1.5 O oscilador harmónico unidimensional A energia potencial do oscilador harmónico é da forma kx2 , U= 2 (1.29) onde k é a constante de elasticidade e x a deformação da mola. Substituindo (1.29) em (1.24) obtemos Z x dx q t − t0 = , kx2 2E x0 − m m t1 − t0 = Z x0 Efectuando a mudança de variáveis r k x, y= 2E temos 1 t − t0 = q 2E m Z y y0 r x q dx q 2E 1− m dx = r 2E dy p = k 1 − y2 . k 2 x 2E 2E dy k r m arcsin(y)|yy0 , k (1.30) p R visto que dy/ 1 − y 2 = arcsin(y). Supondo que arcsin(y0 ) = 0, e invertendo (1.30) obtemos r k (t − t0 ), arcsin(y) = m "r # r 2E k x= sin (t − t0 ) . (1.31) k m A equação (1.31) define a lei de movimento do oscilador harmónico. A frequência das oscilações é dada por r k ω= m e a amplitude de oscilação r 2E A= k é proporcional à raiz quadrada da energia do oscilador. Este mesmo facto vamos encontrar frequentemente nos diferentes ramos da Fı́sica, por exemplo, no estudo de todos os fenómenos ondulatórios. 10 A escolha y0 = 0 está relacionada com a escolha das condições iniciais: y0 6= 0 implicaria o aparecimento de uma fase δ0 = arcsin(y0 ) na equação (1.31), x= 1.6 r 2E sin k "r # k (t − t0 ) + δ0 . m Movimento unidimensional de um sistema conservativo: energia versus posição A energia de uma partı́cula que se move ao longo de uma linha rectilı́nea sujeita à força f (x), conservativa, é dada por E= m 2 x + U(x). 2 (1.32) Seja U(x) uma função contı́nua representada na figura 1.3 em função de x. Representamos pela linha paralela ao eixo dos x a energia mecânica da partı́cula. V(x) E x0 x1 x4 x2 x 5 x3 x Figure 1.3: Energia potencial U (x) em função de x Da equação (1.32) e do gráfico podemos tirar as seguintes conclusões: • De (1.32) temos que a energia cinética da partı́cula é dada por 1 T = mx2 = E − U(x). 2 (1.33) A energia cinética nunca poderá ser negativa o que implica que E ≥ U(x). 11 (1.34) No gráfico existem dois intervalos para os quais a condição (1.34) não é satisfeita x ∈ [x1 , x2 ] e x ∈ [x3 , ∞[. Estas zonas são zonas proibidas e a partı́cula nunca será encontrada nestes intervalos. • A distância da recta E à curva U(x) representa a energia cinética. Nos pontos x1 , x2 e x3 ela é nula, no ponto x0 ela é máxima. Os pontos x1 , x2 e x3 são chamados pontos de retorno. Nestes pontos a velocidade da partı́cula anula-se, invertendo-se o sentido de acordo com a sua posição. • Uma partı́cula sujeita à energia potencial representada por U(x) e com energia E pode ter dois tipos de movimentos de acordo com a sua posição: – Pode deslocar-se entre ]∞, x1 ]. Este movimento só é limitado num lado. A partı́cula pode aproximar-se do ponto x = x1 vinda do infinito x = −∞. No ponto x1 a sua velocidade anula-se e muda de sentido. A partı́cula então afasta-se indefinidamente. Este movimento é ilimitado. – A partı́cula move-se no intervalo [x2 , x3 ]. Este movimento é limitado em ambos os lados. Consideremos uma partı́cula que parte da posição x = x2 no sentido dos x crescentes. A sua velocidade no sentido positivo do eixo dos x aumenta até ao ponto x = x0 seguidamente diminui até x = x4 , volta a aumentar até x = x5 e a partir de x5 diminui até x3 onde se anula e passa a ser negativa (movimento no sentido dos x decrescentes) passando a partı́cula pelos pontos x5 , x4 , x0 até voltar a atingir x2 . É um movimento limitado, periódico com perı́odo Z x3 dx q T (E) = 2 . (1.35) 2 x2 (E − U(x)) m O perı́odo T é função de energia da partı́cula e é igual ao dobro do tempo que a partı́cula demora a percorrer a distância entre x2 e x3 . Na Fig. 1.2 identificamos várias posições para as quais dU = 0, dx nomeadamente x = 0, x0 , x4 , x5 . Nestes pontos a força exercida sobre a partı́cula é nula, F~ = −(dU/dx)î = 0. Se a partı́cula tiver velocidade nula nestas posições ela vai manter-se nessa posição indefinidadmente. Dizemos que estes pontos são pontos de equilı́brio. No entanto, é importante distinguir entre pontos como x0 , onde a segunda derivada da função é positiva d2 U > 0, equilı́brio estável dx2 x=x0 12 e pontos como x4 , onde a segunda derivada da função é negativa d2 U < 0, equilı́brio instável. dx2 x=x4 Aos primeiros chamamos pontos de equilı́brio estável e aos segundos pontos de equilı́brio instável. No caso de um ponto de equilı́brio estável, quando a partı́cula é desviada da posição de equilı́brio a força exercida sobre ela vai obrigá-la a voltar à posição de equilı́brio. No caso de um ponto de equilı́brio instável, quando a partı́cula é desviada da posição de equilı́brio a força exercida sobre ela vai afastála desse ponto. 1.7 Movimento de um electrão sob o efeito de um campo eléctrico e magnético constantes Bibliografia: French-Newtonian Mechanics-pg. 467 Vamos fazer o estudo do movimento de um electrão sob o efeito de um campo eléctrico e um campo magnético constantes. Supomos que temos um par de placas paralelas à distância d uma da outra, montadas dentro de um tubo onde existe o vácuo e ligadas a uma bateria de modo a existir um campo eléctrico uniforme de intensidade E = V /d entre as placas, de acordo com a figura 1.4. As y V B d 0 x Figure 1.4: Tubo catódico com condensador placas estão colocadas entre os polos de um magnete que cria um campo uniforme perpendicular ao plano do papel. Supomos que os electrões, de carga q = −e, começam o seu movimento a partir da placa debaixo com uma velocidade muito pequena. Os electrões poderão ser libertados por um processo foto-eléctrico. A força magnética, sendo perpendicular à direcção do movimento do electrão, FB = −ev ∧ B, 13 não realiza trabalho e a energia do electrão é dada por E= V m V m 2 v − e y = (vx2 + vy2 ) − e y. 2 d 2 d (1.36) A última parcela representa a energia do electrão no campo eléctrico. A energia mecânica (1.36) é expressa em termos de vx , vy e y, e, devido à escolha da origem da energia potencial, é nula visto que para y = 0, v = 0. Podemos transformar este problema num problema unidimensional eliminando vx em função de y. O campo eléctrico só pode acelerar o electrão na direcção do eixo dos y. O movimento na direcção do eixo dos x é apenas devido ao campo magnético B. Assim, a componente da lei de Newton segundo o eixo dos x é dada por m d2 x = −e (v ∧ B)x , dt2 ou ainda, visto que B = −B k̂, d2 x m 2 = evy B. dt Integrando a última equação com a condição v = 0 no ponto y = 0, obtemos dx eB = y = ω0 y. dt m (1.37) Finalmente, substituindo a última equação na expressão (1.36), determinamos a energia mecânica do electrão apenas em função de y e vy , E=0= m 2 V (vy + ω02 y 2 ) − e y. 2 d Tudo se passa como se a partı́cula executasse um movimento unidimensional sujeita a um potencial efectcivo Uef = V m 2 2 ω0 y − e y. 2 d (1.38) Seja ya = eV /(mdω02) = V m/(edB 2 ). Na figura 1.5 representamos a função Uef em função de y, correspondendo a uma parábola de vértice no ponto (Uef = m2 ω02ya2 , y = ya ), como é fácil de concluir se reescrevermos (1.38) na forma Uef = m 2 m ω0 (y − ya )2 − ω02 ya2 , . 2 2 Substituindo E = 0 e U = Uef (y) na equação (1.24) obtemos 14 (1.39) Uef 0 2 2y ya y a 2 -m ω ya /2 0 Figure 1.5: Energia potencial Uef (y) t − t0 = Z y y0 dy q , ω02ya2 − ω02 (y − ya )2 Z z 1 dz √ = , z = y/ya − 1, ω0 z0 1 − z 2 1 (arcsin(y/ya − 1) − arcsin(y0 /ya − 1)) = ω0 Finalmente, sabendo que para t = 0, y0 = 0, e que arcsin(−1) = 3π/2, obtemos y(t) = ya (1 + sin(ω0 t + 3π/2)) = ya (1 − cos(ω0 t)). (1.40) Determinamos x(t) integrando (1.37) x(t) = ya (ω0 t − sin(ω0 t)) . (1.41) As equações (1.41) e (1.40) determinam a trajectória do electrão, representando um cicloı́de na sua forma paramétrica, ver figura 1.6. É de notar que o valor máximo de y é ymax = 2ya , e, que se 2ya ≥ d o electrão é absorvido pela placa de cima não se obtendo a trajectória representada em 1.6. O valor de ymax = 2V m/(edB 2 ) poderá ser alterado variando B ou V . y 2y a 0 π 2π 4π 3π 5π Figure 1.6: Movimento do electrão no plano xy 15 6π x/ ω 0 Chapter 2 Campo de forças centrais 2.1 Campo de forças centrais Um campo de forças centrais é caracterizado por linhas de força com a direcção da linha que une o corpo, no qual a força actua, e o corpo que produz o campo de forças. Considerando uma partı́cula num campo de forças externo, o campo de forças centrais é um campo de forças no qual a força que actua sobre a partı́cula tem a direcção da linha que une a partı́cula a um ponto fixo, o centro do campo de forças. A força F que actua na partı́cula será da forma r F = f (x, y, z) . r Este campo de forças é conservativo se o módulo de F apenas depender da distância r ao centro de forças, i.e. r F = f (r) . r (2.1) Teorema: Um campo de forças central é conservativo se uma das duas condições é verificada: 1. a direcção da força é ao longo da linha que une a partı́cula a um ponto fixo e a grandeza só depende da distância do ponto fixo à partı́cula. 2. a força deriva de uma função potencial que apenas depende da distância do ponto fixo à partı́cula. 16 Estas duas condições são equivalentes. Consideremos a condição 2 ∂U ∂U ∂U ê1 + ê2 + ê3 F = −∇U(r) = − ∂x1 ∂x2 ∂x3 3 X ∂U = − êi ∂xi i=1 3 X dU ∂r = − êi , dr ∂xi i=1 onde considerámos que U é apenas função de r. Substituindo q ∂ 2xi ∂r xi = x21 + x22 + x23 = p = ; i = 1, 2, 3, 2 2 2 ∂xi ∂xi r 2 x1 + x2 + x3 obtemos 3 1 dU X dU r F = −∇U(r) = − xi êi = − , r dr i=1 dr r considerando que 1r dU não é afectado pelo somatório no ı́ndice i e que dr 3 X xi êi = x1 ê1 + x2 ê2 + x3 ê3 = r. i=1 Finalmente temos dU(r) r r = f (r) . dr r r F é uma força com a direcção do raio vector r que une a partı́cula ao centro do campo de forças e cujo módulo apenas depende da distância r ao centro de forças. Provámos que a condição 2 é equivalente à condição 1. O inverso também é verdadeiro. Seja F da forma r F = f (r) . r O trabalho elementar realizado por esta força durante o deslocamento dr é dado por f (r) dw = F · dr = r · dr. r Substituindo r · dr por rdr, F=− 1 1 r.dr = d(r · r) = dr 2 = rdr, 2 2 obtemos dw = f (r)dr. 17 O trabalho elementar dw apenas depende do valor inicial e final da variável r, a distância ao centro de forças, e, portanto, F é uma força conservativa. Então existe uma função potencial U(r) tal que dw = −dU = f (r)dr ou F = −∇U, visto que dU = ∇U · dr. 1 Provámos que as condições 1 e 2 do teorema são equivalentes. Falta agora provar que se F é conservativo o módulo de F apenas depende de r ou que U = U(r). Supomos que nada é conhecido acerca da dependência de |F| de r. Partimos do facto que F é uma força central r F=f , r (2.2) F = −∇U. (2.3) e F deriva de um potencial Multiplicando escalarmente (2.2) e (2.3) por dr e igualando ambas as expressões obtemos f −∇U.dr = r · dr. (2.4) r Vimos anteriormente que r · dr = rdr e ∇U · dr = dU. Substituindo as últimas relações em (2.4) temos −dU = f dr, ou a função potencial U varia apenas quando a variável r varia. Então U é função de r, U = U(r). Mas U = U(r) implica que F = f (r)r̂, como querı́amos demonstrar. 1 dU = ∂U ∂x dx + ∂U ∂y dy + ∂U ∂z dz = ( ∂U ∂x ê1 + ∂U ∂y ê2 18 + ∂U ∂z ê3 ).(dxê1 + dyê2 + dzê3 ) = ∇U · dr.