Parte 01. - ISMA-BR

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A ponto
de estourar
Quando em excesso, o estresse pode alterar
até o funcionamento do seu cérebro
TEXTO E ENTREVISTAS NATÁLIA NEGRETTI
DESIGN JOSEMARA NASCIMENTO
C
ompromissos e tarefas por todos os
lados, somados ao trânsito intenso,
ao salário insuficiente e muitos
outros problemas que fazem parte
da vida de muitos brasileiros. Neste
cenário, não é difícil encontrar alguém se queixando de estresse. “O apego a situações traumáticas
vividas, aliadas a sentimentos constantes de medo,
preocupação e desconfiança, além da grande
carga de toxinas despejadas no corpo por meio
dos alimentos industrializados, medicamentos e
agrotóxicos são as principais causas do estresse”,
cita o terapeuta quântico Wallace Liima.
No entanto, estar estressado vai muito além
da expressão tão usada. “O estresse se tornou um
termo extremamente impreciso. As pessoas tendem
a confundir emoções com o estresse”, afirma Ana
Maria Rossi, psiquiatra e presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).
Sensação indescritível
A definição clássica de estresse é a de adaptação
requerida a um indivíduo, independentemente
de ser algo positivo ou negativo. “Isso quer dizer que uma promoção desejada no trabalho ou
a compra de um bem planejado, por exemplo,
geram estresse, pois se causa adaptação. Uma
demissão indesejada ou a doença de um familiar
também causam estresse pelo mesmo motivo”,
explica Ana Maria.
Sendo assim, qualquer pessoa está passível de
enfrentar o estresse no dia a dia, tornando-se
praticamente impossível viver sem ele. “O que na
realidade nós queremos é lidar com o estresse de
forma equilibrada, porque muito ou pouco estresse
poderão se tornar extremamente prejudiciais”,
complementa a psiquiatra. Basicamente, o que
diferencia o estresse negativo do positivo é a
parte emocional. “Enquanto o estresse positivo
estimula a pessoa a lidar com a pressão, o estresse
com viés negativo tende a intimidar, faz com que
a pessoa se sinta ameaçada, querendo fugir da
situação”, conta a especialista. (saiba mais sobre
o assunto na matéria da página 12).
O momento de estresse deixa o corpo em estado
de alerta permanente contra inimigos externos e
internos. Wallace explica que o estado de estresse
remete às experiências do homem das cavernas,
quando situações de perigo iminente precisavam
ser enfrentadas. “Nosso corpo foi projetado para
suportar e conviver com o estresse em situações
emergenciais e nos desafios cotidianos”.
Pelo corpo
É importante destacar que tanto o estresse
positivo quanto o negativo causam reações
fisiológicas similares. “Seja o estresse físico,
químico ou emocional, cada tipo ativa cerca de
1.400 reações e produz mais de 30 hormônios
e neurotransmissores no corpo”, explica o terapeuta quântico.
Tamanha alteração no organismo gera um
turbilhão de reações. “Se seu estilo de vida faz
com que você viva em um ambiente estressante,
seja por um motivo conhecido ou até inconsciente,
o seu corpo não terá como retornar ao estado de
equilíbrio, pois você se sente em um estado de
ameaça permanente”, afirma Wallace. Esse desequilíbrio acaba por comprometer o estado geral
do organismo, gerando, muitas vezes, problemas
de saúde, já que o corpo não é preparado para
viver em estado de estresse constante.
Menos energia será disponibilizada para a
nutrição celular adequada e eventuais reparos
nas células enfraquecidas pelo estresse. “Para
economizar energia em momentos de perigo, as
células suprimem a comunicação com as demais
células, ficando centradas na sua própria sobrevivência. Toda a energia focada em se defender
leva ao enfraquecimento dos sistemas do corpo”,
conta o especialista.
A partir de então, os sistemas endócrino,
imune, digestivo e nervoso são comprometidos,
o que cria condições favoráveis para o aparecimento de inúmeras doenças. Depressão, úlcera,
diabetes e até câncer são alguns exemplos que
são influenciados pelo estresse constante. “No
Brasil, 80% das pessoas morrem em função das
doenças crônicas, e fica cada vez mais evidente
que o ambiente de estresse permanente e de falta
de cuidados preventivos da maioria das pessoas
está por trás desse número”, destaca Wallace.
Segredos da Mente - Cérebro e Estresse | 5
No cérebro
Comando central de todo o corpo, é no cérebro
que se inicia o processo de reações ao estresse.
Diante de uma situação de adaptação, o organismo passa a produzir alguns hormônios que são
maléficos quando em excesso. “A ativação permanente do sistema nervoso simpático aumenta
a produção de cortisol e de glicocorticóide. Essas
substâncias enfraquecem as conexões sinápticas no
hipocampo, que é uma região do cérebro capaz de
criar novos hormônios e novas memórias”, conta
Wallace. Com a memória afetada, o cérebro tende
a potencializar e distorcer as memórias negativas,
fazendo com que o indivíduo permaneça em um
estado de preocupação, ausando ansiedade.
A região da amígdala, responsável pelas
memórias subconscientes, também é afetada,
contribuindo para intensificar a ansiedade, trazendo à tona o medo e a insegurança de forma
permanente. Sentir-se estressado ainda diminui
a produção do neurotransmissor norepinefrina,
o que ajuda o indivíduo a se sentir alerta. Sua
alteração no organismo pode deixar a pessoa
apática e com dificuldade de concentração, que
abre as portas para a depressão. A dopamina,
outro neurotransmissor, também é reduzida,
fazendo com que situações que antes davam
prazer fiquem sem graça. Como se não fosse o
bastante, o estresse também impacta a produção
de serotonina, considerado o neurotransmissor
mais importante do corpo para a manutenção
do prazer e bom humor. Dá para perceber que
ficar estressado gera um baita estrago no organismo, não é?
Hora de pedir ajuda
Como o estresse é algo natural ao corpo,
quando se sente sintomas ligados a ele, fique
alerta: isso significa que seu nível já se excedeu.
Os primeiros sinais de que algo não vai bem
são manifestações esporádicas, como dificuldade
para dormir e dor de cabeça. Em um segundo
momento, tais sinais se tornam sintomas regulares. “Não fazendo uma intervenção de forma
eficiente, esses sintomas podem se transformar
na doença. É quando a gente ouve a pessoa dizer
que não lembra qual foi a última vez que não
teve dor de cabeça ou que dormiu bem”, ressalta
Ana Maria.
E a ansiedade?
Ao analisar os sintomas do estresse e suas
reações pelo corpo, é possível imaginar que ele
se assemelha à ansiedade. Porém, são reações
distintas, como explica Ana Maria: “A ansiedade
é uma emoção que gira em torno da adrenalina,
e o estresse é uma adaptação requerida no organismo. Inclusive, toda pessoa que está ansiosa
está também estressada, porque ela está se adaptando. Mas nem toda pessoa que está estressada
está ansiosa. Algumas pessoas podem estar com
raiva, outras com culpa, outras deprimidas...”.
“72% da população
economicamente ativa no
Brasil sofre alguma sequela
de estresse”
Ana Maria Rossi, presidente da International
Stress Management Association (ISMA-BR)
Imagens: Shutterstock Images
Efeito devastador
O que o estresse descontrolado
faz no organismo não é
brincadeira e, por isso, além
de evitar situações de estresse,
os sinais de que o sentimento
está dominando não devem ser
negligenciados.
Nos últimos anos, cientistas
de várias partes do mundo
têm voltado suas pesquisas
para o efeito do estresse no
corpo. Suas descobertas
são surpreendentes pois
envolvem reações até então
inimagináveis, como o
processo de cicatrização.
Pesquisadores da Universidade
de Ohio, nos Estados Unidos,
apontaram em um estudo
que mais de 170 genes são
afetados pelo estresse,
sendo que 100 deles são
completamente desligados,
incluindo aqueles que
produzem proteínas
associadas diretamente à
cicatrização de feridas no
corpo. Os pesquisadores
concluíram que as feridas
demoravam em média
40% a mais para cicatrizar
em pacientes estressados.
Isso ocorreria devido ao
desequilíbrio que o estresse
provoca no organismo.
Já estudiosos da Universidade
do Sul da Flórida, também nos
Estados Unidos, apontam que
a interação entre proteínas
relacionadas a casos de
estresse e outros transtornos
psiquiátricos, favorece a
aceleração do Alzheimer.
CONSULTORIA Ana Maria Rossi, presidente da International Stress
Management Association (ISMA-BR), copresidente da divisão de saúde
ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) e diretora
da clínica de Stress e Biofeedback (www.anamrossi.com.br); Wallace
Liima, professor de pós-graduação em saúde quântica, escritor e
terapeuta quântico.
FONTE You are the placebo: making your mind matter, de Joe Dispenza
(Editora Hay House).
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