XXI – MARKETING DE EMPRESAS - O conceito de marketing: estratégias comercial e de marketing; o marketing estratégico; - A criação de valor para o consumidor e a segmentação do mercado em classes de consumidores; - Os 4 p´s do marketing e o “marketing-mix”; - O Marketing relacional e o marketing “one-to-one”; - Conceito, criação (“brand building”) e gestão da marca; a marca como activo intangível; - A marca como projecto de investimento e o seu retorno (ROI) - A gestão dos clientes e a filosofia “CRM” (“customer relationship management”) O conceito de marketing - Estratégia comercial (lógica do produtor) – Faz-se o produto e depois tenta-se montar uma estratégia de vendas; - Estratégia de marketing (lógica do consumidor =criar valor para o consumidor) - Pensa-se primeiro no mercado e no cliente e depois estrutura-se a oferta (produtos e serviços) e a organização empresarial em função do que o mercado quer; - MARKETING =MAKING THE MARKET Definições de Marketing KOTLER: Processo social e de gestão pelo qual indivíduos e grupos satisfazem necessidades e desejos por meio da permuta entre si de produtos e valor. AMERICAN MARKETING ASSOCIATION (2004): “Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos para a criação, comunicação, e entrega de valor aos clientes bem como para a gestão de relações com esses clientes de forma a beneficiar a organização e os seus stakeholders.” “The business enterprise has two and only two basics functions: marketing and innovation; marketing and innovation produce results; all the rest are costs.” - Peter F. Drucke; The Practice of Management O conceito de marketing e o marketing estratégico O marketing é numa empresa uma filosofia de acção virando a empresa para o mercado que visa satisfazer. O marketing representa no fundo o conjunto de actividade que visam satisfazer os desejos, necessidades ou preferências das pessoas ou de grupos sociais, através de um processo de 1 troca no mercado dos produtos ou serviços oferecidos pela empresa com essas pessoas ou grupos. Estudos de Mercado e Oportunidades de Marketing A empresa terá então que analisar as oportunidades que o mercado oferece, tal é feito normalmente através dos chamados estudos de mercado, que não se devem restringir ao mercado em que a empresa já está presente mas podem também dirigir-se a novos mercados. Essa análise tem logicamente que ser realizada para aquelas coisas em que a empresa possa ter vantagens comparativas (Não valerá a pena ir fazer estudos de mercado sobre combinações mercado/produto que a empresa seja incapaz de satisfazer). Diz-se então que a empresa detectou uma oportunidade de marketing, quando na sequência desses estudos a empresa encontra uma oportunidade para a qual tem vantagens comparativas. Detectadas essas oportunidades de mercado (oportunidades de marketing) teremos então que fazer um plano concreto de abordagem ao mercado. Tal chama-se o marketing estratégico. O marketing estratégico visará: - definir os consumidores que pretende atingir bem como o produto (ou produtos) que vai apresentar e a forma como o vai fazer. - o modo como vai organizar-se e desenvolver a sua capacidade de produção (ou de oferta de serviços) para atingir os objectivos. Mercado Mercado é o conjunto de todos os consumidores reais ou potenciais de um produto. É possível definir vários níveis: Mercado potencial Consumidores com interesse Mercado disponível Consumidores com interesse, poder de compra e acesso Mercado qualificado Consumidores com interesse, poder de compra, acesso e qualificações (e.g., permissão para consumo) Mercado servido (ou mercado alvo) Mercado qualificado que a empresa serve Mercado penetrado Conjunto de consumidores que já compra o produto 2 Quota de Mercado (market share) do produto i = Vi / Vti Vi – vendas do produto Vti – vendas totais no mercado A criação de valor para o consumidor e a segmentação de mercado. Ao escolher o mercado em que vai actuar, a empresa vai procurar conhecê-lo melhor e nesse sentido é usual tentar dividir esse mercado em grupos de consumidores tão homogéneos quanto possível, devendo a homogeneidade dentro de cada grupo ser maior que a existente entre grupos. Essa divisão do mercado em classes de consumidores tão homogéneos quanto possível chama-se segmentação de mercado e cada classe (grupo) assim definido chama-se segmento de mercado. É normal fazer-se segmentação por: -região geográfica -características dos consumidores (classe social, rendimento, sexo, religião, idade, profissão, etc…) Em resumo, os mercados e o marketing foram encarados com visões distintas ao longo do tempo Marketing de massas O vendedor produz em massa, distribui em massa, e promove em massa um único produto para todos os compradores Custos e preços mais baixos; “o que é bom é bom para todos” Marketing de variedade de produtos O vendedor produz dois ou mais produtos com diferentes atributos, estilo, qualidades, tamanho, etc. para compras alternadas de todos os compradores. “As pessoas são iguais, mas querem variedade, e ir alternando diferentes opções” Marketing segmentado (orientação para mercados-alvo) O vendedor identifica diferentes segmentos de mercado relativamente homogéneos, e oferece para os compradores de cada um deles produtos e marketing mix dirigido às necessidades e desejos de cada um. “As pessoas são diferentes, e devem ser satisfeitas por ofertas diferentes” Definidos os segmentos em que quer actuar, após melhor conhecimento de cada um deles, a empresa estará agora em melhores condições para fazer propostas de valor para cada um dos segmentos. Assim sendo, a segmentação dos mercados permitirá maior criação de valor para os consumidores e por via disso para os accionistas da empresa. Teremos então a segmentação do mercado, escolha dos alvos e posicionamento. 3 Segmentação 1.Identificar variáveis de segmentação apropriadas e segmentar o mercado 2.Desenvolver perfis dos segmentos resultantes Escolha de alvos 3.Avaliar a atractividade de cada segmento 4.Seleccionar o(s) segmento(s) alvo Feedback para consistência Posicionamento 5.Identificar, para cada segmento alvo, conceitos de posicionamento possíveis 6.Seleccionar, desenvolver e comunicar o conceito de posicionamento escolhido Desenvolver Marketing Mix para cada Segmento Alvo Os 4 p´s do Marketing e o marketing-mix. O marketing-mix é o conjunto de variáveis que a empresa controla e que vai utilizar para influenciar a escolha do consumidor. Alguns pensam que o marketing se reduz a publicidade. Tal é errado por duas razões: - o marketing é sobretudo uma filosofia de acção para virar a empresa para o mercado. - as escolhas dos consumidores podem ser influenciadas não apensas pela publicidade mas sim também pelas outras variáveis do marketing-mix, sendo a publicidade apenas uma das sub-variáveis do marketing-mix. Consideram-se normalmente quatro variáveis no marketing-mix: - Produto (product) - Preço (price) - Promoção (promotion) - Distribuição (placement) Como em inglês distribuição se diz placement, no conceito original anglo-saxonico o marketing-mix é referido como os 4 p´s. A Distribuição existe para levar o produto ao consumidor, entendendo-se por canais de distribuição os vários intermediários saturados entre a empresa e o consumidor. 4 A escolha do canal de distribuição irá naturalmente depender dos factores que descrevem o relacionamento da empresa para com os seus clientes. No que toca à Promoção ela engloba: - o contacto directo do vendedor com os clientes; - a promoção das vendas através de prémios ou descontos que promovem a venda imediata; - a divulgação, ou seja todos as formas de comunicação com o mercado; - a publicidade, ou seja qualquer forma paga de promover e descrever as características e qualidades do produto. Como se vê nem sequer a promoção se reduz à publicidade quanto mais o marketing! No preço está normalmente incluído o valor e as condições de pagamento. PLANO DE MARKETING Definida a estratégia – marketing estratégico, há depois que passar à quantificação, por produtos e por variáveis do marketing-mix, dos custos e também dos proveitos que virão para a empresa de implementação da estratégia definida. Chegaremos então ao marketing operacional, ou seja, a operacionalização e execução da estratégia e a montagem do sistema de controlo. O MARKETING ONE TO ONE - O marketing one-to-one diz respeito a uma relação de marketing directo, ou seja, marketing focalizado no cliente individual. Implica uma comunicação extensiva, repetida e registada com o cliente, bem como a capacidade da empresa para arquivar, analisar e processar essa informação sobre o cliente. - Isto acontece quando uma empresa recupera e aplica a informação sore o cliente individual e a vai usar para a “customizar” num diálogo com esse cliente (“customer”), quer seja através de telefonemas, mailings ou mensagens electrónicas. Marketing one-to-one é pois o oposto do marketing de massas. Antes da internet e da existência de poderosas bases de dados que permitem o “tracking” do consumidor de forma a se estabelecer o perfil psicológico e do poder de compra do mesmo com o consequente acesso on-line a tal informação, as empresas só podiam usar esta ferramenta em sectores de serviços ou produtos de elevado valor, como a industria automóvel ou a aviação, ou em actividades em que o fornecedor e o cliente interagem com grande frequência como no caso das relações entre fornecedor e grossista. Não se chegava pois nem ao retalhista nem ao consumidor final. O conceito de marketing one-to-one apenas podia ser aplicado em produtos de alto valor e/ou com poucos clientes. 5 As modernas infra-estruturas digitais da informação aumentaram enormemente a nossa capacidade para armazenar, recuperar, filtrar e distribuir informação, fazendo assim crescer em muito a utilidade e portanto o valor da informação que mesmo antes da era digital estava já potencialmente disponível. Sendo assim, em todos os sectores de actividade, as grandes mudanças tecnológicas da era digital estão a permitir que criemos cada vez mais valor com a mesma informação que estava já antes potencialmente disponível. A novidade nos dias de hoje será então a possibilidade de aplicação do conceito do marketing one-to-one ao “mass-market” devido aos modernos sistemas de informação e às poderosas bases de dados hoje existentes. MARCA: CONCEITO, CRIAÇÃO E GESTÃO DA MARCA As marcas são activos intangíveis das empresas e permitem a individualização dos produtos face à concorrência. Um produto sem marca arrisca-se a transformar-se numa “commodity” e a empresa que o produz aproximar-se-à do modelo de concorrência perfeita. A marca permitirá assim uma diferenciação positiva em relação à concorrência, tentando aproximar a empresa de uma posição monopolista no mercado, conquistada pelo uso legítimo desse activo intelectual. Numa época em que o difícil não é produzir mas vender, as marcas assumem hoje em dia uma grande importância estratégica para muitas empresas. Há no entanto outra estratégia possível, a de vender “produtos brancos” – estando esta opção normalmente ligada ao facto da empresa vender os produtos a um intermediário e não ao consumidor final. Nestes casos, é o intermediário que fará a comunicação e a diferenciação mais adequada para os seus clientes. Quando a empresa vende directamente ao cliente final, será vantajoso vender produtos com marca. Esta problemática está a ser vivida pela industria têxtil e vestuário português e que vende directamente a retalhistas europeus. São estes que detêm a marca e por isso, as empresas portuguesas terão de vender produto branco sem marca, dado que não conseguirão impor marcas do produto a essas cadeias de retalhistas. Não conseguindo impor essas marcas de produto, uma alternativa possível é a de construção da própria rede física de distribuição, criando assim a empresa a sua própria marca de retalho, associada à sua cadeia retalhista. A empresa portuguesa criará então uma marca de retalho (e não de produto). A criação de marcas (“brand building”) está assim na ordem do dia e corresponde muitas vezes a um investimento de capital intensivo. Neste contexto, poder-se-à medir a rendibilidade do investimento (ROI) colocando no numerador o valor actual dos fluxos de receitas diferenciais que a marca cria e no denominador o investimento feito na marca. A marca é pois tratada como um projecto de investimento em que 6 n ∑ ΔRt / (1+i)^t t=1 ROI = I Em que ΔRt= o crescimento de facturação induzida pela marca no período t I = despesa com a criação da marca i = taxa de actualização n = período de vida útil da marca Depois de criada, há que gerir a marca, estando essa gestão associada às condições da assistência e manutenção no pós-venda ou a outros serviços ligados ao produto e que o cliente associa à compra do produto. É sabido que se esses serviços não tiverem uma qualidade à altura do prestígio da marca do produto, essa marca degrada-se perde valor. A GESTÃO DOS CLIENTES E RELATIONSHIP MANAGEMENTE”. A FILOSOFIA “CRM” (“CUSTOMER Hoje em dia não basta ter produtos de qualidade, há que ter uma qualidade superior no relacionamento com o cliente. Tal constitui o objectivo das modernas filosofias “CRM”, as quais através de softwares aplicacionais permitem pôr instantaneamente à disposição do gestor do cliente um conjunto de informações sobre o cliente que vai possibilitar a sua melhor gestão. Estes “packages” e esta abordagem estão a ser crescentemente utilizados na banca, em algumas “utilities” e já se pensa utiliza-las na Administração Pública. BIBLIOGRAFIA - “Marketing Management” 12 edition Philip Kotler com Kevin Lane Keller PEARSON Prentice Hall; - “The fast forward MBA in marketing” Dallas Murphy, Wiley; - “Introdução à Gestão – Uma abordagem Sistémica” A. Sousa, Verbo - “A marca, avaliação e gestão estratégica” – Elisabete Magalhães Serra, José A. Varela Gonzales, VEP, Edições VERBO. - “Marketing” Folhas da Cadeira Horizontal de Gestão DEG/IST 2006-07 7