/' /,.-'(I • TCC/UNICAMP D391m 1290003747/IE I ' UNICA ... P UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ECONOMIA Monografia de Graduação Marketing Esportivo no Futebol Brasileiro: Análise de Três Clubes Paulistas Felipe Cruz Demarqui Orientador: Marcelo W. Proni ' . . ) '- ( (_ TCC/UNICAMP D391m 1290003747/IE Campinas Dezembro, 2008 ~ ' . : ,' ,..-\ (- --i . Agradecimentos Agradeço, primeiramente, à minha família que é a base para minha vida. Agradeço a educação que me deram e os valores que me mostraram sem os quais tenho certeza que não teria conseguido metade das coisas que consegui. Não posso esquecer também do apoio incondicional que me deram no decorrer desse trabalho. Também agradeço a Tatiana, parceira e companheira de todos os momentos e que teve participação ativa nesse estudo, deste antes da escolha do tema, até os momentos finais, lendo, revisando e procurando erros. Não poderia esquecer, também, do professor Marcelo Proni, que desde o momento que lhe apresentei o projeto se mostrou muito interessado e entusiasmado em concretizá-lo. Agradeço sua paciência, seu conhecimento e a forma como me guiou durante o processo, sem me deixar perder o foco e procurando fazer sempre o melhor possível. Ainda, agradeço aos entrevistados dos clubes analisados, que contribuíram muito e engrandeceram esse estudo. Suas informações, opiniões e análises foram de suma importância para a finalização deste. Por fim, deixo um agradecimento geral para todos aqueles que contribuíram de alguma forma para que esse estudo deixasse de ser apenas um projeto e se concretizasse; todos aqueles que ouviram minhas reclamações, me ajudaram com contatos, informações, notícias e artigos, ou simplesmente estiveram do meu lado, me apoiando nos momentos difíceis. Devo uma parcela desse estudo para cada um de vocês e por isso só posso dizer: MUITO OBRIGADO/I Resumo Este estudo tem por objetivo analisar a atual situação do futebol brasileiro, não apenas do ponto de vista financeiro, mas também no que se refere à qualidade do espetáculo apresentado. Para tanto, foram levantadas características do mercado do futebol no país e feitas análises de algumas das principais empresas (clubes). São descritas ainda ferramentas de Marketing Esportivo que o autor acredita serem fundamentais, juntamente com a existência de uma administração profissional, para iniciar o processo de reestruturação do futebol brasileiro e com isso aproximar o esporte nacional aos grandes centros europeus, onde o futebol já é tratado como um grande negócio. Palavras Chave: Futebol, Marketing Esportivo, Administração Profissional, Análise Económica, Clubes Paulistas, Comparação com a Europa. SUMÁRIO Introdução.............•.................................................................................................... 1 1 - Futebol brasileiro: uma análise econômica ...................................................... 3 1. 1 - Futebol Negócio•..............••.•..............••••••............•••••••.................................. 5 1.2- Lei Pelé .......................................................................................................... 7 1.3- Administração Profissional? ..•.••••••••..........•••••••••••..........•.•••.••••••.............. 10 2- Marketing Esportivo .......................................................................................... 16 2.1- Marlceting ...................................•....................••••...................•••.•................. 16 2.2- Histórias e Conceitos de Marlceting Esportivo ....................•••••••.............. 21 2.3 - Futebol como Produto Esportivo .............................................................. 24 2.4 - A Marca dos Clubes ................................................................................... 28 2.5- Formas de Utilização ............................................•..................................... 35 2.5.1 - Patrocinio.............................................................................................. 36 2.5.2- Licenciamento ...................................................................................... 39 2.5.3- Estádio e Arena Multiuso .................................................................... 43 2.5.4 - Internet e Midia ..................................................................................... 48 2.5.5- Sócio Torcedor..................................................................................... 51 2.6 - Comparação com a Europa ...............•••••................................................... 53 3- Análise do Marketing em Clubes Brasileiros ..................•............................... 58 3.1- São Paulo ........................ ,u ••••••••••••••••••......•••••••••••••••..••••••••••.....•••••••••••••...• 58 3.2- Corinthians •••...................••.................................................••....................... 63 3.3- Palmeiras .......................... u ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 67 Conclusão ................................................................................................................ 72 Anexos ..................................................................................................................... 77 Anexo 1: Entrevista- Orandi Mura "Nino" (São Paulo) ................................... 77 Anexo 2: Entrevista - Luis Paulo Rosenberg (Corinthians) ..........•••••..•.......... 81 Anexo 3: Entrevista- Luiz Gonzaga Belluzzo (Palmeiras) .............................. 85 Introdução Como um apaixonado por futebol, acompanho a movimentação dos clubes de futebol, não apenas dentro, mas também fora dos campos. E é notável que o futebol hoje em dia é um fenômeno muito mais "comercializável" do que era algumas décadas atrás. Diversos agentes estão envolvidos nos times, nos clubes, nas federações e nas competições. Os clubes devem tentar profissionalizar sua administração o quanto antes, a fim de conseguirem obter ganhos extras antes de seus concorrentes. O futebol nacional tem sofrido um processo de profissionalização recente, no qual o amadorismo e o semi-profissionalismo estão dando lugar para atletas mais bem remunerados e contratos de patrocínio cada vez maiores. As empresas começam a descobrir o futebol, e tentam incessantemente o investimento no esporte, buscando obter bons e lucrativos negócios. Afinal, em um mercado de 180 milhões de pessoas, em que a grande parcela é aficionada por esporte, o cenário estaria perfeito para a proliferação de negócios desse tipo. Estaria, pois, apesar do grande desenvolvimento experimentado nos últimos anos, e a recente profissionalização, o futebol brasileiro continua com organizações (lê-se clubes, federações e confederações) que buscam atender mais aos interesses dos que as comandam ao invés de buscarem uma nova forma de lidar com a nova realidade. Muitos grandes projetos para o nosso fulebol falharam, em grande medida, pela falta de profissionalismo na gestão dessas entidades esportivas. Essa falta de profissionalismo não se restringe ao modo como os clubes lidam com seus parceiros de negócios; também pode ser sentida na busca de receitas pelos clubes brasileiros. Os dirigentes brasileiros ainda não têm ciência de quanto suas receitas podem ser aumentadas se utilizarem melhor as ações de marketing esportivo. Ao invés disso, ficam apenas voltados para as mesmas receitas usuais, que há muito se mostram insuficientes para sanar as contas do clube, que ano após ano vem se apresentando no vermelho. Diante da constatação de que a relação dos esportes (e principalmente o futebol) com a Economia vem se estreitando, ao longo das últimas décadas, e do claro amadorismo e ineficiência dos gestores dos clubes brasileiros, ficam evidentes as contribuições que economistas poderiam trazer a esse ramo. Mas, é preciso compreender melhor porque a utilização de uma visão mais profissional é tão necessária atualmente, e de que maneira ela poderá potencializar o faturamento dos grandes clubes de futebol no Brasil. Assim será possível entender, também, por que este se tomou um campo de atuação bastante promissor para os economistas. O objetivo desse estudo é demonstrar o quão atrasado se encontra o futebol brasileiro, em comparação com os grandes centros europeus no que diz respeito à utilização do marketing esportivo para a obtenção de maiores receitas e, conseqüentemente, melhoria não só da situação financeira dos clubes como da qualidade dos espetáculos oferecidos no país. Também se pretende demonstrar que, enquanto não obtivermos uma mudança na forma de gestão desse esporte, desde as instituições menores (clubes) até a confederação brasileira, continuaremos estagnados e fadados a ver o espetáculo se desvalorizar cada vez mais ou deixaremos de aproveitar as oportunidades que poderão surgir nos próximos anos. Ademais, outro objetivo deste estudo é discutir o potencial e os limites do Marketing Esportivo, principalmente as estratégias estreitamente ligadas a grandes equipes de futebol, procurando contribuir para disponibilizar informações e analisar as tendências recentes, considerando que não encontramos bibliografia em abundância com esse enfoque. O estudo está dividido em três capítulos, além desta introdução e da conclusão. No primeiro, faremos uma abordagem mais detalhada das mudanças ocorridas nas últimas três décadas, que exigem que o futebol seja gerido de forma estritamente empresariaL Já no segundo capítulo, discutiremos de que formas os clubes brasileiros podem utilizar melhor o marketing esportivo, obter receitas com ferramentas que até então são pouco exploradas e, l assim, se aproximar de clubes europeus mais poderosos e tentar lutar de igual para igual com os mesmos. O terceiro capítulo será baseado em três análises com grandes clubes paulistas (São Paulo, Palmeiras e Corinthians), que buscam demonstrar, empiricamente, como esses clubes estão utilizando as ferramentas de marketing esportivo descritas no capítulo anterior. Ao final, são feitos comentários gerais, retomando pontos importantes do estudo, demonstrando como o futebol brasileiro está estruturado atualmente, e o que pode ser feito para melhorá-lo. O estudo combina, portanto, diferentes fontes de infonnação e técnicas de pesquisa. Os dois primeiros capítulos estão baseados em levantamento bibliográfico e em consultas na internet. As análises, por sua vez, se baseiam em entrevistas realizadas com dirigentes dos clubes selecionados e também com notícias de diversos veículos de mídia. Cabe esclarecer, ainda, que a escolha das três equipes de maior torcida do Estado de São Paulo se deve ao reconhecido poder de mercado que elas possuem e ao fato de apresentarem departamentos de marketing bem estruturados para o padrão brasileiro. 2 1 -Futebol brasileiro: uma análise econômica A partir do surgimento dos primeiros times em nosso país, o futebol conseguiu entranhar-se na sociedade brasileira, se tornando a paixão nacional. Não a toa que em épocas de Copa do Mundo é possível ouvir que o país possui "180 milhões de treinadores", cada um com uma idéia diferente de como o time deveria jogar ou quais jogadores deveriam ser escalados. No início, o esporte era tido apenas como um passatempo, principalmente para trabalhadores das fábricas se descontraírem. À medida que mais times foram surgindo, rivalidades foram se acirrando e a vontade de vencer foi sobressaindo, o futebol começou a tomar outros rumos. Começaram os pagamentos de salários a jogadores, visando atraí-los para os times a fim de formar um esquadrão melhor. Posteriormente as transações de jogadores surgem também como um meio de reforçar sua equipe e buscar vencer os jogos e campeonatos. Porém, a grande revolução no futebol começou em meados da década de 80 e ainda vemos reflexos dela nos dias de hoje. Principalmente a partir do meio dos anos oitenta, o futebol começou a ser tratado como um negócio: o que antes era tratado apenas entre clubes e jogadores começou a envolver um número muito maior de agentes: clubes, jogadores, empresários, televisão, patrocinadores, parceiros de negócios, torcedores. Ao falar que o futebol se tomou um negócio, em outras palavras, estamos dizendo que existe um mercado de futebol. Assim como qualquer outro mercado, há o produto vendido (futebol), as empresas concorrentes (clubes) e diversos outros agentes que se relacionam, direta ou indiretamente, com essas empresas. Como todos os outros, o mercado do futebol também tem diversas características próprias. O mercado do futebol brasileiro é considerado um mercado oligopolizado, em que existe um grande número de empresas, porém poucas dominam grande parte desse mercado. Nesse tipo de mercado, as empresas concorrem com base na qualidade, design do produto, serviço ao cliente, propaganda, buscando assim, alternativas para diferenciar seus produtos frente aos da concorrência. Isso pode ser ilustrado pelo grande domínio dos clubes vinculados ao "Clube dos Treze": Ao todo, são 20 times, que representam cerca de apenas 5% de todos os clubes profissionais no país. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Gallup1 , esses 20 clubes detêm 80% de todos os torcedores no país. Porém, tal domínio não se apresenta apenas na torcida. Um levantamento da Casual Auditores2 que aponta os 21 clubes brasileiros com maior geração de receitas (acumulado entre 2006 e 2007) indica que 15 destes são pertences ao "Clube dos Trezes" (ficando de fora apenas Bahia, Goiás, Guarani, Portuguesa e Sport). Esses 15 clubes respondem por 87,30% de toda a receita gerada pelos 21 clubes mais ricos. Ou seja, torna-se claro que o mercado do futebol no Brasil é bastante concentrado, onde poucos ck..lbes detêm grande parte dos recursos. Outra característica de mercados oligapolizados é a existência de barreiras à entrada. Kupfer e Hasenclever (2002, p.112) definem barreiras à entrada como "qualquer fator que impeça a livre mobilidade do capital para uma indústria no longo prazo". É o caso, por exemplo, das regras de acesso estabelecidas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para participação nas diferentes divisões do Campeonato Brasileiro. Os autores ainda demonstram que a literatura considera diferentes definições operacionais desse conceito. Porém, para esse estudo, também deve ser considerada a definição defendida por R. Gilbert (apud KUPFER; HASENCLEVER, 2002, p.113) que diz que "somente há barreiras a entrada quando há um diferencial econômico entre empresas estabelecidas e entrantes 1 2 Disponfvel em: http:l/gallupnobrasil.blogspot.com/2008105/maior-pesquisa-da-histria_html Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/O,,EMI8217-15260,00. html 3 simplesmente porque as primeiras já existem e as outras não". Como vimos, os grandes clubes já dominam grande parte do mercado, e os clubes pequenos têm dificuldades para acompanhá-los. O que pensar então de um novo clube que começaria do zero, com relações restritas junto a outros agentes desse mercado? Além disso, os clubes despedem gastos (custos irrecuperáveis) como forma de "prevenir a entrada de empresas potenciais rivais e dar consistência a posicionamentos estratégicos e ameaças" (KUPFER; HASENCLEVER, 2002, p.254). Esses custos estão, normalmente, ligados a ativos específicos, que, como o próprio nome diz, são voltados para determinadas utilizações, com local e fim definidos anteriormente. Caso a utilização determinada não possa ser concretizada, esses ativos não podem ser alocados para outro tipo de empreendimento e também não podem ser transacionados sem perda total ou parcial do valor. "Uma vez que a empresa tenha se comprometido com eles não pode voltar atrás em sua decisão. A característica fundamental do custo irrecuperável é que o momento de decisão de gasto é distinto de seu pertodo de utilização" (KUPFER; HASENCLEVER, 2002, p.241). Num clube de futebol, os principais custos irrecuperáveis que podem ser facilmente percebidos são os investimentos em estrutura (estádio, centro de treinamento, fisioterapia etc). No caso do futebol, as barreiras à entrada não se restringem apenas ao âmbito econômico. As empresas (clubes) desse mercado possuem consumidores (torcedores) muito fiéis, que dificilmente mudam de clube durante a vida. Assim, um clube novo (empresa entrante), a princípio, teria muitas dificuldades em encontrar e atingir consumidores, pois as estratégias estariam restritas àquelas pessoas que atualmente não torcem por nenhum time, ou novas gerações de torcedores, que teriam de se desenvolver muito até que pudessem gerar retomas para esses clubes. Isso equivale a dizer que os clubes mais tradicionais e já consolidados no mercado (empresas estabelecidas) possuem uma marca mais forte que eventuais novos concorrentes. Mais adiante nesse trabalho iremos expor, mais detalhadamente, a importância de um clube de trabalhar sua marca, a fim de gerar ganhos maiores. Porém, seguindo a lógica do mercado, os clientes tendem a relacionar os produtos a imagens e logotipos e, conseqüentemente, acabam consumindo esses produtos não apenas por suas características, mas também por uma série de informações que recebem referentes às empresas que os produzem. Dado que essas informações são imperfeitas, pois "1- fontes de informação não são plenamente isentas; 2- elevado custo de obtenção da informação (grande numero de empresas oferecendo o produto inviabiliza a comparação de preços e condições oferecidas por cada uma destas empresas em determinado mercado); 3- a capacidade limitada dos consumidores de estocar informações disponíveis no mercado". (KUPFER; HASENCLEVER, 2002, p.455) podemos notar que os clubes novos tendem a enfrentar grandes dificuldades para se estabelecer no mercado. Até o momento foi exposta a estrutura desse mercado (oligopólio) e como as empresas estabelecidas tentam evitar a entrada de novos concorrentes. Porém, essa é apenas uma parte desse mercado. O mercado do futebol também é constituído de diversos usub-mercados" que não estão diretamente ligados às empresas (clubes) e seus produtos, mas são parte fundamental para o desenvolvimento deles. Esses "sub-mercados" são todos aqueles que se relacionam ao futebol, como: televisão, investidores e parceiros, para citar alguns. Os clubes devem manter relações estritas com esses "sub-mercados'', a fim de manter posições competitivas dentro do mercado "principal" (do futebol). E novamente, os grandes clubes (associados ao "Clube dos Treze", por exemplo) desfrutam de privilégios frente a outros. Diante dessa nova perspectiva do futebol como um mercado, este capítulo terá como objetivo relatar algumas das principais mudanças que foram e ainda estão sendo observadas nele, fazendo-o mudar seu status de atividade de lazer para um negócio muito rentável. 4 1.1- Futebol Negócio O futebol deixou de ser apenas uma atividade de lazer e entretenimento, e se tomou um negócio que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo e vem chamando atenção de diversos investidores, em busca de maiores lucros. Estima-se que o futebol movimentou cerca deUS$ 400 bilhões mundialmente em 2007. No Brasil, essa cifra fica em tomo de US$ 9 bilhões. Para se ter uma dimensão de como os valores dos contratos se multiplicaram, podemos fazer uma comparação rápida entre os salários dos jogadores expoentes das seleções brasileiras de 1994 (letra campeã do mundo) e de 1958 (campeã mundial pela primeira vez). Pelé, o maior jogador do mundo, ganhava, na época, US$ 61 mil e Garrincha, US$ 56 mil por mês. Já nos Estados Unidos, Romário recebia US$ 1 milhão por mês, enquanto Bebeto US$ 570 mil. Ou seja, se somássemos os salários de dois dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, eles, juntos, receberiam cerca de um quarto do que Bebeto reoebia em 1994 e quase um décimo do salário de Romário. Muitos creditam o marco do futebol oomo negócio à década de 80, quando a FIFA, presidida por João Havelange, fechou contratos de patrocínio oom Adidas e Coca Cola, para que fossem fornecedora oficial de material esportivo e patrocinadora oficial, respectivamente. Juntamente a isso, houve um movimento de expansão de transmissão do futebol, seja ao vivo ou via satélite, o que fez com que mais pessoas tivessem acesso às partidas. E mais pessoas assistindo os jogos significava mais consumidores em potencial para adquirir os produtos que ali estivessem relacionados. Mesmo mais de 30 anos após a assinatura de contrato com a FIFA, a Adidas continua a colher bons frutos dessa parceria. Após a Copa de 2006 na Alemanha, a empresa anunciou que a competição provocou um salto nas vendas de seus produtos, permitindo obtenção de lucro, mesmo com a compra da Reebok por US$ 4 bilhões. O lucro cresceu 24% e as vendas 60%, graças à grande exposição que a Copa do Mundo ofereceu à empresa. Além disso, muitas vezes, sediar um evento futebolístico importante também pode render muitos frutos. É o caso das cidades que recebem a final da Champions League, a maior competição de clubes européia. A última edição ocorreu em Atenas, e a cidade grega gerou € 26 milhões extraordinariamente, devido ao único jogo que ali ocorreu. Restaurantes, bares, hotéis foram os maiores beneficiados. O turismo tende a sofrer um avanço também, principalmente após a competição, com o afluxo de torcedores para visitar, principalmente, os estádios em que ocorrem as partidas. Como visto, o futebol vem se tomando atrativo não apenas para os clubes, federações e seus parceiros de operações, mas também é um grande negócio para as cidades que abrigam eventos. Porém, países também podem ser beneficiados. Muitos bens e serviços do futebol podem ser transacionados entre países, por isso têm um peso longe de ser desprezível na exportação brasileira e vem ajudando o país a gerar receitas em suas contas extemas, pois os dólares obtidos com as vendas dos jogadores são registrados na balança de serviços brasileira, que juntamente com a balança comercial constituem as transações correntes do país, dentro de seu balanço de pagamentos. Ou seja, o dinheiro obtido com a venda de jogadores ajuda a reduzir o déficit de transações correntes, um dos principais indicadores de vulnerabilidade externa de um país. Apenas para que tenhamos um panorama da magnitude que as transferências representam para o Brasil, em 2001, segundo dados do Banco Central, as vendas de jogadores (US$ 114,9 milhões) superaram as exportações de produtos tipicamente brasileiros, casos do cacau (US$ 71,5 milhões), da castanha de caju (US$ 83,6 milhões) e da banana (US$ 12,4 milhões). O site "Futebol e Negócio" <futebolnegocio.wordpress.com> apurou que principalmente a partir de 2003, as transferências de jogadores brasileiros tem aumentado 5 vertiginosamente. Entre 2001 e 2006, os clubes geraram US$ 770 milhões com a venda de seus atletas para o exterior, como mostra o gráfico abaixo. Gráfico 1 - Transferência de atletas 250 200 196,5 ~ 153,9 150 114,9 100 85,1 50 o 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Futebol e Negócio ; elaboração própria Em média, a transferência de atletas responde por cerca de 28% do total gerado pelos maiores clubes brasileiros no mesmo período. Nota-se, também , que 2005 foi um ano marcado por um boom nas transferências. Esse aumento foi o maior em oito anos. Os clubes brasileiros (e também os empresários}, observando esse grande potencial de exportação de seus craques, começaram a olhar mais atentamente para suas categorias de base, a fim de revelar craques, valorizá-los em seus elencos profissionais e posteriormente vendê-los, principalmente para o exterior, conseguindo assim não apenas recuperar o que foi investido na formação do atleta, mas também gerar receitas para que o clube possa investir em outras áreas. Por outro lado, os clubes europeus, aproveitando-se da grande quantidade de verba disponível para contratações, atuam de outra forma. Eles buscam jogadores de países menos desenvolvidos e os contratam por um preço baixo para os padrões europeus, mas que deixam muitos clubes brasileiros entusiasmados. A partir daí o ciclo se repete: valorizam o jogador, o expõe para a mídia e o vendem por um preço muito superior ao original. O Chelsea (clube inglês) se destaca nessa prática. Os "blues" mantêm em seu elenco diversos jogadores africanos, que até então eram desconhecidos, e com certeza foram para o clube por um preço muito menor do que valem hoje. Em uma comparação grosseira, podemos afirmar que o ciclo pelo que os jogadores passam atualmente se compara ao ciclo da mercadoria descrito por Marx (0-M-0'). E um grande exemplo desse ciclo pôde ser observado no Brasil recentemente. O Palmeiras, através da a empresa Traffic, comprou o jogador Henrique do Coritiba, por R$ 6 milhões. O jogador se destacou e, apenas 6 meses após a chegada ao clube alvi-verde paulista foi vendido ao Barcelona por R$ 25 milhões. Ou seja, o jogador trouxe um lucro de R$ 19 6 milhões, repartidos entre Traffic (R$ 15,2 milhões) e Palmeiras (R$ 3,8 milhões - o clube não teve nenhum gasto na contratação). Se ainda assim, descontarmos a inflação do período (através do IPCA), o valor corrigido que a Traffic teve direito foi de R$ 14,65 milhões. Isso equivale dizer que o investimento da empresa obteve uma rentabilidade de 144% em 6 meses. Se comparado as ações com maior rentabilidade na Bovespa (caso dos papéis da SLC Agrícola com 83,92 ou do Banco do Brasil com 84,94%), notamos que o investimento da empresa de marketing esportivo obteve um rendimento muito superior àqueles encontrados no mercado financeiro. Obviamente que assim como o investimento em ações, apostar em um jogador também envolve riscos: sempre haverá a possibilidade de que o jogador não consiga desenvolver seu potencial e, portanto, não seja vendido por um preço satisfatório. Aproveitando que abordamos o tema do mercado financeiro, essa é a maior prova de que o futebol se tornou um negócio. Os times brasileiros ainda não têm condições para abrir seu capital na bolsa de valores, porém, na Europa, tal situação já ocorre: 37 clubes europeus já têm seu capital aberto nas respectivas bolsas de valores de seus países e transacionam papéis no mercado financeiro. Essa alternativa é uma forma barata de financiamento para esses clubes, culminando na contratação de melhores jogadores, ou na melhoria das estruturas do time. O caso de maior sucesso é o Manchester United, que foi pioneiro nessa prática e o fez em busca de financiar a reforma de seu estádio, o Old Trafford. Os papéis do clube inglês ficaram na bolsa de Londres durante 14 anos (entre 1991 e 2005) e nos seis primeiros anos tiveram valorização de 500%. Impulsionados pelo sucesso do clube, outros times se sentiram a vontade em abrir seu capital, porém, nenhum obteve êxito semelhante ao Manchester. Ao contrário, muitos times viram suas ações caírem vertiginosamente nas bolsas (casos do Roma e da Juventus, ambos italianos), porém, talvez, o caso mais dramático tenha sido o do Borussia Dortmund, que chegou a acumular dividas no valor de € 120 milhões e esteve próximo de ser declarado insolvente. Portanto, podemos observar que o futebol se tomou um negócio que gira bilhões de dólares pelo mundo, e esse número vem aumentando ano após ano. É possível perceber que tanto jogadores, clubes, patrocinadores, televisão e todos os demais sujeitos envolvidos nesse mercado, conseguem obter lucros explorando esse esporte. Vale lembrar que, assim como qualquer negócio, o futebol também está sujeito a riscos. Desde a forma mais banal, em que um empresário pode não conseguir vender produtos com a marca de um time, até as mais sofisticadas, como a queda das ações de um clube na bolsa de valores. Porém, apesar desses riscos, nos últimos anos o futebol vem mostrando que consegue ser uma atividade muito rentável para aqueles que sabem decidir onde investir. "O Futebol é um investimento de alto risco, mas também oferece um retomo sem igual para quem conhece a forma correta de investir'8 . 1.2- Lei Pelé Como visto na seção anterior, o futebol vem se tornando um negócio capaz de movimentar cifras impressionantes, influenciando inclusive o desempenho econômico de nosso país. Para que seja possível a condução desse negócio, é necessário que tenhamos gestores cada vez mais preparados e capazes de manter os fluxos de dinheiro dentro do ciclo, reinvestindo o que for obtido de forma a fazer com que o esporte obtenha uma condição e uma estrutura cada vez melhor. Por isso, necessitamos de dirigentes profissionais, ao invés daqueles que atuam nos clubes por amor, e muitas vezes acabam se deixando cegar por esse sentimento, lidando com as instituições que dirigem de forma inconseqüente e irresponsável. 3 Retirado de: http:/lwww.esportebizz.eom.br/curso/ 7 O processo de profissionalização da gestão do futebol brasileiro teve seu início no começo dos anos 90, com a Lei Zico, que posteriormente foi reformulada e deu lugar à Lei Pelé, já no final da década. O Brasil inicia os anos 90 com um modelo de gestão de seu futebol similar ao que se encontrava na Europa e em outros países da América do Sul: por um lado tínhamos jogadores profissionais, e de outro, dirigentes amadores. Ademais, o futebol brasileiro ainda trazia a herança da necessidade de investimentos públicos: alguns dos grandes estádios, por exemplo, só puderam ser erguidos com dinheiro do Estado. Porém, ainda no começo daquela década, o futebol começa a sofrer algumas mudanças. As principais melhorias observadas eram em tomo da melhoria de serviços prestados ao torcedor. Isso fez com que houvesse um maior interesse da iniciativa privada, fazendo com que o esporte conseguisse se livrar um pouco da necessidade de incentivos públicos. É nesse contexto que foi lançada a Lei Zico, em 1991. Ela surgiu como uma tentativa de se alterar o modelo de organização do futebol profissional no Brasil através de alguns objetivos, como PRONI (2000) explica mais detalhadamente. Aqui, salientarei apenas alguns dos pontos que considero mais relevantes para o objetivo desse estudo. Um dos pontos que a Lei Zico tocava era no que se referia à presença de empresas no futebol nacional. O projeto visava uregulamentar a presença de empresas e as formas de comercialização no futebol profissional"". Outro ponto importante dizia respeito a forma como os contratos entre jogadores e clubes era realizado, ou o chamado passe. Nesse sentido, a lei buscava uextinguir a lei do passe e estabelecer uma nova norma para o contrato de trabalho do atleta profissional,fi. Ou seja: ua Lei Zico permitia que um clube desportivo fosse administrado por uma empresa comercial, com fins eminentemente esportivos, e até mesmo que um clube se tornasse empresa'.a. Nesse sentido, eram 3 as opções que as equipes brasileiras poderiam adotar: 1- transformar-se em sociedade comercial de natureza desportiva; 2- constituir sociedade comercial de natureza desportiva independente, controlando a maioria de seu capital com direito a voto; 3- contratar sociedade comercial para gerir as atividades profissionais. (PRONI, 2000). Caso o clube decidisse que uma empresa fosse responsável pelo seu departamento de futebol profissional, todos os recursos gerados deveriam ser reinvestidos no próprio departamento. Do mesmo modo, se o clube se transformasse em empresa, os lucros também deveriam ser reaplicados no esporte dos quais esse dinheiro era proveniente. Muitos clubes poderiam se deparar com a situação de ter de fechar as portas, devido à perda de regalias legais e isenções fiscais. Isso fez com que o projeto não agradasse a grande maioria dos dirigentes então no poder, não só de clubes, mas também das federações estaduais e nacionais, que conseguiram mudar diversos artigos, transfigurando totalmente a Lei, uma vez que profissionalizar significava perder os privilégios financeiros e políticos que obtinham juntamente com sua administração paternalista. Algumas idéias foram mantidas, porém receberam mais o sentido de uma consideração do que de imposição. A "permissão" para os clubes se converterem em empresas (com a profissionalização de seu departamento profissional) não necessariamente se traduziria na criação do chamado "clubeRempresa". Ou seja, ficou a cargo dos dirigentes a implantação das diretrizes profissionalizantes previstas pela Lei. Obviamente que tal fato não ocorreu e devido a isso não podemos afirmar que houve uma revolução na estrutura administrativa do futebol brasileiro pois ainda prevalecia a política de troca de favores dentro das organizações que comandavam os campeonatos. 4 5 6 PRONI, 2000 PRONI, 2000 POZZI, 1998 8 Apesar disso, a Lei Zico demonstrou a necessidade de uma alteração na forma como o futebol era regido no país, e pôde ser considerada como o primeiro passo de um processo de profissionalização que suscitaria discussões por toda a década e acabaria culminando na Lei Pelé. A Lei Pelé foi promulgada em 1998 e abordava os principais pontos já existentes na Lei Zico, mas que haviam se tomado opcionais e acabaram não sendo implantados pelos clubes. A Lei tentava acelerar a profissionalização dos clubes e o fim do passe. O passe era um vínculo entre clube e atleta. O primeiro compraria o direito sobre o segundo, tomando-se proprietário dele. Assim, o jogador só poderia jogar por outro clube quando o clube detentor do passe se dispusesse a negociá-lo. Muitos consideravam essa situação semelhante à escravidão, visto que o passe era considerado um "patrimônio" do clube e eles tinham controle total da carreira do jogador. A Lei Pelé altera essa relação, determinando que a negociação contratual seja livre, e que fosse estabelecido um prazo para a relação entre as partes envolvidas, bem como a multa rescisória (juridicamente chamada de cláusula penal) para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral do já citado contrato. Ao contrário do que acontecia na existência do passe, ao término do contrato, o jogador poderia se transferir para outro clube, sem a necessidade da liberação do clube atual, não havendo assim um vínculo entre as partes após o fim do contrato. Porém, a lei conta com mecanismos que favorecem os clubes, traduzidos na forma de indenizações. Além da já citada multa rescisória, o clube tem o direito à indenização de formação e de promoção. As duas últimas devem ser pagas pelo jogador, caso este decida encerrar seu contrato antes do término, como forma de ressarcir o clube com o que foi gasto na formação desse atleta. Entende-se aqui por formação, o período que o jogador passou no clube como amador, antes de seu primeiro contrato como profissional. O caso mais emblemático da Lei Pelé ocorreu com o jogador Ronaldinho Gaúcho (hoje no Milan) e seu então clube, o Grêmio, em 2001. Ronaldinho se agarrou a um artigo da Lei, que garantiria a saída do atleta após 5 anos de contrato (que se encerraria em janeiro de 2001). O jogador decidiu não renovar o vínculo com o clube e esperou que a lei entrasse em vigência, trazendo o fim do passe e conseqüentemente o direito do Grêmio em mantê-lo no elenco. Já o clube alegava que o contrato havia sido assinado antes da Lei e que precisaria obter recompensas financeiras pela formação do atleta e estipulou o valor de US$ 84 milhões. O imbróglio se arrastou por diversos meses e culminou com a saída do jogador para o Paris Saint German. Além do fim do passe, a Lei Pelé também previa que os clubes que participassem de competições com atletas profissionais se tomassem empresas. Assim sendo, para não regredir para o amadorismo, os clubes necessitariam alterar sua constituição. Para tanto, existiam três alternativas para essa profissionalização: 1- criar um clube que, na sua totalidade, seja uma instituição comercial com fins lucrativos; 2- manter o clube como uma sociedade sem fins lucrativos, porém com o departamento de futebol profissional sendo gerido um uma empresa com fins lucrativos ou; 3- constituir uma sociedade comercial separada do clube, que transfere seu departamento de futebol profissional a ela. Qualquer fosse a alternativa escolhida, os clubes se veriam frente a uma nova realidade: teriam de recolher impostos e publicar balanços patrimoniais, sendo alvo de fiscalização pelo Ministério Público como qualquer empresa. As isenções tributárias (inclusive Imposto de Renda), as quais eles tinham direito, deixariam de existir, bem como a não permissão de falência. Os dirigentes passariam a responder criminalmente pela administração do clube. Tal fato colocava em xeque a forma como os clubes eram administrados pelos então dirigentes, que agora não poderiam mais gerir apenas movidos pela paixão, tendo de se preocupar, entre outras coisas, com a saúde do caixa e a capacidade de sanar suas dívidas. 9 Diante desse novo cenário, diversas empresas se mostraram interessadas em se unir aos clubes e gerir seus departamentos de futebol profissional, vendo ali uma possibilidade de negócio rentável, no qual poderiam utilizar seu conhecimento em administração a fim de alcançar taxas de retomo que poderiam chegar a 30% do capital investido. Obviamente, muitos clubes foram contrários as imposições das Leis Zico e Pelé, principalmente no que se refere ao fim do passe. Como vimos anteriormente, o volume de dinheiro movimentado pelas transações com jogadores no país é altíssimo, e é uma das principais fontes de receita das principais equipes do país. Clubes de menor expressão no cenário nacional também se beneficiam da transação de seus atletas, porém em menor escala. As Leis Zico e Pelé conseguiram certa modernização e profissionalização nos clubes, porém tal mudança não foi completa. Os clubes, movidos por interesses, conseguiram mudar diversos artigos, em ambas, e assim, contornar os principais pontos que prejudicariam seu comando fraternal. Porém, a transformação de clubes deficitários e falidos em empresas que gerem lucros e dividendos é um processo que demandará tempo, mas principalmente, racionalidade daqueles que comandam nosso futebol, em perceberem que o atual contexto do futebol não permite mais a presença de dirigentes amadores. Infelizmente, mesmo após 1O anos da promulgação da Lei Pelé, muitos ainda não tem tal consciência. A maioria dos dirigentes foi e ainda é contrária a Lei, dizendo que os clubes são prejudicados com as medidas adotadas, porém sem esquecer que seus privilégios podem estar em risco caso haja uma efetiva mudança no paradigma que rege nosso futebol. Ainda hoje, o futebol não recebe uma abordagem empresarial. Os dirigentes ainda não são plenamente remunerados para exercerem suas funções, não há um organograma definido e a forma como os clubes buscam receitas continuam sendo muito simplistas, se limitando, basicamente, à venda de jogadores e direitos de transmissão. Por isso que ainda hoje, muitos clubes não conseguiram se adequar a nova realidade, e ainda culpam a Lei Pelé pelo grande êxodo de jogadores que assola o futebol de nosso país. Contanto, eles se esquecem que podem se proteger utilizando a própria Lei, ao estipular os valores de salário e de multa rescisória para o jogador, porém, tendo de honrar com o compromisso firmado. 1.3- Administração Profissional? As Leis Zico e Pelé, como discutidas no capítulo anterior, foram criadas para tentar trazer uma nova realidade para o futebol brasileiro; elas trouxeram mecanismos legais para que os clubes se profissionalizassem. Ao tentar profissionalizar a administração dos clubes, uma nova estrutura seria trazida para o esporte, o que faria com que observássemos mudanças profundas na forma como lidamos com esse negócio emergente no país. Porém, mesmo 10 anos após a promulgação da última, o que notamos é que as mudanças esperadas não ocorreram por completo, e quando ocorreram, se fazem notar apenas de forma sutil. Os cartolas, sempre buscando manter seus interesses, conseguiram retirar da Lei Pelé o ponto em que os clubes devessem se tomar empresas, perdendo a origem de sociedade sem fins lucrativos e conseqüentemente, perdendo as isenções fiscais das quais tinham direito, ficando apenas obrigados a divulgar os balanços patrimoniais. Ou seja, apesar da "permissão" que a Lei Pelé trouxe, os clubes continuam com dirigentes amadores e incapacitados para gerir um clube, enquanto as empresas entram no filão esportivo apenas para se aproveitar dos grandes retomas trazidos no curto prazo. Os grandes investidores ainda se mantêm distantes do futebol, afinal, esperam um investimento lO onde haja transparência e que possa ser controlado, sem mudanças bruscas, o que convenhamos, é totalmente o oposto do que se observa no futebol nacional. Ainda hoje, a realidade que temos aqui é de dirigentes que chegam apenas no final da tarde em seus clubes para tratar do futuro deste. Esse modelo era compreensível enquanto o mercado do futebol brasileiro se restringia aos associados e torcedores do clube. Porém, agora que esses dirigentes têm que negociar com patrocinadores, emissoras de televisão, e diversas outras empresas, todas com empresários profissionais, esse modelo é insuficiente. Os clubes brasileiros são administrados "por pessoas que têm pouco compromisso com o patrimônio e com a história da entidade que dirigem. (.. .) Eles sabem que não vão pennanecer por ali, e, caso o prejuízo aumente alguns milhões, será um problema de quem chegar' (AREIAS, 2008, p.27). Da mesma forma que se fizerem um bom trabalho eles não serão recompensados, caso façam uma péssima administração, também não serão punidos. Assim, muitos dirigentes preferem apenas dar continuidade aos projetos já existentes em seus clubes, visto que, caso façam algo a mais, nas eleições seguintes podem entregar o dube em uma situação melhor para um adversário político. E pior: muitas vezes as conquistas das administrações anteriores são simplesmente ignoradas pelos novos dirigentes. Essa forma tacanha de administração tem jogado os clubes brasileiros num poço sem fundo de dívidas. Dívidas essas que podem ser vistas nas tabelas abaixo: Tabela 1: Dívidas dos clubes em 2007 (em R$ mil) Clube Dívida Flamengo 180.000 Botafogo 160.000 Fluminense 155.000 Portuguesa 145.000 Atlético-MG 112.000 Grêmio 80.000 Vasco 70.000 Santos 62.000 São Paulo 43.200 Cruzeiro 32.000 Corinthians 30.000 Bahia 30.000 Palmeiras 27.000 Coritiba 20.000 Figueirense 6.000 Fonte. GloboEsporte Aqui se encontra o ponto fundamental, e o cerne da discussão das administrações profissionais x amadoras. Em uma gestão profissional, os dirigentes devem buscar fontes de renda contínuas e, acima de tudo, administráveis pelo clube, garantindo assim a sobrevivência de um planejamento a médio e longo prazo, que buscaria títulos e ao mesmo tempo a manutenção do caixa saudáveL Quando citamos administração amadora nos referimos aquela forma de gerir os clubes se utilizando das mesmas receitas sempre, sem a 11 busca por inovações nas formas de geração de receitas e rolando dívidas. Essa é a realidade da maioria dos times brasileiros: os clubes dependem em grande maneira de dois tipos de receita basicamente, e ambas podem sofrer oscilações bruscas de um ano para o outro. As principais fontes de receita dos clubes brasileiros, como demonstra a tabela abaixo, são os direitos de televisão e as transferências de jogadores: Tabela 2- Fontes de receitas dos clubes (2006) Cotas de TV 29% Venda de Atletas 23% Patrocínio e Publicidade 17% Social e Amador 11% Bilheteria 8% Outras Receitas 12% Fonte: UOL Esporte Como é possível extrair da tabela, em 2006 as cotas de TV foram a principal fonte de receita dos clubes. Em 2005, porém, a venda de atletas era a primeira (31%), com a TV em segundo (26%). De uma forma ou de outra, essas duas fontes sempre se revezam no topo da tabela. Podemos dizer que os clubes brasileiros são totalmente dependentes de seus contratos com as redes de televisão. Isso porque, a principal rede que transmite os jogos dos campeonatos regionais e o campeonato brasileiro atua como uma financiadora dos clubes. Ou seja, muitas equipes, para sanar dívidas de períodos anteriores, buscam adiantamentos das cotas de televisão, que são liberadas pela emissora, de acordo com o interesse de cada clube. No curto prazo, essa operação pode aparecer como solução, porém, no longo prazo, mostra-se uma alternativa insustentável, pois se resolve o problema imediato de caixa, abrindo espaço para buracos no orçamento mais futuramente, quando essa receita deveria, de fato, chegar aos cofres do clube. Ademais, além da dependência financeira criada, vemos um tipo de relação que não é nada favorável aos clubes, visto que esses adiantamentos poderão e serão lembrados pelas emissoras em situações de renovação de contrato. Outro grande problema da dependência das cotas de televisão é que especialistas já projetaram que os valores pagos pelos direitos de transmissão dos campeonatos já estão chegando a seu auge. Assim, como os clubes lidariam com uma estagnação nos valores da negociação de direitos de transmissão com a televisão e um constante aumento de suas despesas? Outro ponto que vale destacar é que as receitas de televisão são tanto maiores quanto a melhor participação dos clubes em tomeios. Isso equivale a dizer que um clube pode projetar alcançar determinada etapa num campeonato, recebendo por cada fase ultrapassada. Porém, caso isso não se concretize, o clube se verá frente a um novo cenário, no qual não poderá contar com aqueles ganhos projetados inicialmente. Já as receitas com transferências de jogadores são, sim, um negócio muito rentável, que gira milhões de dólares por ano, com tendência crescente, como citamos na primeira seção desse capítulo. Porém, é saudável um grande clube apostar toda sua operação no surgimento de Rabinhos, Kakás, e Ronaldinhos? Dificilmente. Afinal, não será todo ano que craques e mais craques despontarão em nossos gramados. E mesmo que isso aconteça, não será todo ano que esses craques chamarão a atenção, e os dólares (ou mais recentemente, os euros) dos clubes estrangeiros. Além disso, em tempos de crise (como temos vivido recentemente), clubes estrangeiros se mostram menos propensos a gastar suntuosas quantias com a compra de jogadores estrangeiros. E quando isso não ocorre, os 12 clubes ficam totalmente vulneráveis e com suas dívidas expostas. Isso pode ser comprovado nas tabelas abaixo: Tabela 3: Resultado do Exercício (em R$ mil) 2004 2005 2006 2007 Internacional 15496 -12.773 -501 18.928 São Paulo -1999 3.942 2.486 3.848 Atlético- PR -18 25.563 15.567 1.599 Cruzeiro 51 293 369 -2.850 Náutico ND -8.589 -4.335 -4.292 13652 -16.944 -24.326 -23.284 Atlético - MG -26.415 -26.649 -25.853 -27.583 Santos 10.222 63.167 -21.802 -36.612 265 2.121 -13.827 -59.233 -5.552 -4.853 -14.998 -139.457 Clube Corinthians Flamengo Fluminense Fonte: Tabela elaborada por Felipe Za1a, 2008 Tabela 4: Resultado do Exercício s/ Negociação de Atletas (em R$ míl) 2004 2005 2006 2007 ND -9.264 -4.615 -5.474 Atlético- PR -10.947 4.633 -1.508 -15.347 Cruzeiro -29.783 -56.415 -11.779 -27.003 Santos -20.514 -30.410 -28.195 -38.284 ND ND -49.296 -47.356 Flamengo -1.134 -11.986 -19.522 -68.468 São Paulo -24.896 -22.210 -19.303 -72.258 Internacional -19.914 -21.712 -47.359 -76.681 Corinthians 12.619 -20.632 -45.137 -94.656 Fluminense -10.159 -11.677 -31.929 -140.803 Clube Náutico Atlético- MG Fonte: Tabela elaborada por Fel1pe Za1a, 2008 Na tabela 3, vemos três clubes que conseguiram terminar o ano de 2007 com superávit em suas operações. Porém, na tabela 4, ao excluirmos os ganhos com a venda de jogadores, vemos que nenhum clube conseguiu a façanha de não terminar o ano no vermelho. Nos anos anteriores, a situação é semelhante. Ou seja: os clubes brasileiros ainda têm necessidade de transferir seus atletas para poderem obter relativa saúde financeira, e isso acaba prejudicando o futebol nacional, que fica órfão de seus craques de maneira prematura. Apesar dessa situação instável e recorrente, os clubes continuam investindo em seus departamentos de base, crendo que a solução para seus problemas será continuar 13 revelando e vendendo-os, remetendo o país aos primórdios da colonização, se tornando apenas um exportador de "matéria-prima". O ciclo se fecha da maneira como abaixo: Figura 1: Ciclo de investimento e transferência de jogadores Jog.adors:e Vendado destaca Jogado r para o Extl'IÍOI Investimento n•s Entrada de cate-gorias dl' ll'CUISOS base para çriação de novos jog•dores:. Fonte: Elaboração Própria E o que significa um campeonato sem craques? Nada. Obviamente, além da diminuição da qualidade técnica observada em campo, clubes que não tem ídolos perdem apelo junto com a sua torcida. E por perda de apelo, traduz-se perda de oportunidades, perda de contratos e perda de dinheiro. Afinal, o elo entre torcida e clube são os jogadores. A presença de ídolos faz com que os torcedores criem identidade e se mantenham fiéis ao clube, seja na compra de camisetas com o nome e o número do maior jogador da equipe ou em suas idas ao estádio. Além do prejuízo ao clube, a falta de atratividade das equipes, acaba por prejudicar todo um campeonato, visto que um campeonato sem estrelas atrai menor interesse de possíveis empresas dispostas a investir no futebol brasileiro. Alia-se a isso o péssimo calendário no país (que teve certa melhora com o campeonato nacional de pontos corridos), a "guerra" por ingressos, os estádios ultrapassados, a dificuldade de acesso a eles, a falta de segurança, as opções restritas de alimentação (dentro e fora do estádio) e chegamos que o produto (futebol) brasileiro está muito desvalorizado. E isso pode ser confirmado observando-se as médias de público cada vez menores nos estádios brasileiros em dias de jogos, mesmo com preços de ingressos mais baixos. Sabe-se que as taxas de ocupação dos estádios ficam abaixo dos 30%, sendo que nos grandes clássicos, algumas vezes, temos uma média de público um pouco maior. Isso traduz o resultado pífio que as receitas com bilheteria trazem para os clubes, como observado anteriormente na tabela 2, respondendo por apenas 8%. Oras, se você não tem torcedores em seu estádio, como fazer para gerar maiores receitas com ações no local onde ocorrem os jogos? Enquanto não houver uma profissionalização nas administrações dos clubes e os dirigentes não se derem conta que o espetáculo futebol está com um valor baixíssimo e que eles são os responsáveis por alterar isso, não podemos prever melhoras para o esporte no 14 país. A partir do momento em que os clubes começarem a ser melhor administrados, explorarem em sua totalidade as diversas formas de obtenção de receitas (as quais veremos no capítulo seguinte) e gerarem lucros, a preocupação de empresas em investir em clubes diminuirá. E assim, tendo mais dinheiro, serão capazes de negociar em patamar de igualdade com federações e emissoras de televisão, podendo definir um calendário antecipado, que irá aumentar ainda mais a confiabilidade no campeonato, e atrair mais investidores. "A responsabilidade pela penúria no futebol brasileiro (...) está no modelo de gestão não profissíonar (AREIAS, 2008, p.179). Nota-se que é um ciclo e que o "pontapé inicial" precisa ser dado de baixo, pelos clubes. "Podemos concluir que a gestão profissional é um caminho inevitável para os clubes brasileiros, até por uma questão de sobrevivência" (AFIF, 2000, p.14) Alguns clubes já se deram conta dessa importância e re-estruturaram sua administração. O Grêmio foi um deles, porém só passou por esse processo após o assombro do rebaixamento que acometeu o clube no final de 2004. Para tal mudança, o clube teve de reformular seu estatuto, a fim de permitir a contratação de seis gerentes executivos que foram responsáveis por áreas estratégicas do clube como marketing, finanças, jurídico e administrativo. A partir de então, o clube começou a ser guiado por expressões como "Planos de Ação" e "Indicadores de Desempenho". Porém, há aqueles que ainda não acham que profissionalizar é o caminho e sempre haverá medidas corretivas, que ajudarão os clubes a continuar caminhando, aos trancas e barrancos, que fique bem claro. A última dessas medidas foi a Timemania. A nova loteria encaminhará 22% do arrecadado para que os clubes endividados possam sanar suas dívidas (tanto as passadas - que serão parceladas em 20 anos - como as futuras) com a União (INSS, FGTS, PIS e outros tributos). Muitos a qualificam como a salvação para as dividas dos times. Mas será mesmo? Vimos que os clubes brasileiros ainda não estão totalmente adequados à nova realidade comercial do futebol. Alguns, já contam com dirigentes remunerados e profissionais de suas áreas. Outros (normalmente clubes menores) ainda contam com dirigentes amadores, não remunerados, que têm pouco apego ao funcionamento do clube. De qualquer forma, são gestores que ainda não tem a dimensão da necessidade de outras receitas que não as usuais (venda de jogadores e receitas de transmissão). Não vemos no futebol brasileiro ações para inverter esse cenário. Ainda vemos apenas ações reativas (e não pró-ativas) no que tange a geração de receitas. Até quando os clubes conseguirão sobreviver optando por medidas corretivas e reativas ao invés de adotarem uma postura ativa e preventiva, não contraindo mais dívidas? 15 2 - Marketing Esportivo O Marketing Esportivo já é uma realidade em diversos países, não apenas relacionado ao futebol, mas também a várias outras modalidades esportivas. A maior realidade nesse sentido são os Estados Unidos, onde qualquer esporte consegue ser transformado em um grande evento, atraindo um grande público em praticamente todos os jogos da temporada. A NFL (liga de futebol americano) e a NBA {liga de basquete) são líderes nesse quesito. Quando tratamos de futebol, o primeiro grande exemplo que nos vem a cabeça é a Premier League (campeonato inglês). A liga inglesa conta com alguns dos times mais ricos da atualidade, recheados de estrelas (o que faz com que o púbico seja atraído para os jogos) e, apesar de não demonstrarem o futebol mais "bonito", também sempre contam com estádios lotados, em cada um de seus jogos, desde o clássico regional, até um jogo contra uma equipe muito mais fraca tecnicamente. Já o Brasil ainda engatinha nesse quesito. Os clubes parecem não estar totalmente dentes de seu potencial como empresas e mais ainda, como marcas. Devido a isso, não conseguem extrair todos os tipos de receitas que dispõem, tomando-se viciados a receitas inconstantes e/ou que já atingiram um teto e não trarão aumentos substanciais aos cofres da entidade. O início desse capítulo será dedicado à uma parte mais técnica, trazendo conceitos tanto de Marketing quanto de Marketing Esportivo para que os leitores possam se familiarizar com estes e obter uma compreensão plena do trabalho. A seguir, discorreremos as particularidades do futebol pela visão do Marketing e, por fim, o cerne do capitulo será identificar oportunidades e possibilidades de obtenção de outros tipos de receitas pelos clubes de futebol brasileiro, a fim de, não só reforçarem sua marca junto a seus consumidores (torcedores), mas também a manterem um balanço patrimonial mais saudável, melhorando sua estrutura e conseqüentemente a estrutura do esporte em nosso país. 2.1 - Marketing O Marketing é um campo relativamente novo de estudos. A Revolução Industrial fez com que as empresas se deparassem com uma nova realidade, onde deveriam obter conhecimento do mercado, antes de vender seus produtos. Nesse sentido, o Marketing (em seus primórdios) é concomitante à Economia e à Logística, visando a maximização de lucros. E assim se manteve até o fim da Segunda Guerra Mundial. O fim da Segunda Guerra marca um novo período, em que as empresas começam a vivenciar uma concorrência mais ferrenha, e devem buscar outras formas de atrair e fidelizar seus clientes. Fundamentados mais na intuição do que na prática, os teóricos expunham algumas idéias, como a de "vender a qualquer preço" para buscar o objetivo citado. A primeira grande transformação do Marketing ocorreu na década de 1950, com Peter Drucker, um economista, que em seu livro "A Prática da Administração" coloca o Marketing como uma força poderosa que deve ser considerada pelos administradores, não podendo, assim, se resumir a apenas baixar o preço de seus produtos. Já na década de 60, Theodore Levitt muda o escopo do Marketing: deixa de lado a percepção do uvender a qualquer custo" (a qual já estava desgastada após o livro de Drucker) e se volta à "satisfação garantida". Tal mudança de paradigma fez renascer diversas marcas, como Coca-Cola e Marlboro. O campo se tomou mais ativo, e diversos 16 artigos começaram a serem escritos; acabou-se a era da intuição e iniciou-se o período em que estudos de mercado deveriam ser mais relevantes e acompanhados de dados estatísticos. Ainda nessa década, Philip Kotler, considerado o pai do Marketing, escreve seu livro "Administração de Marketing", revolucionando a maneira como o tema era abordado. A partir da segunda metade da década seguinte, o Marl<eting adquiriu uma função de caráter mais global na estratégia das empresas. Devido à crescente concorrência, seu papel se tomou fundamental na luta pela sobrevivência ou na busca de expansão dos grandes grupos empresariais. Desde então, o que se vê são empresas investindo cada vez mais em seus departamentos de Marketing, a fim de sempre conseguir novos clientes, sem perder os antigos, buscando assim, maximizar os lucros. Esse foi o início da era do "Marketing de Resultados"'. Kashani (apud Proni, 1998, p.106) ressalta que: "o marketing na sua forma anterior desapareceu, mas apenas para reaparecer transformado e merecendo atenção maior por parte da alta administração (. . .) detém muitas das qualidades necessárias às empresas de hoje para sobreviver e prosperar nos mercados hostiS' Até o momento falamos diversas vezes o termo Marketing. Porém, o que ele significa? Aqui reside outro problema. Não há uma definição única ou correta sobre o tema. O que existe são diversas definições que vão se completando e se tomando mais complexas, a medida que o próprio Marketing vai adquirindo diversas facetas. Muitos pressupõem, de forma errônea, que Marketing é igual à propaganda. É até compreensível, visto que a propaganda é uma parte do processo, e talvez a mais difundida que chega até o público. Porém, não podemos resumir Marketing a isso. Ainda na década de 80 em seu livro "Administração de Marketing", Kotler afirmou que o Marketing é "uma atividade humana dirigida à satisfação das necessidades e desejos através de um processo de troca". Em 2000, em nova edição do livro, ele atualiza a definição: "Gestão de Marketing é a arte e a ciência de escolher os merr:ados-alvo e de conquistar, reter e cultivar clientes, por meio da criação, comunicação e fornecimento de valor superior para os clientes". Por fim, em 2003, no livro UMarketing de A a Z" o autor renova o conceito, dizendo que o "Marketing é a função empresarial que identifica necessidades e desejos insatisfeitos, define e mede sua magnitude e seu potencial de rentabilidade, especifica que mercados-alvo serão mais bem atendidos pela empresa, decide sobre produtos, serviços e programas adequados para servir a esses mercados selecionados e convoca a todos na organização para pensar no cliente e atender ao cliente". Já segundo Contursi (1996, p.67) "o conceito de Marketing tem origem e termina no consumidor''. Ou seja, o Marketing deixou de ser apenas uma ação de redução de preços a fim de atrair mais clientes e se tomou uma atividade complexa dentro das empresas, que, como o próprio Kotler afirmou, envolve toda a organização. Isso posto, qual então é o objetivo do Marketing? Segundo Drucker (apud Kotler, 2005, p.5): "( ... ) o objetivo do Marketing é tomar supérfluo o esforço de venda. O objetivo do Marketing é conhecer e entender o cliente tão bem que o produto ou o serviço seja adequado a ele e se venda sozinho. Idealmente, o Marketing deveria resultar em um cliente disposto a comprar. A única coisa necessária, então, seria tomar o produto ou serviço disponível" Porém, o Marketing não se resume apenas às vendas. Como já dito anteriormente, o Marketing se tomou algo complexo e um componente estratégico nas empresas. Estas podem se utilizar das ferramentas de Marketing a fim de atingir objetivos diferentes. O Marketing pode, sim, ser utilizado para refletir um aumento nas vendas. Contudo, a estratégia da empresa pode não ser buscar um aumento nas vendas, mas sim um aumento no recall (ou lembrança) de suas marcas e/ou produtos. Ou ainda, pode ser direcionado para consumidores de outros produtos que não o seu, a fim de atraí-los para sua empresa e 7 PRONI, 1998 17 aumentar sua participação de mercado. Portanto, o Marketing é utilizado nas empresas de formas diferentes, cada qual visando uma determinada estratégia com um objetivo delineado que deve ser atingido. Qualquer que seja a estratégia, os profissionais de Marketing devem: "1Desenvo/ver estratégias de marketing; 2- Capturar oportunidades de marketing; 3- Conectarse com os clientes; 4- Desenvolver marcas fortes; 5- Desenvolver ofertas ao mercado; 6Entregar valor; 7- Comunicar valor; 8- Gerar sucesso de longo prazo" (KOTLER, 2005, p.22) Até o momento utilizamos diversos conceitos como produto e preço. Esses são 2 dos chamados 4 P's, que constituem a base do Marketing moderno. Esses 4 P's foram desenvolvidos por Jerome McCarthy e são: • Produto- o produto pode ser tangível ou intangível (no caso de um serviço). Ele será o elemento com o qual a empresa irá trabalhar, desenvolvendo todos os passos seguintes a partir dele, recebendo, assim, influência direta dos P's seguintes; • Preço- é a atribuição de um valor monetário àquilo (produto e/ou serviço) que está sendo disponibilizado ao mercado; • Promoção - são ações promocionais que estarão incidindo sobre certo produto/serviço, visando aumentar sua divulgação e conseqüente comercialização; • Praça (Ponto-de-Venda) - é a localidade onde ocorrerão as ações ligadas ao produto. Segundo Kotler (2005, p.97), os 4 P's são o "conjunto de ferramentas que a empresa usa para atingir seus objetivos de marketing no mercado alvo". Nota-se que os 4 P's do Marketing estão todos interligados, e a execução de cada um deles é fundamental para o sucesso ou não de determinado produto. Cada um deles será determinante para a seleção de alguns aspectos, que quando juntos, definirão qual o mercado-alvo, ou seja, o público que preferirá seu produto em detrimento a outros, dados o preço, os meios de promoção e os focais de venda, como indica o esquema abaixo: Figura 2- União dos 4 P's Produto Preço Mercado Alvo Promoção Praça (Ponto-de-Venda) Fonte: SERRANO, D. P., 2006; disponível em Portal do Marketing A tabela abaixo nos mostra as principais atividades ligadas a cada um dos "P's" do Marketing, para termos uma idéia de todos os processos que devem ser levados em conta. 18 Tabela 5-4 P's do Marketing e suas atividades Variãvel Atividades Diferentes tipos de Design Características Diferenciais com a concorrência Produto Marca Especificações Política de Garantia Embalagem Financiamentos Condições de Pagamento Preço Prazo médio Número de Prestações Descontos Crediário Propaganda Publicidade Promoção Relações Públicas Trade Marketing Promoções Lojas Canais de distribuição Praça Logística Armazenamento Distribuição ' Fonte. SERRANO, D. P., 2006, d1spon1vel em. Portal do Marketmg Notamos que para cada "P", temos diversos aspectos que o constituem. Tais aspectos podem ser mudados a todo o momento, fazendo com que haja uma combinação praticamente infinita entre os 4 P's, o que impacta diretamente no mercado-alvo que se busca atingir. Um ponto importante que deve ser destacado em relação ao mercado-alvo é que a empresa dificilmente conseguirá atingir públicos diferentes com o mesmo conjunto de ferramentas. Por esse motivo, é de suma importância que uma empresa segmente seu mercado. Kinnear e Bernhardl (apud POZZI, 1998, p.131), definem o lermo "segmenlação" como uo processo de se dividir grandes mercados heterogêneos em grupos menores e homogêneos de pessoas (. ..) com necessidades similares ou respostas parecidas às ofertas de Marketing". Para as empresas, isso consiste em identificar diversos públicos-alvo, de 19 forma a oferecer diferentes tipos de ferramentas, a fim de atender a maior parte das necessidades, desejos e demandas desses grupos, maximizando a satisfação dos clientes, bem como a demanda por seus produtos e conseqüentemente os lucros. A satisfação do cliente será tanto maior quanto os produtos oferecidos forem customizados, com uma série de opcionais (extensões do produto). Apesar de segmentação ser algo benéfico, tanto para empresa quanto para o cliente, ela não deve ser levada além do ponto em que a customização se tome mais cara que o retomo esperado com ela. Tanto Pozzi, quanto Mui/in, Sutton e Hardy, identificam quatro tipos de segmentação: 1- segmentação demográfica/geográfica; 2- segmentação psicográfica; 3segmentação por uso do produto e; 4- segmentação por benefício do produto. Cada tipo de segmentação exposta leva em conta diferentes variáveis para alocar os consumidores em cada um dos grupos. Não utilizaremos todos os tipos de segmentação propostas, mas ao longo do trabalho nos aprofundaremos mais em alguns. De forma genérica, as empresas precisam conhecer as pessoas para as quais estão vendendo seu produto, a fim de conseguirem realizar uma segmentação satisfatória. A melhor forma de se conseguir isso é aumentar o número de informações possuídas, se aproximando assim das características dos consumidores. E isso pode ser obtido através de pesquisas de mercado. Entrevistar clientes é uma forma barata e rápida de se aproximar deles e descobrir o que eles buscam. Ademais, é a maneira mais simples de se perceber rápidas transformações que ocorrem no público de determinado produto. Pode-se perceber que o "P" que demanda mais atenção é o produto, uma vez que todos os outros gravitam em tomo dele. Nesse sentido, cabe aqui a explanação de outros conceitos que se refiram a ele. Pozzi, em seu livro "A Grande Jogada" (1998), destaca o Ciclo de Vida do Produto (CVP). Tal ciclo é constituído de cinco estágios: 1- gestação; 2- lançamento; 3- crescimento; 4- maturidade e; 5- declínio. Se fosse demonstrado graficamente, o CVP tomaria a forma de uma parábola. A fase de gestação é onde ocorre a idéia (e muitas vezes a morte dos produtos, devido à falta de alguns critérios), que é seguida por um período em que se observam vendas baixas, custos altos e poucos consumidores e competidores (lançamento). Já na fase subseqüente, os consumidores já têm um maior conhecimento do produto, o que faz com que haja um menor custo, concomitantemente com um aumento da demanda, das vendas (e conseqüentemente do lucro) e dos concorrentes. O auge de concorrência e das vendas ocorre na quarta fase. Depois, o produto deixa de chamar atenção dos concorrentes, suas vendas diminuem drasticamente antes que ele morra. Para acompanhar esse Ciclo de Vida do Produto, os profissionais de Mark.eting também se utilizam dos 4 A's, a saber: 1- Análise; 2- Adaptação; 3- Ativação e; 4- Avaliação. Na primeira fase, Análise, a empresa faz estudos preliminares, a fim de ter clara a conjuntura em que se encontra determinado produto e quais ações serão empregadas. A fase seguinte consiste em buscar mudanças, melhorias ou inovações dentro do produto observado, a fim de se atingir o objetivo traçado previamente numa estratégia. A partir do momento em que o produto já sofreu todas suas "mutações", é hora de ativá-lo junto a seu mercado alvo. Ou seja, expor o produto, realizando diversas ações promocionais para que os consumidores tomem conhecimento dele. Por fim, a última etapa consiste em avaliar se as mudanças foram positivas ou negativas, se realmente surtiram efeito e o objetivo foi alcançado. Todos os esforços devem ser feitos de modo a buscar o reconhecimento de um produto não apenas como um mero objetivo, mas sim como de um conjunto de experiências e lembranças que aquele produto traga ao consumidor. Assim, as empresas devem buscar associar seus produtos a coisas positivas, que refletirão numa imagem positiva tanto do produto, como da marca que ele traz consigo. 20 Em suma, o Marketing deixou de ser apenas uma forma "apelativa" de vendas, tomando lugar de destaque nas empresas modernas, sendo parte fundamental de sua estratégia. A essa estratégia, se está vinculado um objetivo, que deve ser atingido, sem se deixar esquecer os pilares fundamentais do Marketing: os 4 P's, os 4 A's, e o Ciclo de Vida do Produto. Com a escolha das ferramentas mais apropriadas, as empresas então devem segmentar o mercado, dividindo-o em diversos mercados-alvo, buscando atingir a todos, a fim de, por um lado, maximizar a satisfação de seus clientes, e de outro, seus lucros. 2.2- Histórias e Conceitos de Marketing Esportivo Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que quando falamos de Marketing Esportivo, ainda estamos falando de Marketing. Muitos, como o professor Franscisco Paulo de Melo Neto, consideram o Marketing Esportivo como um tipo de marketing promocional, se diferenciando da propaganda em algumas características. Outros preferem se referir a ele como uma vertente do marketing institucional. De qualquer forma, continuamos tratando de marketing e por essa razão, os conceitos apresentados na seção anterior, ou seja, os 4 P's, os 4 A's, o Ciclo de Vida do Produto e a segmentação, também são conceitos básicos e necessários para o entendimento das ações de Marketing Esportivo. A dificuldade para definição de Marketing Esportivo é a mesma encontrada para se definir Marketing. Diversos autores utilizam definições diferentes, para relatar um mesmo assunto. Porém, alguns, como AFIF, POZZI e MULLIN, SUTTON e HARDY têm em comum a divisão do Marketing Esportivo em duas frentes: a primeira diz respeito ao "marketing no esporte", enquanto a outra se refere ao "marketing do esporte". Pelos próprios termos podemos ter uma idéia do que cada uma trata, porém, cabe um aprofundamento maior para clarificar ao leitor. Ao utilizarmos a denominação "mark.eting no esporte", estamos nos referindo às ações empresariais que se utilizam do esporte como uma estratégia do seu departamento de Marketing, a fim de atingir suas metas. Ou seja, é a utilização de imagens e figuras do esporte para vender toda uma gama de produtos, que não se relacionam diretamente com o evento esportivo (carros, eletrônicos, laticínios etc). Porém, se referir a Marketing Esportivo apenas como os esforços de empresas não relacionadas ao esporte, utilizando-se desse como um meio de divulgação deixa uma lacuna muito ampla, pois deixa de reconhecer a parte mais importante do Marketing Esportivo, que é justamente a que está diretamente ligada ao evento esportivo. Por essa razão, foi cunhado o termo "marketing do esporte", para caracterizar todas as atividades de instituições esportivas voltadas para o consumidor esportivo, a fim de trazer dinheiro para o negócio do esporte. Utilizando-nos dos dois termos em conjunto, temos agora uma definição mais abrangente e completa do que é o Marketing Esportivo. Assim como os autores citados anteriormente, não me referirei ao longo deste estudo a "marketing no esporte" ou "marketing do esporte", mas sim, utilizando o termo Marketing Esportivo, englobando os dois significados. As primeiras notícias que temos da utilização do Marketing Esportivo datam de 1824. Obviamente, não se tratava de um conjunto complexo de informações, como o marketing é hoje, mas sim ações esporádicas de micro marketing. Nesse ano, Willian Fuller promovia lutas de boxe nos Estados Unidos, e as divulgava através de anúncios de jornal e folhetos que na verdade, falavam sobre teatro. Três décadas depois já foi possível observar um crescimento mais organizado das ações de marketing esportivo. Um fabricante de confecções masculinas decidiu patrocinar um jornal sobre cricket com sua marca. Assim, o periódico recebeu o nome do fabricante, que, logo, fazia a divulgação de seus produtos. Na 21 mesma década, Michael Phelan era um produtor de artigos de bilhar e conseguiu os promover através de um desafio a diversos outros jogadores da modalidade via jamais de circulação nacional. Com suas vitórias, Phelan se tornou o maior jogador de bilhar dos Estados Unidos e conseguiu vincular a qualidade dos materiais produzidos por ele à essas vitórias e obter mais clientes. A mensagem era simples: o melhor jogador produzia os melhores produtos. O fim do século XIX e o começo do século seguinte (1880 -1920) foi marcado por um crescimento mais organizado no que se refere ao Mark.eting Esportivo. Os produtos esportivos começaram a receber nomes e marcas registradas. A preocupação chegou às embalagens, que se esforçavam em ser atraentes, a fim de destacar os produtos perante outros. O autógrafo de alguns atletas também fazia parte de alguns produtos, que se valiam da figura do esportista, e atrelavam seu bom desempenho esportivo ao bom desempenho do produto a ser vendido. As empresas de produtos esportivos perceberam a necessidade de divulgação e logo entraram em contato com agencias de publicidade para realizar campanhas. Antes da década de 1920, todas essas empresas já detinham de departamento de mark.eting especializado, que criava e integrava campanhas promocionais em diversas frentes. Após essa década, ficamos frente a um período de crescimento dos esportes e de desenvolvimento de novas técnicas e produção e novos materiais, conseguidos principalmente graças a expansão tecnológica que ocorreu mundialmente. Em 1952, temos a primeira notícia da existência de mark.eting esportivo no futebol mundial. A Stock, fabricante de bebidas, decidiu patrocinar o campeonato italiano, expondo sua marca nos estádios em que ocorreriam as partidas. Aliás, não apenas fabricantes de bebidas, mas também fabricantes de cigarros foram os maiores responsáveis pela popularização da propaganda vinculada ao esporte, como alternativa às severas restrições que enfrentavam em relação a publicidade de seus produtos. A atividade publicitária era e foi totalmente marginalizada do futebol até a década de 1980, quando o então presidente da FI FA, João Havelange fechou contratos de patrocínio com a Coca Cola e a Adidas. Apesar das diversas, porém esporádicas e pontuais ações de marketing no segmento esportivo, o termo "Marketing Esportivo" só fui utilizado em 1978 pela revista "Advertising Age", ainda no sentido mais vago de "marketing no esporte". No Brasil, de forma análoga, também é difícil marcar um início para as atividades de Marketing Esportivo. Embora Af[f (2000) afirme que as primeiras vinculações de empresas com o esporte tenham ocorrido no período em que o marketing se expandia, juntamente com a política expansionista de Juscelino Kubitschek, é possível apontar, pelo menos, uma anterior a esse período. Uma empresa de chocolate embarcou na popularidade que o jogador de futebol Leônidas da Silva dispunha, e utilizou o apelido do jogador para dar nome a um de seus novos chocolates. Assim nascia o Diamante Negro, chocolate da empresa que é comercializado até os dias atuais e deu seus primeiros passos em anúncios de jamais e revistas, obviamente estampados com o jogador que lhe dava o nome. Ao longo de algumas décadas, o Marketing Esportivo no Brasil ficava limitado a uma ou outra ação pontual. Porém, na década de 80, o Marketing Esportivo começou a ser explorado de fonna mais intensa no país. O vôlei foi a modalidade pioneira a receber investimentos, principalmente de patrocínios de empresas. Porém, o futebol foi o esporte mais afetado pelas mudanças advindas de potenciais investidores, aproveitando-se da nova realidade mundial, inclusive legitimada pela assinatura de contratos de patrocínio pela FIFA. Além disso, o aumento da cobertura midiática, principalmente pela televisão, foi outro ponto fundamental para atrair empresas dispostas a investir, não só no futebol, como em outros esportes, buscando retemos financeiros maiores. Como o futebol é a paixão nacional, é coerente imaginar que ele seria o pivô da primeira grande Revolução que o Mark.eting Esportivo vivenciaria no país. Tal revolução ocorreu ainda na década de 80, mais precisamente no ano de 1987, com a disputa da Copa 22 União em detrimento do Campeonato Brasileiro que vinha acontecendo. O Campeonato Brasileiro vinha há alguns anos sendo deficitário tanto para a CBF quanto para os clubes que participavam e em 87 o presidente da entidade máxima do futebol afirmou que não teria condições de realizar o torneio. Diante disso, os clubes se uniram e fundaram o Clube dos 13, uma liga independente da CBF. Então, o Clube dos 13 decidiu a implantação da Cepa União e iniciou a busca por patrocínios. Foram conseguidos cinco grandes patrocinadores que fizeram com que a competição fosse superavitária e conseguisse encher um pouco os cofres dos clubes: TV Globo (que comprou os direitos de transmissão), Coca-Cola (que estampou seu logo nas camisas de todos os times, além de placas nos estádios e anúncios institucionais), Varig (que cedeu descontos de 50% em todas as passagens áreas para os clubes), Editora Abril (responsável pela confecção do álbum de figurinhas, que pagava royaltíes aos clubes) e Dever (empresa que ficou responsável pelos produtos licenciados dos clubes, e também repassava royalties aos clubes). Apenas Globo e Coca-Cola representavam US$ 6 milhões para a competição. A Copa União foi um grande sucesso, e teve como maior trunfo a organização. Antes mesmo do início da competição, já havia um calendário pré-estabelecido. Ou seja, clubes, torcedores e patrocinadores já sabiam com antecedência os dias e horários dos jogos gerando uma maior credibilidade ao torneio e dando uma margem de operação para os agentes envolvidos na competição. Além disso, os clubes passaram a perceber que é fundamental a busca por outros tipos de receita. A pergunta que fica é: qual o motivo que fez com que as empresas começassem a disponibilizar investimentos para os esportes, ao invés de continuar gastando com os tipos de propagandas convencionais? O primeiro motivo é financeiro. A relação custo x benefício entre uma propaganda convencional e um patrocínio esportivo, por exemplo, indica que a utilização do esporte é mais rentável em relação aos métodos convencionais. A exposição da marca é muito maior, pois além de estar presente durante a realização do evento, se propaga por mais alguns dias após o término dele (seja em imagens de televisão, notícia de jornal, revista). Segundo, o esporte tem um apelo quase universal. Isso quer dizer que pessoas das mais diversas idades, raças, com diferentes opiniões podem acompanhar o mesmo evento esportivo. Para uma empresa que investe no esporte isso significa uma exposição da sua marca para todas as pessoas, muito diferentes entre si, o que poderia não ocorrer caso fosse veiculado um anúncio em determinada mídia, especializada para um determinado público. Isso evita que a empresa ofereça o produto certo à um público errado. Terceiro, ao adotar esse tipo de marketing, os consumidores acabam sendo atingidos num momento de lazer, de descontração, onde as emoções estão exaltadas. Isso mexe com o sentimento das pessoas, tomando-as mais receptivas aos impulsos recebidos, o que vale dizer, aumentando a aceitação da marca exposta e de seus produtos. Ademais, o esporte transmite imagens de adrenalina, saúde, alegria, conquista, vibração e emoção. Ao vincular um produto ao esporte, tal produto acaba por ser reconhecido pelas mesmas características, afinal, também está participando daquele momento. Assim, o evento esportivo é capaz de rejuvenescer e reposicionar algumas marcas que pudessem estar esquecidas nas mentes do consumidor. Resumindo, as empresas optam por investir em esporte porque ele proporciona não apenas um agradável passatempo para seus te/espectadores, mas também é uma poderosa ferramenta para os negócios. Os esportes geram, além do entretenimento, lembranças e fantasias, que ficam alocadas na mente dos torcedores. Para uma empresa, participar de um momento como esse significa permear o imaginário do torcedor, transformando-o em um cliente. Dessa forma, muitas grandes empresas já alocam parte das verbas de marketing em estratégias vinculadas ao esporte, buscando esse amplo reconhecimento. Segundo 23 pesquisas "Top of Mind", muitas das empresas que investem em esporte estão a frente de suas concorrentes que não o fazem, seja por medo, ou desconhecimento desse vantajoso mercado. As marcas mais lembradas pelos consumidores, em sua maioria, investem ou já investiram em algum momento no esporte. Para citar algumas: Fiat, Volkswagen, Skol, Coca Cola, Telefônica, TIM, Shell, Nike, Parmalat. Em alguns setores, o fato de investir no esporte não é mais um diferencial, mas sim um fator crítico de sucesso. Por fim, o Marketing Esportiv-a se encontra num periodo de franca ascensão no Brasil. Porém, se compararmos o nível e o número de empresas que investem dessa forma no país com outros, como Estados Unidos, veremos que ainda estamos muito aquém do potencial do país. Parece que as entidades que regem nossos esportes não perceberam que estes se tomaram um grande negócio, capazes de atrair inúmeros investimentos e gerar importantes ganhos financeiros; parece que ainda não perceberam que para atrair investidores, é necessário melhorar o produto esportiv-a, melhorar seu lado organizacional, implantando um gerenciamento profissional e mais racional. Para tanto, -as calendários das competições precisam ser regulares e não sofreram alterações ao longo das mesmas; as federações precisam parar de sofrer com escândalos e acusações de corrupção; os clubes precisam ser melhor administrados, com administrações transparentes e coerentes, sem deixar enormes rombos financeiros. Resumindo: os esportes brasileiros precisam passar por uma reformulação total na forma como são geridos, a fim de gerar maior credibilidade e atrair investidores, pois potencial existe. 2.3- Futebol como Produto Esportivo Quando ouvimos a palavra produto, normalmente pensamos em um objeto, que pode ser facilmente transacionado, em relações de compra e venda entre agentes (empresas e consumidores). Porém, não paramos para pensar que os esportes (e isto inclui o futebol) também são um produto: os clubes assumem o lugar de empresas e os torcedores de consumidores. Todo e qualquer esporte tem aspectos tangíveis e intangíveis, características básicas estas para serem considerados como tal. E quando os consumidores usufruem de um evento esportivo, eles não estão apenas consumindo o jogo exclusivamente, mas toda uma vivência, que inclui a atmosfera do local e atividades extras que não fazem parte do jogo em si. Quando ouvimos a palavra futebol, pensamos em bola, jogadores, gols, uniformes, estádios. Esses são os aspectos tangíveis do produto esportivo futebol. Por outro lado, sentimentos e sensações diferentes afloraram em pessoas diferentes ao ouvirem a mesma palavra. Isso significa que a vivência que cada pessoa teve (sendo praticante e/ou observador) com o futebol foi diferente. Quando pensamos nos primeiros aspectos (tangíveis) sem o lado intangível, muitas vezes notaremos que eles não fazem sentido. Uma bola será apenas uma bola e um gol apenas um conjunto de três postes. Por esse motivo o lado intangível é tão importante no futebol (e demais produtos esportivos). Afinal, o produto esportivo futebol é diferente cada vez que é consumido. Mesmo que dois times joguem num mesmo estádio, com os mesmos jogadores, com os mesmos uniformes em dias diferentes, o jogo não será o mesmo; Sempre haverá a incerteza e a surpresa, muito específicas e presentes nos esportes. Isso significa que o futebol não segue um script, os resultados podem variar drasticamente de um jogo para o outro e nem sempre o melhor time sairá vencedor. Esse fato toma muito difícil garantir a satisfação do consumidor, que pode ir preparado para ver a vitória de seu time, e voltar para casa carregando uma derrota homérica. Todos esses aspectos consagraram a frase "o futebol é uma caixinha de surpresas". Te r um lado intangível preponderante é uma das características particulares do futebol como produto. Como ressaltou POZZI (1998), ele é "inconsistente e imprevisível" e 24 isso faz com que as empresa (clubes) tenham pouco controle sobre o produto principal: o próprio jogo. Contudo, não se resume apenas a isso. Tomemos um produto qualquer como exemplo: uma caneta. As diversas empresas que fabricam canetas competem num mercado, em busca de mais consumidores. No futebol também observamos essa relação de competição entre as empresas (clubes). Porém, além disso, as empresas necessitam cooperar simultaneamente. As rivalidades entre os clubes sempre existirão, mas só haverá jogo caso ambas as equipes estejam presentes no local determinado. Ainda nos mantendo na comparação com a caneta, esta última só pode ser utilizada/consumida, uma vez que todo o processo produtivo dela tenha sido encerrado, ela tenha saído da fábrica e tenha sido disponibilizada para venda. No futebol, essa dinâmica é diferente. A produção e consumo do produto ocorrem no mesmo espaço de tempo: enquanto os times (empresas) estão realizando o jogo, os consumidores (torcedores) o estão assistindo/consumindo. Os consumidores também participam do processo de produção deste produto, uma vez que fazem parte do espetáculo e sua maior ou menor presença (por exemplo) podem alterar substancialmente o rumo de um jogo. Este fato faz com que o produto se tome extremamente perecível; caso não seja vendido naquele momento, não será possível vendê-lo posteriormente. Por essa razão, deve-se tentar o máximo realizar uma pré-venda do evento, buscando atingir o maior número de consumidores, não deixando para realizar a venda nos últimos instantes antes do jogo, já que fatores como o clima podem reduzir as vendas no dia do evento. Não se pode vender um assento para um jogo que terminou. 8 Outro ponto importante que envolve o consumo do produto esportivo é que ele não é ''fabricado" apenas para consumo próprio. No caso da caneta, o consumidor a compra, leva para casa e a utilizará sozinho, quando bem entender. O futebol não: o consumo do futebol envolve um lado social muito forte. A experiência de um jogo pode ser totalmente modificada dependendo do convívio social associado a ela. E exatamente nesse convívio social que reside os maiores concorrentes do futebol. Os consumidores podem decidir se entreter assistindo outros tipos de esportes coletivos, ou individuais, ou ainda indo à cinemas, teatros, shows, restaurantes, shopping centers, alguns deles ainda mais baratos que o evento futebolístico. Então porque os consumidores optam pelo futebol em detrimento das outras atividades possíveis, visto que necessidades dos consumidores como entretenimento e sociabilidade podem ser encontradas em todas? O principal motivo é porque o futebol é exclusivo, devido às características já vistas. Cada jogo é um novo jogo, novas surpresas se revelarão no decorrer da partida. E essa exclusividade é que atrai o consumidor para o futebol. A grande meta dos times é exatamente tornar cada partida, por menor que seja seu apelo, um evento único e diferente, que marque a memória do torcedor. Apesar desse apelo quase universal do futebol, não se pode oferecer um único produto, indiferenciado para todos os torcedores/consumidores. Da mesma forma que empresas devem segmentar seus mercados, devido a diferenças entre os perfis de seus consumidores, com o futebol deve ocorrer o mesmo. Ainda que existam muitos estereótipos, não há um perfil único do consumidor do futebol. Há peculiaridades de cada torcedor, e o clube deve buscar atender a maior parte dessas peculiaridades, visando atingir o maior número de consumidores. Não se deve esquecer que o cliente final será sempre o torcedor. E por isso, um conceito visto anteriormente é de extrema importância: a segmentação. Os clubes precisam conhecer e entender seu público alvo, ao invés de oferecer apenas um produto e esperar que ele seja consumido. Todos os tipos de segmentação apresentados (demográfica, psicográfica, por uso ou por benefício do produto) podem ser utilizadas pelos clubes para dividir a massa de sua 8 MULUN, SUTION E HARDY, 2004 25 torcida em grupos menores e assim poder oferecer extensões do produto futebol mais específicas para cada um desses grupos. Porém, as mais utilizadas são a segmentação por uso do produto e por benefício. As duas parecem estar ligadas. Antes de tudo, vale lembrar que quando segmentamos por utilização do produto, teremos consumidores que consomem a taxas diferentes. No caso do futebol, vale a regra do 80/20. Ou seja, apenas 20% dos torcedores respondem por cerca de 80% do consumo total do produto. Esses 20% são os torcedores fanáticos, que transcendem a barreira de ser apenas torcedores. Envolvem-se sentimentalmente com seus clubes e se sentem como parte do time. Estes são freqüentadores assíduos dos estádios, seja nos jogos "em casa~ ou fora, e são consumidores assíduos de produtos lançados por seus clubes. Por outro lado, os outros 80% são torcedores menos apaixonados, que buscam o futebol apenas como uma forma de entretenimento, uma oportunidade de se relacionar com outras pessoas que torçam pelo mesmo time. Os fãs mais ligados ao clube (20%) buscam privilégios que aumentem sua interação com o clube, como sessões de autógrafos, visitas pelo clube, conhecer os jogadores, enquanto os outros 80% preferem uma maior comodidade para quando freqüentarem o evento esportivo. E aqui entra a relação entre a segmentação por uso e por benefício: torcedores com utilização diferente buscam benefícios diferentes. MULLIN, SUTION E HARDY (2004) segmentam esses torcedores por uso do produto em três faixas: líght, medium e heavy users. Os autores se utilizam da representação gráfica abaixo, no formato de uma escada, mostrando como é a relação dos torcedores com os clubes e o movimento que eles devem fazer. 26 Figura 3: Níveis de Consumidores ~ I, I. U'U.IIfCX r.Jr(y. ·. Consumidore~ Hlci~retos Nao consum dores Fonte: MULLIN, SUTTON e HARDY, 2004 Apesar dos heavy users serem menos sensíveis a aumentos de preço e gerarem dividendos maiores no curto prazo, uma vez que estão mais presentes nos estádios e consomem mais produtos, há de se focar em todas as faixas de usuários, buscando fazê-los subir a escada, em direção ao topo. Isso consiste em oferecer produtos para todos os tipos de usuários, buscando que um usuário leve se tome médio e posteriormente, intenso. Segundo POZZI (1998), os light users podem ser estimulados com brindes, descontos para grupos, atrações especiais, sorteios. Soluções como "assista um jogo e ganhe um brinde", "compre um e leve dois" ou promoções que liguem um jogo ao outro induzem esse tipo de cliente à repetição e conseqüentemente, aumentar sua utilização. Porém, faz um alerta: descontos no preço do ingresso ou dar ingressos de graça desvalorizam o produto, passando a imagem que ele não vale nada. Os medium users podem ser estimulados com pacotes para a temporada, ou seja, uma facilidade que faz com que o torcedor não tenha que comprar ingressos todo jogo. Por fim, os heavy users buscam ser recompensados por sua lealdade e os clubes precisam criar promoções para manter esses clientes, os mais rentáveis em sua base. Da mesma forma que os consumidores podem ascender na escada, eles também podem descender ou até sair dessa escada. Devido a isso, os clubes devem sempre manter 27 opções para os três níveis de consumidores, para que todos encontrem um nível ótimo de satisfação e sejam estimulados a estarem sempre subindo na escada, enquanto os times conseguem obter maiores lucros com esse consumo continuo e crescente. Além desses três grupos de consumidores, temos também consumidores indiretos, que são chamados de consumidores de mídia. Ou seja, consomem o evento esportivo apenas através das transmissões de televisão e/ou rádio. Ademais, temos os "nãoconsumidores", que por sua vez, também podem ser divididos em grupos: 1- desistentes (consumiram o produto e por algum motivo decidiram não consumir mais); 2- nãoconsumidor não consciente (não sabe de existência do produto); 3- não-consumidor consciente (conhece o produto, mas decide não o consumir); 4- não-consumidor mal informado (sabe da existência do produto, porém não sabe como fazer para consumi-lo). Em resumo, os profissionais dos clubes devem olhar os torcedores como consumidores diferentes, que precisam ser cativados de formas diferentes. Os clubes necessitam trabalhar em duas frentes: uma de adquirir novos consumidores, e a outra de manter seus torcedores na "escada", de forma a estarem sempre subindo, acarretando maior lucratividade para o clube. Não existe uma forma única de marketing, por isso não é possível simplesmente copiar uma estrutura bem sucedida de outro clube. É preciso desenvolver estratégias diferentes para os próprios consumidores e para isso, antes de elaborar planos, os profissionais precisam conhecer e analisá-los. E a melhor forma de conseguir isso, é através de pesquisas, uma forma rápida e barata. Porém, o que se vê é que nenhum time possui dados suficientes acerca de seus torcedores para alimentar um sistema de informação e criação de um banco de dados. Os clubes precisam ter em mente que eles são os principais responsáveis pelo produto esporte. E precisam entender que o futebol atualmente é um produto envelhecido, que precisa ser renovado para reconquistar o público e o espaço que vem perdendo dentre todas as formas de entretenimento existentes. Se considerarmos o Ciclo de Vida do Produto, o futebol se encontra na fase de maturidade. Isso significa que se nada for feito, o próximo passo é o declínio. Os clubes são monopolistas no quesito torcida; as pessoas trocam de religião, de partido político, de emprego, de família, mas nunca de clube de futebol. Os times precisam entender essa fidelidade e fazer uso dela, conseguindo maiores receitas, que poderiam ser reutilizadas no futebol, melhorando seu aspecto e seu apelo na sociedade. Mais adiante apresentaremos diversas formas que os clubes dispõem para alcançar essa melhora em seus cofres, juntamente com uma melhora do produto chamado futebol. 2.4- A Marca dos Clubes Por que a Coca Cola é o refrigerante mais vendido do mundo? Será que seu sabor é tão melhor que o de seus concorrentes? Talvez sim, talvez não. Afinal, as pessoas têm gostos diferentes, e, portanto, o refrigerante não agradaria a tantos consumidores. Essas perguntas poderiam ser repetidas para diversos outros tipos de produto, e a resposta parece ser sempre a mesma: as marcas. Os clientes não compram apenas o produto em si, mas também as marcas que trazem consigo. Muitas pessoas se sentem mais seguras/confiantes por usar determinado tipo de grife ou determinado modelo de automóvel. Essas sensações são produzidas pelas marcas das empresas que fabricam o produto final. As marcas são como selos de qualidade, que atestam performance e qualidade superior aos produtos a elas relacionadas. As marcas geram percepções subjetivas de um produto e trazem consigo todo um conjunto de experiências, lembranças e sentimentos relacionados a ele. Por esse motivo são a mina de ouro de qualquer negócio. Quando bem construídas, oferecem diferenciação 28 e agregam valor a seu produto. Ademais, criam uma personalidade diferente e separada de seu produto. Continuando com o exemplo da Coca Cola: a empresa é sinônimo de qualidade e sabor e por isso consegue vender seus produtos por um valor mais alto, sem perda de mercado (diferenciação e valor agregado); por outro lado, a empresa não fabrica apenas refrigerantes, mas sim uma ampla gama de produtos. Porém, ao se citar o nome Coca Cola, a primeira imagem que nos vem à cabeça é da bebida gaseificada. Portanto, nota-se que a empresa conseguiu um status maior que seus produtos. Um levantamento realizado em 2003/2004 revelou as marcas mais valiosas tanto mundialmente quanto no Brasil. Nacionalmente, os bancos dominam o topo desse ranking, sendo: 1- ltaú (R$ 1,09 bi); 2- Bradesco (R$ 809 mi); 3- Banco do Brasil (R$ 427 mi). Obviamente que aqui, o grande valor das marcas é mais influenciado pelas grandes quantias transacionadas por esses bancos do que propriamente o valor da estima que o público tem com essas instituições. Mundialmente, as 1O primeiras empresas desse ranking são americanas, sendo as três primeiras: 1- Coca Cola (US$ 67,3 bi); 2- Microsoft (US$ 61,3 bi) e; 3- IBM (US$ 53,7 bi). Fica claro que as empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer para tentar se aproximar das gigantes americanas no que diz respeito à criação de uma marca forte e consolidada. Assim sendo, a marca se toma o maior patrimônio de uma empresa. Muitas transações (fusões e aquisições) de empresas superam muito o valor dos ativos físicos existentes. Esse valor a mais é exatamente o impacto do valor das marcas nos balanços patrimoniais. Por esse motivo, as grandes empresas vêm investindo grandes somas de dinheiro para fortalecer e solidificar sua marca junto ao público e gerar uma identificação com ele. Isso é uma estratégia de marketing adotada pelas empresas a fim de aumentar seu reconhecimento. A construção de uma marca confiável, com grande conhecimento do grande público não acontece em uma noite. Pelo contrário: é um trabalho de longo prazo, que deve ser feito dia após dia, da melhor forma possível. Existem quatro pilares fundamentais que, quando seguidos, auxiliam na construção de uma marca: 1- diferenciação; 2- relevância; 3- estima e; 4- familiaridade. Em outras palavras, as empresas devem direcionar seus esforços para que seus produtos se sobressaiam perante outros, dentro de um contexto e trazendo valor de uma forma mais próxima e íntima de seus clientes. Como visto muitas empresas brasileiras ainda não descobriram a importância de se ter uma marca forte, e o quanto essa marca pode agregar valor a seu negócio. Marcas fortes e tradicionais geram um impacto nos clientes de tal forma a conseguir obter a fidelidade deles. Isso faz com que a empresa obtenha uma base de clientes constante, sendo pouco afetada por oscilações de demanda e, portanto, aumentando a rentabilidade do negócio. Se grandes empresas brasileiras, todas geridas de forma profissional e buscando sempre a maximização de seus lucros ainda não descobriram o real valor de suas marcas, o que podemos imaginar dos clubes de futebol brasileiros, onde ainda reina o amadorismo? Obviamente que nossos clubes ainda estão muito distantes de ter a real percepção do valor da marca e o quanto ela pode agregar a eles. Até pela situação financeira instável pela qual os clubes brasileiros passam, eles preferem optar por não destinar verbas para trabalhar a própria imagem ou promover eventos. Tai destinação é vista como desnecessária e, portanto, não ocorre, sendo alocada para cobrir eventuais rombos no balanço patrimonial. Isso ocorre devido à mentalidade fechada e sempre voltada ao curto prazo de nossos dirigentes. Nossos "cartolas" não conseguem perceber que trabalhar a marca do clube não é um custo e sim um investimento. Ter uma marca forte é sinônimo de oferecer mais e melhores produtos a seus torcedores, cativando novas gerações e garantindo futuros consumidores. Grande parte de nossos clubes estão próximos de completar 100 anos, ou seja, suas marcas já são quase centenárias, e ainda assim não conseguiram reverte-las em receitas expressivas. 29 Os clubes de futebol apresentam um grande índice de familiaridade e diferentemente de empresas de outros ramos, não precisam trabalhar um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento de uma marca: a fidelidade de seus clientes. Afinal, como já foi falado, uma vez decidido o time, ninguém mais muda de opinião. Para os clubes, ter uma base de clientes fiel e que passe de geração para geração parece ser o suficiente. Eles não fazem nenhum tipo de esforço no sentido de trabalhar essa marca, aproximá-la ainda mais dos torcedores, e tentar fazê-los subir na escada do consumo (mostrada na seçao anterior), obtendo assim maiores receitas. Muito menos, os clubes tentam se promover para as novas gerações de torcedores que surgem. E mesmo que os pais torçam para determinado time, não é possível garantir que os filhos seguirão o mesmo caminho, dadas influências externas que podem alterar essa escolha. Outro ponto importante que pesa a favor dos clubes brasileiros é que dentre os quatro pilares citados para a construção de uma marca consolidada (diferenciação, relevância, estima e familiaridade) os clubes de futebol possuem um grande grau de familiaridade, pois atraem públicos de diversos tipos. Segundo AFI~, os clubes precisam trabalhar suas marcas em quatro frentes: 1- fortalecimento (reforçar os laços que o grande número de torcedores mantém com o clube); 2- rejuvenescimento (os times têm que conquistar novas gerações, precisando compreender os hábitos, sentimentos e preferências de lazer do público mais jovem e descobrir o que os motiva a comprar o futebol); 3- construção de identidade (clubes precisam "mostrar sua cara" nas cidades em que se instalam ou crescem); 4- conquista de novos mercados (saindo do aspecto geográfico, os clubes podem buscar novos nichos, desenvolvendo produtos e campanhas específicas). Assim como as empresas brasileiras, nossos clubes de futebol também estão muito aquém de outros conhecidos internacionalmente. Os times parecem ignorar que sua marca é o ativo mais valioso do clube e mesmo no começo da década ainda usavam símbolos de outras empresas para vincular sua imagem (talvez o mais emblemático sendo o Palmeiras com o Zé Carioca). Um levantamento feito pela revista Forbes em 2007 indica quais clubes têm as marcas mais valiosas do mundo, como se segue na tabela abaixo: 9 AFIF, 2000 30 Tabela 6: Valor das marcas dos clubes de futebol (em US$ mi) - 2007 Time Valor da Marca Manchester United 1.453 Real Madrid 1.036 Arsenal 915 Bayem Munich 838 ACMilan 824 Juventus 567 lnternazionate Milan 555 Chelsea 537 Barcelona 535 Schalke 04 471 Liverpool 454 Olympique Lyonnais 343 Newcastle United 260 Tottenham Hotspur 243 AS Roma 224 Hamburg SV 221 Manchester City 208 Borussia Dortmund 199 Ajax Amsterdam 198 Celtic 185 Everton 165 Olympique Marseille 157 West Ham United 156 Glasgow Rangers 147 Aston Villa 140 Fonte. Forbes No Brasil não temos nenhum estudo semelhante ao feito pela revista americana. Entretanto, a Trevisan Auditores, em 2001, fez uma avaliação das marcas dos clubes de futebol brasileiro, levando em conta três tópicos, cada um deles dividido em outros sub- tópicos. São eles: 1- conhecimento/notoriedade da marca (percepção e lealdade do consumidor); 2- dimensões que compõem a marca (atributos, benefícios, valores, personalidade e essência); 3- motivos de compra da marca (qualidade e status). Diante desses tópicos, chegou aos seguintes valores: a marca do Flamengo é a mais valiosa, com valor estimado de R$ 86,9 mi, seguida pelo Corinthians, com R$ 56 mi. Mais recentemente (2006) o Flamengo publicou um estudo re-afirmando que a sua marca era a mais valiosa do país. O clube se utilizou de variáveis como o número de 31 torcedores, o percentual desses torcedores fora do estado de origem, faixa etária, a renda dos torcedores por região em que vivem para afirmar tal posição. Realmente, uma marca será tanto mais valiosa quanto mais conhecida for, ou seja, quanto maior visibilidade obtiver. No estudo do Flamengo10 podemos ler: "Por maior que seja a concentração de renda em um determinado mercado (região), uma marca regional sempre será uma marca regional". Por esse motivo os clubes brasileiros precisam saber utilizar todo o potencial que possuem. A figura abaixo é o principal trunfo do Flamengo na afirmação de sua marca como a mais valiosa do país. Nele é possível percebemos que, além da maior torcida, o clube possui grande parte dela espalhada pelo Brasil, fora de sua região, aumentando assim sua visibilidade. Figura 4 - Distribuição dos torcedores dos clubes brasileiros o ~ Flamengo C/) (]) oC") ._, ..J; ~* tO ~ ~ E (]) o N co ~São Paulo Palmeira.~ 'U ·o .... o 1- Corinthians Q o,.- Qvasco ' · Cruzeiro ~~~Grêmio 80% 60% 40% 20% Percentual da Torcida Fora do Estado de Origem Fonte: A Marca Flamengo - Colocando os pingos nos is Buscando diminuir esse gap com o Flamengo, outros clubes já perceberam a necessidade de desenvolverem sua marca fora das regiões onde sua torcida é maior. As equipes nacionais vêm tentando se manter em competições continentais (principalmente a Copa Libertadores da América) para, além do óbvio retomo financeiro, conseguirem expandir sua marca para países vizinhos. Já os dubes estrangeiros, principalmente aqueles com maior valor de marca, são muito bem sucedidos no que diz respeito a isso. Não é incomum ouvirmos notícias de excursões ou mesmo pré-temporadas em outras cidades e até mesmo outros países (principalmente asiáticos como China, Japão, mas também nos EUA, onde o futebol vem crescendo lentamente), visando aumentar a exposição da sua marca. Porém, não apenas a visibilidade é necessária para o fortalecimento de uma marca. Não adianta possuir uma marca que apareça em diversos locais, mas que não se faça ° CLUBE DE REGATAS FLAMENGO, (2006) 1 32 presente. Isso quer dizer que além de aparecer, a marca precisa ser lembrada. E por isso existem tantas pesquisas de recall, para avaliar o quanto as marcas se fixam na mente dos consumidores. Uma delas indicou que o Flamengo tem o maior recall dentre os clubes brasileiros. Isso faz com que os patrocinadores do dube (principalmente a patrocinadora oficial, Petrobrás) obtenham custos-benefícios maiores. Tomando como base número de torcedores, visibilidade e recall, a pesquisa mostrava que para ser lembrada, a Petrobrás tem um custo de R$ 1 ,69 por torcedor, enquanto os patrocinadores de Corinthians e São Paulo (Samsung e LG à época) gastavam R$ 2,68 e R$ 3,70, respectivamente. Esses dados demonstram que a valorização da marca não é satisfatória apenas para os próprios clubes, mas também para seus parceiros de negócios. E, como se sabe, parceiro satisfeito significa parceiro recorrente. Ou seja: ao buscar a valorização de suas marcas, os clubes irão conseguir obter maiores receitas tanto dos produtos por eles comercializados, mas também notarão sensíveis aumentos em receitas provenientes de contratos com parceiros que estão sendo beneficiados por essa valorizaçao. Ações sociais (ou marketing de causas nobres) também são uma boa maneira de fortalecer a marca de uma equipe. Muitas vezes são voltadas para crianças, o que cria um torcedor futuro para o clube. Apesar disso, essas ações não ocorrem buscando obtenção de lucros. Algumas vezes nem buscam retomo institucional (reconhecimento da marca). Mas não se pode desconsiderar que a sociedade vê com bons olhos atividades nesse sentido. Tais ações criam um vínculo de confiabilidade e respeito da comunidade para com o clube. Um bom exemplo desse sentido foi o Barcelona, que pela primeira vez na história estampa um logotipo em seu uniforme. O acordo firmado com a UNICEF é uma espécie de upatrocínio invertido": ao invés de receber por estampar o símbolo em sua camisa, o Barcelona irá destinar certa quantia para os fundos de ajuda da instituição. O Boca Juniors também fechou contrato semelhante, visando tomar-se mais simpático ao público mundial. Apesar de todos esses fatores e ações que os clubes podem desenvolver para fortalecer sua marca, se eles não tiverem um produto interessante para vender, de nada adianta uma grande visibilidade. Em outras palavras, os clubes precisam oferecer algo que agrade os torcedores, que os marquem e que os façam relembrar. Aqui surge a necessidade de ídolos no futebol brasileiro, aspecto este que está em grande carência atualmente. Pela necessidade de equilibrar suas contas, muitos clubes acabam vendendo jogadores cada vez mais cedo, principalmente para o exterior, como já foi visto em seções anteriores. Isso implica dizer que a equipe perde competitividade dentro de campo (menores chances de títulos) e conseqüentemente, fora de campo (ao atrair menos atenção de público, que implica em menores receitas). Os grandes atletas, além de aumentarem a capacidade técnica da equipe, atraem público para o estádio. Esse aumento do interesse dos torcedores é observado por outras empresas que decidem se associar aos clubes para também divulgarem sua marca. Nota-se que se cria um ciclo, no qual os clubes passam a lucrar tanto diretamente com os torcedores, quanto indiretamente por meio de parceiros, e, reinvestindo esse dinheiro ganho no futebol, criam a possibilidade de contratar outros atletas de ponta. Além disso, o clube ainda é beneficiado por receitas referentes à comercialização de produtos vinculados a esses atletas. Outro aspecto que denegri a imagem de um clube são as recorrentes brigas entre torcidas organizadas. Apesar dos clubes não terem ligação direta com elas (no sentido de que não as podem impedir de brigar), uma atitude inconseqüente e impensada de uns poucos torcedores exaltados pode gerar complicações maiores para os clubes, uma vez que os vândalos aparecerão na mídia utilizando-se de camisas, agasalhos, bonés e outros artigos com a marca do time estampada. Esses torcedores não percebem que prejudicam o tipo duplamente: primeiro porque inibem a compra de produtos ligados ao time por torcedores de "bem", que com medo de ser atacados na rua preferem não adquirir algo que 33 o ligue ao time; e segundo, e talvez principal, ocasionam uma desvalorização da marca, afastando parceiros de negócios. Até o momento, tratamos os clubes como empresas e citamos tanto aspectos que refletem um fortalecimento da marca, quanto aqueles que a denigrem. Porém, não tratamos de um aspecto fundamental dos clubes de futebol e de sua área de atuação: o espetáculo e o jogo em si. Mesmo que não existissem os aspectos contrários e que diminuem o valor de uma marca, um clube não poderá ser bem sucedido em seu trabalho de expansão dessa marca caso não seja bem sucedido dentro do campo. Ainda hoje, os resultados dentro das quatro linhas são o fator fundamental para o sucesso ou não dos negócios de detenninado time. É através desses resultados que os clubes adquirem novos torcedores bastando observar que quando um time obtém hegemonia em determinado período de tempo, a década seguinte será marcado por um grande aumento do número dos torcedores dessa equipe. Foi o caso do São Paulo no início da década de 90 (principalmente 92 e 93 com as conquistas mundiais), o Palmeiras no decorrer da década (com a vitoriosa parceria com a Pannalat) e veremos no futuro uma nova onde de torcedores santistas impulsionados, principalmente, pelas conquistas dos títulos brasileiros de 2002 e 2004. Esse conceito de que "se o time não é bem sucedido dentro de campo nada mais importa" deve ser mudado. Os torcedores devem ser fiéis a seus clubes e se importarem mais com o espetáculo do futebol, do que focarem apenas nos resultados imediatistas que podem ou não vir de acordo com os campeonatos disputados. Para que essa mudança ocorra, a principal tarefa dos dirigentes de futebol brasileiros é converter os torcedores de seus clubes em clientes/consumidores. O Brasil conta com aproximadamente 113 milhões de torcedores. Se os clubes conseguissem atingir a grande parcela deles, suas marcas seriam muito maiores do que são hoje em dia. Logo, existe consumidor. O que não existe é oferta. Não existe a intenção dos clubes de oferecerem melhores condições a seus torcedores, de levar aos consumidores uma marca mais forte, que lhe traga mais beneficios. Por esse motivo, especialistas afirmam que apenas 20% do potencial dos clubes brasileiros como marcas é explorado. Assim sendo, os clubes brasileiros precisam descobrir quanto suas marcas realmente valem. Por fim, vale lembrar que os clubes de futebol não apenas competem entre si, mas também cooperam. Não existe futebol com apenas um time. Um campeonato com nível fraco, ou ainda em que um time apenas desponte pode e irá derrubar o interesse do público e a conseqüência disso é uma redução na venda de ingressos. Portanto, os clubes precisam realizar um esforço em conjunto, para que todos fortaleçam sua marca e ganhem mais visibilidade com elas. Assim, todos os clubes terão mais força dentro dos campeonatos, gerando competições mais disputadas e eletrizantes, chamando a atenção dos torcedores. Mas não apenas dos torcedores: um campeonato mais empolgante e com mais atrativos chama atenção também das emissoras de televisão, que se tomariam dispostas a pagar mais por um campeonato que lhe de IBOPE ao invés de um que tenha pouco apelo junto aos torcedores. Além do benefício que a valorização da marca acarretaria no esporte (que escorreria para os clubes) ela também implica no aumento direto de propriedades do clube. Propriedades de arena (placas estáticas, por exemplo), contratos de fornecimento de material esportivo e patrocínio, valor de venda dos produtos licenciados são apenas alguns dos benefícios que os clubes conseguiriam com a valorização de suas marcas. Na próxima seção levantaremos as fonnas mais usuais com as quais os clubes poderiam trabalhar para que, ao mesmo tempo em que obtém maiores receitas, pudessem fortalecer suas marcas junto aos seus torcedores. Algumas delas parecem ser muito básicas, e fica difícil entendennos porque não são postas em prática no país. 34 2.5- Formas de Utilização O Brasil é, sem sombra de dúvida, uma das grandes potências do futebol mundial. Ao lado de outras nações como Inglaterra, Alemanha, Itália, França e a recém-campeã da Eurocopa, Espanha, o país da América do Sul é um exemplo do futebol como um negócio mercadológico11 • Porém, "diferentemente dos clubes europeus, os brasileiros ainda estão engatinhando no que diz respeito a ganhar dinheiro" (POZZI, 1998, p.26). A frase anterior, formulada 1O anos atrás ainda é bastante atual. Apesar de alguns clubes já terem percebido a necessidade de obter receitas através de outras formas, a grande maioria ainda depende, basicamente, da transação de jogadores e das cotas de transmissão de televisão, como vimos na seção 2.3. Como dito anteriormente, as cotas de televisão acabam "anestesiando" os dirigentes, por se tratarem de valores fixos, levando-os a certa acomodação na busca por outras oportunidades. Em terceiro, temos os contratos de patrocínio e publicidade como geradores de receitas para os clubes, mas já se nota perceptível distância dessa forma com as duas primeiras. Muitas vezes, o patrocínio é confundido com o Mark.eting Esportivo. Porém, ele (patrocínio) é apenas uma das partes de todo um composto de marketing que os clubes podem explorar. O patrocínio esportivo é o primeiro e mais antigo estágio do mark.eting esportivo. Muitos clubes ainda acham que apenas encontrar um patrocinador (aliado a venda de jogadores e cotas de televisão) é suficiente para sua sobrevivência. Apenas pouco mais de 10% das receitas obtidas pelos clubes são provenientes de ações ligadas a exploração de suas marcas. Ou seja, os times brasileiros não conseguem explorar suas marcas de forma significativa, seja com a venda de produtos, seja utilizando seus estádios como grandes ferramentas para atração de torcedores. Quando tratamos de licenciamentos envolvendo os clubes de futebol, o que se nota são iniciativas extremamente básicas e simplistas, de produtos de baixo valor agregado, como chaveiros, souvenires e canecas (apenas para citar alguns) que contribuem muito pouco na receita global da entidade. Como falado anteriormente, os clubes ainda não se deram conta que seu principal ativo é sua marca, e acabam associando-se a alguns produtos de baixa qualidade e/ou que não tenham nenhuma ligaçao com sua imagem como, por exemplo, preservativos. Quando pensamos em um clube vendendo produtos, obviamente a primeira imagem que nos vem à cabeça são produtos relacionados ao futebol: bolas, camisas, uniformes de jogo, calções. Porém, será que um clube de futebol necessariamente tem que se restringir a isso? Há pouco mais de um ano, o Boca Juniors da Argentina se associou a uma das maiores empresas de relógios do mundo para uma linha limitada de um relógio que levaria a marca de ambos. Cada unidade era vendida por cerca de US$ 3 mil e a edição se esgotou. E essa é apenas uma das ações que podemos citar. Principalmente os clubes europeus das grandes ligas (inglesa, italiana e espanhola) conseguem obter receitas de praticamente todos os segmentos de negócios. Isso só foi possível, pois estes dubes notaram que era necessário ter um departamento de mark.eting forte para dar suporte à operação dos times dentro dos campos. Segundo AFIF (2000, p.42), "o departamento de marketing de um clube deve ser capaz de: 1- encontrar meios de levar mais pessoas aos estádios; 2- criar estratégias de lançamento de produtos do clube; 3- criar catálogos de venda; 4- disponibilização e atualização da venda de produtos licenciados pela internet; 5- idealizar campanhas de sócio torcedor; 6criar promoções nos intervalos de jogos; entre outros': Essas e outras ações fazem parte da estratégia que os departamentos de mark.eting devem traçar para atingir determinado objetivo. Todas as estratégias traçadas 11 Entrevista- Amir Sommoggi; disponível em: http://www.cidadedofutebolcombr/cidade/Site/Artigo/Materiaaspx?idArtigo=9805 35 podem auxiliar muito as equipes a conseguirem diversificar suas fontes de receitas, não se tomando reféns das cotas de televisão e as vendas de jogadores. As seções seguintes irão demonstrar algumas das formas que poderiam ser utilizadas pelos clubes de futebol brasileiro, que ainda não são, ou são de forma muito tímida e que trazem pouco retomo a eles. Por fim, analisaremos de que forma os times europeus se utilizam dessas fontes de receita, como meio de comparação com os clubes brasileiros e a fim de demonstrar o longo caminho que o futebol nacional ainda tem de percorrer. 2.5.1- Patrocínío A primeira palavra que nos vem à cabeça quando ouvimos o termo "Marketing Esportivo" é o patrocínio. Isso ocorre porque o patrocínio esportivo foi a primeira e mais simplória forma de utilização do esporte por empresas dos mais diversos setores para divulgarem suas marcas. O esporte tomou-se um dos "veículos de comunicação" mais utilizados pelo mundo empresarial para divulgar marcas mundiais. Hoje em dia, o patrocínio esportivo já é responsável por 69% da verba destinada a patrocínios mundialmente. No Brasil, cerca de 30% de todo o patrocínio se destina aos esportes em geral (com o futebol recebendo 19% do total da verba). "O patrocínio a equipes cresceu à medida que empresas de grande porte perceberam que era mais barato e eficaz associar sua marca a um evento de interesse da mídia" (PRONI, 1998, p.110). Ele surge como uma alternativa menos invasiva que a propaganda convencional, transmitindo uma mensagem menos comercial. Os consumidores são atingidos em momentos de descontração, exatamente quando estão mais abertos a estímulos externos. Patrocínio é a "aquisição de direitos para afiliar-se ou associar-se diretamente a um produto ou evento com o propósito de obter benefícios relacionados a essa associação". É assim que MULLIN, SUTTON e HARDY (2004, p.192) definem patrocínio. Ou seja: há um contrato firmado entre as duas partes, cada qual buscando benefícios, de acordo com suas estratégias: os patrocinadores investem de alguma forma (seja ela dinheiro, equipamentos, serviços) para ajudar o patrocinado e em contrapartida tem o direito de utilização de espaços buscando uma maior visibilidade de suas marcas/produtos para atingir mais públicos, obtendo assim um maior reconhecimento (recall) que se reverterá em aumento das vendas destes produtos. Porém, diferentemente da propaganda convencional, o patrocínio não visa apenas divulgar um produto; ao patrocinar uma equipe, busca-se vincular a identidade entre as marcas. Estima-se que o recall de um produto associado a um evento esportivo é quatro vezes maior do que um que passa por campanha tradicional. Muitas empresas, dos mais diversos setores, vêm aumentando suas verbas destinadas ao patrocínio esportivo. Isso ocorre porque o patrocínio é uma forma barata e com maior impacto de divulgação do que anúncios ou comerciais. Diferentemente desses últimos, o patrocínio não se restringe apenas ao dia do jogo. A marca será, obviamente, exposta durante o evento esportivo, porém sua repercussão na mídia (impressa ou televisiva) continua por mais alguns dias, seja através de retransmissões (mesmo que parciais) de jogos ou matérias no jornal. E essa divulgação "adicional" não é paga pelos patrocinadores. Estima-se que para cada US$ 1.000 gastos em patrocínio, são gerados US$ 10.000 em publicidade (POZZI, 1998). Além disso, ao se associarem a equipes esportivas, os patrocinadores vinculam sua marca a todos os sentimentos nutridos pelos torcedores em relação à suas equipes. Muitos poderiam, aqui, fazer uma crítica ao patrocínio esportivo, dizendo que, se por um lado, a empresa patrocinadora obtém a simpatia dos torcedores do time patrocinado, por outro irá deixar de atingir torcedores de outros times, devido à rejeição da marca e, assim, perder mercado. Alguns casos por si só (como o caso da Parmalat, que patrocinando o Palmeiras, não deixou de obter retornos, pelo contrário, atingiu metas 36 incríveis) já acabariam com tal premissa. Contudo, visando não deixar dúvidas, a empresa TNS Sport Brasil, em junho de 2008, fez uma pesquisa com sete mil entrevistados (entre 16 e 60 anos, das classes A, B, C e O) sobre patrocínio esportivo em 14 estados brasileiros (representando 65,5% da população do país e 85,2% do PIB), e uma das perguntas era: "Você deixaria de comprar um produto por ele patrocinar um clube rival?". Os resultados podem ser vistos abaixo: Gráfico 2: Torcedores que deixariam de comprar um produto que patrocina um clube rival Não 95,53% Fonte: Futebol e Negócio Outro benefício adquirido através do patrocínio esportivo: por trazer mensagens de saúde e juventude, as empresas que investem no esporte conseguem observar um rejuvenescimento de sua marca, atraindo clientes mais jovens. Por todos esses motivos que as empresas vêem o patrocínio esportivo como uma alternativa, cada vez mais necessária para sua sobrevivência, num mundo onde a concorrência está cada vez mais acirrada. Porém, apesar de todos esses benefícios, muitas empresas ainda ficam receosas em investir no futebol, dado que nos últimos anos ele vem sendo caracterizado por escândalos, calendários desorganizados. Outro grande empecilho para o maior investimento por parte dos patrocinadores no futebol é a gestão pouco profissional dos clubes brasileiros. Como dito anteriormente, o contrato de patrocínio é firmado, pois ambos os lados buscam atingir alguns objetivos e/ou conseguir alguns benefícios. Já citamos os benefícios buscados por parte das empresas patrocinadoras, agora vale dizer como os clubes se utilizam dele. Para os clubes, o patrocínio esportivo também é um negocio rentável. Tanto é que, hoje, quase todos os times (sejam eles, grandes, médios ou pequenos, jogando a série A, 8 ou C do campeonato brasileiro) possuem pelo menos um patrocinador. Afinal, a princípio, eles precisam apenar ceder um espaço na sua camisa e esperar que as receitas provenientes desse negócio comecem a entrar nos cofres. Ademais, com o crescente interesse de empresas em se tomarem patrocinadores, os valores de patrocínios vêm aumentando com o decorrer dos anos, gerando mais receitas para os clubes. Ou seja, não ter um patrocínio significa perder dinheiro. A tabela abaixo indica a evolução do valor do patrocínio de alguns clubes de 1998 e 2008, e os patrocinadores para os respectivos anos. 37 Tabela 7: Valor do Patrocínio por ano (em R$ mil) 1998 Clube 2008 Patrocinador Valor Patrocinador Valor São Paulo Cirio 4.000 LG 16.000 Corinthians Excel 6.000 Mediai 16.500 Palmeiras Parmalat 7.200 Fiai 8.000 Santos Unicór 4.800 Semp Toshiba 8.500 Grêmio General Motors 2.000 Banrisul 3.600 lntemacionai-RS General Motors 2.000 Banrisul 3.600 . Fonte: POZZI,1998/ GloboEsporte, elaboração propna Já é de se esperar que os valores de hoje sejam muito maiores se comparados aos primeiros contratos de patrocínio firmados no final da década de 80. Porém, se comparado com outros grandes centros do futebol, o patrocínio no futebol brasileiro ainda é relativamente baixo. Clubes das ligas espanhola, inglesa e italiana, e até mesmo de ligas menos glamorosas como a alemã desfrutam de contratos de patrocínio na casa de R$ 30 milhões por ano. E por que essa diferença tão brutal? A resposta se encontra nas seções anteriores. Primeiramente, o produto futebol dessas ligas é muito mais valorizado do que o campeonato brasileiro. Segundo, as grandes estrelas do futebol mundial se encontram jogando nesses clubes, o que faz com que a marca desses clubes se tome mais forte e atraia mais o interesse de patrocinadores. Afinal, com certeza uma empresa preterirá (e pagará mais para) associar seus produtos com jogadores mundialmente conhecidos, do que com aqueles apenas conhecidos regionalmente. Outro problema que os clubes brasileiros enfrentam no que se refere ao patrocínio é a duração do mesmo. Na Europa, são comuns contratos de patrocínio de longa duração. Já em nosso país, as empresas normalmente recorrem ao esporte com o objetivo imediatista de gerar visibilidade para seus produtos. Aliam-se a isso os problemas já citados (desvalorização do produto, das marcas, falta de ídolos). Dessa forma, são raras as exceções em que contratos de patrocínio sejam mais duradouros. A baixa duração dos contratos faz com que os clubes também deixem de ganhar dinheiro de outras formas. Parece que os dubes se sentem acomodados em ter o patrocínio, mesmo que por um tempo e valor pequeno, pois após o término, podem encontrar outro. Nenhum dube tem a mentalidade de fidelizar esse patrocinador, não apenas utilizando seu logotipo para estampar suas camisas, mas também, realizando uma série de outras ações junto a eles. Essas ações atraem o patrocinador para junto do clube e da torcida, cria uma identidade com o dube e agrega valor aos contratos. Utilizações como camarotes para os patrocinadores, promoções, ações nos intervalos de jogos, têm o objetivo de fidelizar esse patrocinador, e dar mais ferramentas para que ele consiga expor sua marca. Ao gerar mais retomo, o patrocinador buscará renovar seu vínculo com o clube. Isso abre espaço para a renegociação de valores e pode-se incluir cláusulas de premiações caso sejam atingidos certos objetivos pré-determinados (como a conquista de títulos, por exemplo). Obviamente que a situaçao descrita acima se encaixa apenas para clubes grandes, que obtém maior espaço na mídia e com isso podem barganhar mais com seus patrocinadores. Entretanto, a realidade da grande maioria dos dubes brasileiros (pequenos e médios) é de baixa visibilidade. Isso se traduz na dificuldade para encontrar patrocinadores interessados em investir neles. E quando isso ocorre, as cifras não são tão chamativas quanto nos grandes dubes. O caminho que esses clubes encontraram para 38 tentar obter maiores receitas é firmar contratos com diversos patrocinadores. A utilização da frente (parte mais "nobre" da camisa) já não é suficiente. Esses clubes começam a utilizar as costas, mangas e shorts de seus uniformes na ânsia de divulgar diversos patrocinadores. Contudo, essa estratégia pode acabar resultando no inverso do esperado. Ao divulgar diversas marcas em seu uniforme, um clube não dá a empresa o que ela mais quer: visibilidade e reconhecimento. As marcas se tomam apenas borrões que dificilmente conseguem ser vistos. Assim, um clube com diversos patrocinadores tende a desvalorizálos, o que significa sempre obter quantias menores do que realmente poderiam gerar caso mantivessem apenas um patrocinador. Uma posslvel saída para esse impasse é manter diversos patrocinadores, porém não amontoá-los todos no uniforme de jogo, mas sim distribuí-los entre uniforme de jogo, uniforme de treino, uniforme da comissão técnica, placas no estádio, backdrops, banners e outros tipos de divulgação. Hoje, os clubes já estão se utilizando do patrocínio esportivo de outra forma, não apenas para obtenção de receitas junto aos patrocinadores. O caso emblemático foi o Barcelona, que nunca havia usado um patrocínio em seu uniforme e quando finalmente o fez, estampou o logotipo da UNICEF. Ao invés de receber para estampar o logo, o clube espanhol irá destinar €1 ,5 milhões para o fundo de ajuda. Apesar de não obter ganhos diretamente com o patrocínio, o Barcelona reforça sua marca ao utilizar tal ação social, ao redor de todo mundo, e pelos cálculos, conseguirá obter lucros com a venda das camisas. De qualquer fom1a que seja o patrocínio, cuidados devem ser tomados, tanto por parte dos clubes, como por partes das empresas patrocinadoras, para que os objetivos de cada um sejam atingidos. Por exemplo, os patrocinadores devem zelar para que realmente suas marcas sejam exibidas (não haverá exibição nenhuma de uma marca no calção se os jogadores utilizam a camisa por cima deste). Ademais, as empresas devem buscar clubes que, como entidades, transmitam credibilidade, e como equipe tenha comportamento exemplar dentro do campo (sem agressões, gestos obscenos e que tratem torcedores e imprensa com simpatia). Esses cuidados devem ser tomados pelas empresas, mas os principais interessados nisso são os clubes e são eles que devem controlar todas essas variáveis. Por outro lado, os clubes precisam analisar as empresas que lhes propõem um contrato, para não ocorrer como o Real Madrid que perdeu um patrocínio, pois a empresa foi à falência (BENQ). Por fim, vale ressaltar que acima de todas as ações que os clubes tomam, eles devem buscar sempre resultados. Afinal, vitórias e conquistas de títulos se traduzem em reportagens de televisão, internet, jamais e revistas e isso leva a uma maior visibilidade e conseqüentemente, retomo para o patrocinador. Patrocinador satisfeito indica novos negócios, por tempos maiores e/ou maiores valores. Uma vez que os times consigam garantir uma visibilidade para seu patrocinador, vale focar na coordenação das campanhas, não se restringindo apenas a estampar a marca do patrocinador, mas sim, de fato, se relacionar com ele, gerando valor tanto para a empresa quanto para o clube. 2.5.2- Licenciamento "O licenciamento é um método contratual para desenvolver e explorar a propriedade intelectual pela transferência do direito de uso para terceiros sem a transferência de propriedade. Os 'terceiros' nesse caso são os licenciados, as empresas que fabricam os produtos" (Shem1an apud MULLIN, SUTION e HARDY, 2004, p.112). Ao falar de propriedade intelectual nos referimos a marcas e patentes, por exemplo, que serão exploradas apenas pelo uso de sua imagem. A utilização das marcas dos Clubes pode (ou não) estar relacionada ao esporte em si: equipamentos de jogo (camisas, luvas, shorts), jaquetas, bonés, gorros, canetas, cademos, relógios, chaveiros, abridores de garrafas entre muitos outros são todos produtos licenciados. O licenciamento de marcas é um dos 39 negócios mais rentáveis para os clubes (quando bem administrado), porém no Brasil ainda engatinha. Apenas para se ter uma idéia, em 2004 o jomal esportivo Lance! publicou uma matéria dizendo que a apresentadora de televisão Eliana faturava nove vezes mais com licenciamento do que todos os clubes de futebol brasileiro juntos. Os contratos de licenciamento ocorrem entre os clubes de futebol e as empresas licenciadas e são feitos com o intuito de que ambas as partes possam se beneficiar dessa transferência de direito de uso da imagem: as empresas licenciadas produzem artigos relacionados aos clubes e, se beneficiando da grande aceitação que eles têm na sociedade, conseguem observar um aumento de suas vendas e conseqüentemente, um aumento de suas receitas. Já os clubes, ao cederem sua imagem para as empresas licenciadas conseguem aumentar a gama de produtos que levam sua marca, e ainda recebem royalties (porcentagem sobre a venda) pagos pela empresa licenciada, em uma espécie de pagamento pelo uso da marca. Ou seja, o licenciamento de produtos é outra forma de captação de receitas, com pouco risco (visto que quaisquer problemas de produção recaem sobre o licenciado), pelos clubes junto a seus torcedores. Esses torcedores adquirem produtos de seus clubes por motivos diversos: seja pela qualidade do tecido (mais apropriada para a prática esportiva), para se sentir parte da torcida, levar uma lembrança de um jogo importante ou apenas para demonstrar seu clube do coração. Para maximizar essa obtenção de receitas, os clubes devem manter em mente um conceito já citado ao longo desse trabalho: a segmentação de clientes. Relembrando o conceito da escada de MULUN, SUTTON e HARDY (2004), os clubes não podem apenas focar nos heavy users. Obviamente, eles serão os que consumirão a maior quantidade de produtos, porém, os clubes devem se lembrar que sua torcida é formada por uma multiplicidade de pessoas, dos mais diversos gostos e das mais diversas idades. Assim sendo, é necessário criar diferentes linhas de produto, com logotipos e mascotes atraentes: alguns torcedores podem preferir artigos mais "fashion" ou chamativos, enquanto outros podem preferir se ater aos modelos clássicos. As mulheres, muitas vezes "marginalizadas" quando o assunto é futebol, respondem por uma boa fatia do mercado de artigos licenciados. Isso equivale a dizer que os clubes poderiam investir mais em produtos voltados para esse público, com linhas mais femininas e também artigos próprios para elas üóias, bijuterias, roupas de ginástica). Outro público que deve ser tratado com bastante atenção pelos clubes são as crianças e os jovens: chamar atenção desse público, oferecendo produtos apropriados para suas preferências, garante aos clubes uma base de consumidores futura. A escolha de quais itens produzir deve ser feita em conjunto entre o clube e seus licenciados, seguindo os 4 A's, já explicados na seção 2.1 desse trabalho. Primeiramente, na função Análise, os clubes devem entender o mercado e seus consumidores (torcedores) e reconhecer suas preferências. Essa talvez seja a tarefa mais complicada para os clubes, uma vez que eles não possuem nenhum tipo de informação acerca de seus clientes. A melhor forma de adquirir tais dados seria fazer pesquisas de mercado, uma forma barata e prática. Depois de conhecido seus mercados-alvos, os clubes passam para a função seguinte: Adaptação. Essa fase consiste em criar um produto (ou atribuir novas funções para produtos já comercializados pelo clube) com base nas informações obtidas na primeira etapa, visando atingir a maior parte do mercado alvo, maximizando a satisfação dos consumidores e as receitas dos clubes. Um artigo que vem demonstrando boa aceitação pelos torcedores são os terceiros uniformes, que não necessariamente utilizam as cores do time. Obviamente, nunca será possível agradar a todos os torcedores, porém, se compararmos a parcela que é contra a utilização de cores ''fora do padrão" com os entusiastas que gostam da inovação, a primeira é muito menor. Posteriormente, cabe ao clube e as empresas licenciadas a função Ativação. Não basta ter o melhor produto se o seu mercado consumidor não sabe da existência dele. Por esse motivo, o local de venda do produto deve maximizar sua exposição. A escolha desses locais deve ser tomada de forma consciente, pois tem implicações de longo prazo, uma vez que são mais difíceis de mudar 40 do que outros atributos do produto (preço, promoções). Cabe aqui uma ressalva: assim como os produtos, os canais de distribuição têm que seguir uma lógica junto aos produtos. Não se pode oferecer diferentes produtos nos mesmos locais de produção. Produtos de valor agregado mais baixo devem procurar canais de distribuição em massa, como supermercados. Já produtos com maior valor podem ser vendidos em lojas especializadas. Da mesma forma que se segmenta sua linha de produtos para atingir os diversos mercados alvo, a distribuição também deve ser segmentada, novamente se baseando pelos mercados existentes e pelo tipo de produto. Por fim, o clube precisa avaliar (último A: Avaliação} os resultados obtidos com o lançamento desse(s) produto(s) para decidir se continua produzindo-o(s) ou se mudará de estratégia, lançando outros produtos. Apesar de ser uma forma de geração de receitas relativamente simples, o licenciamento de produtos no Brasil sofre com um grande inimigo: a pirataria. Estima-se que para cada camisa oficial dos clubes vendida, são vendidas entre 2 e 3 camisas piratas. Isso quer dizer que um clube deixa de ganhar cerca de R$ 400 mil de royalties por ano. Quando falamos de camisas da seleção brasileira os números são piores ainda: a estimativa otimista é de que para cada camisa oficial da seleção, existe uma pirata. Para tentar driblar esse empecilho, e assim começar a gerar mais receitas, os clubes podem agir de algumas formas: primeiramente, podem buscar oferecer camisas populares. Essas camisas seriam oficiais, porém não seriam produzidas pela fornecedora de material esportivo do clube (e, portanto não levariam seus logotipos), utilizando materiais mais baratos, reduzindo seu custo de fabricação e conseqüentemente o preço final. Mesmo com essa redução, dificilmente o preço final se iguale ao preço cobrado por uma camisa pirata. Porém, um preço mais acessível, próximo ao do modelo não oficial, junto com uma campanha esclarecendo que esse valor a mais estaria ajudando o clube já poderia surtir um efeito grande no público de mais baixa renda, tomando-os consumidores dos clubes e não mais de produtos informais. A fornecedora de material esportivo poderia atuar como selecionadora da empresa que iria confeccionar as camisas populares, estabelecendo parametros de qualidade para assegurar que os produtos mantenham um padrão. Como dito anteriormente, há de se lembrar que um produto mais barato não deve ser vendido nos mesmos locais que as camisas oficiais. Afinal, o público que busca uma camisa mais barata dificilmente freqüentará as lojas de material esportivo que vendam camisas oficiais. Ou seja, locais de distribuição em massa, como redes de varejo, por exemplo, seriam mais adequados para a venda de outros produtos. Segundo, os clubes podem estimular seus torcedores a adquirirem camisas oficiais através de promoções. Alguns clubes já vêm se utilizando desse mecanismo ao trocar camisas antigas, ou até mesmo piratas, por descontos na aquisição de uma camisa nova, oficial. A meu ver, a melhor forma seria manter promoções como essa, constantes, porém sendo a troca válida apenas para camisas oficiais antigas por novas. Isso geraria um ciclo: os torcedores comprariam uma camisa oficial, já sabendo que no lançamento de um novo modelo conseguiriam um desconto por isso. Além disso, os clubes podem tentar negociar com ambulantes que vendem camisas piratas nos entornas dos estádios para se tomarem revendedores licenciados. Fica claro que para que isso ocorra, há a necessidade de que o clube ofereça produtos de menor custo, visto que não adiantará de nada caso os ambulantes se vinculem ao clube, porém vendendo apenas camisas oficiais. O público de baixa renda ficará sem opções da mesma forma e acabaram não consumindo esse produto, procurando outros piratas. Apesar do problema da pirataria que é uma realidade no futebol brasileiro, os clubes se vêem prejudicados por outros dois motivos, também já expostos anteriormente: a necessidade de resultados e a falta de idolos. O primeiro parece óbvio: um time vencedor, com maior espaço na mídia consegue criar mais produtos e chamar a atenção de seus torcedores. Além do mais, torcedores satisfeitos com a conquista de seu time irão ter mais vontade de demonstrar sua associação 41 a ele, assim, consumindo mais produtos licenciados. Criar produtos na seqüência de uma conquista já é algo que está se tomando uma realidade nos grandes clubes brasileiros. Porém, a gama de produtos ainda não é muito extensa. Normalmente são sempre os mesmos: camisas comemorativas e OVOs sobre a conquista. É um começo, porém ainda é pouco. Ademais, o sucesso dentro de campo não pode ser controlado. Ou seja, os clubes precisam transformar seus clientes em consumidores freqüentes, independentemente da conquista ou não de um campeonato. O outro problema, como já citado, é a falta de ídolos no futebol brasileiro. Os jogadores estão saindo do país cada vez mais cedo, pois os clubes necessitam transacionálos para conseguir fechar o ano sem que haja um déficit muito grande em suas contas. Porém, como já frisado, essa é uma visão muito pequena e demonstra o pouco preparo de nossos dirigentes para lidar com assuntos econômicos. Um produto que estampe o rosto de um jogador famoso, de um ídolo do time venderá muito menos que um item genérico. Manter ou contratar um grande jogador pode gerar um retomo financeiro em diversas ações de marketing (entre elas o licenciamento), compensando os gastos da contratação (ou superando o preço pelo qual seria vendido). Tal fato seria bom tanto para o clube quanto para o jogador, que também poderia receber uma porcentagem das vendas. Ou seja, novamente nos vemos diante de um ciclo: o clube mantém o "craque" (ou o jogador decide não sair), o toma um ícone de vendas, gera receitas com a venda de produtos, clube e jogador lucram. Ao término do ciclo, o clube terá mais receita, possibilitando competir com ofertas de clubes estrangeiros, e o jogador também pensará duas vezes antes de deixar o clube que também gera receitas para ele. Mesmo que o clube conseguisse manter seus melhores jogadores, alguns cuidados devem ser tomados. O jogador deve criar um vínculo, não apenas com o clube, mas também com seus torcedores. Por esse motivo é importante a manutenção de um padrão na numeração dos jogadores. Isso faz com que um torcedor, ao comprar a camisa estará, indiretamente, comprando a imagem do jogador, as características que ele deu ao número em suas costas. Vale lembrar que o futebol é um produto movido por paixões, sensações, sentimentos e que cada pessoa terá diferentes reações aos mesmos estímulos. Se um jogador escolhe um número em determinada temporada, troca por outro na seguinte e posteriormente para um terceiro, a torcida nunca assimilará a identificação desse jogador com algum número (até porque houve pouco tempo para tanto) e isso pode fazer com que se observem vendas menores. O licenciamento de produtos também abre espaço para outros tipos de ação. Os clubes podem se associar a diversas empresas e então abrir lojas específicas para a venda de seus produtos. Essas lojas podem se situar dentro do próprio estádio dos clubes ou nas redondezas. Ao centralizar todos os produtos, os clubes acabam atingindo a maior parte de sua torcida, visto que os diferentes mercados procuraram produtos específicos, porém sempre no mesmo local. O que vimos até o momento é o modelo de licenciamento "clássico", onde os clubes cedem, mediante contrato, o direito de utilização de suas marcas para outras empresas produzirem diversos artigos utilizando-se de escudos, símbolos e mascotes dos clubes. Ao fazer isso, as equipes deixam de ter o controle em diversas variáveis dos produtos, como por exemplo, o preço. Esse modelo é interessante, pois os clubes não têm competência suficiente, nem know-how para a fabricação e distribuição dos artigos e essas responsabilidades são repassadas para as empresas licenciadas. Porém, existe outra forma de se tratar os licenciamentos, e deixar de depender de empresas licenciadas. Parece um paradoxo, visto que não haverá o terceiro responsável pela utilização da marca para produção de itens. É o chamado licenciamento verticalizado. Na Europa já é mais utilizado, enquanto no Brasil, apenas um clube adota tal prática (Cruzeiro). Nesse caso, o clube se toma responsável pela produção e comercialização dos produtos. Por um lado, é interessante, pois se tem um maior controle dos produtos comercializados, com um controle de qualidade maior e também as receitas geradas serão maiores, visto que o clube não 42 receberá uma parcela dos royalties, mas sim o valor inteiro da venda. Por outro, assume-se um risco maior, devido ao maior investimento (tanto de estrutura como de capacitação). Qualquer seja a maneira adotada, os clubes devem sempre se lembrar que o licenciamento é uma poderosa ferramenta de marketing esportivo e atingem diretamente aos torcedores. A capacidade de criar os mais diversos tipos de produtos, desde chaveiros até poltronas reclináveis, faz com que os clubes possam atingir os mais diversos tipos de consumidores, desde aqueles de baixa renda, até os que estão dispostos a pagar mais por artigos que os conectem ao seu clube do coração. E é exatamente nessa segmentação que os clubes devem se focar e oferecer a maior gama de produtos. Porém, não se deve esquecer que todos esses produtos levarão a marca do clube. Por esse motivo, independente do modelo de licenciamento (através de terceiros ou verticalizado) deve haver uma política de controle de qualidade dos produtos, evitando expor e desgastar demasiadamente a imagem do clube, o que seria exatamente o oposto do que se busca no licenciamento. 2.5.3- Estádio e Arena Multiuso O futebol, assim como qualquer esporte, necessita de uma instalação que será o local onde serão realizados os jogos. Os estádios são o ponto de encontro entre os clubes e suas torcidas. Da mesma fonna que o evento em si deixa imagens e recordações na mente dos torcedores, com o estádio acontece o mesmo, visto que ele foi o palco que possibilitou tal êxito. Ademais, os estádios propiciam que os torcedores tenham um contato mais próximo com seus ídolos, podendo vê-los ao vivo, não apenas pela televisão. Como vivemos uma época de escassez de ídolos, há a necessidade de se investir cada vez mais nos estádios, visando gerar um espetáculo mais agradável ao público. A princípio, o que podemos falar sobre os estádios é que eles são fundamentais para qualquer clube que busque uma maior conexão com seus torcedores, aumentando a satisfação dos mesmos e fidelizando-os. Isso quer dizer que os estádios podem se tomar uma anna poderosa (se utilizados de maneira correta) para atração e manutenção de um público cativo, transfonnando-os em consumidores e finalmente sendo um catalisador de receitas para os clubes. Isso posto, é difícil imaginar como muitos grandes clubes brasileiros ainda não têm estádios próprios. Como veremos mais adiante, clubes como Cruzeiro, Atlético Mineiro, Corinthians, Flamengo entre outros perdem receita (ou deixam de ganhar) pelo fato de não possuírem um estádio próprio. Diversos são os pontos que devem ser levados em conta em um estádio, seja durante sua construção, seja durante seu funcionamento. As decisões acerca da localização podem ser tratadas como as mais importantes, pois, uma vez construído, o estádio não poderá ser mudado. Pontos importantes aqui são: facilidade de acesso, segurança, boas instalações, arquitetura. Quando falamos sobre facilidade de acesso, na verdade tocamos em duas variáveis: o acesso até o estádio, e posteriormente para dentro dele. Os clubes não devem esquecer que uma partida de futebol atrai milhares de pessoas e que todas elas devem poder chegar tranquilamente até o estádio e depois encontrar seus assentos de fonna fácil e rápida. Isso equivale dizer que os estádios devem se situar em locais de grande trânsito, com ruas amplas e grande acesso via transporte público (seja ônibus ou metrô). O estádio também deve possuir um amplo estacionamento para comportar os torcedores que decidam ir com seus próprios carros. Já no estádio, as catracas devem ser em número suficiente e os corredores largos o bastante para evitarem filas dos torcedores. O estádio deve se situar em um ambiente que transmita segurança para os torcedores. Um ambiente familiar é capaz de atrair torcedores, que não terão preocupações em sair de casa para assistirem o jogo de seus clubes. Se, por outro lado, os arredores não 43 transmitam tal sentimento de segurança, os torcedores não se sentirão motivados a freqüentarem o estádio, deixando de ir e, conseqüentemente, diminuindo as receitas dos clubes. A questão da segurança dentro do estádio também é importante para coibir confrontos entre torcidas, o que certamente afastará outros torcedores. "Se o comprador potencial achar que o n·sco de comprar é muito grande, a compra não setá feita" (CONTURSI, 1996, p.79). A construção do estádio deve ser tal que todos os locais possuam uma boa visão do campo de jogo. Mesmo os lugares mais altos devem oferecer uma visao, que seja ao mesmo tempo completa, porém não muito distante dos jogadores. O ideal é que os assentos sejam numerados, assim os torcedores poderão chegar apenas alguns minutos antes do jogo tendo a certeza de que seu local estará assegurado. Esses lugares devem oferecer um conforto mínimo para os torcedores, para que não se sintam incomodados durante a partida. Afinal, o torcedor deixou o conforto de sua casa para estar ali prestigiando o time de forma mais próxima. Por fim, os clubes devem ter em mente que o estádio deve ter diversos outros atrativos. Ou seja, diversas outras instalações devem ser aliadas ao evento esportivo, como por exemplo, possibilidades de alimentação diversas e lojas com produtos dos times. Após a construção do estádio, os clubes devem zelar por manter seu patrimônio e conseqüentemente a satisfação dos torcedores. A infra-estrutura deve sofrer manutenções periódicas, visando sempre manter o conforto, comodidade, segurança e higiene para seus torcedores. Ademais, deve-se ter grande cuidado com a forma como os torcedores são recebidos e tratados dentro do estádio. Os funcionários operacionais (lojas, lanchonetes, bilheterias) são os que mantêm contato mais direto com os torcedores e por isso devem buscar ser cordiais todo o tempo, para que os torcedores se sintam bem ali. Para aumentar ainda mais a satisfação dos torcedores, eles podem ser contemplados com brindes, atrações e/ou promoções durante o jogo. Como se pode ver, os estádios brasileiros, em sua maioria, estão muito longe do que foi dito. "No Brasil, o normal é o torcedor encontrar um bar sujo e caro que ofereça cerveja e refrigerante quente. As condições de alimentação também são horriveís e as lojas licenciadas, salvo raras exceções, são /imitadas ou inexistentes" (Cardia, 2004, p.96). Diante de todos esses aspectos, fica claro que é difícil cobrar um preço elevado para o espetáculo futebol. Vimos na seção 2.3 que as receitas de bilheteria são a menor fonte de receitas para os dubes, respondendo por 8% do total. Diante de tal fato, podemos levantar duas hipóteses: ou os ingressos são muito baratos, tendo assim pouco efeito no montante total das receitas dos clubes; ou os estádios brasileiros estão recebendo poucos torcedores. Ou ainda, tal porcentagem pode demonstrar uma mistura dos dois fatores. As tabelas abaixo demonstram os resultados de alguns clubes, no que se refere à ocupação dos estádios quando mandantes e ao bilhete médio dos jogos. 44 Tabela 8: Taxa de ocupação dos estádios Clube Taxa de Ocupação do Estádio 2004 2005 2006 2007 39% 78% 45% 57% ND ND 43% 56% Flamengo 46% 48% 18% 46% Santos 64% 47% 47% 41% São Paulo 12% 12% 33% 41% Atlético - PR 41% 36% 33% 39% Internacional 17% 31% 39% 32% Cruzeiro 7% 18% 18% 28% Atlético - MG 12% 23% 38% 27% 9% 78% 14% 20% Corinthians Náutico Fluminense Fonte. Tabela elaborada por Felipe Za1a, 2008 Tabela 9: Bilhete Médio Bilhete Médio Clube 2007 2008 Palmeiras R$15.70 R$ 28.77 São Paulo R$ 12.45 R$ 21.37 Grêmio R$14.06 R$18.93 Goiás R$10.38 R$17.89 Atlético - PR R$ 18.21 R$ 16.97 Flamengo R$ 12.12 R$16.62 Vasco R$ 10.61 R$ 15.91 Cruzeiro R$ 9.47 R$ 15.21 Internacional R$13.47 R$13.80 Sport R$ 9.75 R$ 13.02 Santos R$ 11.89 R$12.21 Fluminense R$14.27 R$11.73 Atlético- MG R$ 9.30 R$11.49 Botafogo R$14.70 R$11.18 Náutico R$ 12.13 R$10.82 Figueirense R$ 7.76 R$7.46 Fonte. Tabela elalx>rada por Fehpe Za1a, 2008 45 Podemos perceber pela primeira tabela que nossos estádios recebem pouco público, sendo o melhor resultado, dentre os quatro anos, o do Corinthians em 2005, com 75% da capacidade do estádio preenchida. Porém, deve-se lembrar que a maioria dos jogos do time alvinegro como mandante foi no Pacaembu, que não é um estádio muito grande. A seguir, podemos observar o bilhete médio. Esse valor não se refere apenas ao ingresso comprado pelo torcedor, mas também todos os elementos que compõem a estada de um torcedor no estádio. Ou seja, alimentação, souvenires, estacionamento (caso haja). Notamos também que os valores são muito módicos, o que nos leva a concluir que os torcedores gastam pouco em sua ida aos estádios. A maior parte dos torcedores presentes hoje nos estádios é de classes mais baixas, e, portanto sua atuação se limita a buscar o ingresso mais barato e consumir pouco devido a suas restrições orçamentárias. Os clubes precisam aprender a tirar proveito de todo o potencial que um estádio lhes oferece. Novamente, vale o princípio da segmentação, já exposto anteriormente. Os clubes devem buscar satisfazer todo tipo de torcedor: desde aqueles mais fanáticos que realmente preferem estar na arquibancada e sentir a vibração no meio da torcida, até aqueles mais restritos, que preferem assistir o jogo tranquilamente, sentado numa poltrona. Dessa forma, será possível atrair mais torcedores, aumentando as receitas. Porém, vale lembrar um ponto: para se cobrar mais, há de se ter melhor organização. É baseado nesses princípios que muitos clubes estão alterando sua forma de olharem os estádios. Agora, não basta apenas ter um grande monumento erguido, voltado exclusivamente para o futebol. Cada vez mais o conceito de arenas multiuso vem substituindo o conceito de estádio. Segundo AFIF (2000, p.100): "uma arena multieventos é caracterizada como um espaço dotado de estrutura física e logística que viabHiza a realização de um leque variado de eventos esportivos, musicais e de entretenimento em geral. Um estádio com objetivo comercial acaba por se tomar um moderno centro de lazer, pois abriga lojas, serviços e estruturas para a realização de diferentes atividades". Contando com um complexo dessa forma, os clubes podem faturar realizando shows, criando um auditório e alugando para empresas, e até mesmo levando espetáculos como teatro para dentro do estádio. Pode-se também criar um shopping Center dentro do próprio estádio. Outros pontos que atraem diversos torcedores são a criação de um museu com histórias e artigos do clube, relembrando assim todos os momentos de glória que o time já viveu e a abertura de lojas com produtos licenciados dos clubes, possibilitando ao consumidor comprar todos os produtos de seu time em um só local. A idéia de se manter uma arena multiuso é de ter o estádio aberto sete dias por semana e lucrar com ele de todas as fonnas: aluguel de espaço, visitas guiadas pelo estádio, visita ao museu, compra nas lojas. Além disso, se houvessem bares ou restaurantes bem estruturados, esses poderiam ficar abertos também quando não houvesse jogos. Também podem ser vendidos espaços para diversas empresas (patrocinadores ou não) para que pudessem exploração do estádio. Imagino ao invés de comprar um assento no setor laranja, comprar o mesmo assento no setor Coca-Cola ou no setor IBM do estádio. Outra forma que os clubes podem utilizar para gerar receitas é um contrato de naming rights. O naming rights é totalmente banal na Europa, e consiste em uma empresa "dar seu nome ao estádio". No Brasil, ainda não se criou essa cultura, e até o momento temos apenas um desses contratos: a Kyocera Arena, ou como era conhecida antes do contrato, Arena da Baixada, estádio do Atlético - PR. O contrato de naming rights é vantajoso para o clube, pois gera receita ao longo dos anos com pouco esforço. Porém, da mesma forma como se trata um patrocínio esportivo, alguns cuidados devem ser tomados num contrato de naming rights, lembrando-se que este deve ser vantajoso tanto para o clube quanto para a empresa patrocinadora, que busca maior visibilidade da sua marca. O primeiro problema que vemos se refere à imprensa brasileira, que mesmo o estádio sendo batizando com o nome da empresa se recusa a dizer seu novo nome. A desculpa é que estaria fazendo propaganda gratuita para determinada empresa. Segundo, deve-se levar em conta que os torcedores criam vínculos com os estádios, e mudar esses vínculos não é uma 46 tarefa simples. A eficiência de um contrato de naming rights é maior quando falamos sobre um estádio novo, já que nomes tradicionais estão gravados na cabeça dos torcedores. Além disso, e principalmente, os clubes devem focar em melhorias para os dias de jogos. Deve-se oferecer comodidade, segurança, limpeza, além de diversos serviços pelos quais os torcedores podem optar. A segmentação deve ser seguida, tendo em mente que torcedores mais freqüentes buscam economia, enquanto os esporádicos optam por conforto. Novamente, entender seus clientes é fundamental para que se possa oferecer produtos que satisfaçam as necessidades de cada tipo diferente de torcedor, o que aumentará as receitas obtidas. Os clubes brasileiros vêm descobrindo lentamente o filão dos camarotes e cadeiras em seus estádios. A locação desses espaços garante rendas mesmo que o clube não jogue, ou mesmo que o estádio não esteja cheio. Ademais, esses locais atraem um público diferenciado, com maior poder aquisitivo, que não está acostumado a freqüentar jogos de futebol e tem vontade e dinheiro para gastar. Porém, obviamente que esses torcedores não se contentarão com os mesmos serviços dispostos para o resto do estádio. Os camarotes são locais onde o ingresso é mais caro, mas o serviço oferecido é muito melhor: comidas, bebidas, telas de LCD, conexão com internet sem fio, para citar alguns exemplos. Contudo, não se pode apenas focar nesse grupo de torcedores. Há de se lembrar também daqueles que sempre estiveram junto do time, com chuva ou com sol. Eles também necessitam melhores condições para continuarem freqüentando os estádios: melhorar estrutura (resultando filas menores), melhores condições de higiene, assentos numerados, maior segurança e todos os aspectos já citados anteriormente e que não observamos nos estádios brasileiros hoje. Obviamente que todo esse investimento irá custar algo para esses torcedores, porém o preço é baixo para as melhorias observadas. Muitos são os críticos que, para se manter um estádio nesses moldes, o público de classes mais baixas será excluído do evento, sendo restringido a acompanhar os jogos de casa. Porém, como visto, os clubes devem buscar a segmentação das estruturas e serviços, dando possibilidades para diversos segmentos de torcedores, maximizando sua satisfação e assim gerando mais receitas (sem esquecer que esse é o ponto de chegada) . Assim, os clubes devem focar mais nos torcedores que tenham mais para oferecer em troca do espetáculo. O gráfico abaixo mostra a divisão de torcedores nos jogos do campeonato inglês: Gráfico 3: Distribuição por renda no campeonato inglês (2007-2008) Cl: 32% Fonte: Futebol e Negócio 47 Nota-se que os clubes ingleses focam principalmente as classes AB e C1, aquelas que geram mais receitas para eles. Há a presença de torcedores de classes mais baixas (C2, DE), mas são minorias. Isso faz com que as receitas obtidas em dias de jogos se tomem um componente importante na geração de receitas total dos clubes, como veremos mais adiante. A diminuição de público de classes mais baixas fez com que diminuíssem os casos de tumultos nos estádios e em seus arredores, aumentando a segurança daqueles torcedores que se dispõe a pagar mais pelo espetáculo. Pudemos notar que os estádios são uma ferramenta poderosa na obtenção de receitas. Porém, no Brasil, os clubes que dispõe de um estádio não o aproveitam de forma plena, se restringindo apenas a oferecer o jogo, sem nenhum outro atrativo para os torcedores. Isso resulta, como já vimos, em baixos públicos, com poucos gastos e que normalmente podem não cobrir os custos com manutenção do estádio para aquele jogo. A situação é ainda pior para aqueles clubes que não tem um estádio próprio. Apesar de não arcarem com custos de manutenção, tais clubes devem pagar aluguel para a utilização do estádio, além de terem de dividir a bilheteria com o dono do espaço (prefeitura ou outro clube) dentre outros fatores. Esses clubes também perdem no quesito identificação com a torcida. Por esses motivos que os grandes clubes começam a pensar no futuro e estão buscando parcerias para construção ou reformas de seus estádios. Tal necessidade se toma ainda maior tendo em vista a Copa de 2014 que ocorrerá no Brasil, o que faz os clubes se movimentarem de forma mais rápida buscando atrair alguns jogos para seus estádios. Palmeiras, Grêmio (construção}, São Paulo, Figueirense, Sport (reforma) são alguns dos clubes que já tem projetos para seus estádios. Tais obras, diferentemente do que ocorria no passado, não terão apoio nenhum dos cofres públicos. Os clubes buscam parceiros que entrem com o capital, enquanto os clubes cedem o terreno. Após o estádio concluído as formas de divisão das receitas variam de contrato para contrato: em alguns o clube recebe todo o valor da bilheteria e um percentual das estruturas presentes (shoppings, lojas, alimentação, auditórios, camarotes); em outros todas as receitas são divididas. Portanto, o estádio "deve oferecer uma experiência agradável, desde o acesso ao estacionamento, alimentação e compra de lembranças até comodidade e segurança" (AFIF, 2000). O estádio é necessário para que qualquer clube possa executar o mínimo referente a mark.eting esportivo e a fidelização de clientes. É nesse local que os clubes podem aliar todas as estratégias vistas até aqui: podem criar lojas com seus produtos licenciados e também aumentar a visibilidade de seus patrocinadores através de placas, banners, outdoors. 2.5.4- Internet e Mídia "No futuro, com o desenvolvimento da informática e a expansão do comerc1o eletrônico, acredita-se que a Internet poderá se transformar numa importante fonte de receitas, combinando a transmissão de partidas, o noticiário esportivo e a publicidade com o cadastramento dos torcedores e a venda de produtos e serviços diretamente ao grande público". (PRONI, 2000, p.229). Como podemos ver, a utilização da Internet e de outras mídias virtuais, já vinha sendo destacada como um aliado dos clubes na geração de receitas há quase uma década. Mesmo após esse tempo, o que vemos ainda é que os clubes ainda não sabem como aproveitar da melhor forma essa ferramenta. Principalmente a partir da década de 90, os avanços tecnológicos vêm ocorrendo de forma muito rápida. A cada poucos anos vemos o aparecimento de uma nova tecnologia que vem para substituir aquela que estava acabando de ser assimilada. A lntemet é um dos veículos que experimenta um crescimento mais vertiginoso, sendo acessada através de bilhões de computadores pessoais e empresarias ao redor do mundo. O advento da 48 conexão em banda larga concomitantemente ao aumento da base de assinantes faz dela uma importante ferramenta de marketing esportivo para os clubes. E aqueles que não acompanharem esse processo estarão perdendo grande espaço frente aos outros. "Os times que têm ambição de figurar entre os maiores de seu país e talvez do mundo precisam estar na rede mundial de computadores'; já previa AFIF (2000, p.127). A Internet cria um novo tipo de relação entre clube e torcedor: ao mesmo tempo em que os torcedores podem acessar informações dos times de forma mais rápida e dinâmica, os clubes podem se utilizar dessa fórmula para colher dados de seus consumidores e criar um banco de dados, permitindo assim ter uma base mínima do seu público alvo para definição de estratégias de mark.eting. Para que essa relação seja bem sucedida, os pontos chave que os clubes precisam focar são a interatividade e a atualização dos sites. Afinal, de nada adianta ter acesso a um meio de comunicação rápido sendo que as informações acessadas não são atualizadas. Ao mesmo tempo, há de se criar um ambiente interativo, onde os diferentes tipos de torcedores possam acessar diferentes tipos de informações de acordo com seu interesse. Ademais, essas informações devem ser confiáveis, para que o site adquira a confiabilidade do torcedor. Todos esses pontos sendo atendidos, os torcedores irão focar seu acesso aos sites oficiais do clube, ao invés de acessarem diversos outros sites em busca de informações do time. As informações presentes nos sites dos clubes não precisam se restringir a notícias atuais; os sites também podem conter a história do clube, seus principais ídolos, os maiores títulos conquistados, calendários de jogos e eventos realizados no clube, informações sobre os atletas dentre muitas outras coisas. O clube também pode disponibilizar conteúdos gratuitos, como wallpapers e screen savers, para que os torcedores possam customizar seu computador com os temas dos times. Além desse caráter informativo, os sites podem assumir um caráter importante na geração de receitas diretas para os clubes. O primeiro passo pode ser a inclusão de uma loja virtual no site, colocando-se a venda os produtos licenciados pelo time. Da mesma forma que situar uma loja dentro do estádio (como vimos na seção anterior) facilita a compra do torcedor, uma loja no site faz a mesma função: todos os produtos estarão ali, listados e organizados em um mesmo local, e o torcedor que estará no site lendo as notícias do clube pode se interessar e encontrar esses itens ali. O apelo de uma loja virtual pode ser ainda maior caso esta receba produtos exclusivos, disponíveis apenas pelo site. Isso faria com que os torcedores que quisessem adquirir tal produto, invariavelmente, se dirigissem para o site. O site também pode servir para que os torcedores comprem ingressos para os jogos em que o time for mandante. Tal comodidade evitaria o tempo gasto em filas, e os diversos incômodos causados pela compra "normal" do ingresso. Obviamente que tal ação seria mais bem sucedida caso os assentos dos estádios fossem numerados. A interatividade é o grande trunfo da Internet e os clubes devem se utilizar disso em seus sites. Incentivar o torcedor a votar em enquetes e decisões é um desses meios. Alguns clubes recentemente fizeram isso através de seus sites. As enquetes variavam desde a escolha da próxima camisa dentre alguns modelos pré-determinados até a decisão de quais os próximos produtos licenciados a serem comercializados. Outra forma é criar competições entre torcedores cadastrados no site, que concorreriam a algum prêmio no finaL Tais fatos fazem com que os torcedores se sintam parte do clube, com um "poder de decisão" dentro dele, o que acaba por fidelizar esse consumidor, não apenas ao site, mas também ao clube em geral. Da mesma forma que os clubes têm seus sites, os patrocinadores também o devem ter. Relacionar o site do clube ao site do patrocinador também é uma forma de geração de receitas para o clube. Obviamente que não direta nem imediata. Porém, ao fazer tal vinculação, o clube acaba por aumentar a exposição da marca do patrocinador, o que conseqüentemente pode alavancar maiores valores nas negociações de contratos. Essa ligação entre os sites não deve se restringir apenas a colocar um link que direcione para o 49 site do patrocinador. Oferecer produtos que podem ser comprados no site do patrocinador no próprio site dos clubes e promoções da empresa. Da mesma forma, o clube pode reivindicar tratamento semelhante junto a seus patrocinadores. Dessa forma, ambos estariam aumentando sua exposição, e trabalhando em conjunto poderiam experimentar aumentos significativos tanto nas vendas de produto quanto na exposição das marcas e também no recall delas. Até o momento, vimos que os sites podem se tomar um aliado importante para os clubes, dada as diversas maneiras que podem ser explorados. Uma página colorida, dinâmica, com notícias atualizadas, informações gerais do clube e loja virh.Jal tem tudo para se tomar um catalisador de torcedores e de receitas. As equipes também podem lucrar oferecendo seus sites como forma de divulgação de outras empresas, que em nada se relacionam com o dube. Seriam parceiros do site, ou parceiros virtuais. Os clubes negociariam diversos espaços em seus sites para estampar o logo dessas empresas como fonna de propaganda que direcionassem para os sites desses parceiros. Além da receita fixa (pela exposição da marca), o clube pode negociar também um percentual por clique. Ou seja: a cada clique sobre o logo da empresa parceira do site (e conseqüente direcionamento para a página da empresa), o clube receberia determinada quantia. Ainda, os sites atuam de forma intensa junto a fãs que não podem acompanhar seus times mais de perto, dando a oportunidade a eles de manter ou reforçar sua associação com os clubes. Não apenas os sites oficiais são uma fonna de exploração da Internet pelos clubes. Algumas equipes brasileiras (principalmente aquelas com grande massa de torcedores) descobriram uma possibilidade que já é uma realidade na Europa há muito tempo. As chamadas TVs por Internet (ou Web TVs ou TVs online) oferecem conteúdos em vídeos dos clubes via a rede de computadores. Os torcedores cadastrados têm acesso exclusivo a vídeos dos mais diversos assuntos referentes aos clubes: preleção, vestiários, entrevistas coletivas, treinos, concentração. Os clubes também podem disponibilizar as partidas ao vivo pelo site. Então, torcedores que não tenham uma televisão por perto poderiam acompanhar seus times via internet. Não apenas os jogos, mas todos os vídeos podem ser tanto acompanhados ao vivo pelos torcedores, mas também serão salvos para posterior consulta deles. Assim como os sites, as TVs online permitem que torcedores de diversas partes do país e até do mundo interajam com os clubes para que torcem, gerando um sentimento de inclusão. As formas de geração de receita aqui são semelhantes as do site: o clube pode lucrar seja cedendo espaço na página pela qual os torcedores acessarão os jogos, como também podem ser vendidos comerciais durante a transmissão do conteúdo. Além disso, alguns clubes podem cobrar de seus torcedores um valor referente à assinatura dessas TVs. Os clubes também podem procurar diminuir os custos dessa empreitada: realizar uma parceria com uma empresa especializada nesse tipo de mídia pode reduzir drasticamente os custos (ou extingui-los), em troca da divulgação da marca da empresa na página e durante a transmissão. Como vimos, a Internet oferece algumas oportunidades para que os clubes se comuniquem com seus torcedores (consumidores) e a partir desse contato possam gerar mais receitas. Porém, o avanço da tecnologia não aconteceu apenas no campo virtual. Outras fonnas de comunicação também se desenvolveram. A televisão, mesmo na época em que as transmissões eram em preto e branco, foi uma grande impulsionadora e difusora do futebol pelo mundo. Agora, com tecnologias muito mais avançadas e qualidade de som e imagens infinitamente superiores às das primeiras transmissões se tomam outro negócio rentável para os clubes. Os clubes precisam expandir as formas de receita junto a esse meio, não ficando restritos apenas as receitas referentes aos direitos de transmissão que recebem das emissoras. Por contrato entre Clube dos 13 e a emissora transmissora, cada clube tem um espaço de 30 segundos na grade de programação para divulgar videos institucionais. Esses vídeos têm como principal objetivo a divulgação e expansão das marcas dos clubes (que como vimos, é o ativo mais importante que eles detêm). Apesar de não gerar receitas 50 imediatas, a ampliação da visibilidade e maior reconhecimento do público se traduzirão em receitas futuras para os clubes. Posteriormente, os clubes podem ponderar em criar seus próprios canais de televisão. Essa prática também já existe na Europa, e os clubes que investiram nela conseguiram extrair diversas receitas. O canal próprio seria similar ao da Web TV, porém muito mais completo; os programas poderiam não se restringir apenas ao clube, mas tratar das competições envolvidas, negociações nos mercados de jogadores dentre tantas outras funções. Pode-se optar por canais de 1V aberta ou fechada {pay-per-view). No caso da TV aberta, os clubes conseguiriam receitas através dos comerciais e propagandas, enquanto que no pay-per-view, além dessa forma, lucraram com a assinatura dos torcedores. Por fim, outra forma de utilização tecnológica por parte dos clubes é a telefonia celular. Os aparelhos hoje são muito menores, com preços mais acessíveis e com diversas funções. Os celulares de hoje em dia podem acessar a Internet, alguns podem assistir televisao digital diretamente em seu visar, além das funções "básicas". Ou seja, os exemplos de utilização via internet e televisão expostos aqui anteriormente podem também ser acessados via celular. Porém, conteúdos exclusivos também são outra forma de utilização. Os clubes podem se associar às operadoras de telefonia e oferecer a seus clientes conteúdos exclusivos para customizar seus celulares. Isso incluiria: fundos de tela, toques com hinos do time, canções da torcida, vídeos, fotos etc. Além disso, os torcedores poderiam se cadastrar para receber informações/notícias dos times via mensagem de celular. Portanto, pode ser percebido que os avanços tecnológicos abriram outro segmento de atuação para os clubes interagirem com seus torcedores, a fim de obter mais receitas. Como todas as outras formas, as ações nos clubes brasileiros continuam insipientes e muito defasadas em relação a outros centros do futebol (principalmente Europa). Para utilizar de forma mais completa, vale lembrar dos princípios de segmentação e que os torcedores que decidem se conectar ao clube através desses meios primam pela rapidez e interação. Logo, essas são as variáveis que os clubes devem focar em qualquer que seja a ferramenta que decidirem explorar. 2.5.5- Sócio Torcedor Após a marca, o maior patrimônio de um clube é sua torcida. Afinal, os torcedores são os clientes/consumidores de todas as ações e produtos que o clube lançar. Por esse motivo os torcedores devem ser tratados com atenção diferenciada, buscando valorizá-los e manter uma ligação com eles que seja sempre incentivada e reforçada. Devido a isso, muitos clubes estão criando programas que focam a torcida. Além de serem consumidores, os torcedores também se tomam divulgadores da marca do clube. Esses são os programas de sóCio-torcedor. A idéia é simples, porém eficiente: atrair torcedores para os estádios, oferecendo diversos tipos de benefício. Em troca, o clube consegue: geração de receitas (com as mensalidades pagas) e aumento de público nos estádios (o que equivale a dizer que outras receitas serão ampliadas). Grande parte dos clubes aposta em programas de sócio torcedor com preços diferenciados, o que, evidentemente, advém de benefícios diferenciados para cada plano do programa. Tal ação dos clubes é muito interessante, visto que eles apostam na segmentação, tão importante para o sucesso de qualquer ação de marketing, como vimos anteriormente. Isso equivale dizer que os clubes estipulam valores e formas de pagamentos diferenciados de acordo com as possibilidades econômicas e benefícios buscados por cada torcedor (vale lembrar a segmentação por benefício do produto). 51 Os benefícios oferecidos vão desde produtos exclusivos até passar o dia do jogo com os jogadores, almoçar com o time, ouvir a preleção do técnico. Alguns programas não incluem o ingresso para os torcedores, mas lhes oferecem comodidades para a aquisição dos mesmos, como guichês exdusivos, e catracas especiais no dia do jogo, visando atrair esses torcedores com menos filas. Grande parte dos programas existentes inclui um cartão para diferenciar esses torcedores dos outros. Tal cartão tem dois objetivos distintos: primeiramente oferece descontos, não só no ingresso como dito anteriormente, mas também nos produtos licenciados do clube. Ele também pode servir como uma espécie de "milhagem" para os torcedores, que vão acumulando pontos para posteriormente trocar por brindes ou até artigos do clube de maior valor. Alguns cartões mais modernos atuam como um cartão de crédito: os torcedores podem comprar os ingressos com esse cartão, e o valor dos mesmos será debitado na próxima fatura. Também se pode utilizar a possibilidade de estender o programa para dependentes/familiares por uma taxa menor. Isso gera um efeito multiplicador não apenas no número de torcedores, mas também nas receitas geradas por eles. Além dos benefícios, os clubes podem desenvolver promoções para o sócio torcedor. Cobrar faltas ou pênaltis, tentar acertar um gol olímpico ou um chute do meio do campo são algumas das opções possíveis. Tais promoções fazem com que os torcedores se sintam motivados a continuar com o pagamento da mensalidade do programa, assim fidelizando-os e também mantém a torcida próxima, fazendo-os se sentir parte do time e podendo pisar no mesmo gramado onde seus ídolos atuam. Visando aumentar ainda mais a segmentação e buscando criar um público futuro, os torcedores podem oferecer programas de sócio torcedor também para seus torcedores mirins. O principal benefício para esse público é a possibilidade de entrar em campo junto com os jogadores, como os "mascotes~ do time. Os brindes oferecidos, obviamente, devem ser produtos licenciados voltados a esse público. Outra forma de atingir um público pouco presente nos estádios é oferecer benefícios para torcedores que morem fora da cidade do time. Assim, pode-se oferecer tanto benefícios {como descontos ainda maiores no ingresso e facilidades de compra e recebimento dos mesmos) para jogos do time como mandante, ou mesmo para quando o time for jogar na cidade dos torcedores. Os clubes também podem negociar com seus patrocinadores benefícios para seus sócio-torcedores. Assim, os descontos também incluiriam produtos do patrocinador. Além da óbvia maior satisfação dos torcedores, os clubes também gerarão receitas para seus patrocinadores, o que futuramente pode se traduzir em um contrato de patrocínio de maior valor, beneficiando o clube diretamente. Há de se lembrar que quanto mais uma ação de marketing estiver vinculada com outras, maior será seu resultado. Como vimos, existe a possibilidade de vincular os programas de sócio-torcedor com os patrocinadores e com produtos licenciados. A associação com o estádio também parece ser bastante clara. Mas também os torcedores cadastrados podem receber benefícios vinculados aos sites de cada clube: receber notícias por email, ter acesso a áreas restritas do site são apenas demonstrações que também se pode associar esses programas com ações via web. Diante de todos os pontos vistos, podemos afirmar que os programas de sócio torcedor também são uma alternativa rentável para os ctubes. Além da geração de receitas imediatas {mensalidades) os clubes também notarão um incremento nas receitas provenientes da venda de produtos e também nos dias de jogos. Porém, os clubes devem manter em mente que, assim como todas as formas de utilização vistas até o momento, o desempenho da equipe influi muito no andamento desses programas. Do mesmo modo, deve-se criar esses programas de forma a evitar gargalos estruturais. Problemas para atender os torcedores interessados e/ou os já cadastrados, dificuldade de comunicação, desinformação de pessoal, demora na entrega dos títulos, problemas na cobrança são apenas algumas possibilidades de falha possíveis, que caso aconteçam podem afastar o 52 torcedor definitivamente dos estádios. O efeito multiplicador, visto anteriormente como benéfico, pode atuar de maneira contrária, propagando a informação da ineficiência do programa e afastando não apenas um mas diversos torcedores. 2.6- Comparação com a Europa Por diversas vezes ao longo desse trabalho dissemos que as ações de Marketing Esportivo expostas já eram amplamente utilizadas na Europa. Quando falamos em Europa, nos referimos aos grandes centros futebolísticos do continente, a saber: Itália, Espanha e Inglaterra, basicamente, com Alemanha e França como um segundo escalão. Muitos falam que o Brasil é o país do futebol. Talvez até seja, quando tratamos do jogo dentro das quatro linhas. Porém, quando nos referimos ao negócio futebol, com certeza ainda estamos muito distantes desses países. Mas isso não quer dizer que o Brasil não possa estruturar seu futebol melhor, tomando-se um grande gerador de riqueza. O grande espelho para tanto é a Inglaterra, o país com o campeonato mais rico e recheado de estrelas do mundo, e que também já passou por algumas crises no esporte. Para analisar como os principais clubes europeus se utilizam das formas de Marketing Esportivo expostas anteriormente, recorreremos à ajuda dos relatórios da empresa Deloitte, chamados de Football Money League. Nos utilizaremos dos dados presentes nos relatórios de 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Cada relatório diz respeito à temporada encerrada no ano anterior. Ou seja: o relatório de 2004 traz os resultados da temporada 2002/2003, o de 2005 da temporada 2003/2004 e assim sucessivamente. Esses relatórios classificam os clubes de acordo com suas receitas (excluindo os impostos e os valores referentes à transferência de jogadores). As receitas são divididas em três grupos, de acordo com sua origem: mafchday (todas as receitas obtidas em dias de jogos ingresso, suvenires, estacionamento, alimentação etc), broadcasting (receitas obtidas com a venda de direitos de transmissão, para televisão, rádio, seja nacional ou internacional) e commen:ia/ (como o próprio nome diz provenientes da venda de patrocínios, produtos licenciados). Nota-se a necessidade atribuída para que os clubes busquem receitas perenes ao invés de se focar em outras que podem não ser recorrentes (como a venda de jogadores, por exemplo). Os clubes europeus tendem a ter uma divisão de suas receitas equilibradas entre esses três grupos, o que demonstra ser uma administração consciente, não focando e se tomando dependente de apenas um ou outro tipo de receita, visto que aquela que pode render muitos frutos em detenninado ano, no ano seguinte pode não ter um desempenho tão satisfatório. Por exemplo, na Europa, 20 anos atrás as receitas de matchday eram fundamentais para os clubes de futebol, enquanto 10 anos atrás as receitas de broadcasting eram mais importantes. Agora, os clubes começam a se focar em receitas comerciais, pois estes têm a possibilidade de maior crescimento frente aos outros dois. As tabelas abaixo demonstram os resultados dos cinco times mais ricos em 2008 para todos os anos citados anteriormente, e a composição de suas receitas, de acordo com os três grupos. 53 Tabela 10: Receitas dos 5 clubes mais ricos da Europa (em € milhões) Clube 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 Real Madrid 192,6 236 275,7 292,2 351 Manchester United 251,4 259 246,4 242,6 315,2 Barcelona 123,4 169,2 207,9 259,1 290,1 Chelsea 133,8 217 220,8 221 283 Arsenal 149,6 173,6 171,3 192,4 263,9 ' Dados. Delo1tte Football Money L1st, elaboração propna Tabela 11: Composiçllo das receitas dos clubes / 2004/2005 2003/2004 Matchday Broadcasting Commercial Matchday Broadcasting Commercial Real Madrid 26% 38% 36% 23% 32% 45% Manchester United 36% 36% 28% 42% 29% 29% Barcelona 34% 39% 27% 32% 38% 30% Chelsea 37% 39% 24% 38% 37% 25% Arsenal 29% 52% 19% 32% 42% 26% / 2005/2006 2006/2007 Malchday Broadcasting Commercial Matchday Broadcasting Commercial Real Madrid 26% 31% 43% 23% 38% 39% Manchester United 43% 27% 30% 44% 29% 27% Barcelona 30% 36% 34% 31% 37% 32% Chelsea 38% 34% 28% 39% 31% 30% Arsenal 33% 41% 26% 51% 25% 24% Dados. Oelottte Football Money L1st, elaboração propna ' Em 2005, podemos notar que os clubes selecionados mantêm uma divisão quase igualitária entre suas receitas, salvo o Arsenal que focava suas ações principalmente nas receitas de broadcasting. O clube espanhol Real Madrid, foi o que apresentou maior porcentagem nas receitas comerciais. O clube focava nesse grupo de receitas, pois possuía algumas das maiores estrelas do futebol mundial, como Ronaldo, Zidane e Beckham. Com tantos jogadores famosos, a idéia de gerar receitas explorando-os parece ser bem sensata, visto que eles são reconhecidos mundialmente e todos gostariam de ter uma infinidade de produtos ligados aos maiores craques do planeta. Por fim, o Chelsea foi o clube em que as receitas de matchday foram mais expressivas. Apesar de ter um estádio pequeno (com capacidade para 42.000 pessoas) o ticket médio do clube é muito alto, principalmente devido aos camarotes. Há ainda de se destacar o Manchester United que utiliza seu estádio (o Old Trafford) de todas as formas, e teve ingressos para todos seus jogos esgotados, o que se traduz em uma média de público de 67.000 torcedores (um recorde na Liga Inglesa). 54 O ano de 2006 presenciou a mudança da liderança da lista: após oito anos, o Manchester United é ultrapassado pela Real Madrid, que tem como principal combustível para sua arrancada as receitas comerciais, sempre se utilizando de seus craques como catalisadores para geração de receitas. As receitas dos merengues dobraram em quatro anos. Notamos ainda a manutenção da grande dependência do Arsenal em relação às receitas de transmissão e a grande força do Manchester United na utilização de seu estádio. Outro destaque em relação à utilização de seu estádio é o Barcelona, que teve média de público de 73.400 torcedores, sendo o maior de toda a lista daquele ano. Os resultados da temporada 2005/2006 parecem ser um espelho do relatório anterior. Vemos Real Madrid obtendo principalmente receitas comerciais, enquanto Manchester United e Arsenal focam em malchday e broadcasting, respectivamente. Já o relatório de 2008 traz algumas mudanças: o Real Madrid, além de ter o maior percentual de receitas commercia/ dentre os clubes analisados detém também o maior de transmissão também. Vemos também uma inversão brutal na composiçao das receitas do Arsenal, que antes era totalmente voltada para as receitas advindas da negociação das transmissões de jogos e nesse ano demonstra a maior porcentagem de receitas de matchday. Tal mudança se deve ao fato de que os "Gunners" inauguraram seu novo estádio, o Emirates Stadium, em parceria com a empresa de transporte aéreo Emirates. O novo estádio tem capacidade para 60.400 torcedores, muito superior aos 38.500 lugares do Highbury's (antigo estádio) e gerou 134,6 milhões de euros (enquanto no ano anterior no Highbury's, foram gerados "apenas" 63,8 milhões de euros). Cada time tem uma estratégia diferente e pode decidir focar em um ou outro grupo de receitas. Não é uma regra, mas os clubes ingleses normalmente se voltam mais para obter receitas advindas de matchday e commercial, tomando assim o negócio mais sólido e robusto (não a toa que no último relatório dentre os cinco mais ricos, três são ingleses}, enquanto clubes espanhóis e italianos optam pelas de broadcastíng visto que podem negociar cotas de transmissão individuais para as partidas em casa. Ainda tomando por base os relatórios da Deloitte, podemos notar como a manutenção de receitas equilibradas entre os três grupos é necessária para a constituição de uma atividade menos volátil. O gráfico abaixo demonstra a oscilação dos times por posição no ranking da lista: 55 Gráfico 4: Evolução da Posição dos Clubes na Lista -----· 1 2 • • 2007 2008 3 4 5 6 7 8 9 10 i 11 12 -1 13 2004 2005 -+- Real Madrid 2006 Manchester United --.--Barcelona - - Chelsea --*-- Arsenal Dados: Deloitte Football Money List; elaboração própria Como pode ser visto, clubes que tendem a estruturar suas receitas em matchday e commercial demonstram uma trajetória mais consistente (casos de Manchester e Real Madrid). Já o Arsenal, que como visto, durante um bom tempo concentrava grande parte de suas receitas em broadcasting possui uma trajetória muito oscilante. Cabe analisar o próximo relatório da empresa para constatar se o novo estádio contribuirá para uma escalada constante rumo ao topo. Outro clube que vale ser ressaltado é o Barcelona, que começa na 138 posição, e em cinco anos chegou à terceira. De acordo com as tabelas, pode-se perceber que em 2005 o clube catalão tinha 35% das receitas concentradas em broadcasting e apenas 24% em commercial. A partir do momento que foi equilibrando essa distribuição, começou a gerar mais receitas e, conseqüentemente, subir no ranking. Diante disso, podemos deduzir a importância de se ter um estádio e utilizá-lo da forma mais completa possível. Os estádios europeus em maior ou menor grau são modelos de como os estádios devem ser administrados. Porém, o maior exemplo ainda é o Old Trafford: chamá-lo apenas de estádio é um erro, visto que possui lojas, restaurantes, lanchonetes, bares, cafés e museu. "São servidas mais de duas mil refeições, não sendo apenas hot-dogs (80 mil por partida), mas sim pratos que chegam a custar 50 libras, servidos no restaurante com vista para o campo. O estádio também serve como veiculo de venda da revista do clube. Camarotes, suítes e lojas completam o leque de fontes de receita que o time explora em cada um dos 30 jogos que faz em seu estádio(.. .). Fora de dias de jogo, mais de 200 mil pessoas visitam o clube todo o ano, pagando 9 libras para conhecer o museu e o interior da arena" (AFIF, 2000, p.108). O Manchester ainda expandiu o Old Trafford para 76.000 lugares (sendo 2.400 novos camarotes, totalizando 8.000}, visando aumentar ainda mais suas receitas nos dias de jogos. Já na temporada 2006/2007 o clube teve a maior média de público das ligas nacionais européias, com 75.800 torcedores (taxa de ocupação de 99%). Agora Arsenal e Chelsea também estão investindo em suas arenas, em busca de obter resultados semelhantes aos do Manchester. 56 Porém, não apenas os estádios são grandes geradores de receitas para os clubes. Aqueles que conseguem ter apelo junto ao público (não apenas regional ou nacionalmente, mas também mundialmente) se beneficiam de receitas com a venda de produtos (commen:ial). Já aqueles que acabam tendo uma maior parcela de receitas advindas de meios de transmissão se tomam mais vulneráveis, visto que essas receitas estão muito vinculadas ao desempenho em campo: conforme o time avance em fases de torneios, mais receitas obtêm com transmissão. E como se sabe, não é possível garantir o sucesso dentro de campo todos os anos. Por esse motivo que os clubes devem se focar em matchday e commercia/ como geradores principais de receita e utilizarem aquelas de broadcasting como secundárias. 57 3- Anâlise do Marketinq em Clubes Brasileiros Até o momento vimos como o futebol se transformou nas últimas décadas, deixando de ser apenas uma atividade de lazer e se tomando um negócio e no capítulo anterior, foram demonstradas de que formas os clubes, na condição de empresas dentro do mercado do futebol, podem se valer de ferramentas de Marketing Esportivo, a fim de gerarem mais receitas, criando a possibilidade de fortalecerem sua marca e melhorarem suas condições estruturais e oferecer um produto melhor. O final do capítulo 2 trouxe uma análise da forma de geração de receitas de grandes clubes europeus, que são "empresas" administradas de forma profissional. Pode~se perceber que os grandes clubes do velho continente sabem como usar amplamente as ferramentas de Marketing de que dispõem e, por essa razão, os campeonatos mais ricos, com os melhores jogadores do mundo se encontram ali. Agora, cabe-nos trazer essa análise para o futebol brasileiro: verificar quais instrumentos de marketing os dubes brasileiros dispõem e analisar de qual forma esses dubes vêm utilizando essas ferramentas. Obviamente, não dispomos de meios suficientes para realizar tal análise com todos os grandes clubes do país. Dessa forma, foram escolhidos os 3 clubes paulistas de maior torcida: Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Além de serem os maiores clubes do estado de São Paulo no que se refere ao número de torcedores, são também aqueles que obtiveram maiores receitas nos últimos anos, dentre aqueles do estado. Quando olhamos para a totalidade dos clubes brasileiros, os clubes selecionados também têm uma posição de destaque, estando sempre entre os com maior receita. A tabela abaixo demonstra o total de receitas geradas pelos clubes selecionados no periodo entre 2003 e 2007 e sua respectiva posição no ranking. Tabela 12: Receita Operacional dos clubes em R$ mil (posição no ranking) Clube 2003 2004 2005 2006 2007 São Paulo 95.086 (1) 83.578 (2) 113.501 (2) 123.000 (1) 190.081 (1) Corinthians 55.502 (2) 100.269 (1) 99.442 (3) 94.900 (3) 134.627 (3) Palmeiras 50.570 (5) 76.663 (3) 76.133 (5) 74.300 (4) 86.290 (6) . - propna Dados. Fornecidos por Felipe Za1a, 2008, elaboraçao Podemos perceber, então, que os clubes selecionados além de representarem um grande percentual da torcida paulista também são significativamente importantes para a economia do futebol, não apenas paulista, mas também brasileiro. Assim, ao analisar esses clubes e como eles utilizam o Marketing Esportivo para geração de receitas, poderemos ter uma idéia aproximada do atual estágio de gestão empresarial nos grandes clubes brasileiros. 3.1 - São Paulo "O São Paulo Futebol Clube apresentou nos últimos anos uma administração diferenciada, que gradativamente foi aprimorando suas gestões administrativas e financeiras. O resultado desse trabalho esta sendo colhido dentro e fora do campo e hoje é indiscutivelmente o clube brasileiro de maior êxito em ambas as esferas" (lAIA, 2006, p.49). 58 Como vimos anteriormente, nos últimos cinco anos, o São Paulo sempre foi o primeiro ou segundo clube que mais gerou receitas no futebol brasileiro. Atualmente, o São Paulo Futebol Clube é um dos poucos clubes brasileiros que já perceberam a necessidade de desenvolver mais fortemente ações de Marketing Esportivo, não ficando restrito apenas as formas de receitas mais difundidas entre os clubes do país (direitos de transmissão e venda de jogadores). Obviamente que essas receitas ainda representam grande parte do total do clube, porém, já é possível notar um avanço no sentido de depender cada vez menos delas. A tabela abaixo demonstra de que formas o São Paulo obteve suas receitas nos anos de 2006 e 2007: Tabela 13: Composição de Receitas do Departamento de Futebol (em R$ mil) o/o do Var.% total 2007/2006 27.780 28,41% -10,53% 13,40% 18.248 18,66% 7,56% 5.174 3,53% 3.857 3,95% 34,15% Arrecadação de Jogos 12.464 8,51% 18.536 18,96% -32,76% Premiações em Campeonatos 1.650 1,13% 2.250 2,30% -26,67% Sócio Torcedor 3.534 2,41% 3.048 3,12% 15,94% Outras Receitas 3.015 2,06% 2.259 2,31 o/o 33,47% Repasse de direitos federativos 76.106 51,98% 21.789 22,29% 249,29% Total 148.426 100,00% 97.767 100,00% 49,77% Total -Venda de Jogadores 70.320 - 75.978 - -7,45% Futebol Profissional e de Base 2007 o/o do Direitos de Televisão 24.855 16,97% Patrocínio e Publicidade 19.628 Licenciamento e Franquias total 2006 Adaptado de. Futebol e Neg6cto Como já dissemos anteriormente, os valores da venda de direitos de transmissão e da venda de jogadores são, na média, as maiores fontes de receitas para os clubes, e como pode ser observado na tabela, o São Paulo se enquadra nesse cenário. Da mesma forma, já ressaltamos que pautar um planejamento levando-se em conta essas receitas é arriscado, uma vez que os valores obtidos através dessas fontes variam muito e podem facilmente ficar aquém do planejado, deixando assim o clube em situação pouco cômoda. Podemos observar que a transferência de jogadores no ano de 2007 experimentou um crescimento vertiginoso e foi praticamente 2,5 vezes maior do que em 2006, levado, principalmente, pela transferência do zagueiro Breno para o Bayer de Munique da Alemanha, que trouxe aos cofres do clube R$ 33,7 milhões. Porém, devemos ressaltar que excluindo-se as receitas com a venda de jogadores, o São Paulo teria experimentado, em 2007, uma receita total de seu departamento de futebol menor do que no ano anterior. Já no caso dos direitos de televisão, notamos uma queda na receita gerada de 2006 para 2007. Queda essa justificada, principalmente, pela eliminação precoce do clube paulista da Taça Santander Liberadores. Aqui se encontra outro ponto já advertido diversas vezes no decorrer desse trabalho: as receitas de televisão, apesar de serem de fácil ~obtenção" podem não ocorrer no montante esperado, e foi isso o que aconteceu. 59 Aliás, a eliminação na Libertadores não afetou o clube apenas no que se refere as receitas de direitos de transmissão. Receitas provenientes da arrecadação em dias de jogos também sofreram muito devido a isso, pois os torcedores são-paulinos idolatram a competição sul-amertcana e comparecem em grande número (média de público de 40 mil torcedores por jogo), prtncipalmente nas fases finais. Para se ter uma idéia, a final do campeonato em 2006 atraiu 71.576 pessoas, gerando R$ 3.382.655, sendo essa a maior renda de bilheteria na história da competição no país. Por esse motivo observamos uma grande queda nesse tipo de receita (lembrando que em 2006 o time chegou até a final da competição enquanto em 2007 foi eliminado nas quartas de final). Mesmo em 2006, nota-se que as receitas na arrecadação de bilheteria continuam abaixo daquelas de direitos de televisão e venda de jogadores. Isso se deve, como já visto, ao baixo público (taxa de ocupação) e ao baixo ticket médio dos jogos de outras competições. O baixo público enfrentado pelo São Paulo nos leva a uma observação interessante: o clube lucrou, em 2007, mais em seu estádio fora de dias de jogos do que em dias de partidas no Morumbi. Em 2007, o clube faturou R$ 14,2 milhões (frente a R$ 10,5 em 2006- crescimento de 35,76%) com camarotes e cadeiras cativas, publicidade, aluguéis (para shows ou jogos de outros clubes) contra os R$ 12,5 milhões arrecadados com bilheteria. Ou seja, o São Paulo vem aprendendo a utilizar seu estádio (que já foi considerado um elefante branco) em seu benefício, a fim de gerar mais receitas. Visando aumentar essas receitas, e com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, o clube já começa a planejar e construir melhorias para seu estádio. Desde 2002 o clube já vinha investindo na construção de camarotes corporativos, vendidos para diversas empresas e pretende, num futuro próximo, transformar todo um anel do estádio nesses camarotes. Os camarotes são interessantes para o clube, exatamente pelo que vimos anteriormente: geram receitas mesmo que o estádio esteja vazio. Hoje, eles já representam mais de 50% do total de receitas geradas no estádio, e há um número crescente de empresas procurando esse tipo de instalação. O clube também fechou, recentemente, uma parceria com a VISA, para a criação de um espaço VIP em seu estádio, como já ocorre no estádio do Palmeiras. O acordo terá duração inicial de três anos e a VISA irá "elitizar" três setores do Morumbi, totalizando 20 mil lugares. A empresa de cartões será responsável pela revitallzação (modernizar e explorar) de um setor do Morumbi, inclusive instalando uma cobertura de policarboneto para proteger os torcedores da chuva, não afetando em nada nos preços ou na arrecadação do São Paulo (a VISA fatura com a utilização de seu cartão para a compra dos ingressos nesses setores). Com isso, o clube busca atingir um público intermediário, entre aqueles que assistem aos jogos nas arquibancadas e aqueles que o fazem nos camarotes. Além disso, o São Paulo inaugurou a chamada Megaloja do dube (em parceria com a Reebok) e mais recentemente um bar temático chamado Santo Paulo com capacidade para 350 pessoas e funciona de quarta a domingo para almoço e jantar independentemente da realização de jogos ou eventos. Há ainda planos para construção de uma academia de ginástica e uma livraria. Esses projetos fazem parte do conceito do "Morumbi Concept HaH", que tem por objetivo criar uma área de lazer, comercial e de eventos moderna e com um toque de luxo no estádio. Tudo isso para aumentar ainda mais as receitas de seu estádio (tanto em dias de jogos, quanto nos outros). Pensou-se em negociar um contrato de naming rights para o Morumbi, porém a idéia não prosseguiu pois os dirigentes entenderam que o Morumbi já havia criado uma identidade própria com seu torcedor e que um novo nome não seria bem aceito por eles, nem pela imprensa, nem pelo mercado como um todo. Outro ponto que merece destaque nas receitas do São Paulo é o licenciamento de produtos. Apesar de ainda não ter uma grande representatividade no total de receitas, o aumento de 34,15% em comparação a 2006 indica que o clube começa a atuar de maneira mais intensa nessa frente. O clube sempre se aproveitou de seus ótimos resultados dentro 60 de campo para lançar diversos produtos que relembrem as conquistas. Camisas comemorativas, OVOs contando toda a trajetória do time, celulares (em parceria com o patrocinador), relógios, pedaços da rede do Morumbi e pedaços do gramado foram alguns desses produtos que tiveram grande sucesso junto aos torcedores. Porém, o grande fator de mudança no licenciamento do clube foi a parceria firmada com a empresa Wamer, detentora de personagens de desenhos animados como Perna longa e Taz. O contrato de três anos e meio com a empresa americana trouxe cerca de R$ 3 milhões para o clube, mais royalties de 50% da receita originada da venda de produtos. O São Paulo passou de 60 produtos licenciados para mais de 250 (com 40 empresas licenciadas frente 21 antes da parceria) e a Wamer terá exclusividade na exploração da marca do clube, podendo comercializar qualquer produto, desde que não seja material esportivo. E o mais importante: a parceria não focará apenas no torcedor assíduo do clube, mas sim irá oferecer produtos para outros públicos, como o feminino e as crianças. Os produtos são divididos em: linha infantil (principalmente com os personagens do desenho animado com a camisa do clube), adultos, aniversários e casa (inclusive com poltrona reclinável e churrasqueira), dos mais variados preços. O clube também inaugurou recentemente a São Store, uma loja dentro de um shopping de São Paulo que vende diversos produtos licenciados, inclusive um anel de brilhantes por quase R$ 5 mil. E para atingir aqueles torcedores que não se encontram na cidade de São Paulo, e conseqüentemente não podem visitar a Megaloja do Morumbi ou a São Store, o clube inovou mais uma vez e criou a São Paulo Itinerante, uma loja móvel que visitou as cidades em que o clube paulista jogou como visitante no campeonato paulista. A loja levava um total de 5 mil produtos licenciados. Além das receitas obtidas com a venda desses produtos, o clube ganha com o aumento da sua visibilidade nessas cidades, podendo adquirir novos torcedores (através da distribuição de brindes, bandeiras) dessas cidades. Na estréia da loja o clube arrecadou R$ 1O mil com a venda de produtos. No que se refere ao patrocínio, o São Paulo também se destaca. O contrato com a empresa de eletrônicos LG já dura sete anos e já sofreu um reajuste nesse período, passando de R$ 8 milhões para R$ 16 milhões (chegando a se tomar o maior patrocínio no Brasil durante algum tempo). Esse é o contrato de patrocínio mais longo desde a primeira vez que o São Paulo estampou uma marca em sua camisa. E o sucesso dessa parceria decorre das diversas ações que clube e empresa desenvolvem juntos: o patrocínio não se restringe apenas à marca no uniforme de jogo, mas também inclui um camarote da empresa no Morumbi, promoções de viagem para vários lugares no Brasil, lançamento de produtos da empresa com temas do clube, entre outros. Devido a essa grande exposição, de diversas formas da empresa patrocinadora, inclusive em outros países devido a participação de torneios continentais, o São Paulo já começa a rever os valores de seu patrocínio. O acordo com a empresa sul-coreana acaba no final de 2008 e elas já manifestou interesse na renovação, assim como outras empresas já manifestaram interesse em ser o novo patrocinador do clube. Pelas contas do departamento de Marketing do São Paulo, a LG teve um retomo de mídia de R$ 300 milhões no último ano e os dirigentes acham razoável que 10% desse valor seja destinado para o clube. Isso quer dizer que os dirigentes do clube irão tentar encontrar um novo patrocinador que pague R$ 30 milhões por ano, se tomando assim o maior contrato de patrocínio do Brasil. No mundo virtual o São Paulo também vem se destacando: mantém um site atualizado, com links para a loja virtual do clube (criada em parceria com a loja de artigos esportivos Roxos e Doentes) e para outras promoções. O clube também utilizou o site para a escolha de um produto licenciado: os torcedores escolhiam atletas de todos os tempos do São Paulo para fazer parte de um álbum de figurinhas. Além disso, o clube, juntamente com a Wamer e a Tectoy, tem planos para lançar um jogo oficial para celulares e também toques e papéis de parede, que serão disponibilizados para todas as operadoras do país. Também há estudos no sentido de lançar um canal de TV por assinatura com conteúdo voltado exclusivamente para os torcedores são paulinos. 61 Além de tudo o que já foi exposto até o momento, o São Paulo também mantém outras ações de marketing, a fim de d~undir sua marca e atrair mais torcedores. O programa de sócio-torcedor, que funciona desde 1999 e foi o primeiro desse tipo no estado de São Paulo, já conta com mais de 30 mil associados. São vários os planos que os torcedores podem optar e os benefícios variam de acordo com o plano escolhido, mas a maioria garante ingressos com descontos, descontos em produtos e filas especiais para a compra de ingressos. A mais nova ação é o Batismo Tricolor, que visa atingir as crianças sem clube e tomá-las novos torcedores. Porém, aquelas que já torcem por algum time e decidem se "converter" para o clube tricolor ficam isentos da taxa de cobrada de R$ 120 mediante manifestação por escrito. Cada kit do ~Batismo~ contém uma camiseta, um certificado e outros produtos e a meta do clube é batizar 10 mil pessoas. Outra ação interessante é a troca, em algumas partidas, dos mascotes crianças por idosos que usariam camisas retrôs do time e depois assistiriam o jogo em um local especial no estádio. O São Paulo também é um dos poucos times brasileiros que excursionam pelo mundo, divulgando sua marca. Já foram feitas excursões para Hong Kong, Índia e os próximos países a serem visitados são Estados Unidos e China. Ainda no que diz respeito à divulgação da marca no exterior, o clube estudo uma parceria com o Sheffield United, da Inglaterra, que promoveria o intercâmbio de jogadores. Diante do que foi aqui exposto, devemos agora dividir as receitas da mesma forma como são divididas as dos clubes europeus, para que tenhamos uma idéia da como os clubes brasileiros compõem seus ganhos. Lembrando que não são computados os valores de transferência de jogadores, premiação de torneios e outras receitas. Assim, temos que as receitas do São Paulo são assim divididas: Tabela 14: Composição por grupos de receitas (em R$ mil) 2007 %do total 2006 %do total Commercial 28.336 35,48% 25.153 30,70% Matchday 26.667 33,39% 28.998 35,39% Broadcasting 24.855 31,12% 27.780 33,91% Total 79.858 100,00% 81.931 100,00% Fonte . Dados. Futebol e NegóCio, . elaboração propna Podemos perceber que o São Paulo mantém uma distribuição de suas receitas próxima àquelas dos grandes dubes europeus, com uma divisão próxima de um terço para cada grupo de receitas. Devido a isso, o clube se mantém sendo um dos maiores geradores de receitas do país, sendo um dos poucos a conseguirem manter um superávit ao final do exercício. A administração do São Paulo não é totalmente profissionalizada, porém, já se nota que os dirigentes estão um passo a frente de outros clubes e mantém a ideologia de uma administração empresariaL Percebe-se uma maior organização das posições, a definição de metas a serem atingidas e o planejamento sempre focado no futebol, com o lucro obtido sendo revertido para esse departamento. To do esse trabalho bem sucedido nos bastidores se reflete nos balanços patrimoniais saudáveis que o clube vem demonstrando ano após ano e também em campanhas vitoriosas, não apenas nacionalmente, mas com certa regularidade nas Américas, ajudando a tomar o clube uma marca internacionaL O Departamento de Marketing do clube é um dos mais atuantes do Brasil, e vem se utilizando das ferramentas que dispõe, ao mesmo tempo que busca novas oportunidades para expansão. As ações tendem a ser segmentadas, buscando atingir a grande maioria de seus torcedores. Porém, o clube poderia voltar suas atenções um pouco mais para seu 62 estádio, o que já começa a acontecer, a fim de atrair diferentes tipos de público, em diferentes setores, oferecendo serviços diferenciados para cada um deles. 3.2- Corinthians O Corinthians tem, atualmente, a maior torcida do estado de São Paulo e a segunda maior do país. Além disso, segundo pesquisa realizada por uma agência de publicidade, o clube tem a marca mais estimada do futebol brasileiro, superando a do Flamengo (clube de maior torcida). Com esses atributos, fica claro que o potencial de geração de receitas do clube alvinegro é imenso. Porém, esse potencial não foi bem explorado no passado. Nos últimos anos, o Corinthians teve um Departamento de Marketing totalmente inativo, onde não se via nenhum tipo de ação para o fortalecimento e valorização de sua marca, nem mesmo algo que buscasse atingir a imensa torcida que acompanha o clube e que, sem dúvida, poderia ser uma grande fonte de arrecadação. Tais fatos são evidenciados na tabela abaixo: Tabela 15: Composição de Receitas do Departamento de Futebol (em R$ mil) Futebol Profissional e de Base 2007 %do total 2006 Direitos de Televisão 23.361 19,10% 22.354 26,52% 4,50% Patrocínio e Publicidade 19.122 15,64% 19.512 23,15% -2,00% o 0,00% 521 0,62% -100,00% 8.393 6,86% 9.290 11,02% -9,66% 0,00% 9.800 11,63% -100,00% Sócio Torcedor o o 0,00% o 0,00% - Outras Receitas 30 0,02% 1.998 2,37% -98,50% 71.392 58,38% 20.811 24,69% 243,05% otal 122.298 100,00% 84.286 100,00% 45,10% otal -Venda Jogadores 50.906 - 63.475 - -19,80% Licenciamento e Franquias Arrecadação de Jogos Patrocínio MSI Repasse de direitos federativo %do total %2007/2006 Adaptado de. Futebol e Negócio É impensável que um clube com a maior torcida do estado, próximo de completar seu centenário, não tenha ainda um Programa de Sócio Torcedor, voltado para dar benefícios para toda essa massa de torcedores. Ou ainda que o clube obtenha um resultado nulo com licenciamentos e franquias. Isso quer dizer que nenhum produto que leva a marca do Corinthians foi vendido no ano de 2007. Esse cenário começou a se transformar juntamente com um dos piores momentos que o clube passava dentro de campo. O ano de 2007 marcou o rebaixamento do Corinthians para a Série B (segunda divisão) do Campeonato Brasileiro, a principal competição nacional. O que foi uma tragédia dentro do campo começou a se tomar a salvação do time fora dele. Depois de diversos escândalos, notícias de fraudes, corrupção, sonegação, envolvimento do Ministério Público e até da Polícia Federal, o clube percebeu a necessidade de reestruturar seu departamento de futebol, substituindo grande parte dos 63 dirigentes que se encontravam no poder havia muito tempo. A nova diretoria, frente à grande dívida deixada por seus antecessores, começou a se voltar para ações de marketing para gerar receitas para sanar esse problema. E a Série B, antes um problema, começou a se tomar o grande trunfo do Corinthians no ano de 2008. O rebaixamento para o Corinthians representou uma reviravolta, como já havia acontecido com outros clubes. Aproveitando-se da grande conexão com sua torcida, e carga emocional que esta nutre pelo time, o Departamento de Mark.eting do Corinthians começou a promover ações que visavam ligar ainda mais torcedor e o clube. Foi nesse contexto que o clube lançou o kit "Eu Nunca Vou te abandonar'', composto de uma camisa (com a frase que dá nome ao kit na parte da frente e nas costas a frase "Porque te amo. Eu sou Corinthians", um adesivo e uma pulseira (nas cores do time com a mesma frase). O pacote foi um sucesso: em menos de uma semana, 50 mil kits foram vendidos, superando todas as previsões que haviam sido feitas e atingindo mais de 150 mil no total. Dando seqüência as camisas temáticas, o clube lançou a camisa ''Não pára, não pára, não pára", baseada num canto da torcida alvinegra (assim como a anterior) entoado nos dias de jogos do time. Assim como na primeira camisa, a Nike (fornecedora oficial de material esportivo para o clube) não tem participação na fabricação das peças. O clube procura outros parceiros para lançar tais camisas e com isso consegue oferecê-las por um preço mais baixo, atingindo uma maior parte da torcida, e conseqüentemente ampliando as vendas e diminuindo a pirataria. Porém, como todo clube brasileiro, o clube não consegue escapar definitivamente desse problema que assola o mercado de licenciamentos do país. Os ambulantes também lançaram por conta própria uma camisa com os dizeres "Vamos Subir Timão!!!", sendo essa mais barata que as produzidas pelo clube e/ou seus parceiros. No que se refere aos uniformes, o clube também lançou algumas novidades, voltadas para seus torcedores: o primeiro lançamento foi das camisas roxas, que apesar de causar descontentamento em parte da torcida (por considerarem que a cor da camisa fugia às tradições do clube) foi um sucesso de vendas, sendo que 100mil foram vendidas nos 10 primeiros dias. A cor foi escolhida para caracterizar os torcedores corintianos, que são considerados "torcedores roxos". Posteriormente, o clube lançou mais dois novos modelos de uniformes, com as cores tradicionais. A grande inovação aqui foi o lançamento desses uniformes numa faixa de preço mais popular (R$ 50 ao invés dos R$ 159 pagos por uma camisa oficial), que não é produzido pela Nike e, portanto, não leva o símbolo da empresa (que será responsável por selecionar um fornecedor que será encarregado da produção de acordo com parâmetros de qualidade definidos por ela). Dessa forma, busca-se aliar baixo custo com qualidade. Ademais, o clube começa uma campanha que promove a troca de camisas piratas por desconto na compra de uma original. Por fim, temos também o uniforme comemorativo de acesso para a Série A. Visando fortalecer o vínculo com os torcedores, o clube vendeu espaços (R$ 1mil) na sua camisa para que torcedores pudessem estampar seu rosto na camisa. No primeiro dia de venda foram comercializados 147 espaços. Também serão lançados outros produtos como agasalhos, camisas de viagem e roupas femininas (apenas para citar o segmento de vestuário), tanto com preços ~originais" e "populares. Incluem-se aqui também relógios (R$ 699 e R$ 80 o modelo com pulseira de borracha), computadores (que darão direito a cursos). Percebe-se então que o time começa a abrir o filão dos produtos populares, visando atingir diversas camadas de sua torcida, aproximando os preços de seus produtos aos semelhantes piratas, tentando assim diminuir a quantidade pirateada (a estimativa é que para cada camisa original vendida, são vendidas entre duas ou três piratas, o que representa uma perda de R$ 400 mil em royalties por ano). Porém, deve-se atentar para os meios de distribuição desses produtos, pois, como já visto, todos os 4 Ps afetam o sucesso ou não de um produto. Nota-se que o clube estabeleceu a criação de produtos voltados fortemente a seus torcedores. Outro passo importante do Departamento de Mark.eting foi a criação do 64 Programa de Sócio Torcedor, chamado "Fiel Torcedor", que pretende chegar a 10 mil associados no primeiro ano. Visando a segmentação, também, o clube lançou três planos, por valores diferentes, cada qual destinado a um público: "Corinthians Minha Vida, destinado aos torcedores da arquibancada, Corinthians Minha História, destinado aos torcedores da arquibancada especial e Corinthians Meu Amor, destinado aos torcedores da numerada nos valores anuais de R$ 180, R$ 480 e R$ 900 respectivamente. Cada plano oferece benefícios diferenciados, mas não indui o custo do ingresso para jogos. Dentre os beneficios temos desde os mais simples como carteirinha, camisa do programa, garantia de aquisição do ingresso, guichês especiais para a compra até acesso às dependências do clube, incluindo os treinos da equipe e a utilização das piscinas, também fazem parte do pacote. A inovação fica por conta da possibilidade de incluir até quatro dependentes por R$ 15 cada e o "Cartão Fiel Torcedor", com o qual o torcedor poderá comprar seu ingresso e o crédito da compra ficará registrado nesse cartão, que quando passado na catraca específica do Sócio Torcedor terá o acesso liberado automaticamente. A Série B também contribuiu para o aumento do valor do patrocínio que o time recebe. Parece um paradoxo, visto que a Série 8 tenderia a receber menos atenção da mídia do que a Série A. Porém, a Mediai Saúde acreditou que a presença do Corinthians mudaria esse panorama, e apostando na grande visibilidade que a queda traria ao clube, fechou o contrato por R$ 16,5 milhões/ano (frente os R$ 12 milhões da antiga patrocinadora, a Samsung}, mais R$ 2 milhões por título conquistado. A empresa inclusive mudou seu logotipo, substituindo a cor verde por preto. Além de estampar a marca, o Corinthians vem realizando diversas ações envolvendo seu patrocinador, o que agrega valor ao contrato. Por exemplo, os associados no Programa de Sócio Torcedor do clube terão carteirinha e guia personalizados, além de preços especiais (10% de desconto) e carência (sendo que parte das mensalidades será revertida para o Corinthians). A Mediai colheu frutos dessa associação, registrando 220 mil novos clientes e já começa a se mobilizar nos bastidores para renovar seu contrato com o clube. O ano de 2008 também marcou o lançamento da "TV Timão", o canal de TV via internet, com conteúdo exclusivo para os assinantes. A idéia é mostrar a vida do clube que não é mostrada na mídia, como treinos e concentração dos atletas, além de entrevistas, ao custo de R$ 10 mensais. A princípio, o projeto foi um sucesso, já que obteve mais de um milhão de acessos nas duas primeiras horas após o lançamento, porém após um mês de existência, quando a mensalidade passou a ser cobrada, o número de acessos caiu drasticamente. Nem mesmo os descontos para os Sócio-Torce dores dos planos "Corinthians Minha Vida" e "Corinthians Minha História" e a isenção da taxa para aqueles que optaram pelo plano "Corinthians Meu Amor'' conseguiram manter a audiência. Para 2009, o dube já planeja abrir o sinal da "TV Timão" para todos os seus torcedores e lucrar apenas a partir de publicidade no site e nos vídeos transmitidos. O clube também mantém um site atualizado com notícias não apenas de futebol, mas também de todos os outros esportes presentes no clube, um site voltado para o Programa de Sócio Torcedor e uma loja virtual que disponibiliza os produtos licenciados via internet. O clube também aproveitou o sucesso que obteve na Série 8 para lançar diversas ações, muitas delas inéditas no país. Para motivar os torcedores a acompanharem o time em qualquer local do Brasil que fosse jogar, o clube lançou uma agência de viagens, a "Timão Tur''. São dois tipos de pacote, um para o torcedor que mora longe de São Paulo e quer acompanhar o Corinthians na capital paulista, e outro para o torcedor que pretende viajar o Brasil todo com o clube, que variam a cada rodada, dependendo da onde o time vai jogar. Em ambos os casos, o pacote incluirá passagem aérea, ingresso para a partida, visita ao Parque São Jorge, com direito a entrada no Memorial, almoço no restaurante do clube e hospedagem no hotel no qual o time se concentra, podendo haver uma tarde de autógrafos com atletas e comissão técnica. Além disso, o clube aderiu a Fórmula Super1iga, uma categoria do automobilismo que conta com carros e motores idênticos que levam o nome de times do futebol mundial 65 (Flamengo, Milan e Porto são outros clubes que aderiram). Essa estratégia visa começar a levar o nome do clube para outros países e aumentar o reconhecimento da marca visto que o Corinthians é um grande clube no Brasil, porém ainda não tem um cartel de títulos internacionais expressivo. Além disso, o clube pretende explorar um novo espaço de publicidade: o túnel inflável que serve como entrada dos jogadores para o gramado. Nesse túnel seria anunciada a marca de um novo parceiro e que poderia render aos cofres corintianos até R$ 2 milhões. Por fim, mais recentemente, o clube fechou um acordo com a gravadora Wamer Music Brasil para disponibilizar, na Loja Digital Corinthians (www.alotimao.com.br), arquivos de áudio e imagem, toques, papéis de parede e jogos para celular, além de novas versões do hino do clube em diversos ritmos musicais (samba, pop, rock, hll hop, funk). Como pôde ser visto, o Corinthíans no ano de 2008 revitalizou seu Departamento de Marketing e lançou diversas ações que vem rendendo frutos e gerando receitas para o clube. Muitas dessas ações estão vinculadas umas com as outras (ex: planos de saúde especiais para os sócio-torcedores, desconto na mensalidade da TV online para os SócioTorcedores), o que faz com que a probabilidade de sucesso delas seja maior, por não estarem caminhando sozinhas. O clube poderia ter resultados ainda melhores se dispusesse de um estádio próprio, onde pudesse englobar todas essas ações em um único local. Um estádio próprio sempre foi o grande sonho, não apenas da diretoria corintiana, mas também dos torcedores do time. As diversas parcerias não conseguiram realizar esse sonho, então um grupo de torcedores começou a se organizar e criou a ONG Cooperfiel, visando arrecadar fundos dentro da própria torcida para a construção de uma arena multiuso de 60 mil lugares, no valor de R$ 375 milhões. Todos os torcedores que colaborassem receberiam um certificado de colaboração no estádio e os que efetuassem as 500 maiores doações teriam sua foto e nome no Memorial que seria criado dentro do estádio. Apesar de um início promissor, o estádio Fielzão (nome em homenagem à torcida) foi mais um capítulo na história que não saiu do papel. Mais recentemente, o clube recebeu um projeto de um novo estádio, que custaria R$ 350 milhões e seria erguido por um grupo de construtoras, que teriam direito de exploração das 1O mil cativas e aos 200 camarotes presentes no estádio, tendo também o direito por dez anos sobre o nome do estádio, enquanto o clube teria autonomia total para administrar o espaço publicitário. Por diversos problemas, mais uma vez o projeto não foi adiante. Com isso, o Corinthians não apenas deixa de lucrar com um estádio, visto que poderia instalar lojas, bares, restaurantes, auditórios, camarotes e diversas outras fontes de receita, mas também gasta para jogar em outros estádios. Cada jogo do clube como mandante significa alugar um estádio (seja público como o Pacaembu ou privado como o Morumbi), e não ter toda a receita de bilheteria revertida para o clube (visto que o administrador do estádio retém um percentual). No ano de 2008, isso representou uma grande perda para o Corinthians, já que a torcida definitivamente abraçou o time e o apoiou: o clube registrou média de 24,4 mil torcedores nos seus jogos como mandante (aumento de 72% em relação ao ano anterior) e o ticket médio passou de R$ 15,10 para R$ 15,90. Imaginemos agora o quão maior poderiam ser as receitas do clube caso tudo isso ocorresse dentro de um estádio próprio. Por fim, após vistas as principais formas de receita do clube, cabe-nos analisar a composição das mesmas, de acordo com os grupos de arrecadação: 66 Tabela 16: Composição por grupo de receitas (em R$ mil) Fonte 2007 %do total 2006 %do total Commercial 19.122 37,59% 20.033 38,77% Matchday 8.393 16,50% 9.290 17,98% Broadcasting 23.361 45,92% 22.354 43,26% Total 50.876 100,00% 51.677 100,00% . Dados. Futebol e NegóCIO, elaboração propna Como esperado, notamos que a grande parte das receitas corintianas para os anos de 2006 e 2007 provieram dos direitos de transmissão (mesmo com ligeira queda em 2007), já que, como visto anteriormente, o clube pouco arrecada com licenciamento e sua principal fonte commercial é o patrocínio e o fornecimento de material esportivo. Ademais, aliado ao fato das baixas médias de público e do baixo ticket médio, o fato de não ter um estádio próprio compromete muito as receitas de matchday do clube. Como já falado anteriormente, esse é um modelo insustentável, e um grande risco depender das cotas de televisão para a manutenção de um planejamento anual. O ano de 2008 foi um marco para o Marketing do clube e o balanço desse ano poderá mostrar grandes avanços nas receitas comerciais e em dias de jogos, tomando o clube menos depende das receitas provenientes da televisão e, conseqüentemente, menos vulnerável financeira e economicamente. 3.3- Palmeiras O Palmeiras teve seu auge no que se refere a Marketing Esportivo e a geração de receitas nos meados da década de 90. O clube fez uma parceria com a empresa italiana Parmalat, em 1992, no modelo de co-gesta.o. A Parmalat estava no mercado brasileiro há muito tempo, porém ainda não tinha uma grande representatividade em seu mercado, e buscava aumentar seu market share. A parceria com a Palmeiras foi estratégica, visto que as marcas tinham certa particularidade, pelo fato de ambas serem italianas e também pelo fato de o Palmeiras ter uma grande visibilidade na mídia. A Parmalat visava faturar com o departamento de futebol do Palmeiras, além de aumentar a venda de seus produtos e aumentar o reconhecimento de sua marca. Em contrapartida, a empresa pagava os salários dos jogadores, além de um valor de patrocínio. O clube também se beneficiou da parceria: a princípio, havia uma previsão para que o time fosse campeão no segundo ano após o início do contrato, feito esse que aconteceu no primeiro ano. "A parcen·a Palmeiras - Pannafat é citada na Universidade do Esporte, cn"ada pela FIFA, na Suíça, como um dos dez cases mais bem sucedidos do marketing no futebol' (AFIF, 2000, p.69). A parceria durou 8 anos, com o Palmeiras sendo bi-campeão do campeonato brasileiro (92 e 93) e campeão da Taça Libertadores da América (99). Já a Parmalat, em 10 anos, viu seu faturamento passar de R$ 38 milhões para R$ 1,87 bilhão por ano e colhe frutos até hoje: uma pesquisa realizada em 2007 aponta a empresa italiana como a quinta marca mais lembrada quando o assunto é futebol. Após o final da parceria, apesar de ainda haver dinheiro em caixa na época, o clube não conseguiu manter a boa administração de recursos, acumulou dívidas crescentes e embarcou em um longo período sem títulos, finalizado apenas esse ano (2008) com o título do campeonato paulista. A administração começou a reencontrar seu rumo após a renovação da diretoria, após as eleições de 2004, 67 quando a antiga administração, que se perpetuava no comando foi substituída por novos dirigentes que começaram a atuar mais fortemente no Marketing do clube. Hoje, o Palmeiras apresenta uma divisao de receitas de seu departamento de futebol como demonstra a tabela abaixo: Tabela 17: Composição das receitas do Dep. de futebol do Palmeiras (em R$ mil) Futebol Profissional e de Base 2007 %do total 2006 %do total % 2007/2006 Direitos de Televisão 25.283 38,81% 22.110 40,06% 14,35% Patrocínio e Publicidade 9.542 14,65% 12.612 22,85% -24,34% o 0,00% o 0,00% - 7.540 11,57% 6.990 12,66% 7,87% Sócio Torcedor o 0,00% o 0,00% - Outras Receitas 2.252 3,46% 3.329 6,03% -32,35% Repasse de direitos federativos 20.529 31,51% 10.158 18,40% 102,10% Total 65.146 100,00% 55.199 100,00% 18,02% Total -Venda de Jogadores 44.617 - 45.041 - -0,94% Licenciamento e Franquias Arrecadação de Jogos Adaptado de. Futebol e Negócio Assim como todos os dubes analisados até o momento (e a grande maioria no país), o Palmeiras mantém uma necessidade muito grande das receitas de direitos de televisão e da venda de jogadores, enquanto outras receitas como a de licenciamento de produtos e sócio torcedor não aparecem nessa divisão (talvez estejam alocadas na rubrica "Outras Receitas", o que evidenciaria a pouca influência que exercem no total de receitas). A dependência da venda de jogadores é ainda mais alarmante pois, como observado, se excluirmos esse valor do total de receitas, o ano de 2007 apresentaria uma diminuição em relação ao ano anterior. Vale ressaltar também que a parcela referente ao patrocínio e publicidade caiu de um ano para o outro. Porém, para o próximo ano, espera-se que esse cenário se altere, devido aos acordos firmados com novas patrocinadoras. O Palmeiras começa a inovar em relacão a essa fonte de receitas: o clube passa a não vender mais apenas o espaço na camisa, mas sim, a criar cotas, sendo uma a master (com dez propriedades incluindo o peito da camisa) e a outra a sênior (com sete propriedades, entre elas as mangas). A montadora italiana FIAT foi a detentora da cota master, pagando R$ 19 milhões anuais, enquanto a Suvinil estampa seu logo nas mangas e conseqüentemente tem mais seis propriedades para divulgar sua marca, levando ao clube R$ 3,6 milhões. O valor desse patrocínio nas mangas é maior do que outros clubes recebem pelo mesmo espaço, sendo que o motivo para tanto são exatamente as propriedades a mais que o clube disponibiliza para a empresa patrocinadora que adquire a cota sênior. A relação entre FIAT e Palmeiras, não se restringe apenas às 10 propriedades que a empresa possui, mas envolve diversas outras ações com o clube. Uma delas é que dos R$ 19 milhões previstos em contrato, 7 milhões são destinados à investimentos no clube. A priori, foi divulgado que essa parcela do patrocínio seria destinada para a categoria de base, para que o dube pudesse desenvolver novos talentos. Posteriormente, o clube afirmou que a idéia é realizar ações sociais envolvendo garotos, porém não necessariamente ligados às categorias de base do time e também projetos no âmbito social e ambiental. 68 Já a Suvinil, inaugurou junto ao clube o camarote no Parque Antártica. O espaço recebeu o nome 'Apaixonados por Futebol' e tem capacidade para 50 pessoas, com visão privilegiada do campo e também com a opção de assistir aos jogos das poltronas ou sofás através de TVs de LCD, juntamente com um serviço de bar e alimentação. O Palmeiras também inaugurou, no final de 2007, o Setor Visa em seu estádio. Esse setor, com capacidade de 5 mil lugares, é voltado para os torcedores com um poder aquisitivo um pouco mais elevado e conta com certas comodidades como: cadeiras numeradas, monitores de plasma, lanchonetes e novos banheiros. O "lounge" que se situa antes do acesso às cadeiras tem uma cenografia que remete a história do clube, dois bares, carpete verde imitando grama: tudo para ambientar o torcedor e oferecer mais comodidades a ele. A idéia é exatamente essa: dar mais conforto e atrair o torcedor do Palmeiras. Como o próprio nome diz, o espaço foi concebido em parceria com a empresa de cartões de crédito VISA, e a grande facilidade dos torcedores que desejam assistir aos jogos desse local é que a compra do ingresso é feita via internet, diretamente com o cartão de crédito e no dia do jogo o ingresso é o próprio cartão. Isso equivale a dizer que diminui-se a possibilidade de ação de cambistas e o tempo gasto em filas. Além disso, todos os lugares são numerados e escolhidos no ato da compra via internet, o que possibilita que os torcedores possam se dirigir para seus assentos apenas alguns momentos antes do início do jogo. Existe também a possibilidade de se comprar ingressos para todos os jogos do time em seu estádio, visto que os locais são demarcados e o torcedor pode garantir com antecedência seu bilhete. O Palmeiras também gerou receitas com seu estádio no ano de 2008 através do aluguel para alguns shows e eventos. Ou seja, percebe-se que o clube começa a se voltar para as receitas oriundas de seu estádio e começa a utilizá-lo em seu benefício. Porém, a grande mudança no que se refere ao estádio palmeirense ainda está por vir. Visando aumentar ainda mais os ganhos oriundos de seu estádio, o clube já fechou um contrato com a empresa WTorre para a construção de uma nova arena multiuso, mais moderna, que atenderá aos requisitos da FIFA e poderia ser utilizada para a Copa do Mundo a ser realizada no Brasil em 2014. Além de aumentar suas receitas, o clube visa reformular não apenas a estrutura do estádio, mas também do clube social, já que o projeto engloba investimentos também nessa área. O novo estádio, batizado de Arena Palestra, terá uma cobertura retrátil e capacidade para 46 mil torcedores (42 mil em jogos da FIFA, pois 4 mil se transfonnarão em 2 mil lugares para a imprensa), distribuídos em três anéis, sendo que o intermediário contará com dois pisos de camarotes, somando mais de 260 camarotes de 12 pessoas cada. No terceiro anel haverá um restaurante panorâmico que funcionará todos os dias da semana para sócios e não-sócios. Também haverá um estacionamento para 1400 automóveis, academia e museu, porém, diferentemente de muitos estádios europeus, não haverá lojas devido à proximidade de dois shoppings nos arredores do estádio. O empreendimento foi orçado em R$ 250 milhões e a parceria é de 30 anos. Nos primeiros 5 anos o Palmeiras fica com 5% da receita e com as bilheterias dos seus jogos. A cada 5 a participação do Palmeiras no uso da Arena e do centro de convenções será aumentada em 5%, até chegar aos 30% dos últimos 5 anos de acordo. O custo de manutenção do Estádio (estimado em R$ 8 milhões) ficará a cargo da WTorre, enquanto o Palmeiras pagará cerca de R$ 25 mil por jogo, inerentes aos gastos que implicam na organização do evento (operação de bilheteria, catraca, seguranças, limpeza, energia, água, telecomunicações). Valor esse que é inferior aos custos que o clube tem atualmente em dias de jogos em seu estádio. O Palmeiras também terá 20% da receita de eventos extra.futebol, como shows e eventos. Enquanto a Arena Palestra não é concluída, o clube continua tentando aumentar suas receitas com seu antigo estádio. Além da inauguração de novos setores, com serviços diferenciados, o Palmeiras lançou a venda antecipada de um camê para partidas no 69 Palestra Itália. Assim, o torcedor palmeirense poderá fazer a compra antecipada de um pacote que inclui todos os jogos da temporada 2008 (Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana). No caso de competições eliminatórias, nas quais a participação do time não é garantida até o final, incluem-se os primeiros jogos e caso o time avance, os ingressos para esses jogos são fornecidos aos torcedores sem custo adicional. Essa ação é muito interessante, visto que o clube recebe receitas "adiantadamente" e pode investi-las de diversas formas. Por outro lado, uma ação muito controversa do clube foi o aumento do preço de seus ingressos, em 33%, durante o final do Campeonato Paulista de 2008 e o início do Campeonato Brasileiro. A idéia visava selecionar melhor o publico que freqüentaria o estádio, mudando o perfil do torcedor, aumentando, assim, o ticket médio obtido pelo clube. Apesar de o resultado no Campeonato Paulista apresentar uma arrecadação três vezes maior que o mesmo torneio no ano anterior, o aumento foi considerado abusivo pelos torcedores, afinal, estava-se cobrando mais pelo mesmo serviço. Pode-se argumentar que nas finais (semifinal e final) desse campeonato, o aumento é justificável, por se tratar de jogos decisivos e que, em tese, apresentariam um espetáculo melhor. Contudo, a manutenção dos preços nesse patamar para o início do Campeonato Brasileiro não foi bem aceita pelos torcedores, visto que os jogos são "normais" e não houve uma melhora nas condições das arquibancadas (ou de qualquer outro setor) ou uma melhora nos serviços de alimentação, segurança. Frente aos protestos da torcida, o clube não teve escolha senão recuar e voltar os preços ao nível anterior. O Palmeiras também utilizou seu estádio para uma ação interessante: seguindo o exemplo do São Paulo, ao reformar o gramado de seu estádio, o clube alviverde vendeu 10 mil pedaços de grana para seus torcedores. Apesar de não ser uma inovação, com certeza a ação serviu para estimular a venda de produtos com a marca do clube, aumentando a sinergia com seus torcedores. Ainda em relação aos prodJtos comercializados pelo time, o Palmeiras foi pioneiro no lançamento de um terceiro uniforme (como já vimos, o Corinthians, posteriormente, lançou um também). As camisas verde limão foram um sucesso desde seu lançamento, que criou certa expectativa nos torcedores palmeirenses. Os primeiros 1,5 mil torcedores que compraram o novo modelo na loja oficial do time não receberam o produto no momento da compra. Ao invés disso, eles receberam um convite que dava direito ã entrada no estádio do time em determinado dia. Nesse dia, seria tirada uma foto histórica para o time, apresentando o novo uniforme com a participação de todos esses torcedores, jogadores, comissão técnica e membros da diretoria. Após esse lançamento, a camisa caiu no gosto da torcida e se tomou um fenômeno de vendas. Atualmente não é incomum, ao assistir um jogo do Palmeiras, ver mais camisas verde limão do que o verde bandeira tradicional do clube nas arquibancadas. Mais recentemente, o clube, juntamente com a Adidas (fornecedora de material esportivo e que também teve participação no lançamento do terceiro uniforme), lançou uma coleção limitada de agasalhos, com estilo "retro", relembrando a primeira fase da parceria entre as duas partes. Assim como o licenciamento, o Programa de Sócio Torcedor não tem grande representatividade nas contas do clube: apesar de um início aquecido, com 5 mil membros cadastrados em apenas um mês (1/6 da meta prevista para 2 anos), as associações diminuíram drasticamente. Diante do que foi exposto até o momento, temos mais ferramentas para analisar a divisão de receitas de acordo com os grupos de arrecadação: 70 Tabela 17: Composição por grupo de receita (em R$ mil) Fonte 2007 %do total 2006 %do total Comercial 9.542 22,52% 12.612 30,24% Matchday 7.540 17,80% 6.990 16,76% Broadcasting 25.283 59,68% 22.110 53,01% Total 42.365 100,00% 41.712 100,00% . Dados. Futebol e Negócto, elaboração própna Podemos ver que o Palmeiras, dentre os três times analisados, é o que detém maior percentual de suas receitas provenientes de direitos de televisão (e que a participação desses aumentou no último ano), enquanto os outros grupos mantêm participações muito tímidas do total. Esse pode ser um dos pontos pelo qual o clube, dentre os três analisados, obtivesse menores receitas que seus "concorrentes". Porém, o ano de 2008 pode ser o início de uma mudança nesse panorama. As receitas commercial devem apresentar um aumento substancial já no próximo balanço principalmente devido aos patrocínios obtidos juntamente a FIAT e a Suvinil. Já as receitas de matchday também devem registrar um aumento impulsionado pela venda dos camês e também pela inauguração dos espaços VISA e Suvinil. Além do aumento de público, essas ações ligadas ao estádio devem alcançar também um aumento do ticket médio, devido aos serviços prestados nesses ambientes e ao perfil dos torcedores que freqüentam tais locais. Porém, a grande reviravolta no Palmeiras ocorrerá a partir da inauguração de seu novo estádio, o qual deverá trazer ganhos extraordinários para o clube, modificando brutalmente a fonna como o clube enxergará a composição de suas receitas. 71 Conclusão Vimos no decorrer desse trabalho que o futebol mudou, passando de apenas uma atividade de lazer, para um grande negócio, que movimenta milhões de dólares todo ano. Para que se possa manter controle sobre essa grande movimentação de dinheiro, os dirigentes também devem mudar a forma como atuam dentro de seus clubes. De modo similar ao que ocorre em grandes centros do futebol europeu (Itália, Espanha, Alemanha e, principalmente, Inglaterra), os dirigentes dos dubes brasileiros mais tradicionais já assimilaram a necessidade de uma visão empresarial dentro dos clubes, mas na maioria dos casos isso ainda não foi capaz de superar por completo a administração amadora que vem se perpetuando por muitos anos. Muitos dos dirigentes ainda não são plenamente remunerados e, conseqüentemente, não podem se dedicar integralmente e manter uma relação profissional com os clubes que administram; muitos têm outros empregos (que não nos clubes de futebol) e por isso ainda temos a figura do dirigente que chega após as 18h e sai às 21h. São poucos os profissionais contratados pelos grandes clubes em regime integral que possuem poder de decisão para definir a política de marketing do clube. Em geral, os dirigentes brasileiros ainda não aprenderam a diversificar as formas como obtém suas receitas, e por isso os times ainda são muito dependentes dos direitos de televisão e da venda de jogadores. Fontes de receitas essas que já se mostraram incapazes de sustentar sozinhas um planejamento coerente e a manutenção de um balanço patrimonial saudável. A parceria entre Palmeiras e Parmalat deu os primeiros sinais que um clube gerido de forma profissional, com visão empresarial, com cargos bem definidos e organograma e metas podena obter resultados tanto dentro quanto fora de campo. Frente um cenário de dívtdas crescentes, alguns clubes brasileiros estão começando a explorar o potencial que o Mark.eting pode oferecer. Ainda que sejam ações pontuais, começam a surgir e os dirigentes conseguem extrair receitas dessas ferramentas. Porém, como dissemos, essas ações ainda são pouco freqüentes e os clubes ainda não estão plenamente organizados para desenvolvê-las. Devido a isso, podemos afirmar que o dinheiro que circula no futebol brasileiro poderia ser muito maior do que vemos hoje em dia. Devemos também ter em mente que não é possível "importar'' um modelo de gestão de outros países. As ações de Marketing adotadas pelos clubes não são uma "receita de bolo" e não há garantias que uma estratégia bem sucedida em determinado país ou clube será efetiva em outro. Isso se deve por uma gama de fatores, que variam desde a cultura do país até seu mercado consumidor. Esse último já é um grande fator de diferença entre o Brasil e a Europa: a renda per capita do consumidor esportivo brasileiro, e conseqüentemente, seu poder de compra, está muito aquém daquelas dos grandes centros europeus. Assim, os clubes brasileiros devem realizar ações compatíveis com a realidade do país e, principalmente, de seus consumidores. Portanto, uo futebol brasileiro precisa de uma gestão profissional com diretores remunerados, comprometidos com resultados e que respondam por seus atos" (AREIAS, 2008, p.27). Enquanto não observarmos essa mudança na administração não só dos clubes, mas também de federações e confederações, continuaremos fadados a reproduzir o esquema a seguir: 72 Figura 5: Esquema atual do futebol brasileiro Fonte: Elaboração Própria Por um lado, os clubes continuarão dependentes das receitas de TV e dos adiantamentos conseguidos junto à principal emissora do país, tomando-se reféns e com baixo poder de barganha na negociação de novos contratos. Tal fato já pode ser percebido na última negociação dos contratos de televisão, no qual Globo e Record travaram uma verdadeira "queda de braço", cada um aumentando os valores. Após muito tempo de negociação, os clubes acabaram decidindo pela manutenção da rede Globo, mesmo os valores oferecidos sendo menores que os expostos pela Record . Certamente, os patrocinadores preferem a exposição de suas marcas em uma rede de televisão que conta com a maior audiência nacional e os clubes podem obter contratos de patrocínio mais valorizados se o Campeonato Brasileiro continuar sendo transmitido pela Globo. Por outro lado, enquanto os principais jogadores continuarem a sair, cada vez mais cedo, os campeonatos continuarão com baixa qualidade, atraindo menos atenção dos torcedores, representada pela baixa taxa de ocupação dos estádios. Os clubes também terão sua visibilidade diminuída na mídia, fazendo com que, ao negociar contratos de Marketing (i.e patrocínio, licenciamento), não consigam valores substanciais. Ainda, a falta de ídolos faz com que os clubes percam receitas ao não poder associar sua imagem aos grandes ídolos, fato que também pode atrair novos patrocinadores e gerar grandes receitas de licenciamento. Por fim, não podemos esquecer que a administração profissional deve estar sempre tocada e direcionada para a obtenção de resultados dentro do campo. Manter um time competitivo é fundamental para que as ações propostas possam alcançar bons resultados. Um time vencedor tem o poder de atrair mais torcedores, encher estádios e vender mais produtos. Conforme SZYMANSKI e KUYPER (apud GUARAGNA 2005, p.24): "há uma forte relação entre a lucratividade dos clubes e seu desempenho em campo. O sucesso do time 73 no torneio aumenta a atratividade do jogo por parte dos torcedores, da mídia e dos patrocinadores, além de valorizar os atletas e os demais profissionais do clube. Portanto, o bom desempenho da equipe na competiçilo é a melhor promoçilo do jogo de futebol". Aliado a isso, se os estádios tiverem uma estrutura adequada para receber os torcedores com segurança, conforto e comodidade, não apenas os torcedores mais assíduos freqüentarão, mas também outros torcedores, com outros perfis e que buscam benefícios diferentes ao consumir uma partida de futebol. "O Marketing é só um meio. O fim é o futebol" (AREIAS, 2008, p.190). 74 Bibliografia Livros AFIF, A A bola da vez: Marketing Esportivo como estratégia de sucesso. 1.ed. São Paulo: Gente, 2000. AREAIS, J. H. Uma bela jogada: 20 anos de Marketing Esportivo. 1.ed. Rio de Janeiro: Outras Letras, 2007. CAROlA, W. Marketing e patrocínio esportivo. 1.ed. São Paulo: Bookman, 2004. CLUBE DE REGATAS FLAMENGO. Colocando os pingos nos ls. A Força da Marca Flamengo. Rio de Janeiro: 2006. CONTURSI, E. B. Marketing esportivo. 1ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1996. DELOITTE. Football money list- The Climbers And The Sliders. United Kindom: 2005. DELOITTE, Football money líst- Changing of The Guard. United Kindom: 2006. DELOITTE, Football money list- The Reign in Spain. United Kindom: 2007. DELOITTE, Football money list- Gate Receipts. United Kindom: 2008. GUARAGNA, F. M. A Gestão do marketing esportivo no futebol. Porto Alegre: UFRGS, 2005. (Monografia, Graduação em Administração de Empresas) HASENCLEVER, L.; KUPFER, D. Economia industrial. 1ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. KELETI, A. L. Futebol empresa - Um negócio emergente. Campinas: Unicamp, 1999. (Monografia, Graduação em Economia) KOTLER, P. Marketing de A a Z. 1.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003. KOTLER, P.; KELLER, K L Administração de marketing. 12.ed. São Paulo: Pearson, 2005. LAS CASAS, A. L. Jogada de marketing. 1.ed. São Paulo: Futura, 2002. LEONCINI, M. P.; SILVA, M. T. Entendendo o futebol como um negócio: Um Estudo Explanatório. (2004) MULLIN, 8. J.; HARDY, S; SUTTON, W.A. Marketing esportivo. 2.ed. Porto Alegre: Anned, 2003. POZZI, L. F. Grande jogada: teoria e prática do marketing esportivo. 1.ed. 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(Monografia, Graduação em Economia) 75 Sites Casual Auditores: <http://casualauditores.com.br.> Cidade do Futebol: <http://www.cidadedofutebol.com.br> EsporteBizz: <http://www.esportebizz.com.br> Forbes: <http://www.forbes.com/lists/2007/34/biz_07soccer_Soccer-Team-Valuations_Rank. html> FutBusiness: < http://futbusiness.blogspot.com> Futebol e Negócio: <http://futebolnegocio.wordpress.com> GloboEsporte: <http://www.globoesporte.com> Instituto GALLUP: <http:l/gallupnobrasil.blogspot.com> Lancenet: <http://www.lancenet.com.br> Máquina do Esporte: <http://www.maquinadoesporte.com.br> MKT Esportivo: <http://mktesportivo.com.br> Portal do Marketing: <http://www.portaldomarketing.com.br> Revista Época: <http://www.revistaepoca.com.br> Rola Blog: <http://rolablog.zip.net> Sport Marketing: <http://www.sportmarketing.com.br> Terra Esportes: <http:/lwww.terra.eom.br/esporte> UOL Esporte: <http://www.uol.eom.br/esporte> 76 Anexos Anexo 1: Entrevista- Orandi Mura "Nino" (São Paulo) 1. o Departamento de Marketing do SPFC é conhecido pelo seu profissionalismo e seriedade. Porém, esse é um cenário relativamente novo, não apenas para o SPFC mas também para todos os times brasileiros. De que forma ocorreu a profissionalização do Departamento de Marketing do clube? R.: Começamos a perceber que o São Paulo, como um clube muito sério e tradicional ainda tinha a própria diretoria cuidando da marca ~são Paulo•. Porém, o time começou a crescer e perceber a necessidade da crtação de certos "tentáculosn, que seriam os diversos departamentos, inclusive o departamento de marketing, tomando como modelo clubes europeus. Assim, o departamento de marketing começa a tomar conta da marca do clube, dos produtos licenciados, dos patrocinadores, desvinculando assim da diretoria, que anteriormente visava cuidar de tudo. Atualmente, o departamento de marketing é 100% profissionalizado, com todos os profissionais envolvidos tendo estudado nas áreas de atuação e sendo remunerados, fazendo assim, com que o departamento funcione. 2. O GESP trabalha junto à diretoria São Paulina na gestão do clube. Quais as principais atribuições desse grupo? Qual a contribuição do mesmo para o clube? Esse grupo faz com que o São Paulo esteja a frente dos outros times brasileiros? R.: O GESP significa: Grupo de Executivos São Paulinos. São diretores de agências de publicidade, entre elas, África, WBrasil. Esse grupo atua como um braço autônomo do Marketing, no qual esses diretores prestam serviços I ajuda para o São Paulo, como por exemplo desenvolvimento de campanhas. Esse grupo faz parte da equipe do marketing do São Paulo, porém não são remunerados, sendo assim um elemento a mais presente no marketing são paulino e que não se encontra em outros clubes brasileiros. 3. Principalmente a partir dos anos 80, o Mark.eting Esportivo vem crescendo muito no futebol brasileiro. Tal crescimento foi intensificado pela Lei Pelé, com a qual os clubes perderam o direito de negociar os jogadores (fim da lei do passe). Diante disso, o que pode..ge esperar para o futuro do Marketing Esportivo no esporte? Quais as perspectivas para o crescimento dessa área? R.: O Marketing Esportivo se encontra num estágio crescente no futebol brasileiro, e tende a se tomar cada vez mais forte, dia a dia. Os clubes que não tiverem um departamento de mark.eting profissional não conseguirão se manter, como já é possível ver atualmente, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, onde boa parte dos clubes passa por uma situação financeira delicada, pois não sabem negociar. 4. Após o inicio da Lei Pelé, muitos clubes tiveram dificuldades para suprir o déficit que a impossibilidade de venda de jogadores trouxe aos balanços de pagamento. Os ganhos com Marketing são peça fundamental para a manutenção de lucros ao final do exercício? R.: Lógico que sim. Reebok, LG entre outros são assuntos fundamentais, como pode ser visto pelo Balanço de Pagamentos do São Paulo. 5. Atualmente, quais os principais Departamento de Marketing do SPFC? produtos e/ou eventos realizados pelo R.: Baüsmo T rico! or, São Paulo Social, Produtos Licenciados, Eventos- grandes eventos são realizados no São Paulo -, Megaloja, Bar Temático, Livraria, Morumbi Concept Hall (espaço cultural do São Paulo), Camarotes, São Paulo Itinerante (loja móvel do São Paulo, que segue o time nas 77 partidas fora da capital). Para essa ação fecha·se o departamento de marketing e todos os membros vão para a cidade em questão. 6. O São Paulo tem uma ampla gama de produtos licenciados, desde camisetas oficiais do time até pedaços de grana e rede, e a quantidade de produtos licenciados não para de aumentar. Ao todo, quanto são os produtos licenciados pelo clube? R.: Nós temos entre 70 e 80 produtos licenciados. Isso é uma aproximação, pois escolhemos muito bem os produtos que lançamos, pois temos o cuidado de escolher os produtos que serão lançados, e não focamos em produtos pequenos (chaveiros por exemplo). 7. O Departamento de Marketing do São Paulo vem inovando a cada ano, com novas ações que o destacam no cenário nacional. Qual a importância do Marketing para o São Paulo F.c. e qual o porcentagem da participação do mesmo no faturamento total do departamento de futebol? R.: O Marketing representa uma média de 45% do faturamento do futebol. 8. O contrato com a LG foi assinado em 2001, ou seja, se trata de um patrocinador de cerca de 7 anos. No início de 2007, foi cogitada a troca de patrocinador, devido à algumas divergências entre LG e São Paulo. O Sr. Acredita que a não..renovação com a LG poderia prejudicar o clube? O senhor acha que a manutenção de um mesmo patrocinador cria um vínculo e uma fidelização entre a marca e o clube? R.: Não prejudicaria o clube. Se a LG não quisesse mais, temos cerca de quinze empresas que estariam dispostas a patrocinar o São Paulo, pagando um montante até maior do que o que é pago hoje pela LG. A manutenção do patrocínio é interessante para ambas as partes: de um lado, a LG tem vendido cada vez mais aparelhos (inclusive um celular com o símbolo do São Paulo gravado no corpo), enquanto o São Paulo vem ganhando com seu contrato de patrocínio. 9. O São Paulo foi pioneiro na criação do projeto "Sócio Torcedor", no qual são oferecidas vantagens aos torcedores que aderirem tal programa. Diferentemente do que aconteceu com outros clubes, a estratégia foi um sucesso. Qual o número de "sócio-torcedores" atualmente? De que forma o programa contribuiu para a consolidação da marca do clube? As receitas obtidas foram compatíveis com as que haviam sido previstas? R.: A estratégia é um sucesso até hoje. (continua com Franscisco) 10. O SPFC já realizou excursões para países estrangeiros, assim como outros clubes (caso de Internacional, Vasco). Que efeitos as excursões para lndla e Hong Kong tiveram para a marca do clube? Já foi possivel obter retornos dessas experiências? Há chance de ocorrer novamente? Quais as diferenças encontradas em relação aos grandes times da Europa (casos de Real Madrid e Manchester United) que têm fã--clubes, principalmente nos países asiáticos? R.: Há chances sim. O São Paulo tem um departamento de relações internacionais que cuida de toda essa parte de excursões. Já temos viagens programadas para Arábia Saudita, Estados Unidos e mais 3 países. É positivo, uma vez que é uma semente, mesmo que pequena, que estamos plantando nesses países que não conhecem muito o São Paulo. E obtemos retomo de pessoas que vêem e são simpatizantes do time nesses países. Além das diferenças financeiras, a situação geográfica prejudica um pouco essas ações, uma vez que os grandes clubes da Europa se situam mais próximos dos países asiáticos. Mas essa é uma situação que estamos mudando. 11. O SPFC é um dos poucos grandes times brasileiros que consegue manter times competitivos sem a ajuda de parcertas (investidores externos). De que fonna isso é possível? R.: Profissionalismo e honestidade. Toda minha diretoria é profissional e honesta. Todo o dinheiro que entra para o clube é revertido para o clube. Só dessa forma é possível termos o CT 78 Barra Funda, CFA Cotia, Estádio do Morumbi, pois tudo é aplicado dentro do clube. Não temos investimentos de fora e nem queremos esse tipo de aplicação. 12. Recentemente o SPFC firmou uma parceria com a Wamer Bras. O que essa parceria representa para os negócios do time? Existe a intenção de levar a marca do SPFC para o exterior através de produtos da Warner (caso dos bonecos de pelúcia)? Qual o impacto dos bonecos nas receitas do clube? R.: A Wamer é uma empresa mundialmente conhecida. Ao se associar a empresas desse porte, trazemos a credibilidade e confiabilidade dessa empresa para o clube, o que toma nossos produtos capazes de atingirem consumidores no exterior, pois nossos produtos vão ser lançados lá fora, principalmente no Japão e Espanha, até porque o São Paulo já jogou muito nesses países. 13. O SPFC também firmou uma parceria com um clube inglês (Sheffield United). Essa parceria visa o intercâmbio de jogadores? De que outras fonnas esse "contato" na Inglaterra pode ser benéfico para o clube? Jâ ocorreu de fonna efetiva esse intercâmbio? R.: Realmente, tal parcerta visa o intercâmbio de jogadores, tanto do São Paulo para o Sheffield como o inverso. Porém, esse não é o único clube com o qual o São Paulo mantém relações, inclusive o Boca Juniors. Esse contato se dá na forma da plantação de uma semente: o São Paulo planta uma semente na Inglaterra e o Sheffield planta uma semente aqui, divulgando assim as marcas em novos mercados. Já mandamos escolas de futebol para torneios na Inglaterra e o mesmo ocorreu aqui no Brasil. 14. O Brasil é conhecido pela grande safra de ótimos jogadores que ano após ano surgem em seus times, nos mais variados estados brasileiros e o SPFC é um dos clubes que melhor investe na área de formação de jovens promessas do futebol, sendo o caso mais recente foi o zagueiro Breno, vendido ao Bayer de Munique por R$ 18mi. Tal fato faz com que, principalmente, clubes europeus mantenham olheiros aqui prontos para levar esses jovens, ocasionando um êxodo cada vez com idades mais precoces. Como o sr. Vê esse fato no futebol brasileiro? Qual a contribuição da venda de jogadores para o clube? Acha importante e necessário a manutenção dessa estrutura? O sr. concorda que a fonnação de jogadores na categoria de base segue um processo no qual o clube agrega valor ao atleta ("compra" a "matéria prima" por um preço baixo, agrega valor e a vende com um valor final muito mais elevado)? R.: O Brasil é um celeiro de atletas, porém hoje com menos intensidade, pois atualmente os pais tendem a direcionar as crianças para outras profissões que não o futebol. Assim, as crianças têm menos contato com o futebol, e quando o fazem, estão cada vez mais dentro de escolinhas, diferente de antigamente, onde os bons jogadores jogavam bola na rua, com qualquer coisa que se assemelhe a uma bola. O São Paulo conta com o CFA (Centro de Formação Amador) em Cotia, visando à formação dessas jovens promessas. ~ importante a manutenção dessa estrutura para o clube, uma vez que o clube investe no jogador (escola, alimentação, médico, dentista, cirurgias). Assim, a follTlação de atletas fatalmente cai nesse processo de agregar valor. Porém, há de se lembrar que não adianta tentar agregar valor a uma matéria prima de baixa qualidade. 15. Na época da construçao do estádio do Morumbi muito foi dito que ele seria um ~elefante branco", que seria um investimento sem retornos. Hoje, o Morumbi é uma das principais fontes de renda do time, não apenas com receitas provenientes do futebol (bilheteria, loja Reebok, alimentação, publicidade estática, aluguel para times adversários) mas também para shows e outras atividades. Qual a importância do estãdio para a saúde financeira do clube, e como se deu essa mudança de mentalidade acerca dos estádios brasileiros? R.: Há a necessidade da adaptação dos estádios para a realidade brasileira, uma vez que eles não foram construidos para shows. O Morumbi foi adaptado para receber tais shows, e também eventos religiosos entre outros. Já temos programados outros shows para o decorrer desse ano. 79 Antigamente, o estádio era enorme para os shows que tínhamos. Hoje, já se tomou pequeno. E o retomo financeiro que recebemos é grande, não apenas dos shows, mas também de todas as estruturas disponíveis para os torcedores dentro do estádio. 16. Já há planos de novas ações de marketing que utilizem o Estâdio? R.: Após a Copa do Mundo, a parte térrea do estádio será toda reformada, com a criação de camarotes e de uma praça de alimentação. Esses camarotes visam atrair um público com um nível de renda superior e que venha a gastar mais no estádio. A idéia é ter menos pessoas, que gastem mais, ao invés de um número maior de pessoas, que além de gastarem pouco, acabam destruindo parte do estádio. 17. O senhor acha que o futuro do futebol é elitizar o público? R.: Não será elitizar, porém os torcedores terão de se conscientizar que o futebol é um centro cultural, um espetáculo, uma forma de entretenimento, e não uma praça de guerra. É possível colocar uma orquestra sinfônica tocando o hino nacional. Assim, só virá ao estádio quem estiver disposto a pagar o preço por esse espetáculo. Com a reforma da parte térrea, também temos planos de aumentar o preço dos ingressos tanto da arquibancada como da cativa. 18. o anúncio da Copa de 2014 no Brasil fez com que muitos times começassem a pensar em reformas de seus estádios para estarem aptos a sediarem jogos do evento. Outros, como o Palmeiras, anunciaram a construção de um novo estádio. O São Paulo expôs um projeto de cobrir as arquibancadas do Morumbi e criar mais vagas de estacionamento, o que custaria cerca de R$ 150 milhões (fonte: Gazeta Esportiva) aos cofres do clube. Quais as principais fonnas de retorno que o clube terâ caso o Morumbi seja escolhido como um dos estãdios da Copa? Há alguma previsao de retomo esperado para tal investimento? R.: Esse retomo se dará na fom1a dos patrocinadores que estarão no Morumbi. Esses patrocinadores serão VIPs, de grande porte financeiro, como empresas de cartão de crédito, instituiÇOes financeiras. Essas empresas já têm uma outra visão do futebol. Além disso, esperamos um grande investimento da FIFA. 19. Apesar de o Brasil ter os melhores jogadores, o que seria capaz de fonnar melhores times, e valorizar o espetáculo, o futebol brasileiro está muito atrás do futebol de países do velho mundo (principalmente Itália, Espanha e Inglaterra). o que faH:a aos clubes brasileiros para poderem se equiparar com as equipes européias? R.: Falta é um pouco mais de conscientização dos jogadores em formarem uma equipe, individualmente. Quem está jogando deve compreender que é um funcionário, então tem de vestir a camisa do clube e suar essa camisa visando à manutenção da imagem do clube, seja na esfera esportiva, seja na parte dos negócios. Administrativamente, a única diferença entre o São Paulo e outros clubes europeus é que eles se tornaram empresas, com ações na bolsa, enquanto nós não, o que particularmente acho até melhor, pois assim mantemos um pouco do romantismo e do folclore do futeboL 20. Principalmente na Inglaterra, os times são conhecidos por lançarem ações na bolsa de valores. Essa é uma realidade próxima aos times de futebol brasileiros? E do SPFC especificamente? R.: o São Paulo estaria pronto para o lançamento de ações na bolsa, porém é uma ação que tem de ser analisada, pois existem exemplos de times que fizeram tal ação e não foram bem sucedidos. 80 Anexo 2: Entrevista - Luis Paulo Rosenberg (Corinthians) 1. Principalmente a partir dos anos 80, o Marketing Esportivo vem crescendo muito no futebol brasileiro. Tal crescimento foi intensificado pela Lei Pelé, com a qual os clubes perderam o direito de negociar os jogadores (fim da lei do passe). Diante disso, o que pode-se esperar para o futuro do Marketing Esportivo no esporte? Quais as perspectivas para o crescimento dessa área? R: Apesar de não existir mais o chamado mpasse", o grande receita dos clubes hoje em dia ainda é com a transferência de jogadores. NA o é mais aquela "escravidão", mas a atividade mais rentável de um clube ainda é pegar um menino, trienar, colocar para jogar no time principal e vender para dubes estrangeiros. O Marketing Esportivo é algo que ainda está começando, porém enquanto existir a grande diferença entre os clubes da Europa e os brasileiros, o grande filão ainda será com a venda de jogadores. Posterionnente, temos o patrocínio e o fornecimento de material esportivo como fonnas mais rentáveis no marketing dos clubes. Depois, temos o direito televisívo e por último o licenciamento, que é cultivar a imagem do clube. E este está engatinhando ainda. Aqui, encontramos uma diferença: clubes que tem um estádio e clubes que não o tem. 2. Após o inicio da Lei Pelé, muitos clubes tiveram dificuldades para suprir o déficit que a impossibilidade de negociação de jogadores trouxe aos balanços de pagamento. Os ganhos com Marketing são peça fundamental para a manutenção de lucros ao final do exercício? R: Cada clube tem uma situaçAo dfferente. Para o Corfnthians, atualmente, é uma questão de sobrevivência. Estamos sendo extremamente agressivos nos planos de marketing para conseguir receitas para o clube. 3. O Departamento de Marketing vinha sendo administrado pela neta do então presidente Alberto Dualib. Durante essa gestão, o que se viu foi uma estagnaçAo da marca Corinthians e ações de marketing inexistentes. A nova gestão jé demonstra uma nova visão e vêm obtendo resultados satisfatórios com o lançamento do "kit torcedor", da terceira camisa (roxa) e a renegociação com um novo patrocinador (Mediai Saúde), em um dos maiores valores de patrocínio do futebol brasileiro. Atualmente, o departamento de marketing do Corinthíans é profissionalizado? R: O Departamento de Marketing ainda não é profissionalizado. E acho até bom que não seja. Eu vejo que o sucesso do Departamento de Marketing é exatamente o amadorismo, pois ali estamos trabalhando uma média de 14h por dia, 7 dias por semana. O primeiro momento que o Marketing Esportivo vive no país tende ser totalmente emocional. E não acho interessante tirar esse aspecto. Você tem de ter gente talentosa, honesta e ter um projeto a ser seguido. o grande desafio é compatibilizar a necessidade inescapável da lógica econômica (obter retomo financeiro) com a paixão (obter resultados dentro do campo), pois são coisas que não andam juntas sempre. 4. Atualmente, quais os principais Departamento de Mark.eting do Corinthians? produtos e/ou eventos realizados pelo R: Produtos licenciados: computadores e periféricos que serão lançados em breve, bem como uma agência de turismo do clube que dará a oportunidade dos torcedores acompanharam o time em qualquer lugar do Brasil, a televisão via Web (TimãoTV) e o maior projeto desse ano, que é o Fiel Torcedor, visando dar maior comodidade para o torcedor no estádio e por fim uma rádio AM. 5. Com o lançamento do "kit torcedor" o Corinthians aumentou o número de produtos licenciados pelo clube. Tal crescimento continuou com o lançamento do relógio do clube, em diversos preços, buscando atingir o maior número de clientes. Atualmente, quantos são os produtos licenciados pelo clube? R: 140. Porém, em poucos o Corinthians foi buscar a parceria. A grande maioria foi de empresas que vieram até o Corinthians para apresentar o projeto. 81 6. O terceiro uniforme lançado recentemente quebrou o padrão das cores corinthianas ao adotar o roxo para estampar a camisa. Esse unifonne está dividindo opiniões: se por um lado houve uma grande procura e mais de 30 mil peças já foram vendidas, por outro houve ações de repulsa, como a pichação dos muros do Parque São Jorge. Obvíamente é impossível agradar a todos os torcedores, porém, pode-se procurar atingir o máximo deles. Para a adoção desse unifonne, quais foram as pesquisas e/ou ferramentas utilizadas para se conhecer o gosto do torcedor? R: A parte de pesquisas foi feita pela Nike, procedimento este que eles fazem periodicamente. Nessas pesquisas, viram .que a aceitação seria muito boa. Apesar de uma minoria não gostar, percebeu.se que a grande maioria da torcida corinthiana gostou e queria ver o time com a camisa. 7. A queda para a série 8 teria de tudo para prejudicar os negócios dos times que se encontram I encontraram nessa situação. Porém, o que se vê é exatamente o contrário: a queda para a segunda divisão estimula os departamentos de marketing desses clubes (como aconteceu anterionnente com Palmeiras, Botafogo, Grêmio, Atlético- MG, Coritiba). O Corinthians parece seguir essa tendência, visto que com o novo contrato de patrocínio, mostra que sua marca continua valorizada. Além do mais, a ampla aceitação da torcida com o lançamento do k.it mostra que o clube conta com torcedores I clientes que irão apoiar o clube mesmo em situação adversa. Há outras ações de marketing previstas para serem exploradas durante o ano de 2008 e a "estada" do Corinthians na segunda divisão? R: o contrato que o Corinthians fez para as transmissões de seus jogos foi algo totalmente inédito. Por um lado, uma emissora (RedeTV) irá transmitir todos os 30 jogos do time e a outra (Globo), transmitindo 21. A Globo pagará proporcionalmente à audiência que os jogos do Corinthians tiverem. Outra ação que será utilizada é que em cada jogo irá entrar um torcedor com o unifonne do Corinthians com o time, será tirada uma foto com o time. Também, haverá um patrocinador que colocará seu logo e uma frase de efeito nos túneis que dão acesso ao gramado. Haverá, também, um arco de papel com o logo da empresa na frente do túnel. 8. Na gestão anterior, pode·se dizer que o Dept. de Marketing ficou um bom tempo em letargia, no qual não se via inovações. A atual gestão fez questão de mudar essa concepçao e iniciou novas ações de mark.eting para o clube. Qual a importância do Marketing para o Corinthians e qual a porcentagem da participação do marketing no faturamento do departamento de futebol? R: A principal importância do marketing é a auto·estima. Recuperar o orgulho do corinthiano que foi perdido no ano passado. O objetivo é aumentar as receitas do clube em 50%, o que será um aumento de mais de 100% para as receitas do Departamento de Marketing. 9. Clubes como São Paulo, Internacional, Vasco, Santos e Grêmio já se aventuraram em terras estrangeiras nos famosos torneios "caça níqueisn. Apesar de um título de tal torneio não ser de grande expressão, as receitas geradas são consideráveis. O Corinthians tem pretensões de participar de torneios desse tipo? O Sr. Acha que esses torneios ajudam a imagem e a marca do time no exteriot? R: Não. Antes de tudo, precisamos reforçar nossa imagem dentro do Brasil, para posteriormente visannos o exterior. Atualmente estamos visando o estado de São Paulo, região Sul e posteriormente o resto do Brasil. 1O. Em pesquisa recentemente divulgada, o Colinthians aparece como a segunda maior torcida do pais (12%, atrás apenas do Flamengo com 17%). Considerando esses torcedores como clientes, pode-se dizer que o clube tem um grande público alvo. Porém, o que se vê é que as oportunidades não vinham sendo aproveitadas diante da massa de sua torcida. O lançamento dos kits parece ser o prtmeiro passo para mudar essa situação. Como aproximar ainda mais os torcedores do clube, transfonnando-os em consumidores fiéis? 82 R: Lançar produtos cada vez mais voltados única e exclusivamente para o torcedor, pensando-se no custo e no poder de compra da sociedade. 11. O Corinthians recentemente lançou o seu programa de sócio torcedor, o "Fiel Torcedor''. Em comparação a outros times, pode-se dizer que esse projeto demorou muito para sair do papel. Como explicar que o time com maior torcida paulista, maior apelo popular e com torcedores mais apaixonados tenha demorado tanto para lançar um programa que trouxesse benefícios para esses torcedores? Há algum estudo sobre as receitas que serão geradas com esse projeto? R: Isso mostra o primarismo da gestão de marketing dos clubes no Brasil. Se tivéssemos lançado essa ação há 5 anos, hoje poderíamos estar em uma situação financeira muito melhor do que estamos. Todos os estudos que havíamos feito foram desconsiderados pois todo projeto que é feito para a torcida necessita de resultados dentro de campo. Como esses variam muito, é difícil fazer e confiar nos estudos realizados. 12. Quais os próximos planos para o Dept. de Marketing do clube? R: Acima de tudo, ser pró-ativo na criação de licenciamentos e promoções de caráter social 13. Nos úHimos anos, o Corinthians fechou parcerias (Hicks Muse, Excel, MSI). Todas, apesar de um começo glorioso, acabaram de foiTTla rápida e a última, em especial, de foiTTla melancólica para o clube. Quais os motivos para que essas parcerias não tenham dado certo? Acha que o futebol brasileiro é um ambiente propicio para a chegada de investidores de grande porte e/ou investidores estrangeiros? No atual momento do futebol brasileiro, o Sr. Considera as parcerias indispensáveis? R: Acima de tudo, a contradição entre paixão e Economia. Por isso, agora, o Corinthians se decidiu por andar sozinho. Nós vamos sozinhos achar nossos caminhos, não precisamos de parceiro. Investidores que se voltam para o Mebol brasileiro devem ser loucos. É um ambiente extremamente instável, tudo é levado a fim de buscar algo pessoal. As parcerias acabam por agravar contradições, e o risco para o clube é muito grande. No curto prazo gera dividendos, porém acaba se vendendo o futuro do clube. 14. O Brasil é conhecido pela grande safra de ótimos jogadores que ano após ano surgem em seus times, nos mais variados estados brasileiros. Tal fato faz com que, principalmente, clubes europeus mantenham olheiros aqui prontos para levar esses jovens, ocasionando um êxodo cada vez com idades mais precoces. Como o sr. Vê esse fato no futebol brasileiro? Qual a contribuição da venda de jogadores para o clube? Acha importante e necessário a manutenção dessa estrutura? O sr. concorda que a fonnação de jogadores na categoria de base segue um processo no qual o clube agrega valor ao atleta ("compra" a "matéria prima" por um preço baixo, agrega valor e a vende com um valor final muito mais elevado)? R: Como disse anterioiTTlente, a venda de direitos de jogadores ainda é o principal componente de receitas para os clubes brasileiros, e para isso, há de ter todo um processo de encontrar o jogador, trabalha-lo nas categorias de base e posteriormente coloca-lo para jogar no time principal. O Corinthians não tem um Centro de FoiTTlação como ocorre com o São Paulo, porém, segundo uma pesquisa feita no início da última Champions League, o Corinthians foi o primeiro clube a contribuir com jogadores para a liga, com 15. 15. O Corinthians é o único grande clube paulista que não possui estádio própr1o. Diversos projetos já foram levados a público, porém nenhum chegou a se concretizar. Recentemente, mais um desses projetos surgiu e afiiTTla que o tão sonhado estádio corinthiano ficaria pronto até 2010. Quais as principais fonnas de retomo que o clube terá com o novo estádio? o Corinthians, com a construção do estádio, tem intenção de "entrar na briga" para sediar algum jogo da Copa do Mundo de 2014? Que tipos de receita podem ser extraídas do estádio nesse evento? 83 R: Na verdade, o Corinthians não lançou nenhum projeto. Um grupo de empresários veio até o clube com um projeto e o Corinthians deu 45 dias para que o projeto tivesse todas as autorizações necessárias. Independente dessa proposta, o Corinthians irá fazer, sim, seu estádio pois atualmente é algo indispensável. Mio iremos fazer nenhuma loucura, mas o Corinthians terá um estádio que maxiffiizará seu retomo, com camarotes, cadeiras cativas, lojas, restaurantes, estacionamento e o contrato de naming rights. Com o novo estádio, o clube pretende entrar na briga para sediar jogos da Copa do Mundo. 16. Apesar de o Brasil ter os melhores jogadores, o que seria capaz de tonnar melhores times, e valorizar o espetáculo, o futebol brasileiro está muito atrás do futebol de países do velho mundo (principalmente Itália, Espanha e Inglaterra). O que falta aos clubes brasileiros para poderem se equiparar com as equipes européias? R: O Brasil está muito atrasado em comparação com os outros clubes europeus. O futebol brasileiro precisa ser mudado, e essa mudança precisa ocorrer debaixo para cima, começando pelos dubes, principalmente os dois maiores do país, Corínthians e Flamengo. Quanto mais rentável conseguirmos deixar o futebol brasileiro, mais condições teremos de segurar jogadores aqui, e consequentemente, melhorar a qualidade do espetáculo. Assim, será possível obter melhores contratos, em todas as formas de marketing possíveis. 84 Anexo 3: Entrevista- Luiz Gonzaga Belluzzo (Palmeiras) 1. o Departamento de Mari<eting do Palmeiras está re~adquirindo o reconhecimento e vem sendo marcado pelo seu profissionalismo e seriedade. Porém, esse é um cenário relativamente novo, não apenas para o Palmeiras mas também para todos os times brasileiros. De que forma ocorreu à profissionalização do Departamento de Marketing do clube? R.: Na verdade, o departamento de Marketing no Palmeiras nunca existiu. Atualmente temos profissionais de Marketing que trabalham em agências e que dispendem parte do seu tempo para promover as ações de marketing do dube. Assim, é impróprio falar de profissionalismo nesse sentido. O Palmeiras ainda não profissionalizou sua estrutura administrativa. Os conselhos dos clubes em geral não são muito inclinados a profissionalização dos departamentos, devido a um conflito de interesses. 2. Principalmente a partir dos anos 80, o Marketing Esportivo vem crescendo muito no futebol brasileiro. Tal crescimento foi intensificado pela Lei Pelé, com a qual os clubes perderam o direito de negociar os jogadores (fim da lei do passe). Diante disso, o que pode-se esperar para o futuro do Marketing Esportivo no esporte? Quais as perspectivas para o crescimento dessa área? R.: Não acho que o Marketing Esportivo tenha conseguido suprir o papel que a venda de jogadores propiciava aos clubes, porém isso ainda é uma coisa embrionária. Mas o Marketing Esportivo está se encaminhando, apesar dos problemas e divergências entre clubes e empresas. As empresas ainda têm um ~pé atrás'" com os clubes, devido a experiências que não foram bem sucedidos no passado. A principal necessidade dos clubes é transmitir credibilidade às empresas, para assim atrair mais investidores para o esporte, e é exatamente isso que essa atual gestão do Palmeiras vem buscando. Acho que o Marketing Esportivo ainda vai crescer muito, se profissionalizar e se consolidar, pois do ponto de vista de quem utiliza o futebol como instrumento de marketing é muito vantajoso, pois a divulgação e exposição são enormes. Porém, para que isso aconteça, deve haver um entendimento entre todas as partes desse processo (clubes, patrocinadores, televisão etc). 3. Diante desse contexto, como o senhor vê o "monopólio" de detenninada rede de televisão sobre o futebol brasileiro? R.: Esse monopólio é um problema. Não tem sido ruim para o futebol, porém tem inibido os clubes a buscarem outras soluções. Os clubes se tomaram muito dependentes dos direitos de transmissão. E no meu ponto de vista esses direitos de transmissão são muito baratos pela importância que eles têm nas grades de transmissão das televisões. Há uma força desproporcional entre as redes de televisão e os clubes. Além disso, muitos clubes têm medo da televisão a fim de sofrerem represálias. Assim, o prejuízo para os times acaba sendo muito grande. 4. Após o inicio da Lei Pelé, muitos clubes tiveram dificuldades para suprir o déficit que a impossibilidade de venda de jogadores trouxe aos balanços de pagamento. Os ganhos com Marketing são peça fundamental para a manutenção de lucros ao final do exercício? R.: São sim, com certeza. Talvez não possamos dizer lucros, mas são fundamentais para a manutenção de déficits sob controle. Hoje é fundamental ter receitas com patrocínio de camisa e de marketing em geral para que se possa chegar ao final do ano sem problemas de falta de pagamento de salários por exemplo. O Palmeiras tem uma receita de R$ 12,5 com patrocínio de camisa, entre manga e peito. Além disso, a FIAT busca, de fmma pioneira, investir nas categorias de base (dar treinamento, escola para os jogadores), além de projetos no âmbito social e ambiental. Tais ações são muito importantes para o clube e as relações que ele mantém com seus atletas, sócios, funcionários. 85 5. Atualmente, quais os principais Departamento de Marketing do Palmeiras? produtos e/ou eventos realizados pelo R.: Eventos regulares dos sócios remidos (Sociedade Eternos Palestrinos) que trazem um faturamento bastante razoável, a cesta de atletas que agora foi incorporada pela Traffic, as diversas ações com a FIAT (meio ambiente e social), ações com a Adidas, venda do nome Palmeiras para um espécie de loteria. Todas essas ações são feitas com o objetivo de se maximizar as receitas de marketing. 6. o Palmeiras vem aumentando sua gama de produtos licenciados (como por exemplo, a venda da grama do Palestra Itália), seguindo uma tendência lançada pelo SPFC (como dito em entrevista ao Gazeta Esportiva pelo Vice-Presidente de Marketing no dia 20/12). Atualmente, quanto são os produtos licenciados pelo clube? R.: O licenciamento vem recebendo uma atenção especial do clube, pois é uma área muito mal tratada, muito dispersa nos clubes e é preciso organizá-lo. Hoje, temos aproximadamente 200 produtos licenciados. Muitos desses produtos são de baixo volume unitário, então ganhamos no volume vendido. Porém, mais uma vez, a dispersão e a dificuldade de mensuração desses produtos prejudicam a avaliação das vendas. 7. O Departamento de Marketing do Palmeiras ficou um bom tempo em letargia, em que não se via inovações. A atual gestão fez questão de mudar essa concepção e iniciou novas ações de marketing para o clube. Qual a importância do Marketing para o Palmeiras e qual a porcentagem da participação do marketing no faturamento do departamento de futebol? R.: A receita gerada pelo marketing corresponde por pouco mais de 30% do orçamento do clube. A esse percentual agrega~se ainda as receitas de bilheteria. Tal desempenho é baixo, principalmente pela fraca participação do setor de licenciamentos. 8. o senhor foi responsável pelo lançamento da a cesta de atletas"' novidade que revolucionou o futebol brasileiro. Qual o atual status desse projeto? Quanto já foi arrecadado? Acha que tal ação pode se tomar corriqueira entre os clubes brasileiros? R.: A cesta de atleta corresponde a alguns atletas que tem maior potencial de valorização, que são colocados com um preço menor para que o investidor se tome atraído. Ao vender o atleta, esse investidor tem direito a um percentual dessa venda. Os investidores compram cotas dessa cesta. O projeto era restrito, conseguimos arrecadar R$ 2,3 milhões mas agora passou para um outro patamar, no qual a Traffic assumiu o controle. Todos os clubes estão interessados em fazer essa ação. 9. Outra ação que mostra a recuperação do Departamento de Marketing do clube é a valorização do patrocínio na camisa do clube. O contrato assinado com a FIAT prevê R$ 12mi de para estampar o nome na camisa mais R$ 7mi para investimentos no futebol (fonte:globoesporte.com), se tomando assim uma das maiores receitas do futebol brasileiro. Qual a porcentagem que as receitas desse patrocínio representam nas receitas totais do Marketing? R.: Da receita gerada pelo markeüng, o patrocínio corresponde a mais de 2 terços (67%) 10. Muitos clubes, inclusive o Palmeiras, lançaram o programa do "Sócio~ Torcedor". Alguns conseguiram certo sucesso, enquanto outros parecem ter deixado a idéia de lado. Quantos torcedores aderiram à "Onda Verde" (sócio-torcedor do Palmeiras)? De que fonna o programa contribuiu para a consolidação da marca do clube? As receitas obtidas foram compatíveis com as que haviam sido previsionadas? R: No sao Paulo e no Grêmio tais programas deram certo, porém no Palmeiras é um movimento irrisório. Para que esse programa de certo, é preciso oferecer benefícios reais para os torcedores. O Palmeiras ainda não conseguiu organizar um ticket baixo e uma série de vantagens para torcedores que aderissem esse projeto. Por exemplo, em jogos fora da capital, o Palmeiras 86 poderia levar membros do clube na véspera do jogo e fazer reuniões com os torcedores da cidade que vai abrigar o jogo. Não adianta tentar tirar o dinheiro do torcedor sem oferecer comodidades para eles. 11. Clubes como São Paulo, Internacional, Vasco, Santos e Grêmio já se aventuraram em terras estrangeiras nos famosos torneios «caça níqueis~. Apesar de um título de tal torneio não ser de grande expressão, as receitas geradas são consideráveis. o Palmeiras tem pretensões de participar de torneios desse tipo? O Sr. Acha que esses torneios ajudam a imagem e a marca do time no exterior? R.: Os dubes deveriam brigar com a federação para terem um espaço para fazerem uma prétemporada no exterior. Na minha opinião, o Campeonato Paulista deveria ser abolido. Tem de haver um espaço para os clubes excursionarem, jogarem fora do país, participarem de torneios. Os dirigentes estão insulando o futebol brasileiro. Atualmente o Palmeiras não tem participado desses torneios porque seria necessário interromper as férias dos jogadores, porém o clube é um dos maiores vencedores do Torneio Ramon de Carranza. Esses torneios ajudam e muito a fortalecer a marca dos clubes no exterior. 12. A época da co-gestão com a Parmalat foi de anos áureos para o Palmeiras. Muito se é dito que dificilmente haverá no futebol brasileiro uma nova parceria como aquela. O que representou essa parceria ao clube? De que fonna funcionava o patrocínio? Quais heranças foram deixadas pela empresa italiana? R: A parceria da Pannalat foi criada numa circunstancia especial, pois a Parmalat estava no mercado brasileiro há muito tempo, porém não tinha peso no mercado e buscava ganhar market share naquele momento. Para isso, buscou utilizar o Palmeiras como instrumento de marketing. Para que se tenha uma idéia da força do Mark.eting Esportivo, não a nenhuma avaliação ou estudo que indique um prejuízo para a Parmalat. Nem a idéia de que torcedores do Corinthians não comprariam os produtos é verdade. Havia uma avaliação positiva dos jovens de todas as torcidas em relação ao patrocínio de esportes, com baixíssima rejeição. A Pannalat na época iria comprar o Paulista de Jundiaí, porém optou pelo Palmeiras por ter uma visibilidade muito maior. O projeto era fazer o Palmeiras campeão 2 anos após o início da parceria, feito que aconteceu 1 ano apenas após. Houve uma sinergia de marcas (co~branding) da melhor qualidade, com resultados muito bons; o Palmeiras ganhando a maioria dos títulos que disputou e a empresa aumentando muito seu market share e seu faturamento. A parceria durou 8 anos, e ao término, o Palmeiras ainda tinha dinheiro em caixa. A parte de patrocínio era paga separada da co~gestão, em que a Pannalat pagava os salários dos jogadores e o Palmeiras tinha direito a parcela da venda dos mesmos. 13. Mais recentemente, o Palmeiras fechou uma nova parceria com a Traffic, e assim viabilizou a contratação de nomes de peso para o clube, como o técnico Vander1ei Luxemburgo e Diego Souza. No atual momento do futebol brasileiro, o Sr. Considera as parcerias indispensãveis? R.; Eu acho que é muito difícil você sobreviver e ter um desempenho esportivo bom sem ter algum recurso ou fonte que não seja diretamente do clube. Você tem de ter um parceiro. Essa parceria pode ser de natureza distinta. A Traffic não tem uma parceria com o Palmeiras nos moldes que a Parmalat tinha; a Traffic não paga salário dos jogadores, o Palmeiras tem que financiar isso. A parceria atual é uma repartição de funções: a Traffic contrata o jogador, coloca no Palmeiras para o jogador se valorizar. Na venda do jogador, o Palmeiras tem uma participação que varia de jogador para jogador. 14. O Brasil é conhecido pela grande safra de ótimos jogadores que ano após ano surgem em seus times, nos mais variados estados brasileiros. Tal fato faz com que, principalmente, clubes europeus mantenham olheiros aqui prontos para levar esses jovens, ocasionando um êxodo cada vez com idades mais precoces. Como o sr. Vê esse fato no futebol brasileiro? Qual a contribuição da 87 venda de jogadores para o clube? Acha importante e necessano a manutenção dessa estrutura? O sr. concorda que a formação de jogadores na categoria de base segue um processo no qual o clube agrega valor ao atleta ("compra" a "matéria prima" por um preço baixo, agrega valor e a vende com um valor final muito mais elevado)? R.: O mercado do futebol é polarizado. De um lado temos os folllladores de jogadores e de outro os consumidores. As diferenças econômicas são fundamentais. Grécia e Turquia são países com potencial econômico menor que o Brasil, porém os clubes têm potencial econOmico maior. Esses clubes têm a possibilidade de disputar a Champions League. O Fenerbahque é um clube europeu mediano, porém tem receitas da ordem de 3 vezes mais que a receita do São Paulo. O êxodo prejudica a manutenção dos ídolos no futebol brasileiro. E sem ídolos, o espetáculo acaba sendo muito prejudicado. A agregação de valor por parte dos clubes faz parte do negócio do futebol atualmente. ~algo natural para se dar lucro e gerar receitas. Os clubes vão nos centros folllladores e assim usam o time como uma vitrine. 15. o anúncio da Copa de 2014 no Brasil fez com que muitos times começassem a pensar em refollllas de seus estádios para estarem aptos a sediarem jogos do evento. O Palmeiras, anunciou a construção de um novo estádio, o Arena Palestra Itália, o que custaria cerca de R$ 250 milhões (fonte: globoesporte.com) aos cofres do clube. Quais as principais fonnas de retomo que o clube terá com o novo estádio? Caso a Arena seja escolhida como um dos estádios da Copa, que tipos de receita podem ser extraídas do estádio nesse evento? Há alguma previsão de retomo esperado para tal investimento? Já há planos de novas ações de marketing aproveitando a Copa e o estãdio l'efonnulado? R.: A construção da Arena Multiuso será a liberação definitiva do Palmeiras em termos de receita. Esse é o grande projeto do Palmeiras. Estamos fazendo isso junto a uma empresa, com todo o capital privado e o Palmeiras vai ceder o direito de uso de superfície e dar direito à renda líquida. A construção será financiada com a venda de camarotes e cadeiras. Temos a consultoria da empresa que construiu a Amsterdã Arena (melhor Arena da Europa) e o Madison Square Garden. Diante disso, temos planos para a construção de praça de alimentação e estacionamento. Tudo isso já está em andamento e não é um financiamento complicado, levando-se em conta que o Palmeiras será o único clube a ter uma Arena totalmente coberta com teto retrátil, o que é uma inovação cujo valor as pessoas não tem idéia ainda, visto que se pode levar diversos tipos de espetáculos para dentro do estádio. A Arena não será um estádio de futebol; será um estádio onde eventualmente se joga futebol. Será uma Arena Multiuso coberta, onde ocorrerão diversos eventos, convenções, reuniões, organizadas por empresas. Ao longo da semana haverá espetáculos de música, shows de rock, convenções religiosas, aproveitando o conforto dos camarotes e cadeiras cobertas. O Palmeiras está estudando a possibilidade de se finnar um contrato de namíng right, visto que essa ferramenta é um produto de geração de valor importante. A Copa do Mundo seria um "a mais~ para o clube. A construção desse estádio não visa esse evento. 16. Apesar de o Brasil ter os melhores jogadores, o que seria capaz de follllar melhores times, e valorizar o espetáculo, o futebol brasileiro está muito atrás do futebol de países do velho mundo (principalmente Itália, Espanha e Inglaterra). O que falta aos clubes brasileiros para poderem se equiparar com as equipes européias? R.: A maior diferença é a renda per capita da população. Os times ganham muito dinheiro com a camisa. As empresas de material esportivo colocam as camisas com preço europeu, porém o nível de renda é brasileiro. Eles teriam de baixar muito o preço das camisas pois a elasticidade preço da camisa é alta. Se baixar o preço de R$ 140 para R$ 50 por exemplo. se venderia muito mais camisa. Nós estamos convencendo a Adidas a fazer camisas de usegunda linhaft, pois temos que adequar as vendas à realidade do país. Assim, precisamos saber explorar os diversos segmentos dentro da torcida, de forma a atingir toda essa demanda cativa do clube. 88