GESTÃO DE MARKETING AULA 1 INTRODUÇÃO Vivemos num ambiente altamente competitivo, onde proliferam empresas buscando a satisfação das necessidades humanas. Organizações de vários tipos e formas, procedentes de diversos países e regiões, buscam não só sua sobrevivência, mas também a realização de seus objetivos e, principalmente, a escolha pelo consumidor. No mercado atual, onde as empresas e os grandes conglomerados, como fortes agentes econômicos, sustentam o sistema econômico de muitos países, conhecer o comportamento das organizações e seu relacionamento com o mercado é fundamental. O Marketing, como parte da Administração, é matéria imprescindível para essa compreensão. O marketing está por toda a parte. Formal ou informalmente, pessoas e organizações envolvem-se em um grande número de atividades que poderiam ser chamadas de marketing, isto é, a compra e venda de produtos ou serviços. O marketing tem-se tornado um ingrediente cada vez mais indispensável para o sucesso nos negócios. E o marketing afeta profundamente nossa vida cotidiana. Ele está em tudo o que fazemos. Desde as roupas que vestimos até os sites que clicamos, passando pelos anúncios que vemos. Como explica Philip Kotler, o bom marketing não é acidental. Em quase todos os setores, as práticas de marketing estão sendo continuamente refinadas e reformuladas para aumentar as chances de sucesso. Mas a excelência em marketing não é fácil de obter. O marketing é ao mesmo tempo uma ciência e uma arte, com suas técnicas e ferramentas e com seu lado imaginativo e criativo. As empresas e organizações bem-sucedidas de hoje apresentam um ponto em comum: são orientadas para o cliente e o mercado, isto é, são profundamente comprometidas com o marketing. São organizações que buscam criar valor para seus clientes e satisfazer as necessidades de seus consumidores. UNIDADE 1: O QUE É MARKETING? Se a maioria das pessoas for forçada a definir marketing, inclusive alguns gerentes de empresas, dirá que marketing significa “venda” ou “propaganda”. É verdade que estas são partes do marketing, porém marketing é muito mais do que isso. Marketing é uma palavra em inglês derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação voltada para o mercado. O mercado é a razão e o foco do marketing. Em português, utiliza-se a palavra mercadologia como equivalente ao termo em inglês, embora esse vocábulo seja pouco utilizado. 1 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Existem diversas definições de marketing. Eis algumas delas: “Uma função organizacional e um conjunto de processos para a criação, comunicação e entrega de valor aos consumidores e para a administração do relacionamento com os consumidores de forma que se beneficiem a organização e seus stakeholders” (Associação Americana de Marketing, 2004). “Um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros” (Philip Kotler, 2006). “A orientação geral de uma organização em direção ao consumidor para assegurar seu sucesso no longo prazo” (Boone e Kuntz, 2004). “A arte e a ciência de conquistar, satisfazer e manter clientes rentáveis” (Theodore Levitt, 1991). “O negócio todo sob a perspectiva do cliente” (Peter Drucker, 1964). “A função empresarial que cria valor para o cliente e gera vantagem competitiva duradoura para a empresa, por meio da gestão estratégica das variáveis controláveis de marketing: produto, preço, comunicação e distribuição” (Tânia Maria Vidigal Limeira, 2003) O marketing pode ser aplicado tanto às atividades de empresas que visem o lucro como às atividades de organizações sem fins lucrativos. Por exemplo, uma escola pública possui 'clientes (os alunos), faz oferta de um produto ou serviço à sociedade, cobra um preço (imposto), comunica seus atributos ao mercado (diversos públicos interessados) e fica localizada em lugar acessível. Logo, não apenas as empresas que visam lucro utilizam os ensinamentos do marketing. Ele pode ser aplicado em vários aspectos: bens, serviços, eventos, experiências, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e ideias. O processo de marketing e suas atividades O processo mercadológico é composto por um conjunto de atividades de negócios pelo qual a empresa direciona o fluxo de bens e serviços dos produtores para os consumidores/usuários, a fim de satisfazê-los e realizar os objetivos organizacionais. Esse processo inclui as seguintes atividades e funções: identificar as necessidades do consumidor; conceber e desenvolver bens e serviços que satisfaçam essas necessidades; atribuir preço (precificar); 2 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 comunicar aos compradores em potencial a disponibilidade de mercadorias/serviços; tornar os bens e serviços disponíveis onde e como os clientes desejarem; proporcionar serviços pós-venda; posicionar o produto competitivamente para vencer a concorrência; promover e gerenciar o valor da marca (branding); gerir o relacionamento com o cliente, buscando sua fidelização; promover as relações públicas da organização. De maneira sucinta, quase todos os conceitos de marketing enfatizam o que segue: todas as atividades concernentes às relações de trocas; relações de troca orientadas para a criação de valor aos consumidores; o ambiente de atuação (mercado); o impacto que essas relações causam no bem-estar da sociedade. Sistema simplificado de marketing O sistema simplificado de marketing, que é mostrado na figura abaixo, é uma estrutura que compreende a função de marketing como um processo de troca. A troca é o conceito central do marketing, e envolve a obtenção de um produto desejado de alguém oferecendo algo em troca. A efetivação da troca ou não depende de as duas partes concordarem em termos que deixarão ambas em uma situação melhor do que antes. Quando ambas as partes chegam a um acordo, dizemos que ocorre uma transação. No sistema de marketing, temos de um lado os produtores/vendedores e, do outro, os consumidores/compradores, com objetivos diferentes. Por meio da transação, ambas as partes realizam seus interesses. Os consumidores satisfazem suas necessidades e obtêm o valor pretendido e os produtores e vendedores realizam seus objetivos de lucro e geração de valor para os proprietários. De maneira simples, o sistema demonstra como ocorre o processo de criação de valor para as partes envolvidas. O sistema simplificado de marketing tem como objetivos: maximizar a satisfação do consumidor; maximizar o consumo; maximizar a escolha e maximizar a qualidade de vida. 3 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING O Marketing é uma relação de troca Sistema Simples de Marketing Comunicação Setor (conjunto de vendedores) Realização do Lucro Bens/Serviços Dinheiro Informaç Informação Mercado (conjunto de compradores) Satisfação de Necessidades e desejos O marketing afeta diretamente o crescimento e o desenvolvimento econômico. Ele estimula a pesquisa e as novas ideias, resultando em novos bens e serviços. O marketing proporciona a escolha entre muitos produtos. Se esses produtos satisfazem os consumidores, podem resultar em mais empregos, rendas mais altas e um padrão de vida mais elevado. Do ponto de vista do produtor, ao combinar os elementos do composto de marketing, o gerente de marketing considera o efeito que cada elemento tem nos demais. O sucesso da ação mercadológica depende das estratégias eficazes de administração de cada um dos quatro elementos do mix de marketing: produto, preço, praça ou ponto de venda e promoção (veja figura abaixo). Da perspectiva do consumidor, o composto de marketing se chama oferta. 4 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Composto de Marketing: 4 Ps Produto Preço Marketingmix Praça Promoção As ferramentas estratégicas que uma organização utiliza para criar valor para os clientes e alcançar os objetivos organizacionais O composto de marketing, também conhecido como Marketing-Mix ou 4 Ps, é a combinação dos quatro elementos da estratégia de decisão em marketing para satisfazer os segmentos de consumidores escolhidos. Evolução histórica do conceito de marketing O conceito de marketing vem evoluindo ao longo do tempo. Seus principais estágios são descritos a seguir: 1) Escambo (troca) A essência do marketing é o processo de troca, no qual uma ou mais partes dão alguma coisa de valor para o outro para satisfazer as suas necessidades. Nos primórdios da sociedade, as necessidades de consumo dos indivíduos eram satisfeitas por meio de trocas. Até o surgimento da moeda, as pessoas ofereciam bens como meio de pagamento para adquirir as mercadorias que precisavam consumir. 2) Produção (ênfase no produto) No período da Revolução Industrial, os produtos passaram a ser fabricados em massa de maneira padronizada e de modo cada vez mais acessível às diversas classes sociais. O exemplo clássico que ilustra essa época é a indústria automobilística e a popularização do automóvel. A ênfase do marketing estava naquilo que a indústria fabricava e oferecia. A filosofia de negócios se baseava no aumento da eficiência da produção, com a atitude de marketing de que “um bom produto se vende por si mesmo”. Os indivíduos não tinham opção 5 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING de compra além dos produtos que eram ofertados pelas indústrias. Essa era é ilustrada pela famosa frase de Henry Ford: “Você pode escolher qualquer cor de carro, desde que seja preta”. 3) Vendas (“empurrar” o produto) A ênfase nas vendas ocorre a partir dos anos 1930, quando a economia sofre forte recessão após o crash da bolsa de Nova York. As empresas buscam “empurrar” seus produtos, oferecendo todo tipo de condições para que os consumidores, grande parte deles desempregada, os comprem. A meta é conseguir vender em uma economia em recessão, e desovar os estoques, que com a crise se tornaram parados. O modelo de vendas porta a porta se desenvolve de forma crescente. 4) Marketing (satisfazer o cliente) Após a Segunda Guerra Mundial, a economia norte-americana passou por um período de grande prosperidade e consumo. As famílias americanas começaram a aumentar seus gastos e demandar novos produtos. Com isso, aumentou o número de ofertas. A competição entre as empresas também aumentou. A ênfase do marketing nessa época passou a ser a satisfação das necessidades específicas dos consumidores como forma de conquistá-los antes da concorrência. Nessa filosofia, o “cliente é o rei”. Era a emergência do marketing como se conhece hoje: a orientação de todo o negócio para o consumidor. 5) Marketing de relacionamento Nas décadas de 1980 e 1990, com o aumento da exigência dos consumidores, a globalização e o crescimento da concorrência, as empresas passaram a melhorar a qualidade de seus produtos e a reduzir seus custos. Agora, além de conquistar os consumidores, as empresas precisam também mantê-los, fidelizá-los. As empresas passam a desenvolver programas de relacionamento com seus consumidores, como, por exemplo, os programas de milhagem oferecidos pelas companhias aéreas, como forma de manter os clientes. A visão dessa era tem como componente o relacionamento a longo prazo para assegurar o sucesso do negócio. Cresce também a customização de produtos, isto é, o desenvolvimento de produtos personalizados para atender às necessidades peculiares de cada indivíduo. 6) Marketing societal Com o aumento da preocupação com a preservação do meio ambiente e com a justiça social, o desenvolvimento sustentável passou a ser uma prioridade dentro das empresas, sobretudo ao se elaborarem bens e serviços. Hoje, as empresas buscam desenvolver produtos que não só satisfaçam aos consumidores diretos, mas também não provoquem impactos negativos no meio ambiente e na sociedade, e que gerem valor para todas as partes interessadas no 6 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 negócio, como acionistas, colaboradores, fornecedores, comunidade, governo e meio ambiente. Atualmente, podemos encontrar todas essas filosofias coexistindo em diversos mercados, de acordo com a natureza das empresas e os momentos de desenvolvimento. UNIDADE 2: O PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING Planejamento estratégico “Não há vento favorável para quem não sabe aonde vai”, disse Sêneca há aproximadamente dois mil anos. Esta frase continua atual no mundo empresarial: qualquer empresa que não tenha uma missão, diretrizes estratégicas e objetivos claros pode ficar à deriva, nas turbulências ambientais, e, sem rumo, não chegar a lugar algum. O processo de administração de marketing está integrado ao planejamento estratégico da empresa. Os planos e programas de marketing de uma empresa são um desdobramento, em nível funcional, das estratégias do negócio. O planejamento estratégico visa garantir o futuro da empresa e é sistematizado por meio das seguintes etapas: Definição da missão da empresa É o estabelecimento do propósito da empresa, da sua razão de ser. Define o que a empresa faz, em qual ramo de negócio atua, que produtos e soluções oferece ao mercado e quais são seus diferenciais. A Otis Elevadores, por exemplo, tem como missão “oferecer soluções de transporte a curtas distâncias de pessoas e cargas no mercado global por meio de qualidade e segurança”. Análise ambiental (externa e interna) O segundo passo é a análise dos ambientes externo e interno da organização. Como as variáveis do contexto no qual a empresa opera podem influenciar os rumos do negócio? Neste estágio, identificam-se as ameaças e oportunidades do ambiente externo – fatores econômicos, sociais, político-legais, demográficos e tecnológicos – e forças e fraquezas do ambiente interno – estrutura, pessoal, know-how e cultura da empresa, entre outros. 7 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Estabelecimento de objetivos e estratégias organizacionais Este estágio define quais são os objetivos de longo prazo da empresa e por meio de quais estratégias pretende alcançá-los. Um exemplo de objetivo organizacional é: aumentar a participação de mercado para 10% nos próximos cinco anos. As estratégias envolvem o que fará e como agirá a empresa para alcançar suas metas. As estratégias podem ser divididas em três níveis: - Estratégias corporativas: como a empresa vai direcionar seu negócio em relação aos investimentos de longo prazo. Uma empresa pode atuar de modo concentrado em um único ramo de negócio (exemplo: Habibs no mercado de fast-food), de modo diversificado, atuando em vários mercados (exemplo: o Grupo Sílvio Santos em tevê aberta, varejo, cosméticos e hotelaria), ou pode promover fusões e aquisições de outras empresas para acelerar seu crescimento (exemplo: o Banco Itaú se fundiu com o Unibanco, aumentando sua participação no mercado financeiro). - Estratégias competitivas: essas estratégias se referem a como a empresa vai concorrer contra seus competidores. A empresa pode adotar uma estratégia de diferenciação (qualidade superior) ou baixo custo. O Pão de Açúcar é um exemplo da primeira estratégia e o Carrefour, um exemplo da segunda. - Estratégias funcionais: essas estratégias dizem respeito a como cada área especializada da empresa vai contribuir com seu expertise para gerar valor no alcance das estratégias competitiva e corporativa. Elas incluem as estratégias de marketing, de recursos humanos, de operações, de tecnologia da informação e de finanças. As estratégias funcionais definem também que projetos serão desenvolvidos na empresa para o alcance dos objetivos estratégicos. Implementação e controle Esta etapa se refere aos planos específicos para execução das estratégias: como os recursos serão alocados e como a liderança da empresa vai conduzir o processo, coordenando e integrando as ações das diversas áreas da organização. Neste estágio, são estabelecidas as métricas de controle do processo, incluindo os indicadores de desempenho pelos quais o planejamento estratégico será monitorado e avaliado. Exemplos de indicadores incluem: volume de vendas, rentabilidade, satisfação de clientes e bem-estar dos funcionários. 8 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 O processo de administração de marketing O processo de administração de marketing se refere à estratégia funcional da área de marketing, isto é, a quais planos, programas e projetos serão desenvolvidos no âmbito da atividade mercadológica da empresa para gerar valor ao negócio e promover o alcance dos objetivos organizacionais. Assim, o gerente de marketing planejará o processo de gestão das funções e atividades de marketing – tais como desenvolvimento do produto, precificação, estratégias de distribuição e promoção, propaganda e vendas. Para tanto, deverá levar em consideração os objetivos organizacionais e as variáveis ambientais, buscando desenvolver e manter ajustes estratégicos entre os recursos, os objetivos e as oportunidades decorrentes das mudanças no mercado. Por exemplo, o aumento demográfico da terceira idade no país pode representar uma oportunidade para uma instituição de ensino superior oferecer cursos específicos para aquele segmento de clientes. O programa de marketing da empresa, composto pelos planos e projetos de marketing ao nível das unidades de negócios, produto e mercado, serve como instrumento estratégico e operacional para facilitar o alcance dos objetivos organizacionais e a análise do mercado. Por exemplo, uma organização que busque como diretriz promover a inovação tecnológica de determinado setor poderá ter como programa de marketing o desenvolvimento de novos cursos e programas voltados para a capacitação de profissionais naquela área ou ainda a formação de parcerias com empresas referenciais naquele segmento de mercado. Os planos de marketing precisam, portanto, estar integrados ao planejamento estratégico corporativo. O processo de administração de marketing, influenciado pelos ambientes externo e interno da empresa e integrado ao planejamento estratégico da organização, consiste em quatro etapas (veja figura abaixo): análise das oportunidades de marketing; seleção de consumidores-alvo; desenvolvimento do mix de marketing; administração do esforço de marketing. 9 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Fatores que influenciam a estratégia voltada para o cliente Intermediários de marketing O A po n r t ál M uni ise d er da a ca de s do s de Produto es Ad fo m rç in o is de tr m açã ar o ke do tin g Ambiente físico/ sico/ tecnoló tecnológico PraçaClientes-Preço alvo Públicos to ng e n e ti im k lv ar vo e m en d e s ix D m do vo Fornecedores co S ns el um eç i d ão d or o es s -a l Ambiente demográ demográfico/ fico/ econômico Promoção Ambiente Polí Político/legal tico/legal Concorrentes Ambiente sociocultural A organização deve estar atenta às oportunidades de mercado, identificando a atratividade e a probabilidade de sucesso em determinado segmento. Para tanto, acompanhar as tendências e mudanças em seu segmento é essencial para garantir o sucesso do negócio. Muitas organizações fracassaram por não analisar as tendências do mercado onde atuam. A Polaroid, por exemplo, não percebeu a mudança no mercado de máquinas fotográficas, com o advento tecnológico da fotografia digital. Uma vez que a empresa identifique novas oportunidades, torna-se necessário escolher para quem suas ofertas serão apresentadas. Nesta fase, a empresa identifica que público-alvo será objeto de seus esforços de marketing. Por exemplo, a globalização promoveu uma grande expansão dos cursos de inglês e espanhol para as crianças. O desenvolvimento do composto de marketing – produto, preço, praça e promoção – é a etapa fundamental do processo de gestão mercadológica. Desenvolver o produto certo para o público certo e distribuí-lo nos locais adequados a preços competitivos será determinante do sucesso no aproveitamento das oportunidades de mercado. Para tanto, a qualificação da equipe de marketing também será um fator decisivo, sobretudo na criatividade de encontrar soluções que caiam no gosto dos consumidores. A quarta etapa do processo de administração de marketing parte da premissa de que o mundo está em contínua mudança e de que a organização deve se empenhar em reinventar-se, renovar-se, ajustando continuamente seus esforços de marketing para acompanhar as tendências e mudanças no comportamento dos consumidores e na evolução do mercado. 10 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 O ambiente de marketing Sendo a empresa um sistema aberto, que troca insumos com o meio onde opera, é elementar que o gerente de marketing possua uma visão holística da organização e de seu ambiente de negócios. Daí a necessidade de identificar os fatores ambientais e como eles podem influenciar o funcionamento da organização. Como já foi visto, o planejamento estratégico e o plano de marketing da empresa estão totalmente integrados e são interdependentes. Para compreender melhor como as variáveis do ambiente podem influenciar as atividades da empresa, uma classificação comumente utilizada divide o ambiente em dois segmentos: o macroambiente e o microambiente. O quadro a seguir mostra os elementos que compõem cada segmento: MACROAMBIENTE MICROAMBIENTE Grandes forças do ambiente no qual se insere a organização e que influenciam seu microambiente Forças no ambiente imediato da organização que afetam diretamente seu desempenho Ambiente econômico (exemplos: crescimento econômico, taxa de juros, inflação, taxa de câmbio) Ambiente demográfico (exemplo: perfil da população) Ambiente sócio-cultural (exemplos: crenças e costumes da sociedade) Ambiente político-legal (exemplos: legislação e normas) Ambiente tecnológico (exemplos: know-how, inovação) Ambiente competitivo (exemplo: rivalidade entre os concorrentes) A empresa (exemplos: ramo de negócio, tamanho da organização, cultura organizacional) Clientes (exemplo: público-alvo específico de consumidores da empresa) Fornecedores (exemplo: empresas na cadeia de valor do negócio que fornecem bens e serviços para o desenvolvimento de produtos) Intermediários de marketing (exemplo: agências de pesquisa de mercado) Públicos (exemplo: os diversos públicos interessados no negócio, como funcionários, acionistas, governo, sociedade) UNIDADE 3: SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE MARKETING E PESQUISA DE MARKETING O sistema de informações de marketing (SIM) Toda empresa deve organizar e manter um fluxo contínuo de informações para que seus gerentes possam tomar as decisões mais apropriadas. Em uma empresa, a responsabilidade maior de identificar as tendências de mercado é dos profissionais de marketing. Eles devem coletar informações por meio de métodos consistentes e passar o tempo interagindo com os fatores ambientais. Um modelo útil para a coleta, a análise e a utilização das informações é o sistema de informações de marketing (SIM). 11 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING O SIM, como mostra a figura a seguir, é uma estrutura contínua e em interação de pessoas, equipamentos e procedimentos para juntar, classificar, avaliar e distribuir informações pertinentes, oportunas e precisas para uso por tomadores de decisão de marketing para melhorar o planejamento, a execução e o controle de marketing. Sistema de Informação de Marketing Informações de MKT Sistema de Informações de Marketing Administradores de MKT Mercados Alvos Canais de Mkt Concorrência Públicos Forças do Macroambiente Informações de MKT Administradores de MKT Sistema Sistemade de Relatório Relatório Internos Internos Sistema de Inteligência de MKT Sistema de Pesquisa de MKT Análise Planejamento Implementação Controle Sistema Analítico de MKT Decisões de Comunicação em Marketing O sistema é desenvolvido a partir de registros internos da empresa, atividades de inteligência de marketing e pesquisa de marketing. O SIM inclui uma variedade de registros internos e de inteligência de marketing, tais como pedidos, volume de vendas, preços, custos, níveis de estoque, contas a receber e contas a pagar. É por meio da análise dessas informações que os gerentes de marketing podem identificar oportunidades e problemas importantes. Atualmente as empresas organizam suas informações em bancos de dados – banco de dados de clientes, banco de dados de produtos, banco de dados de fornecedores, etc. – e, depois, combinam as informações desses diferentes bancos. Esses bancos de dados são conhecidos como data warehouses e representam uma diversidade de informações úteis e necessárias para a tomada de decisão. Por meio de seus bancos de dados, a empresas podem identificar, por exemplo, as preferências de determinado segmento de clientes e com isso oferecer ofertas personalizadas. O sistema de inteligência de marketing é um dos componentes do SIM. Ele é um conjunto de procedimentos e fontes usados por administradores para obter informações diárias sobre eventos no ambiente de marketing. Ele Inclui livros, revistas técnicas, publicações setoriais, 12 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 participação em feiras, cursos e eventos. Quanto mais qualificada a equipe de marketing e quanto maior o acúmulo de conhecimento mercadológico, maior a inteligência de marketing da empresa. O sistema de pesquisa de marketing O processo de pesquisa de marketing representa uma solução sistemática para os problemas de marketing. As informações que não estão estocadas nos bancos de dados da empresa podem ser obtidas por meio da aplicação de pesquisas feitas pelos profissionais de marketing. A pesquisa de marketing é o desenho, a busca, a análise e o relatório sistemático de dados e descobertas que concernem a uma situação específica de marketing que a empresa está enfrentando. Uma empresa pode ter acesso a pesquisas de marketing de várias maneiras. A maioria delas conta com pessoas especializadas em desempenhar esse papel, outras preferem contratar empresas especializadas no desenvolvimento e aplicações de pesquisa. As pesquisas podem ser classificadas conforme o tipo de dados que visam obter. As pesquisas de dados primários envolvem a coleta de dados pela primeira vez, isto é, informações que ainda não estão disponíveis no mercado. Pesquisas de fonte secundárias, por sua vez, envolvem as buscas de dados já disponíveis no mercado. Um exemplo de dados secundários são informações constantemente divulgadas pelo IBGE e que podem ser úteis às análises e ações de marketing da empresa. Tipos de pesquisa Outra classificação divide as pesquisas conforme sua natureza, como descrito a seguir: pesquisa de propaganda: avalia a receptividade e resultados advindos de determinada campanha publicitária; pesquisa corporativa: avalia dados da empresa e da concorrência, tais como participação de mercado e dados do setor; pesquisa de responsabilidade corporativa: investiga a imagem e a reputação da empresa no mercado; pesquisa de produtos: avalia as diferenças dos produtos existentes no mercado; pesquisa de vendas e de mercado: avalia o volume de vendas, evolução no mercado e preferências do consumidor. 13 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Etapas da pesquisa de marketing O processo de pesquisa de marketing compõe-se das seguintes etapas: 1) Definição do problema, das alternativas de decisão e do objetivo da pesquisa Esta etapa diz respeito a identificar qual é o problema que a empresa está enfrentando e deseja solucionar. Por exemplo: por que as vendas estão caindo? A pesquisa pode ser do tipo exploratória – cuja meta é demonstrar a real natureza do problema e sugerir possíveis soluções –, descritiva – que procura determinar certas dimensões do problema e sua forma de apresentação – ou causal – cujo propósito é testar relações de causa e efeito. 2) Desenvolvimento do plano de pesquisa A segunda etapa da pesquisa de marketing diz respeito ao desenvolvimento do plano mais eficiente para a coleta de informações necessárias. Inclui a forma de obtenção de dados – primária, secundária ou ambas –, as abordagens de pesquisa, os instrumentos a serem utilizados e os custos que ela envolverá. As abordagens de pesquisa podem ser caracterizadas por observação, grupo de foco (entrevistas com alguns clientes), levantamentos, dados comportamentais e pesquisa experimental (feita em laboratório). Para a coleta de dados, os instrumentos de pesquisas podem variar conforme a situação. Questionários com questões abertas e fechadas e pesquisas qualitativas, desde observação direta até entrevistas aprofundadas, são comumente utilizados. Os métodos de contato podem ser pelo correio, por telefone, entrevistas pessoais e entrevistas on-line. Considerações estatísticas devem ser feitas, tais como o tamanho da amostra e se a abordagem será probabilística (aleatória) ou não probabilística (por conveniência). 3) Coleta de informações A fase da coleta de dados é geralmente a mais dispendiosa e a mais sujeita a erros. No caso de levantamentos, por exemplo, alguns entrevistados não estarão em casa e deverão ser recontados ou substituídos, outros se recusam a responder e outros dão respostas tendenciosas. Os métodos de coleta de dados estão melhorando consideravelmente graças à informática e às telecomunicações. Atualmente, as mídias sociais tem sido utilizadas para coletar informações rapidamente. 4) Análise das informações 14 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Nesta etapa são tiradas conclusões a partir dos dados coletados. O pesquisador tabula os dados e monta distribuições de frequência. Média e medidas de dispersão são computadas para cada uma das variáveis. Técnicas estatísticas também são utilizadas. A inteligência de marketing da organização é muito importante nesta fase para fazer a avaliação de modo imparcial e correto. 5) Apresentação dos resultados Nesta etapa, o pesquisador apresenta suas conclusões às partes interessadas. Ele deve apresentar conclusões importantes que sejam relevantes para a avaliação e tomada de decisão de marketing pelos responsáveis da empresa. 6) Tomada de decisão A última etapa do processo da pesquisa de marketing envolve a tomada de decisão pelos gerentes que encomendaram a pesquisa, comumente a alta direção da empresa. Nesta etapa, os tomadores de decisão devem pesar as evidências apresentadas. As pesquisas de marketing representam importantes ferramentas para um sistema de apoio a decisões gerenciais. UNIDADE 4: O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Toda a ação de marketing é direcionada para o consumidor. Portanto, compreender o comportamento do consumidor é particularmente importante para o gerente de marketing, facilitando-lhe a administração do composto de marketing para a satisfação das necessidades e desejos do comprador potencial. O conceito de mercado, originário da economia, é fundamental para a prática do marketing. Por mercado entende-se o conjunto de pessoas ou organizações cujas necessidades podem ser satisfeitas por produtos ou serviços e que dispõem de renda para adquiri-los. Desse conceito derivam as noções de mercado de consumo, referente a pessoas, e mercado organizacional, referente às organizações. O campo do comportamento do consumidor estuda como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam artigos, serviços, ideias e experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. Estudar o cliente ajuda a melhorar ou lançar produtos e serviços, determinar preços, projetar canais, elaborar mensagens e desenvolver outras atividades de marketing. Os profissionais de marketing estão sempre em busca de novas tendências que ofereçam oportunidades de marketing. 15 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING O que influencia o comportamento de compra De acordo com Philip Kotler, a mente do consumidor é como uma “caixa-preta”. Nela está escondida a natureza do comportamento do consumidor, baseada em quando, por que, como e onde as pessoas compram ou não os produtos. Como mostra o quadro 2, a seguir, o consumidor é influenciado por fatores ambientais em seu processo de tomada de decisão. Esses fatores incluem as variáveis ambientais e os próprios estímulos de marketing. A comparação com a caixa-preta de um avião foi feita por Kotler para destacar que o comportamento do consumidor é diretamente influenciado por características nem sempre fáceis de serem observadas: as características do comprador, que serão vistas a seguir. Essas características determinam o modo como o comprador tomará sua decisão de compra. Essa decisão segue um processo de várias etapas. O resultado disso são as respostas do consumidor, isto é, sua escolha do produto, da marca, do vendedor, da qualidade e do momento da compra. Fatores ambientais Caixa-preta do comprador Respostas Estímulo de marketing Estímulo ambiental Características do comprador do Processo de decisão comprador Produto Econômico Atitudes Reconhecimento do problema Escolha Preço Técnico Motivação Procura de informação Marca escolhida Praça Político Percepções Avaliação alternativa Comerciante escolhido Promoção Cultural Personalidade Decisão de compra Momento da compra Estilo de vida Comportamento após a compra Qualidade da compra Variáveis que influenciam o comportamento do consumidor O comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. 16 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Fatores culturais A cultura é o principal determinante do comportamento e dos desejos de uma pessoa. À medida que cresce, a criança absorve certos valores, percepções, preferências e comportamentos de sua família e de outras instituições. Por exemplo, a boneca Barbie, criada nos EUA, quando foi exportada para o Japão foi um fracasso de vendas, pois as crianças japonesas não se identificaram com a boneca loira e de olhos azuis. A empresa rapidamente aculturou sua boneca, criando uma boneca com traços orientais. A cultura envolve as crenças e costumes de um grupo social, nação ou região. A cultura compõe-se de subculturas que fornecem identificação e socialização mais específicas para seus membros. Entre as subculturas estão as nacionalidades, as religiões, os grupos raciais e as regiões geográficas. A subcultura gaúcha, por exemplo, possui comportamentos específicos e diferenciados de outras regiões do País, como a culinária, hábitos sociais e gírias. Fatores sociais Os fatores sociais também exercem forte influência sobre os hábitos de consumo. Os fatores sociais incluem os grupos de referência, família, papéis sociais e status. - Grupos de referência: são aqueles que exercem alguma influência direta ou indireta sobre as atitudes ou comportamentos de uma pessoa. Alguns grupos de afinidade são primários, como família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Grupos secundários incluem grupos religiosos e profissionais ou associações de classe. Por exemplo, os jovens adotam muitos comportamentos utilizados por sua “tribo”, como estilo de vestir e falar. Igualmente, os advogados costumam adotar comportamentos específicos da profissão, como estilo de vestir e usos de objetos pessoais, como caneta-tinteiro, bem diferentes de outros profissionais, como engenheiros ou jornalistas. Os grupos de referência incluem também os líderes de opinião, pessoas com poder de influenciar hábitos, opiniões e costumes em um grupo social. Exemplos incluem atletas, artistas e jornalistas. - Família: a família é o primeiro grupo social que influencia o consumidor. Muitos dos produtos que estão em nossos refrigeradores começaram a ser habitualmente consumidos por nossos pais. A família é o primeiro grupo de referência e o mais influente. - Papéis e status: cada um de nós participa de muitos grupos – família, clubes e organizações. A posição da pessoa em cada grupo pode ser definida em termos de papéis e status. Um papel consiste nas atividades esperadas que uma pessoa deve desempenhar, como pai ou chefe, por exemplo. Cada papel carrega um status. Um diretor de escola tem mais status que um professor. 17 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Fatores pessoais Os fatores pessoais englobam características como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, autoimagem, estilo de vida e valores. - Idade e estágio no ciclo de vida: as pessoas compram diferentes artigos e serviços durante a vida. O gosto no que diz respeito a roupas, móveis e lazer em geral se relaciona à idade. Os padrões de consumo também são moldados pelo ciclo de vida do indivíduo, um amplo continuum de fases pelas quais o comprador passa ao longo de sua vida: infância, adolescência, fase adulta solteira, casamento, nascimento de filhos, divórcio, viuvez, terceira idade. Essas transições ou mudanças na vida influenciam os hábitos e as necessidades de consumo dos indivíduos. Por exemplo, os gastos com medicamentos são maiores na terceira idade do que na adolescência. - Ocupação e circunstâncias econômicas: um operário comprará roupas de trabalho, sapatos e marmitas, enquanto um presidente de uma grande empresa comprará ternos caros, passagens de avião e títulos de clubes executivos. A escolha de produtos é determinada também pelas circunstâncias econômicas e da classe social: renda disponível, economias e bens, capacidade de endividamento e atitude em relação ao consumo. - Personalidade e autoimagem: cada um de nós tem características de personalidade (traços psicológicos distintos) que influenciam nossos comportamentos de compra. Em geral a personalidade é descrita em termos de características como autoconfiança, domínio, autonomia, submissão, sociabilidade, postura defensiva e adaptabilidade. Procuramos comprar produtos que sejam um prolongamento da nossa personalidade e combinem com nossos traços pessoais. A autoimagem diz respeito a como uma pessoa se vê. O consumidor escolhe e usa marcas que sejam coerentes com sua imagem. Uma pessoa que se vê como uma personalidade do tipo alegre e extrovertida provavelmente comprará um automóvel esportivo. - Estilo de vida e valores: pessoas de mesma subcultura, classe social e ocupação podem ter estilos de vida bem diferentes. Um estilo de vida é o padrão de vida de uma pessoa expresso por atividades, interesses e opiniões. Ele representa a pessoa por inteiro e como ela interage com o ambiente. Por exemplo, pessoas preocupadas com o meio ambiente evitarão consumir produtos que lhe provoquem dano e preferirão produtos ecológicos. Fatores psicológicos Quatro fatores psicológicos – motivação, percepção, aprendizagem e memória – influenciam a reação do consumidor aos vários estímulos de marketing e sua tomada de decisão de compra. 18 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 - Motivação: cada um de nós possui necessidades o tempo todo. Algumas necessidades são fisiológicas, expressando-se em fome, sede e desconforto. Outras são psicológicas, decorrentes de estados de tensão psicológicos, como as necessidades de reconhecimento, estima ou integração. Uma necessidade passa a ser um motivo quando alcança determinado nível de intensidade. Um motivo é uma necessidade que é suficientemente importante para levar a pessoa a agir. Existem diversas teorias que estudam a motivação humana. A mais popular é a Teoria das Necessidades, de Abraham Maslow, que estruturou uma pirâmide na qual mostra a hierarquia das necessidades humanas. De acordo com Maslow, o indivíduo possui uma hierarquia de necessidades que varia conforme a situação. Conforme o momento de vida e as circunstâncias que o indivíduo está enfrentando, sua necessidade atuante, ou motivo, vai levá-lo a procurar satisfazer aquela necessidade. Assim, uma pessoa que tenha uma forte necessidade de segurança valorizará a busca de uma moradia, de um bom salário ou de um emprego. Aquele indivíduo com uma preponderante necessidade de estima ou de status poderá desejar comprar um carro de luxo. Uma pessoa com elevada necessidade de autorrealização procurará satisfazê-la, por exemplo, por meio de uma atividade filantrópica ou de um projeto desafiador. - Percepção: a maneira como uma pessoa motivada age é influenciada pela percepção que ela tem da situação. Percepção é o processo por meio do qual alguém seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas para criar uma imagem significativa do mundo. A percepção depende não apenas de estímulos físicos, mas também da relação desses estímulos com o ambiente e condições externas à pessoa. A percepção é subjetiva e pode variar de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, uma pessoa pode perceber um vendedor que fale depressa demais como agressivo e falso; outra pessoa pode vê-lo com prestativo e inteligente. Diversos elementos podem ser utilizados pelo marketing para persuadir o consumidor. As cores, por exemplo, induzem a estados de espírito (o azul transmite segurança, o vermelho paixão, etc.), as palavras podem despertar desejos (uma marca de automóvel transmite sensação de sucesso) e música (mais rápida ou mais lenta, em um restaurante, pode ditar o ritmo de uma refeição). Outros estímulos incluem símbolos, odores e decoração. - Aprendizagem: quando as pessoas agem, elas aprendem. A aprendizagem consiste em mudanças no comportamento de uma pessoa decorrentes da experiência. A maior parte do comportamento humano é apreendida. Os teóricos da aprendizagem acreditam que ela nasce da interação entre impulsos (estímulos internos que impelem à ação), estímulos, sinais (estímulos menores que determinam quando, onde e como a pessoa reage), respostas e reforços. Por exemplo, a experiência positiva com uma determinada marca de produto poderá criar uma resposta positiva, generalizando que toda a linha de produtos daquela marca tenha qualidade. Ao contrário, uma experiência negativa em um restaurante, quanto ao seu atendimento, fará o consumidor não desejar voltar àquele lugar e não recomendá-lo a outras pessoas. 19 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING - Memória: todas as informações e experiências acumuladas pelas pessoas ao longo da vida podem acabar armazenadas em sua memória de longo prazo. A memória de longo prazo, ao contrário da memória de curto prazo, é um repositório mais permanente de experiências. Um indivíduo pode fazer uma associação segundo a qual determinada marca mata a sua sede. Sempre que ele sentir sede, lembrará de tomar aquela marca. Como a memória envolve um processo de codificação, imagens, símbolos ou ícones podem mais facilmente serem armazenados e lembrados. O processo de decisão de compra Para satisfazer sua necessidade, o consumidor compra produtos por meio de um processo de decisão, que envolve cinco estágios, como mostra a figura a seguir: O Processo de Decisão de Compra Reconhecimento do problema Fatores Sociais Influências de Marketing Fatores Situacionais Busca de informações Avaliação de alternativas Decisão de compra Comportamento pós-compra 1) Reconhecimento do problema: o processo de compra começa quando o comprador reconhece um problema ou necessidade, que pode ser provocada por estímulos internos ou externos. 2) Busca de informações: o consumidor, para tomar sua decisão de compra, tende a buscar mais informações. Essa busca será mais elevada ou menos elevada dependendo da complexidade e da importância da compra. Por exemplo, na compra de um automóvel, ele vai procurar coletar o maior número de informações possíveis para embasar sua escolha. Para tanto ele poderá consultar fontes pessoais (família, amigos, conhecidos), fontes comerciais (propaganda, vendedores, mostruários), fontes públicas (revistas especializadas, organizações de classificação de consumo) e fatores experimentais (manuseio, exame, uso do produto). 20 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 3) Avaliação de alternativas: como o consumidor processa as informações de cada marca e faz um julgamento de valor final? Não existe um processo único de avaliação, e os modelos mais atuais tratam esse processo como cognitivamente orientado, isto é, consideram que o consumidor forma julgamentos principalmente em uma base racional e consciente. O julgamento é influenciado pelos benefícios que o produto oferece em contraposição aos custos envolvidos. O conjunto de atributos do produto e o que ele entrega como valor serão avaliados com base em parâmetros ou padrões valiosos para o comprador (expectativa em relação ao valor). Esses benefícios são baseados nas crenças e atitudes do comprador. Assim, um automóvel pode ser escolhido segundo critérios como design, preço, consumo de combustível e valor de revenda, por exemplo. 4) Decisão de compra: a decisão é momento em que o consumidor escolhe determinado produto, marca ou fornecedor. Essa escolha resulta da ponderação dos critérios e benefícios analisados na etapa anterior. 5) Comportamento pós-compra: após a compra, o consumidor terá uma sensação de satisfação ou de insatisfação pós-compra. A satisfação do cliente deriva da proximidade entre suas expectativas e o desempenho percebido pelo produto. Se o produto não alcança exatamente as expectativas, o cliente fica desapontado. A frustração pela diferença entre o desempenho esperado e o resultado obtido após a compra é conhecida como dissonância cognitiva. O sentimento de satisfação ou insatisfação será determinante na utilização do produto. Ele poderá ficar com o produto, trocá-lo ou descartá-lo. O descarte, por exemplo, pode ser feito com a doação ou venda por menor preço a um parente ou amigo. Uma das formas de evitar a dissonância cognitiva é diminuir as expectativas do consumidor. O test-drive na venda de um automóvel pode facilitar a eliminação de uma potencial frustração. O consumidor organizacional O mercado organizacional é formado por todas as organizações que produzem bens e serviços utilizados na produção de outros produtos ou serviços que são vendidos, alugados ou fornecidos a terceiros. O mercado organizacional abrange as seguintes entidades: produtores (mercado produtor); revendedores (mercado revendedor); governos (mercado governamental); organizações não lucrativas (mercado institucional). No âmbito do marketing, o mercado consumidor é conhecido como B2C (business-toconsumer), de empresas para os consumidores, e as transações do mercado organizacional são chamadas de B2B (business-to-business), organizações para organizações. 21 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Os mercados organizacionais possuem diversas características que os tornam muito diferentes dos mercados consumidores: menos compradores, porém de maior porte; relacionamento estreito entre fornecedor e cliente; compra profissional; diversas influências de compra; vários contratos de vendas; demanda derivada. Outro aspecto diferenciador diz respeito ao processo de compra organizacional. De modo geral, as empresas possuem departamentos de compras que são responsáveis pelas aquisições de produtos para consumo ou insumo de produção. As decisões de compras são comumente tomadas por um grupo de diversos gerentes – o centro ou comitê de compras. Centro de compras é a unidade de decisão de compras nas organizações e inclui vários participantes com diferentes interesses, autoridade, status, empatia e poder de persuasão, influindo conforme seus critérios de decisão. Esse sistema permite melhor resultado nas aquisições, tornando-as mais impessoais e eficazes para o comprador organizacional, que não é afetado por impulsos ou emoções. Critérios importantes na decisão variam conforme o tipo de compra. Alguns atributos e critérios para avaliação de produtos organizacionais incluem: eficiência, qualidade, economia, velocidade, força, durabilidade, garantia, confiabilidade, precisão, uniformidade e estabilidade, facilidade de instalação, baixo custo de manutenção e simplicidade. A avaliação de fornecedores e serviços inclui os seguintes atributos e critérios para a escolha: tradição e confiança (marca), liderança tecnológica, grau de especialização, capacidade distributiva, eficiência do produto, certeza no fornecimento, confiabilidade no cumprimento da programação, posição de custos e política de preço, assistência técnica, relacionamento com parceiros, governo e entidades, características do produto e motivos de preferência pelo vendedor. Vale ressaltar que o mercado institucional tem uma participação importante na economia. Entidades públicas como escolas, hospitais, igrejas, creches e presídios, entre outras instituições, têm como função fornecer bens e serviços sob sua responsabilidade. Os compradores de órgãos públicos tendem a exigir dos vendedores um extenso trabalho de documentação e a favorecer fornecedores locais. Os fornecedores devem estar preparados para adaptar suas ofertas às necessidades e aos procedimentos especiais encontrados nos mercados institucional e governamental. 22 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Satisfação Como se analisou, o conhecimento do consumidor é essencial para o sucesso das organizações. Todo o esforço mercadológico gira em torno da satisfação do consumidor. Satisfação consiste na sensação de prazer ou desapontamento resultante da comparação do desempenho (ou resultado) percebido de um produto em relação às expectativas do comprador. Os profissionais têm-se ocupado cada vez mais em estar atentos à satisfação ou insatisfação dos consumidores, com vistas a melhorar suas estratégias de marketing, entre elas as estratégias de fidelização e relacionamento, que continuam após a compra. A avaliação póscompra é, portanto, fator estratégico na conquista e manutenção de clientes. Enquanto o consumidor busca a satisfação de suas necessidades, a empresa busca atingir seus propósitos, sobretudo o lucro, pela proposição de valor aos consumidores. Sob a perspectiva do cliente, o valor se refere à diferença entre o valor total dos benefícios e o custo total envolvido na transação. Assim o valor entregue ao cliente pode ser expresso na forma de uma inequação (ver figura a seguir) em que a satisfação é maior dos que os custos de aquisição. Entregar o valor esperado é atingir a satisfação. As dimensões da satisfação são divididas em três tipos: Satisfação funcional. Refere-se aos atributos tangíveis de um produto ou serviço que podem ser medidos de algum modo padronizado. A satisfação resulta da conformidade do produto no que diz respeito a fornecer o que promete. Um aluno, ao cursar uma faculdade, espera obter o conhecimento para praticar a profissão. Satisfação emocional. Também chamada de satisfação psicológica, é perseguida pelos consumidores na forma de status, prestígio, segurança ou qualquer outro benefício que seja intangível e não mensurável por meio de um padrão. No exemplo do aluno que 23 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING cursou a faculdade, o status resultante da reputação da escola pode ter influenciado na sua escolha e agora influenciará sua empregabilidade. Satisfação de benefício de uso. Esta dimensão está relacionada ao valor ganho pela propriedade e ao uso de um bem ou serviço. A razão de compra não raro é influenciada pela expectativa de uso que o consumidor tem do produto ou serviço. No exemplo do aluno, sua expectativa após o curso pode ser uma promoção na organização onde ele trabalha. Em contrapartida aos benefícios, o cliente pesará seus custos. Os custos de aquisição envolvem os seguintes tipos: Custos monetários. O valor monetário efetivamente pago. Tempo. Custos relacionados ao tempo e à conveniência envolvidos no processo. Riscos envolvidos. Referem-se à incerteza ou insegurança quanto à aquisição pretendida. Custos de oportunidade. O consumidor pode optar por uma compra baseando-se no custo de oportunidade, isto é, ganho que vai obter ao fazer a opção de compra. Custo psíquico (ou de ansiedade). Refere-se ao grau de certeza na decisão de compra, evitando dúvidas e incertezas quanto à escolha a ser feita. Quando os clientes ficam insatisfeitos, eles podem não comprar novamente determinado produto ou decidir não passar outra vez pela experiência do serviço. Segundo pesquisas, a maioria dos clientes (95%) não reclama quando fica insatisfeita, ela simplesmente vira as costas e deixa de transacionar com a empresa fornecedora. Assim, muitos profissionais agradecem quando recebem críticas e reclamações de clientes insatisfeitos. Ouvindo as reclamações, o gerente de marketing pode promover as melhorias que são necessárias para atender eficazmente às expectativas dos consumidores. Nesse sentido, muitas empresas utilizam estratégias e sistemas de gerenciamento do relacionamento com o cliente para coletar suas críticas, reclamações e sugestões e implantar melhorias. As centrais de relacionamento – unidades qualificadas e dedicadas a ouvir o cliente – exercem um papel estratégico importante nessa gestão. UNIDADE 5: SEGMENTAÇÃO DE MERCADO E POSICIONAMENTO Os mercados não são homogêneos. Uma empresa não pode atender a todos os clientes em mercados amplos ou diversificados. Os consumidores diferem entre si em muitos aspectos e, 24 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 em geral, podem ser agrupados segundo uma ou mais características. A empresa precisa identificar os segmentos de mercado a que poderá atender com eficácia. Essas decisões requerem um profundo entendimento do comportamento do consumidor e uma cuidadosa análise estratégica. Estratégias de segmentação de mercado - Marketing de massa: o ponto de partida de qualquer discussão sobre segmentação é o marketing de massa. Nessa estratégia, a empresa se dedica à produção em massa de um produto para todos os compradores. Exemplos de estratégias de marketing de massa: a Eletropaulo fornece oferta de energia elétrica a qualquer tipo de consumidor; a Minalba é uma água mineral para qualquer segmento de consumidores. Essa estratégia tem como vantagens o baixo custo e o ganho de escala e como desvantagem um produto massificado que pode não cair na preferência de um consumidor que quer um produto customizado. - Marketing de segmento (ou marketing diferenciado): um segmento de mercado consiste em um grande grupo de consumidores que possuem as mesmas preferências. Portanto, podemos distinguir entre compradores de automóveis que desejam basicamente um meio de transporte ou aqueles que desejam alto desempenho, luxo ou segurança. Devemos tomar cuidado para não confundir um segmento de mercado com um setor. Uma empresa automobilística pode dizer que focará compradores jovens de classe média. O problema é que esses compradores diferem em suas preferências sobre carros. Alguns querem um modelo barato, outros, modelos caros. Compradores jovens de classe média são um setor, não um segmento. Contudo, o próprio segmento é em parte uma ficção, uma vez que nem todas as pessoas querem exatamente a mesma coisa. É comum as empresas apresentarem ofertas flexíveis ao mercado, variando o produto (uma solução básica) por meio de opções (ofertas valorizadas por alguns membros). Exemplo: automóveis populares pequenos para a classe média baixa; e automóveis de luxo e sofisticados para a classe A. Os segmentos de mercado podem ser identificados de diversas maneiras. O modo mais comum de classificação dos segmentos dos mercados consumidores é aquele que os divide em: - Segmentação geográfica. Requer a divisão do mercado em diferentes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, cidades ou bairros. O McDonalds, por exemplo, varia seu cardápio conforme as regiões e países onde atua: na França serve vinho, na Itália, macarrão e na Rússia, sopa. - Características demográficas. O mercado é dividido em grupos de variáveis básicas, como idade, tamanho da família, ciclo de vida da família, sexo, renda, ocupação, grau de instrução, 25 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING religião, raça, nacionalidade e classe social. Essa classificação é muito usual porque geralmente as necessidades são determinadas por fatores demográficos e porque também são variáveis fáceis de serem medidas. A Editora Abril, por exemplo, tem revistas para crianças, jovens, adultos e idosos. Possui também títulos voltados para o público feminino e para o público masculino. Características psicográficas. Psicografia é a ciência que utiliza a psicologia e a demografia para entender melhor os consumidores. Os compradores são divididos em vários grupos, com base no estilo de vida, na personalidade e nos valores. Pessoas do mesmo grupo demográfico podem ter perfis psicologicamente diferentes. Existem vários tipos de classificação dos consumidores quanto ao seu estilo de vida e personalidade, geralmente definidos por estudos acadêmicos ou por consultorias de negócios. Por exemplo, um consumidor pode ser classificado como conservador ou liberal quanto a suas ideias políticas, inovador ou convencional quanto ao seu estilo de vestir. A estratégia de marketing de segmento tem como vantagem o desenvolvimento de produtos variados e direcionados para segmentos específicos de consumidores e como desvantagem o custo elevado do composto de marketing. A propaganda, por exemplo, é diversificada e, portanto, mais cara. - Marketing de nicho: um nicho é um grupo definido mais estritamente que procura por um mix de produtos e serviços distintos. Em geral para identificar nichos os profissionais de marketing subdividem um segmento em subsegmentos. Um nicho atraente tem as seguintes características: os clientes têm um conjunto de necessidades distintas e concordam em pagar um preço mais alto à empresa que melhor supre suas necessidades, o nicho não costuma atrair outros consumidores, gera receitas por meio de especialização e tem potencial para crescer e gerar lucros maiores. Enquanto os segmentos são grandes e atraem vários concorrentes, os nichos são pequenos e normalmente atraem apenas uma ou mais empresas. Por exemplo, um restaurante vegetariano utiliza uma estratégia de nicho. - Marketing de customização (um a um): hoje em dia, os clientes estão tomando mais iniciativas para determinar o que e como comprar. Com isso as empresas vêm adotando como estratégia desenvolver produtos cada vez mais personalizados, procurando apresentar ofertas do tipo “marketing um para um”. A customização combina o marketing de massa com a personalização, permitindo à empresa usar várias combinações de características do produto em diversas opções, dando ao consumidor autonomia na escolha. A Dell Computadores, por exemplo, por meio de seu website, permite aos consumidores comprarem um computador “personalizado” mediante uma configuração que os próprios clientes montam e “comandam” à empresa fabricar. 26 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Posicionamento Toda estratégia de marketing é construída de acordo com o trinômio SMP – segmentação, mercado-alvo e posicionamento. A empresa descobre necessidades e grupos diferentes de mercado, estabelece com alvo necessidades e grupos que é capaz de atender de forma superior e, então, posiciona seu produto e sua imagem de modo que o mercado-alvo os diferencie. A figura abaixo mostra como algumas marcas de automóveis se posicionam. Se o trabalho de posicionamento de uma empresa for brilhante, será fácil traçar o restante do planejamento e da diferenciação de marketing com base na estratégia de posicionamento. Podemos definir posicionamento como a ação de projetar o produto e a imagem da empresa para ocupar um lugar diferenciado na mente do público-alvo. O objetivo é posicionar a marca na mente dos consumidores a fim de maximizar a vantagem potencial da empresa. Um bom posicionamento de marca ajuda a orientar a estratégia de marketing, esclarecendo a essência da marca, que objetivos ela ajuda o consumidor a alcançar e como o faz de maneira inconfundível. O resultado do posicionamento é a criação bem-sucedida de uma proposta de valor focada no cliente, ou seja, um motivo convincente pelo qual o mercado-alvo deve comprar determinado produto. O Wal-mart, por exemplo, se apresenta como o supermercado que vende pelo menor preço, posicionando-se na mente do consumidor como sinônimo de opção de compras baratas. As estratégias de posicionamento conferem à empresa uma perspectiva sob o ponto de vista do cliente de como a empresa deseja se posicionar no mercado em relação às outras empresas, isto é, como deseja se distinguir de seus competidores. A estratégia de posicionamento define, portanto, que diferencial a empresa possui em relação a seus concorrentes. Essa diferenciação pode estar na qualidade superior de produtos, na imagem que a empresa tem em relação ao seu atendimento, no preço de seus produtos e na reputação da marca. 27 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Slide 8-10 Mapa de Posicionamento Luxuosos •Mercedes Cadillac• •BMW Lincoln• •Porsche •Chrysler Oldsmobile• Tradicionais Ford• Esportivos •Chevrolet •Nissan Dodge• •Toyota •VW Funcionais Fonte: Churchill&Peter UNIDADE 6 - ESTRATÉGIA DE PRODUTO Os 4 Ps representam as ferramentas de marketing controláveis que a empresa coordena para produzir a resposta que deseja do mercado-alvo. O primeiro P é o produto, que será estudado neste tópico. Definimos o produto como o bem oferecido a um mercado para sua aquisição, uso ou consumo e que, normalmente, satisfaz um desejo ou uma necessidade, ficando de posse do usuário/comprador; é o conjunto de atributos simbólicos, físicos e de serviço projetado para aumentar a satisfação dos desejos. Em outras palavras, é tudo o que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo do comprador. Podemos ficar tentados a dizer que o produto é o P mais importante, mas todos os Ps igualmente contribuem para o sucesso do marketing. No coração de uma grande marca há um grande produto. O produto é um elemento-chave na oferta ao mercado. Líderes de mercado geralmente oferecem produtos e serviços de qualidade superior. O planejamento do composto de marketing começa na formulação de uma oferta para satisfazer as necessidades e desejos do cliente-alvo. Muitos acreditam que ele é uma oferta tangível, mas ele pode ser bem mais do que isso: pode ser um bem físico, um serviço, uma 28 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 experiência, uma pessoa, um lugar, uma propriedade, uma organização, uma informação ou uma ideia. Muitas vezes, em função do tipo de produto, se define especificamente uma especialidade do marketing. Assim, quando estamos falando de um serviço, chamamos o marketing de marketing de serviços. Algumas especialidades são destacadas a seguir: Marketing pessoal: o produto é a pessoa, o profissional. As pessoas têm aptidões, características, competências e habilidades que somadas formam os atributos daquele indivíduo. Podemos ver a pessoa como um produto, sobretudo no mercado de trabalho. Por exemplo: o currículo de um profissional pode ser visto como a divulgação e propaganda de suas competências, habilidades e experiências. Marketing público: o produto são os lugares – cidades, regiões, países –, os bens e serviços públicos, tais como praças, centros comunitários, hospitais, transportes, coleta de lixo, campanhas públicas, etc. Muitas cidades têm utilizado os conceitos de marketing aplicados ao lugar para atrair consumidores (moradores, turistas e empresas), buscando aumentar seu superávit. Marketing institucional: o produto é a instituição, a organização em si, e não os produtos que ela comercializa. Enfatiza-se aqui a marca da organização, sua tradição, seus valores e sua responsabilidade social. Marketing interno (endomarketing): são as ações de marketing voltadas para os colabores da empresa. Por exemplo: treinamentos sobre produtos, campanhas internas e prêmios de incentivo. Marketing social: o produto é uma causa social. Pode ser na área de saúde, de educação, de meio ambiente, etc. Em regra geral essas ações são realizadas por ONGs ou instituições públicas. Por exemplo, uma campanha de prevenção de câncer de mama é uma ação de marketing social. Marketing de ideias: o produto aqui é uma ideia. Pode-se confundir com o marketing de causas sociais, mas tem propósito distinto. A ênfase é na concepção, distribuição e promoção de uma ideia. Por exemplo: ande de bicicleta. Marketing político: refere-se às ações mercadológicas aplicadas aos políticos e partidos. Por exemplo: as campanhas eleitorais são promoções nas quais os partidos políticos e os candidatos a cargos eletivos fazem a apresentação de suas promessas e programas partidários. Marketing ambiental (ecológico): também chamado de marketing verde, refere-se às ações de marketing sustentável e que preservem o meio ambiente e o planeta. 29 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Níveis de produto: a hierarquia de valor para o cliente Ao planejar sua oferta ao mercado o profissional de marketing precisa pensar em três níveis de produto, como mostra a figura abaixo. Cada nível agrega mais valor para o cliente, e os três juntos constituem a hierarquia de valor para o cliente. O nível mais fundamental é o benefício central, o serviço ou benefício fundamental que o cliente está realmente comprando – o produto genérico. Um hóspede de hotel está comprando “descanso e pernoite”. O comprador de uma furadeira está comprando “furos”. O aluno de uma faculdade está comprando sua “qualificação profissional”. O segundo nível é denominado nível básico ou tangível. Ele envolve todas as características, isto é, os atributos do produto, tais como tamanho, cor, qualidade, potência, etc. O termo atributo é utilizado em marketing para identificar as características e especificações do produto que conferem benefícios ao consumidor. É importante destacar que o produto básico envolve os atributos que são intrínsecos ao produto. Assim, um quarto de hotel inclui cama, banheiro, toalhas, telefone, frigobar, escrivaninha, penteadeira e armário. O terceiro nível é denominado nível de produto ampliado. Essa dimensão envolve atributos ou características extrínsecas ao produto e que excedem as expectativas do cliente. Incluem-se nesse nível: assistência técnica, entrega, garantia, manutenção e outros serviços. No caso do hotel, um tour na cidade poderia ser um atributo no nível ampliado do produto. Níveis do Produto instalaç instalação cré crédito caracterí características embalagem marca serviços adicionais produto gené genérico estilo nível de qualidade garantia 30 entrega financiamento SAC produto tangí tangível produto ampliado GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Classificação de produtos Os produtos englobam bens e serviços. Neste tópico, estudaremos os bens. Tradicionalmente, as empresas classificam os produtos segundo estas características: durabilidade, tangibilidade e uso. Cada tipo de produto exige uma estratégia apropriada do composto de marketing. Do ponto de vista da durabilidade e da tangibilidade, os produtos podem ser classificados em três grupos: 1. Bens não-duráveis: aqueles que normalmente são consumidos ou usados uma ou poucas vezes, como cerveja e sabão. Como são consumidos rapidamente e comprados com frequência, a estratégia apropriada é torná-los disponíveis em muitos locais, ter pequena margem de lucro no varejo e anunciar maciçamente para induzir à experimentação e ganhar preferência do consumidor. 2. Bens duráveis: são bens tangíveis normalmente usados durante determinado período, como geladeiras e vestuário. Em geral, os produtos duráveis exigem venda pessoal e serviços, trabalham com uma margem mais alta e requerem mais garantias do fabricante. 3. Serviços: são produtos intangíveis, inseparáveis, variáveis e perecíveis. O gerenciamento de serviços será estudado mais adiante. Por suas peculiaridades, os serviços normalmente exigem mais controle de qualidade, credibilidade do fornecedor e adaptabilidade. Exemplos: cortes de cabelo, assessoria jurídica e ensino escolar. Classificação dos bem de consumo Os bens de consumo podem ser classificados em: 1. Bens de conveniência: são aqueles que o consumidor compra com frequência, imediatamente e com um mínimo de esforço. Exemplos: cigarros, sabonetes e refrigerantes. 2. Bens de compra comparados: são bens que o cliente, durante o processo de seleção e compra, caracteristicamente compara em termos de adequação, qualidade, preço e modelo. Exemplos: móveis, eletrodomésticos, automóveis. 3. Bens de especialidade: são bens com características singulares ou identificação de marca pelos quais um número suficiente de compradores está disposto a fazer um esforço extra de compra. Exemplos: carros especiais, vestuário de grife. 4 Bens não procurados: são bens que o consumidor não conhece ou normalmente não pensa em comprar. Exemplos: jazigos, enciclopédias. 31 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING Classificação de bens industriais Os bens industriais são os bens utilizados na produção de outros bens e podem ser classificados em: 1. materiais e peças, bens que entram na fabricação de bens manufaturados, tais como matérias-primas e peças ou componentes. Exemplo: borracha, direção hidráulica; 2. bens de capital, bens de longa duração que facilitam o desenvolvimento ou o gerenciamento do produto acabado, tais como instalações e equipamentos. Exemplos: escritórios, geradores, máquinas de fotocópias; 3. suprimentos e serviços empresariais, bens de curta duração que facilitam o desenvolvimento ou gerenciamento do produto acabado, tais como suprimentos operacionais (lubrificantes, carvão) e de manutenção e reparos (tinta, pregos, vassouras). Diferenciação de produto Para ter uma identidade de marca, os produtos devem ser diferenciados. Certos produtos tangíveis são mais fáceis de diferenciar do que outros. Em outro extremo, encontramos produtos que permitem pouca variação, como as commodities (sal, petróleo, etc.). Elementos que compõem a diferenciação do produto incluem: Forma: tamanho, formato ou estrutura física. Características: elementos peculiares a cada produto. Exemplo comum é o das especificações e níveis de acabamento de automóveis. Qualidade de desempenho: são os níveis nos quais as características básicas do produto operam, tais como baixo, médio, alto ou superior. Exemplo: desempenho de velocidade de processamento de um PC. Qualidade de conformidade: atendimento às especificações prometidas. Exemplo: consumo de combustível de automóvel. Durabilidade: mensuração da vida operacional esperada nas condições normais de funcionamento do produto. Confiabilidade: mensuração da possibilidade de um produto não quebrar ou apresentar defeitos durante determinado período. Facilidade de reparo: mensuração da facilidade de consertar um produto que funcione mal ou que deixe de funcionar. 32 GESTÃO DE MARKETING AULA 1 Estilo: é o visual do produto e a sensação que ele passa ao comprador. Design: conjunto de características que afetam a aparência e o funcionamento do produto no que diz respeito às exigências do cliente. Serviços: os serviços, quando acompanham os produtos, podem representar a adição de diferenciais competitivos. Entre eles, destacamos: a facilidade do pedido. A entrega, garantia estendida, a instalação, o treinamento do cliente e a orientação ao cliente. Hierarquia de produto Os produtos possuem categorias e itens específicos, conforme as necessidades que satisfazem. A seguir analisa-se uma família de produtos na área de educação e de seguros de vida. Família de necessidade: a necessidade central que sustenta uma família de produto – exemplos: educação, segurança. Família de produtos: todas as classes de produtos que podem satisfazer uma necessidade central com razoável eficácia – exemplos: educação básica e ensino médio, poupança e renda. Classe de produtos: um grupo de produto dentro da família de produtos que tem, reconhecidamente, coerência funcional – exemplos: matérias de ciências exatas, instrumentos financeiros. Linha de produtos: grupo dentro da classe que estão intimamente ligados porque desempenham uma função similar, como grupo de clientes ou faixa de preços – exemplos: matemática, física, seguros de vida. Tipo de produto: um grupo de itens dentro de uma linha que compartilham uma das diversas formas possíveis de produto – exemplos: aula a distância, seguro de vida anual. Embalagem A embalagem é uma ferramenta importante no gerenciamento do produto. Considerada como o quinto P de marketing (do inglês: package), a embalagem refere-se ao conjunto de atividades de projeto e produção do recipiente ou envoltório de um produto. Além de proteger o produto, a embalagem tem também a utilidade de promovê-lo e distingui-lo entre os demais. A lata de Leite Moça, por exemplo, possui um design ondulado que além de facilitar o manuseio a distingue na prateleira dos supermercados. 33 AULA 1 GESTÃO DE MARKETING A embalagem visa atingir alguns objetivos: 1. identificar a marca; 2. transmitir informações descritivas e persuasivas; 3. facilitar o transporte e a proteção de produto; 4. fornecer orientações sobre a armazenagem em casa; 5. fornecer orientações sobre o consumo do produto. Rotulagem Os fabricantes devem rotular os produtos. O rótulo acompanha a embalagem e também possui importância como ferramenta de marketing. Ele identifica e personaliza o produto e a marca. Pode ser uma simples etiqueta ou um projeto gráfico elaborado contendo diversas informações. O rótulo também serve para classificar um produto, como, por exemplo, “iogurte light”. Ele ainda inclui informações obrigatórias por lei, como prazo de validade e endereço do fabricante. 34