Enzimas Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular Disciplina de Introdução a Bioquímica Enzimas 1. Introdução 2. Características das Enzimas 3. Classificação das Enzimas 4. Modo de Ação das Enzimas 4.1. O Poder Catalítico das Enzimas 5. Fatores que Alteram a Velocidade de Reação 6. Cinética Enzimática 7. Inibição Enzimática 8. Enzimas Alostéricas Enzimas ENZIMAS 1. Introdução • Proteínas mais especializadas; • Atuam como catalisadores de reações nos sistemas biológicos; • Importância de se estudar enzimas; 2. Características das Enzimas • A maioria das enzimas são proteínas, com exceção de algumas moléculas de RNA com poder catalítico (Ribozimas); • Geralmente são proteínas de alto peso molecular; • A atividade catalítica das enzimas depende da integridade da estrutura protéica, ou seja, da conformação da proteína nativa: o Quando há perda da estrutura terciária e quaternária da proteína (desnaturação), a atividade enzimática normalmente é perdida; o Quando há a quebra da enzima em seus aminoácidos constituintes, perde-se a atividade enzimática; • Algumas enzimas, além de seus resíduos de aminoácidos, necessitam de um grupo químico adicional. Esse grupo é chamado de cofator, e ele é necessário à atividade enzimática; • O cofator pode ser um ou mais íons inorgânicos como: Fe2+, Mg2+, Mn2+ ou Zn2+. • Algumas enzimas necessitam de moléculas orgânicas e metalorgânicas mais complexas, que são chamadas de Coenzimas; • Grupos Prostéticos: Quando uma Coenzima ou 1 ou mais íons metálicos estão covalentemente ligados a enzima; Enzimas • Holoenzima: Uma enzima cataliticamente ativa e completa, tanto com sua Coenzima e/ou Cofatores; • Apoenzima ou apoproteína: A parte exclusivamente protéica das enzimas. • Algumas enzimas são modificadas por Fosforilação, Glicosilação e outros processos (grupos Tiol, etc.) →→→ Regulação da Atividade Enzimática. 3. Classificação das Enzimas • As enzimas são classificadas de acordo com a reação que catalisam; • Cada enzima possui um número E.C. e um nome sistemático; • Por Exemplo: ATP + D-Glicose ADP + D-Glicose-6-fofasto Nome Sistemático: ATP: glicose fosfotransferase Número E.C.: 2.7.1.1 Nome Trivial: Hexoquinase 2 → Transferase 7 → Fosfotransferase 1 → Fosfotransferase com grupo OH- como aceptor 1 → D-Glicose como grupo aceptor de fosfato Enzimas 4. Modo de Ação das Enzimas • Muitas das reações químicas celulares, mesmo sendo termodinâmicamente favoráveis são improváveis de acontecer nos seres vivos, pois são extremamente lentas; • Formação de Eventos Químicos desfavoráveis: o Formação Transiente de Intermediários de reação; o Colisão de duas ou mais moléculas na orientação precisa requerida pela reação; o Rearranjos de ligações químicas, etc. • Sem os catalisadores, tais reações são impossíveis de acontecer na velocidade requerida pelos seres vivos. • As reações ocorrem no Sítio Ativo da Enzima: o Local na proteína onde vai acontecer a catálise. Nesta região a catálise é energeticamente favorável. • A molécula que sofrerá a reação por parte da enzima e se ligará ao sítio ativo é chamada de Substrato; • A formação do Complexo Enzima-Substrato é central para a ação das Enzimas; E + S ES E → Enzima S → Substrato EP E + P ES → Complexo Enzima-Substrato P → Produto EP → Complexo Enzima-Produto Funcionamento das Enzimas • Diminuem a velocidade da Reação; • No entanto, não afetam o Equilíbrio da Reação. • Estado Basal dos Produtos e Reagentes Enzimas o Há uma barreira energética entre o substrato e o produto que representa a energia necessária para os alinhamentos dos grupos reagentes, formação de cargas transientes instáveis, rearranjo de ligações químicas e transformações necessárias para a ocorrência da reação. • Para sofrer a reação, as moléculas devem superar esta barreira e serem elevadas para um nível mais alto de energia; • Este nível mais alto de energia é o chamado Estado de Transição: o Não é um intermediário de reação e não significa estabilidade de alguma espécie química. • A diferença entre os níveis de energia no estado basal e o estado de transição é chamada de Energia de Ativação; • Relação entre a Energia de Ativação e a Velocidade de Reação: o Quanto maior a Energia de Ativação, mais lenta é a reação. • A adição de um catalisador aumenta a velocidade de reação, pois diminui a Energia de Ativação. • O Equilíbrio da Reação, não é afetado: o Uma enzima que catalisa a reação S → P, catalisa a reação P→S; o A enzima não é utilizada no processo, portanto, o ponto de equilíbrio não é afetado; o No entanto, este equilíbrio será alcançado muito mais rapidamente. • Reação: C6H12O6 6 CO2 + 12 H2O • Intermediários de Reação → Ocupam vales no diagrama da ação de uma enzima; • Etapa com a energia de ativação mais alta → Etapa Limitante Enzimas Velocidade de Reação e Constante de Equilíbrio S P A constante de equilíbrio para a seguinte reação, será: ⎛ [ P] ⎞ K 'eq. = ⎜⎜ ⎟⎟ S [ ] ⎠ ⎝ ∆G 0 ' = − RT ln K 'eq. • A velocidade de reação é determinada pela concentração dos reagentes e por uma constante de velocidade k. Para uma reação unimolecular, temos: V = k [S ] Esta reação é chamada de reação de primeira ordem. • Quando a velocidade de ração depende da concentração de 2 compostos diferentes, ou se duas moléculas do mesmo composto reagem, a reação é chamada de 2ª Ordem: V = k [S1 ][S 2 ] 4.1. Poder Catalítico e Especificidade das Enzimas • Reações químicas entre o substrato e os grupos funcionais das enzimas; • Os grupos funcionais catalíticos das enzimas (grupos R de resíduos aa, íons metálicos e coenzimas) podem interagir transitoriamente com um substrato e ativá-lo para a reação; • A força catalítica das enzimas é derivada da energia livre liberada na formação das múltiplas ligações fracas e interações que ocorrem entre a enzima e o substrato. Esta energia de ligação é responsável tanto pela especificidade como a catálise; Enzimas • As interações fracas atingem o estado ótimo no estado de transição da reação; as enzimas são complementares aos estados de transição das reações que elas catalisam. • A necessidade de múltiplas interações fracas para efetuar a catálise é uma das razões do por que as enzimas e algumas coenzimas são moléculas tão grandes. Interação Enzima-Substrato • Modelo Chave-Fechadura; • Enzima Complementar ao estado de Transição o J. B. S. Haldane, 1930; o Linus Pauling, 1946 5. Fatores que afetam a Velocidade de Reação • Concentração do substrato o Velocidade máxima (Vmáx) →→→ Todos os sítios de ligação da enzima estão saturados pelo substrato; • Temperatura • pH o A estrutura da molécula de proteína cataliticamente ativa depende do caráter iônico das cadeias laterais. Enzimas 6. Cinética Enzimática • Definição: Estudo das velocidades de reação e como estas respondem a mudanças nos parâmetros experimentais • Abordagem de estudo mais antiga, no entanto, ainda muito utilizada; • Importância do Estudo de Cinética Enzimática: o Entendimento dos Mecanismos Enzimáticos; o Melhor entendimento das reações químicas no metabolismo; o Aumentar a velocidade e o rendimento de reações enzimáticas realizadas in vitro. 6.1. Conceitos Básicos • Um dos principais fatores que afetam a velocidade de uma reação catalisada é a [S]; • Ao longo de uma reação, a [S] muda durante o curso da reação (a medida que o substrato é convertido em produto); • V0 → Velocidade inicial da reação → [S] > [Enzima] • No início, V0 aumenta quase que linearmente com o aumento da [S]; • Vmáx → Quando a velocidade não se altera, mesmo com aumento na [S]; • Complexo Enzima-Substrato E + S k1 k-1 1ª Reação ES k2 k-2 E + P 2ª Reação • 2ª Reação é mais lenta e limita a velocidade da reação geral; • Enzima existe em duas formas: Livre (E) e combinada (ES); Enzimas • A Vmáx é observada quando toda a enzima presente está na forma do Complexo E-S → Enzima Saturada. • Estado Pré-Estacionário: Início da formação do Complexo E-S. • Estado Estacionário: [ES] se mantém constante com o tempo. 6.2. A Equação de Michaelis-Mentem • Relação Quantitativa entre a Velocidade Inicial (V0), a velocidade máxima inicial (Vmáx), a concentração inicial de substrato ([S]) e a constante de Michaelis-Mentem (Km); • Quando V0 = ½ Vmáx →→→→ Km = [S] o Km é equivalente a concentração de substrato na qual V0 é metade da Vmáx • Equação: V0 = Vmax .[S ] K m + [S ] • As enzimas que exibem uma dependência hiperbólica de V0 na [S], diz-se que estas enzimas possuem Cinética de Michaelis-Mentem; • Km e Vmáx podem ser obtidos experimentalmente, mas não fornecem informações sobre o número, velocidade e natureza química de cada etapa na reação; • Cinética de Estado-Estacionário é a principal forma de comparação da eficiência catalítica de diferentes enzimas. Gráfico duplo-recíproco (Lineweaver-Burk) • Rearranjando a equação de Michaelis-Mentem, podemos obter: 1 K 1 1 = m . + V0 Vmax [ S ] Vmax Enzimas • Essa equação é de uma reta, no formato ax +b. Facilita os cálculos do Km e da Vmáx; • O Km também pode ser definido como: Km = k 2 + k −1 k1 • k2 é uma etapa limitante da velocidade: o Quando k2 << k-1, Km se reduz a k-1/k1, que é definido como a constante de dissociação Ks para o Complexo E-S; o Apenas neste caso, o Km pode representar uma medida da afinidade da enzima pelo substrato; o Nos outros casos, o Km não pode ser simplesmente considerado como a afinidade. Apenas um indicativo. • kcat → Descreve a velocidade limitante de qualquer reação catalisada por uma enzima na saturação. Poder ser definido por: ⎛V ⎞ K cat = ⎜⎜ máx ⎟⎟ ⎝ [ Et ] ⎠ • O kcat é também chamado de número de “turnover”. É equivalente ao número de moléculas de substrato convertidas a produto em uma dada unidade de tempo, em um única molécula de enzima, quando esta está saturada com o substrato. Enzimas que catalisam reações envolvendo dois ou mais substratos • Quando há formação de um complexo Ternário; • Quando não formação de um complexo ternário. Enzimas 7. Inibição Enzimática • Importante no entendimento dos mecanismos enzimáticos e de rotas metabólicas; • Os inibidores enzimáticos são muito utilizados como agentes farmacêuticos. 7.1. Tipos de Inibição • Inibição Competitiva: o O inibidor compete com o substrato pelo sítio ativo da enzima; A reação não ocorre uma vez o inibidor esteja ligado a enzima; o Há aumento do Km e não há alteração da Vmax • Inibição Não-Competitiva: o O inibidor se liga em um sítio na enzima diferente do sítio aonde irá se ligar o substrato. A ligação do inibidor não impede a ligação do substrato. No entanto, enquanto o inibidor estiver ligado, a enzima está inativada; o Há uma diminuição da Vmax e nenhuma alteração no Km • Inibição Incompetitiva: o O inibidor se liga em sítio distinto do sítio do substrato. No entanto, o inibidor se liga apenas ao Complexo E-S. • Inibidores: o Reversíveis: ao se desligarem da enzima, a atividade enzimática é restaurada; o Irreversíveis: se combinam ou destroem grupos na enzima que são essenciais a sua atividade; Inibidores Suicidas Enzimas 8. Enzimas Reguladoras • Enzimas que catalisam o passo limitante na maioria das vias metabólicas; • Elas exibem atividade aumentada ou diminuída em resposta a certos tipos de sinais; • É devido a este tipo de enzima que cada seqüência metabólica é constantemente ajustada para se adequar a demanda celular. • São divididas em duas classes: o Enzimas Alostéricas; o Enzimas reguladas por modificação covalente reversível. Enzimas Alostéricas • Funcionam através da ligação não-reversível de um metabólito regulatório, chamado de modulador; • Essas enzimas podem ser classificadas de acordo com o tipo de modulador: o Homotrópicas o Heterotrópicas • Inibição por Feedback (Retroalimentação); • Não seguem a cinética de Michaelis-Mentem. Enzimas Reguladas por Modificação covalente reversível • Mecanismos de Fosforilação, Glicosilação, Grupamentos Tiols, etc. Enzimas Enzimas Enzimas Enzimas