Sócrates e a educação

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Colégio Nacional
Grupo de Estudos em Educação
Texto produzido pelo grupo de estudos
em educação do Colégio Nacional em Agosto de
2005.
Sócrates e a educação
Sócrates (470 - 399 a.C.) era Ateniense, filho de uma parteira chamada Fenarete e de um escultor chamado
Sofronisco. Nunca deixou algo escrito e sua biografia é retirada dos "Diálogos de Platão", uma série de livros do seu
discípulo.
Sócrates recebeu uma educação tradicional e desde a juventude interessou-se pela filosofia. De ínicio, pelos
ensinamentos dos filósofos da natureza, mas depois mudou de direção, pois achava que tais ensinos só procuravam
respostas nas causas exteriores e gerais da natureza. Achava que existia algo mais digno para se estudar: a alma do
homem. Por isso, sondou-a perguntando a si próprio e aos outros: - O que entendiam por eles próprios? Assim
descobriu que o homem é sua alma e não o corpo.
Sócrates tornou-se uma figura central na história da filosofia grega, principalmente por ter caricaturado a visão
que se tinha dos Sofistas - nome de origem grega que significa “sábios” - que gostavam de desenvolver a retórica, a
eloqüência, ensinando a arte da persuasão, mesmo que de má-fé, cobrando altos salários.
Ato contínuo, criou um método de ensino baseado não na arte de falar dos Sofistas, mas na arte de perguntar,
fazendo com que as pessoas chegassem as suas próprias conclusões. Este método foi chamado de Maiêutica que
significa parto. Isso quer dizer que ele fazia o parto das idéias nos outros através de questionamentos e a define no
célebre texto “A defesa de Sócrates”, da seguinte forma:
“Minha arte maiêutica tem seguramente o mesmo alcance que o obtido pelas parteiras, com a
diferença que é praticada em homens e não em mulheres, buscando provocar o parto nas almas e não
nos corpos. O maior significado dessa arte é que permite experimentar, a todo momento, se uma idéia é
falsa ou fecunda e verdadeira, o que possibilita o desenvolvimento da inteligência do jovem (...) Ressalta
evidente, portanto, que nada aprendem de mim, pelo contrário, encontram a sabedoria e iluminam-se a
si mesmos de maravilhosos conhecimentos.”
Foi um educador popular e fundou uma escola, não uma escola com paredes e teto, mas uma escola no meio das
pessoas, na rua. Interessava-se pela conversa em locais públicos e fazia muitas andanças conversando nas praças e
mercados. Sócrates, todavia, afirmava não pretender ensinar coisa alguma sobre a natureza humana; não queria nos
comunicar um saber que não possuíamos. Ajudava-nos tão somente a refletir. Nada ensinava e limitava-se a parir os
espíritos, ajudá-los a trazer à luz o que já traziam em si mesmos.
Sócrates costumava dizer "só sei que nada sei", pois quanto mais ele sabia mais percebia a sua miudeza perante
o universo e o Criador antecipando a beleza da humildade, virtude que mais tarde seria tão valorizada por Jesus. Outra
célebre frase, "Conhece-te a ti mesmo", foi muitas vezes a ele atribuída, mas era um dos pilares da sabedoria grega
inscrita no pórtico do Oráculo de Delfos.
Conversar com Sócrates podia ser expor-se ao ridículo e ser apanhado numa complexa linha de pensamento. Em
sua vida se viu em vários momentos desafiado pelos Sofistas que questionavam sua sabedoria. Como seu método
envolvia constantes questionamentos, seus oponentes constantemente adotavam uma postura presunçosa achando
que Sócrates nada sabia porque só perguntava e não respondia. Só que quando alguém sabe mais do que o outro e
está fazendo perguntas chega num momento em que o outro não consegue respondê-las. Era nesta hora que Sócrates
chegava ao que ficou conhecido na sua dialética como ironia. A criatura chegava então ao conhecimento de sua própria
ignorância. Muitos daqueles que foram ironizados pela dialética socrática tornaram-se seus discípulos.
Achava que a principal tarefa da existência humana era aperfeiçoar seu espírito. Acreditava ouvir uma voz
interior, de natureza divina que lhe contava a verdade, e para ele só existia um deus. Era capaz de ficar horas imerso
em si mesmo, em profundos momentos de reflexão. Não foi por acaso que a Pitia, do oráculo de Delfos, o proclamou
como o homem mais sábio de Atenas quando o amigo de juventude de Sócrates, Querefonte, foi interrogá-la.
A partir das idéias de Sócrates iremos propor nas linhas a seguir uma atividade de reflexão, não com o objetivo de
criar fórmulas, mas de sistematizar aquilo que nossa experiência tem mostrado que seja algo parecido com o ato de
refletir do método socrático.
A necessidade de reflexão
Assim como os sentidos - visão, tato, olfato, audição e paladar - nos permitem interagir com o mundo externo, é a
reflexão, o sentido íntimo e aquele que nos permite entrar em contato com nós mesmos. Etimologicamente, refletir é a
junção de RE + FLECTIR, onde FLECTIR significa fazer a flexão de; vergar, dobrar, flexionar e RE significa movimento
para trás; repetição; intensidade, reciprocidade; mudança de estado. Em suma, refletir é a habilidade de pensar sobre si
mesmo. Leibniz em sua obra “Novos Ensaios” nos afirma ser a reflexão nada mais do que a atenção para aquilo que
está em nós, ao passo que os sentidos não nos dão, de modo algum, aquilo que nós levamos em nós. De forma
didática temos:
SENTIDOS
REFLEXÃO
visão, audição, paladar, olfato, tato
sentido íntimo
mundo exterior
mundo interior
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O objetivo da utilização da reflexão no meio educacional é que o participante olhe para si mesmo sob a lente do
tema que estamos estudando com o fim de proporcionar condições que o levem ao desenvolvimento do “pensar” e a
adoção de hábitos mais sadios e focados no progresso da alma.
A justificativa para a utilização deste método no processo de ensino-aprendizagem é que em matéria de
conhecimento a maior necessidade da criatura humana ainda é a do conhecimento de si mesma. O que nos permite
afirmar que sem reflexão não se tem conhecimento de si próprio e sem conhecimento de si próprio não se tem
conhecimento de suas imperfeições. Se não as conheço, não tenho como corrigi-las. Se não me torno melhor, não
tenho como me realizar pessoalmente nem atingir a felicidade e a paz de espírito que tanto desejo.
Após alguns trabalhos sobre como levar alguém a refletir, levantamos as seguintes idéias:
1. Para fazer alguém refletir precisamos antes praticar a reflexão - E neste ponto o filósofo Aurélio Augusto
(354-430) traça um verdadeiro roteiro de como praticar o conhece-te a ti mesmo.
Agostinho exorta-nos que ao fim do dia interroguemos nossa consciência. Recomendava que dirigíssemos a nós
mesmos perguntas sobre o que fizemos e com que objetivo procedemos em tal circunstância, sobre se fizemos alguma
coisa que, feita por outrem, censuraríamos; sobre se obramos algo que não ousaríamos confessar.
Desta forma chegaríamos a nos conhecer e a ver o que em nós precisaria de reforma. Aquele que, todas as
noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito
grande força adquiriria para se aperfeiçoar.
Examinemos o que pudéssemos ter obrado contra Deus, depois contra o nosso próximo e, finalmente, contra nós
mesmos. As respostas nos darão, ou o descanso para a nossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser
curado. O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Formulemos, pois, de nós para nós mesmos, questões nítidas e precisas e não temamos multiplicá-las. Justo é
que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna.
2. Ouvir os participantes - questionar o participante o estimula a sair da passividade. O mais interessante é que
por mais que julguemos que não conhecemos algo, todos trazem visões particulares sobre quaisquer assuntos. É
importante conhecer tais idéias, pois a mudança de visão depende de uma insatisfação interna mais do que qualquer
fator externo. Ouvir é uma atitude muito simpática que demonstra que não somos mestres de ninguém, mas queremos
construir algo juntos.
3. Criar um ambiente adequado onde prevaleçam o entendimento, a harmonia, a seriedade, o respeito e a
elevação.
4. Desenvolver uma relação de afeto com nossos colegas - esta relação simpática, de não julgamento, mas
de interesse no bem de todos, estimula a que se saia da defensiva e se olhe com honestidade. O amor é o melhor
ambiente para qualquer aprendizado.
5. Estar preparado para fazer perguntas que não tenham respostas prontas - fazer perguntas que levem a
pessoa a elaborar, pensar (refletir) para responder. Em outras palavras, devem-se desembrulhar as respostas prontas.
6. Elaborar questionamentos, técnicas, sensibilizações, que os remetam a confrontar o que estudam com
a forma como agem.
7. Incomodar (no bom sentido) a pessoa tirando-a da zona de conforto, ou seja, passividade e levando-a a falar.
Os pontos a seguir podem nos dar alguns subsídios sobre o grupo que vamos trabalhar, como por exemplo as
características de quem não reflete:
1.
Acredita em tudo que lê;
2.
Acredita em tudo o que falam;
3.
Reproduz tudo o que vê, ouve, etc;
4.
Escolhe e toma decisões em função do que sente, gosta;
5.
Costuma ressaltar as partes engraçadas de um estudo e não o seu conteúdo;
6.
Dá mais importância a aparência do que a essência;
7.
Age impulsivamente.
Características não muito presentes, mas que podem estar em quem não reflete:
1.
Reproduz as coisas com muita efusividade;
2.
Acha que tudo deve ser divertido;
3.
Repara muito nos outros: estilo, forma de falar, de vestir, etc;
4.
Busca ser admirado.
A seguir apresentamos aquilo que acreditamos ser bem próximo do que Sócrates propôs como metodologia
reflexiva, a maiêutica:
Conteúdo a ser desenvolvido: Deus, alma, lei de causa e efeito, lei de amor, felicidade.
Método instrucional
Objetivo: Refletir sobre a existência de uma inteligência suprema (Deus), da mente (Alma) e da lei de amor e
nossa postura perante a vida.
Técnica: exposição direta
Conteúdo: Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. É possível provar a sua existência
num axioma: não há efeito sem causa. Procuremos a causa de tudo o que não é obra do homem e a nossa razão
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responderá. Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma
causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma
coisa.
Outra prova é o sentimento instintivo que todos os homens trazem em si da existência de Deus que apareceu em
todos os povos, mesmo os que permaneceram isolados, como os selvagens. Isto quer dizer que este sentimento não é
produto de um ensino, mas universal. Caso fosse resultado de um ensino não existiria senão nos que houvessem
podido recebê-lo, conforme se dá com as noções científicas.
Mesmo sentindo-o não pode o homem compreender a Sua natureza íntima, pois falta-lhe o sentido.
Essa inteligência suprema criou o universo e os homens com o objetivo de que estes se desenvolvam,
progridam e conquistem um estado íntimo de felicidade. Tal estado só é possível com o cumprimento de sua lei que
pode ser chamado Lei de Amor.
Método reflexivo
Objetivo: Refletir sobre a existência de uma inteligência suprema (Deus), da mente (Alma) e da lei de amor e
nossa postura perante a vida.
Técnica: maiêutica
Conteúdo:
1. Utilização do vídeo lembranças da minha morte. Caso: Pam.
Sinopse: Mulher tem aneurisma na base do cérebro. Ao ser operada deve encontrar-se clinicamente morta, com o
coração parado e o cérebro sem atividade. Seu cérebro será resfriado a uma temperatura de aproximadamente 10º C e
o sangue será completamente retirado da sua cabeça. Médicos reiteram que seu cérebro não pode ter atividade. Ao
término da cirurgia Pam se recorda de ter estado fora do corpo de “carne”. De ter ouvido tudo o que foi feito na cirurgia.
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2. Questionamentos para reflexão:
Como ouvimos algo?
Como vemos algo?
Se o cérebro de Pam estava sem atividade, com
que olhos e com que ouvidos ela enxergou?
Ela chegou a relatar que quando estava fora do
corpo lembrava-se das coisas. Quando lembramos
de algo acessamos que parte do cérebro?
Mas se o cérebro estava desligado, aonde ela
acessou a memória?
Esse pode ser um indício de que a memória não é
armazenada no cérebro?
Ela também relata que conseguia raciocinar,
pensar e perceber as coisas ao seu redor? Com
isso perguntamos: quem pensa?
A alma é inteligente?
A alma é independente do corpo?
Qual o argumento para essa afirmação?
Para descobrimos o criador da alma podemos
supor que somente alguém mais inteligente
poderia tê-la criado?
Como chamaremos essa inteligência superior?
Alguém pode me explicar o que é essa inteligência
superior?
Se não podemos explicá-la como provar que ela
existe?
O princípio de que todo efeito tem uma causa e de
que todo efeito inteligente tem uma causa
inteligente comprova a existência da inteligência
superior?
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Era o momento da Pam morrer?
Se não era, tinha um momento?
Será que todos temos um momento para morrer?
Se sim, com qual objetivo essa inteligência
superior nos cria, nos faz nascer numa família e
um dia nos faz morrer? Ou seja, qual o verdadeiro
sentido da vida?
A vida é um parque de diversões?
Se não, precisamos aprender o quê?
Fazer tudo o que eu gosto é exercitar o quê? A
felicidade?
Será que a felicidade está em fazer tudo o que eu
gosto?
Se sim como seria o mundo se todos fizessem
aquilo que gostam?
Isso quer dizer que nem tudo o que eu gosto eu
devo fazer?
Isso quer dizer que nem tudo o que eu não gosto
eu não devo fazer?
Como saber o que eu devo fazer?
Como saber o que é certo ou errado?
O que temos feito da nossa vida?
Temos feito coisas que gostamos mas que não
devemos pois nos fazem mal?
Alguém poderia citar um exemplo?
O que devemos fazer para nos tornar mais felizes?
Como corrigir nossos erros?
Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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