efeitos colaterais dos medicamentos, como fadiga, sonolência e diminuição da
atenção.Eventualmente uma pessoa com retardo mental poderá ter epilepsia;
isso não significa que a epilepsia é a causa do retardo mental, mas ambos
podem ser conseqüência de um comprometimento cerebral mais amplo.
Aula de Educação Física
A criança com epilepsia não deve ficar excluída das aulas de educação física,
pois a prática de exercícios ajuda no desenvolvimento do ser humano. Vôlei,
futebol, ginástica, corrida e tênis podem ser feitos naturalmente; a natação
deve ser praticada sob supervisão. Crianças epilépticas não devem participar
de exercícios em barras, não devem andar de bicicleta em ruas movimentadas,
subir em árvores, praticar asa delta ou alpinismo.
Epilepsia e a adolescência
Na adolescência, principalmente, as crises costumam ser desencadeadas pelo
uso de drogas e álcool, que interferem no mecanismo dos medicamentos antiepilépticos, bem como por privação de sono após festas prolongadas.
Problemas próprios de uma fase conturbada como a adolescência podem,
eventualmente, estar associados à epilepsia. Enquanto o adolescente procura
a independência, os pais superprotegem-no porque ele pode ter crises. Assim,
é muito comum a negação da epilepsia por parte do adolescente, levando à
não-adesão ao tratamento, isto é, à não-utilização da medicação de forma
correta.
Recomendações ao adolescente com epilepsia
É muito importante que o adolescente com epilepsia seja orientado quanto ao
que pode ou não fazer. Uma boa relação com seu médico lhe proporciona a
possibilidade de expor com franqueza seus problemas e sentir-se entendido e
ajudado. O profissional que trata o adolescente deve estimulá-lo a não desistir
do tratamento e a segui-lo regularmente (por exemplo: não deixar de tomar
medicação porque tem uma festa e quer beber álcool). Misturar medicação e
buscar soluções mágicas, como a substituição do tratamento por práticas
religiosas, são ações que também não devem ser feitas.
O paciente epilético e o emprego
Estudos mostram que 50% a 60% de pessoas com epilepsia escondem sua
condição ao procurar emprego; no entanto, as faltas por doença e os acidentes
de trabalho não são mais freqüentes em pessoas com epilepsia do que nos
demais empregados. Ao serem admitidas em um emprego, as pessoas não
podem ser indagadas a respeito da epilepsia. Esta é uma informação pessoal.
A pergunta possível é: "Você tem algum problema de saúde que possa impedilo de realizar este trabalho?" Se não for o caso, não é necessário mencionar a
epilepsia. A falta de informação ainda resulta em preconceito, mas o ideal é
que as pessoas aproveitem as oportunidades de prestar esclarecimentos sobre
a epilepsia, a fim de melhorar a qualidade de vida de quem sofre com o
problema. Afinal, quem tem epilepsia controlada tem vida absolutamente
normal, e mesmo quem passa por crises só fica abalado durante os poucos
minutos em que elas acontecem. Nos casos em que se faz necessário
restrições para certos tipos de emprego, as decisões devem levar em conta
avaliações, e não o diagnóstico genérico de epilepsia. As profissões mais
adequadas são aquelas em que a pessoa se sente adaptada e não corre risco
de vida. Devemos lembrar que algumas atividades são potencialmente
arriscadas para os pacientes portadores de epilepsia, como o trabalho com
máquinas e serras que ofereçam risco de dano físico, trabalhos em andaimes e
similares. Não são indicadas ocupações como eletricista, piloto, bombeiro,
motorista etc. Os médicos podem ajudar o paciente com epilepsia a se adaptar
profissionalmente. Primeiro: podem indicar a profissão adequada; segundo:
podem facilitar a admissão, orientando e educando os empregadores; terceiro:
não devem reforçar o auxílio-doença, e sim incentivar o paciente a continuar
trabalhando.
O epilético e o transito
Dirigir é um privilégio e não um direito e, para tanto, a pessoa deve estar apta
física e mentalmente. Estatísticas mostram que a freqüência de acidentes de
trânsito com epilépticos pouco difere da população em geral. O número é muito
mais elevado com alcoolistas: a bebida alcoólica representa mil vezes mais a
causa de acidentes do que as crises epilépticas. Em países desenvolvidos,
existem recomendações ao indivíduo com epilepsia que quer dirigir, como:
estar livre de crises no mínimo há um ano e sob acompanhamento médico;
dirigir somente veículos da categoria B (carro de passeio), e não ser motorista
profissional, isto é, não conduzir veículos pesados e transporte público, mesmo
livre de crises há anos.
Casamento e a gravidez
O casamento entre pessoas com epilepsia torna-se mais ou menos comum de
acordo com o tipo e freqüência de crises enfrentadas. Na relação entre o casal,
o cônjuge da pessoa com epilepsia costuma ficar extremamente preocupado
quando ocorre uma modificação no esquema habitual: se a pessoa se atrasa,
por exemplo. A constante supervisão pode se tornar uma obsessão e o
paciente pode se sentir aborrecido por seus problemas nunca serem
esquecidos. O cônjuge deve, então, tratar o epiléptico com mais naturalidade.
Vale lembrar que alguns anticonvulsivantes interagem com as pílulas
anticoncepcionais, diminuindo sua confiabilidade. As drogas antiepilépticas
aumentam, ainda que em pequena proporção, o risco de malformações fetais.
Entretanto, interromper o uso da medicação é perigoso para a mãe e para o
bebê. O acompanhamento médico durante a gravidez é a melhor maneira de
prevenir complicações.
A criança com pais epiléticos
Sempre nos preocupamos com a criança ou o adulto com epilepsia, mas com
freqüência esquecemos-nos de orientar a criança que é filha de pais
epilépticos. Não há dúvida que assistir a uma crise é uma experiência muito
angustiante para a criança; por isso, ela precisa ser ajudada a lidar com a
epilepsia de seu pai ou de sua mãe. Uma estratégia é ensiná-la a cooperar
durante a crise. A criança poderá ter um pequeno papel, como por exemplo,
colocar um travesseiro, um pano ou um casaco embaixo da cabeça do
epiléptico e falar palavras de conforto. Negar à criança uma participação em tal
situação só serve para aumentar o medo e a ansiedade ante uma crise. Assim,
é importante que ela veja um adulto agir com calma e tranqüilidade ao atender
uma pessoa com crise.
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