KELLY ALINE DE SOUZA SANTIAGO Epidemiologia Molecular Aplicada ao Controle de Infecções por Enterococos Resistentes à Vancomicina (VRE) em um Hospital de Oncologia Pediátrica Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências. São Paulo 2009 KELLY ALINE DE SOUZA SANTIAGO Epidemiologia Molecular Aplicada ao Controle de Infecções por Enterococos Resistentes à Vancomicina (VRE) em um Hospital de Oncologia Pediátrica Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Orientador: Prof. Antonio Carlos Campos Pignatari Co-orientador: Dr. Carlos Alberto Pires Pereira São Paulo 2009 ii SANTIAGO, Kelly Aline de Souza Epidemiologia Molecular Aplicada ao Controle de Infecções por Enterococos Resistentes à Vancomicina (VRE) em um Hospital de Oncologia Pediátrica. Kelly Aline de Souza Santiago - São Paulo, 2009. xx, 117f. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia. Título em inglês: Molecular Epidemiology Applied to the Control of Vancomycin-resistant Enterococci (VRE) Infections in a Pedriatric Oncology Hospital Key-words:1.Enterococos,2.resistência bacteriana, 3.antimicrobianos, 4.vancomicina, 5.epidemiologia molecular, 6.oncologia, 7.pediatria. iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA Chefe do Departamento: Prof. Dr. Angelo Amato Vincenzo de Paola Coordenador do Curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz São Paulo 2009 iv KELLY ALINE DE SOUZA SANTIAGO Epidemiologia Molecular Aplicada ao Controle de Infecções por Enterococos Resistente à Vancomicina (VRE) em um Hospital de Oncologia Pediátrica BANCA EXAMINADORA: Titular: Dr. Guilherme Henrique Campos Furtado Titular: Profa. Dra. Dulce Barbosa Titular: Dra. Marinês Dalla Valle Martino Suplente: Dra. Rosemeire Cobo Zanella Aprovada em: ___/___/___ v “Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso, e trabalhar em conjunto é a vitória.” Henry Ford vii Dedico este trabalho a Deus, pela proteção, pelos caminhos trilhados e pelo auxílio dado em todos os momentos. Obrigada pelo conhecimento e pelas pessoas que fazem e fizeram parte da minha vida, pois sem elas eu jamais teria conseguido. Obrigada, Senhor! Aos meus pais, Ivan Cássio e Maria das Graças, pelo amor e pela sábia educação. Aos meus irmãos, Cássio e Isis, pelos momentos felizes. Embora estejamos todos distantes, a preocupação e o carinho que sentimos uns pelos outros, supera tudo. Amo vocês e obrigada por vocês existirem na minha vida. À minha família e a todos os meus amigos, pelos incentivos, pelos conselhos, pelo apoio e momentos engraçados. Aos meus mestres e educadores, pelos sábios métodos de ensino que contribuíram na minha formação. viii Agradeço a DEUS, acima de tudo, pela dádiva da vida e por proporcionar-me a sua paz e a serenidade para enfrentar os obstáculos que atravessei e superar os desafios. ix Agradecimentos Várias pessoas contribuíram para que este trabalho chegasse a bom termo. A todas elas registro minha gratidão. Agradeço ao meu querido orientador Prof. Antonio Carlos Campos Pignatari, pela sua generosidade, credibilidade e apoio a nós, estudantes vindos de outros Estados, à procura de novos desafios. Pela oportunidade que me foi dada em fazer parte da família LEMC/ALERTA, proporcionando novos conhecimentos, novas conquistas e, acima de tudo, novas amizades que foram fundamentais para superar o desafio que é estar longe de casa. Obrigada pela confiança, paciência e pelos valiosos conselhos e sugestões que me deram coragem e força para novas conquistas. A toda equipe da CCIH do Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP/GRAAC): Dr. Carlinhos, Cida e Fabianne, pela constante preocupação e compromisso com o bem estar dos pacientes. A toda equipe de saúde do IOP pelo empenho oferecido para realização deste trabalho. A todos os funcionários do Laboratório de Microbiologia do Hospital São Paulo, em especial a Eliete e Thomás, pela força, sabedoria e bondade em ajudar sempre o próximo. Espero que a parceria formada entre estes três grupos, IOP, LEMC e Laboratório de Microbiologia - HSP, nunca seja quebrada e que essa tríplice aliança gere bons frutos por muito tempo. A todos os meus queridos amigos do grupo LEMC e ALERTA. Acho que essa é a parte mais difícil e como nosso grupo é muito grande, tenho medo de acabar esquecendo alguém. A TODOS vocês, gostaria de dizer que valeu pela força, pelo carinho e companheirismo durante essa jornada de cinco anos no x LEMC. Aos amigos que já saíram do laboratório (Jacy, Suzane, Cristiane, Julianas, Andreias,....), fica o meu agradecimento pelos ensinamentos e saudades dos nossos momentos divertidos e descontraídos. Aos que acabaram de chegar, desejo-os boas vindas e uma frase: Aprendemos quando compartilhamos experiências e o aprendizado deve ser constantemente repassado e não permitam que jamais se quebre o que foi construído. E aos que ainda estão, fica aqui meus eternos agradecimentos pela força, discussões, ensinamentos, aprendizados e muitas alegrias. Torço muito para que todos consigam achar a ponta do iceberg e quero que saibam que valeu muito cada período passado perto de vocês. Desejo-lhes muito SUCESSO nos novos desafios. Em particular, aos meus eternos amigos, colaboradores e “pau pra toda obra” (prefiro não comentar...rsrsrsrsrs). Agradeço toda a ajuda, apoio, momentos partilhados, sorrisos e lágrimas, conversas e silêncio: tudo sempre repleto de uma sensação de maravilha e de conforto. Em especial à Minoue (Fernanda Inoue) e Cayô (Rodrigo). Amigos, não tenho palavras para agradecer por todo apoio dado, pelos momentos felizes e sábio convívio. Tenho certeza de que, se perguntassem qual seria a mistura de um prato típico perfeito a base de um ingrediente baiano, um paulista (japonês) e um mineiro, com certeza a resposta seria a junção de Kelly, Fernanda e Rodrigo. Obrigada a Deus pelo nosso encontro. xi SUMÁRIO ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ____________________________ xv ÍNDICE DE TABELAS __________________________________________ xviii ÍNDICE DE FIGURAS ___________________________________________ xix 1 - INTRODUÇÃO _______________________________________________ 1 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ____________________________________ 10 2.1 - Agente Etiológico _________________________________________ 10 2.2 - Epidemiologia das Infecções por Enterococcus spp. _____________ 12 2.3 - Infecções por Enterococcus spp. em Pacientes Oncológicos _______ 16 2.4 - Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Enterococcus spp. ____________________________________________ 20 2.4.1 - Glicopeptídeos _______________________________________ 23 2.4.1.1 – Mecanismo de Ação _________________________________ 25 2.4.1.2 - Mecanismo de Resistência ____________________________ 28 2.5 - Importância do Controle Racional da Vancomicina em Pacientes Oncológicos _________________________________________________ 33 2.6 - Biologia Molecular Aplicada ao Controle de Surtos Hospitalares ____ 35 3 - OBJETIVOS ________________________________________________ 37 3.1 - Objetivo Principal _________________________________________ 37 3.2 - Objetivos Específicos ______________________________________ 37 4 - MATERIAL E MÉTODOS ______________________________________ 38 4.1 - Local de Estudo __________________________________________ 38 4.2 - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do IOP ____________ 39 4.3 - Desenho do Estudo _______________________________________ 41 4.3.1 - Estudo Retrospectivo __________________________________ 41 4.3.2 - Estudo Prospectivo ____________________________________ 42 4.3.2.1 - Coleta das Amostras _________________________________ 43 4.3.2.2 - Processamento das Amostras __________________________ 43 xii 4.4 - Identificação Fenotípica do Gênero ___________________________ 44 4.4.1 - Prova da Catalase _____________________________________ 44 4.4.2 - Hidrólise Enzimática da L-pyrrolidonyl β-naphtylamide (PYR) ___ 44 4.4.3 - Hidrólise da Bile Esculina _______________________________ 45 4.4.4 - Crescimento em Caldo 6,5% de NaCl ______________________ 45 4.5 - Identificaçao Fenotípica das Espécies _________________________ 45 4.5.1 - Fermentação de Carboidratos ____________________________ 46 4.5.2 - Teste de Motilidade ____________________________________ 46 4.5.3 - Produção de Pigmento _________________________________ 47 4.6 - Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos ____________________ 47 4.6.1 - Disco Difusão ________________________________________ 48 4.6.1.1 - Inóculo ____________________________________________ 48 4.6.1.2 - Inoculação das Placas ________________________________ 48 4.6.1.3 - Aplicação dos Discos e Interpretação dos Resultados _______ 49 4.6.2 - Etest _______________________________________________ 49 4.7 - Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) _____________ 50 4.8 - Electroforese em Campo Pulsado (PFGE) _____________________ 51 5 - RESULTADOS ______________________________________________ 54 5.1 - Resultados do Estudo Retrospectivo __________________________ 54 5.2 - Resultados do Estudo Prospectivo ___________________________ 58 5.3 - Caracterização dos Isolados de VRE _________________________ 60 5.4 - Tipagem Molecular das Amostras de E. faecium ________________ 62 5.4.1 - Critério de Inclusão das Amostras Isoladas para Tipagem Molecular _________________________________________________________ 62 5.4.2 - Análise da Tipagem Molecular Segundo Critérios de Tenover ___ 65 5.4.3 - Análise da Tipagem Molecular pelo Programa BioNumerics ____ 65 5.4.4 - Correlação entre Tipagem Molecular e Internação dos Pacientes_67 5.4.4.1 - Padrão de PFGE versus Unidades de Internação ___________ 67 5.4.4.2 - Padrão de PFGE versus período de internação ____________ 69 5.4.4.3 - Padrão de PFGE versus Período de Internação versus Unidade de Internação, com Foco no Fluxo dos Pacientes no IOP ____________ 70 xiii 6 - DISCUSSÃO________________________________________________ 75 7 - CONCLUSÕES______________________________________________ 87 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________ 89 9 - RESUMO _________________________________________________ 109 10 - ABSTRACT_______________________________________________ 111 11 - ANEXO __________________________________________________ 113 xiv ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS - Acquired Immune Deficiency Syndrome AMB - Ambulatório ATCC - American Type Culture Collection BHI - Brain Heart Infusion CCIH - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CDC - Centers for Disease Control and Prevention CIM - Concentração Inibitória Mínima CLSI - Clinical Laboratory Standards Institute CVC - Cateter Venoso Central EARSS - European Antimicrobial Resistance Surveillance System EORTC - European Organization for Research and Treatment of Cancer EPM - Escola Paulista de Medicina EUA - Estados Unidos da América FDA - Food and Drug Administration GRAACC - Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer HICPAC - Hospital Infection Control Practices Advisory Committee HL - High Level ICS - Infecção de Corrente Sanguínea IDSA - Infectious Diseases Society of America IOP - Instituto de Oncologia Pediátrica LEMC - Laboratório Especial de Microbiologia Clínica mDNA - Ácido Desoxirribonucleico Mensageiro MGB - Metil-α-D-Glucopiranisídeo xv MLST - Multilocus Sequence Typing MR - Multiresistentes MRSA - Methicillin-resistant Staphylococcus aureus NAG - N-acetilglucosamina NAM - Ácido N-acetilmurâmico NNIS - National Nosocomial Infection Surveillance ORF - Open Read Fream ORSA - Oxacillin-resistant Staphylococcus aureus pb - Pares de Bases PCIH - Programa de Controle de Infecção Hospitalar PCR - Polymerase Chain Reaction PFGE - Pulsed Field Gel Electrophoresis PYR - Pyrrolidonyl-Arylamidase rDNA - Ácido Desoxirribonucleico Ribossomal SCIH - Serviço de Controle de Infecção Hospitalar SCOPE - Surveillance and Control of Pathogens of Epidemiological Importance SNC - Sistema Nervoso Central TBE - Tris-Borato EDTA TMO - Transplante de Medula Óssea tRNAfMet - Ácido Ribonucléico Transportador Inciador TSB - Tryptone Soya Broth UFC - Unidades Formadoras de Colônia UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo UPGMA - Unweighted Pair-Groups Method using Arithmetic Averages UTI - Unidades de Terapia Intensiva xvi VRE - Vancomycin-Resistant Enterococcus VRE-EF - Vancomycin-Resistant Enterococcus faecalis VRE-EFM - Vancomycin-Resistant Enterococcus faecium VRSA - Vancomycin-Resistant Staphylococcus aureus VSE-EF - Vancomycin-Susceptible Enterococcus faecalis VSE-EFM - Vancomycin-Susceptible Enterococcus faecium xvii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Classificação dos genes que conferem resistência aos glicopetídeos em Enterococcus spp................................................................................................ 30 Tabela 2 - Custo atual dos novos antimicrobianos em relação à vancomicina (2009) de acordo com regime terapêutico padrão............................................................ 33 Tabela 3 - Unidades e distribuição dos leitos no Instituto de Oncologia Pediátrica IOP/UNIFESP............................................................................................................. 39 Tabela 4 - Caracterização das 43 amostras de VRE isolados durante os estudos retroprospectivo e prospectivo isolados de 89 pacientes do hospital IOP de acordo os espécimes clínicos, unidades hospitalares de isolamento e perfil de sensibilidade aos antimicrobianos............................................................................. 61 Tabela 5 - Caracterização molecular das 35 amostras de E. faecium, selecionadas através do perfil de sensibilidade à vancomicina (33 VRE e 2 VSE)............................................................................................................................ 64 Tabela 6 - Características fenotípicas utilizadas para a identificação presuntiva de Enterococcus e gêneros relacionados....................................................................... 115 Tabela 7 - Características fenotípicas utilizadas para a identificação das espécies de Enterococcus e gêneros relacionados................................................................. xviii 115 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Prevalência da resistência à vancomicina entre isolados clínicos de Enterococcus faecium na Europa em 2007............................................................. 2 Figura 2 - Estrutura molecular da vancomicina...................................................... 23 Figura 3 - Etapa da Transpeptidação: Formação das ligações cruzadas nas cadeias peptídicas................................................................................................... 25 Figura 4 - Ligação entre vancomicina e a porção terminal D-Ala-D-Ala do peptidoglicano.......................................................................................................... 26 Figura 5 - Interação eletrostática repulsiva entre vancomicina e a porção terminal modificada D-Ala-D-Lac do peptidoglicano.............................................................. 29 Figura 6 - Representação esquemática do Transposon Tn1546. ........................... 31 Figura 7 - Distribuição das espécies de Enterococcus spp. isoladas dos pacientes do IOP, durante o período de estudo retrospectivo realizado entre janeiro a agosto de 2008.......................................................................................................... 54 Figura 8 - Gel de agarose a 1% demostrando o resultado de amplificação de gene vanA (732 pb)................................................................................................... 55 Figura 9 - Distribuição das 17 amostras de VRE-EFM isoladas do IOP durante os meses de estudo retrospectivo (jan-ago/08), correlacionados as casos clínicos de infecção..................................................................................................................... 56 Figura 10 - Sítios de isolamento dos casos de Enterococcus spp. ao longo do período retrospectivo................................................................................................ 57 xix Figura 11 - Resultados do estudo prospectivo, mostrando o número de coletas de swab anal realizadas em cada etapa das culturas de vigilância, o número de isolados de VRE-EF e VRE-EFM em cada estudo e ao lado, a variação do percentual dos casos de VRE-EFM ao longo do estudo........................................... 59 Figura 12 - Dendrograma com o resultado da análise de similaridade de bandas dos padrões genéticos por PFGE das amostras de E. faecium ............................... 67 Figura 13 - Distribuição dos perfis de PFGE dos isolados de E. faecium por unidade de internação............................................................................................... 68 Figura 14 - Distribuição dos perfis de PFGE dos isolados de E. faecium de acordo com os meses de isolamento ....................................................................... 69 Figura 15 - Fluxograma dos pacientes internados no IOP no período de janeiro dezembro de 2008..................................................................................................... 71 xx INTRODUÇÃO 1 - INTRODUÇÃO O aumento da prevalência de enterococos resistente à vancomicina (VRE) tem sido documentado globalmente desde sua emergência na década de 80. Atualmente as infecções por VRE estão entre a segunda e terceira (1,2) causa mais comum de infecções hospitalares nos Estados Unidos . Dados do programa SENTRY, publicado em 2007, avaliando 155 amostras de VRE isolados na América do Norte (Estados Unidos e Canadá) e Europa, demonstram que o fenótipo VanA foi o mais freqüente em ambos continentes, com 76% e 40%, respectivamente; e que todos os isolados apresentaram elevadas taxas de resistência a outras classes antimicrobianas (3) . O estudo identificou por PFGE 35 padrões endêmicos de VRE multiresistentes nas regiões analisadas e concluiu que a disseminação clonal parece ser um fator dominante para o aumento desses isolados em ambos os continentes (3). Uma revisão recente de Werner e colaboradores (4) , sobre o panorama atual de VRE em hospitais da União Européia (UE), demonstrou que a resistência adquirida à vancomicina parece ser um grave e crescente desafio terapêutico entre isolados de enterococos nessa região, conforme demonstrado na Figura 1. A situação atual da prevalência de VRE nesta região é diversa, variando de < 1% a > 40% (4) . Nesse estudo, alguns países como Irlanda, Alemanha e Grécia tiveram uma tendência no aumento de VRE ao longo do tempo, ao contrário de outros países (países nórdicos e Holanda) onde a prevalência de VRE ainda é baixa. Alguns poucos países apresentaram diminuição nas taxas de VRE, como Áustria, Portugal e Itália, contudo, as razões para esta tendência permanecem incertas (4). 1 INTRODUÇÃO Figura 1 - Prevalência da resistência à vancomicina entre isolados clínicos de Enterococcus faecium na Europa em 2007 (Adaptado do artigo de Werner e colaboradores resultados (115) dos ). As taxas foram estimadas principalmente com base nos relatórios resistência em isolados de infecções invasivas (Hemoculturas) do European Antimicrobial Resistance Surveillance System - EARSS. A ampla distribuição hospitalar de clones de E. faecium sensíveis a vancomicina e resistentes à ampicilina na Europa é preocupante, uma vez que os determinantes vanA/B predominantemente se propagam entre isolados de E. faecium e a experiência obtida nos Estados Unidos e em outros países com elevadas taxas de VRE demonstraram que o aumento das taxas de VRE ocorreu vários anos após a aquisição de clones de E. faecium sensíveis a vancomicina e que se estabeleceram no ambiente hospitalar (5,6). Embora dados do programa SENTRY realizados na America Latina entre 1997 a 2001 (7) tenham mostrado que a prevalência de resistência aos 2 INTRODUÇÃO glicopeptídeos ainda permanece baixa nesse continente (97,5% de sensibilidade à vancomicina) e que tal fenótipo nesta região está relacionado à disseminação clonal; Furtado e colaboradores (8) , realizando um estudo de três anos (2000-2002) em um hospital universitário localizado na região sudeste do Brasil, verificou um aumento progressivo na incidência de VRE, chegando, em 2002, a 15,8% das cepas de Enterococcus spp. serem resistentes à vancomicina no Hospital São Paulo, maiores inclusive que os 7% descritos por Sader e colaboradores (7) no Brasil. Este dado é preocupante uma vez que no período de 1994 a 1995, na mesma instituição, não se encontrou nenhuma cepa resistente, embora tenha relatado a existência de 8 cepas intermediárias a vancomicina (9). Em uma meta-análise, realizada por DiazGranados e colaboradores (2) , abordando a relação da resistência à vancomicina associada à mortalidade entre pacientes com infecção sanguínea por enterococos, verificou-se que em 1.614 episódios de infecção sanguínea por enterococos (VRE, 683 episódios; VSE - Enterococos sensíveis à vancomicina, 931 episódios) de nove estudos elegíveis para a análise; quatro destes estudos relataram nenhuma associação significativa entre a resistência à vancomicina e à mortalidade, e cinco relataram uma associação significativa. Os pacientes com bacteremia causada por VRE evoluíram mais para o óbito do que aqueles com bacteremia por VSE (OR 2,52; IC 95% 1,9-3,4) (2). Treitman e colaboradores (10) avaliaram prospectivamente 18.586 isolados de Enterococcus spp. no período de 1993 a 2002 em um hospital em Chicago. Esse estudo verificou um aumento percentual de 28,2% (1993) para 72,4% (2002) (P < 0,001) de E. faecium com resistência à vancomicina. 3 INTRODUÇÃO Entretanto, o aumento de E. faecalis resistente à vancomicina observado no mesmo período não foi estatisticamente significante (10) . Embora E. faecium seja mais freqüentemente associado com resistência à vancomicina do que E. faecalis, fato este observado principalmente nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus, vários estudos têm demonstrado que a associação entre mortalidade e resistência à vancomicina é independente das espécies (2,11) Sendo assim, levando em consideração todos os dados publicados, Lode . (12) conclui que a resistência à vancomicina é um fator preditor independente de morte em pacientes com infecções sanguíneas por enterococos (12). Em vários outros estudos, a proporção de pacientes colonizados com VRE que posteriormente desenvolveram infecção da corrente sanguínea (ICS) por VRE apresentou variação, dependendo da população de pacientes estudada (13-16) . Em meta-análise conduzida por Salgado & Farr (17) comparou pacientes com ICS causadas por VRE com aquelas causadas por VSE. O estudo demonstrou que pacientes com ICS por VRE apresentam maior aumento da taxa de recorrência de ICS (16,9% vs 3,7%, respectivamente, P <.0001); na taxa de letalidade (risco relativo [RR], 2,57; IC 95% 2,27-2,91), aumento da mortalidade devido à bacteremia (RR, 1,79; IC 95% 1,28-2,50), e aumento dos custos hospitalares no valor de US$ 27.000 por episódio de ICS (P = 0,04), em comparação com aqueles com ICS por VSE (17) . Outros estudos também demonstraram impacto negativo de infecções por VRE sobre a taxa de mortalidade bem como no tempo e custos da internação (12,18-20). Uma associação entre colonização por VRE e, subseqüente, infecção da corrente sanguínea pelo mesmo patógeno foi relatado por Montecalvo e colaboradores (21) em 1994, em um surto de ICS por VRE em uma unidade de 4 INTRODUÇÃO oncologia adulta no período de 1991 a 1992. Sete (1,7%) de 413 pacientes desenvolveram ICS por VRE, dos quais, todos tinham sido detectados VRE em culturas de vigilância em swab anal, no momento ou pouco tempo após o diagnóstico da ICS. Cinco pacientes (1,2%) tinham múltiplas hemoculturas positivas para VRE variando de 7 a 63 dias após o diagnóstico da ICS. Quatro pacientes, os quais eram neutropênicos, morreram com ICS persistentes. Para 3 pacientes, foram selecionados pares isolados de VRE provenientes de colonização e de ICS para a tipagem molecular. Destes, 1 par era idêntico e 2 pares estavam intimamente relacionados, sugerindo que os pacientes se infectaram com as suas próprias cepas de VRE colonizadoras resultado foi obtido por Olivier e colaboradores (21) . O mesmo (22) , que avaliaram retrospectivamente 768 pacientes colonizados com VRE no período de janeiro de 2002 a junho de 2005. Dos 768 pacientes colonizados com VRE, 31 (4,0%) desenvolveram ICS por VRE. Destes 31 pacientes colonizados por VRE, 23 (74%) foram isolados VRE em sítios estéreis. Em 19 (83%) dos 23 pacientes, o isolado causador da infecção foi geneticamente relacionado por PFGE da colonização (22). Um estudo de coorte prospectivo (23) avaliou pacientes neutropênicos e com leucemia aguda, que apresentaram colonização por VRE de 1992 a 1996. Entre os 56 pacientes colonizados com VRE, verificou-se que 10 desenvolveram ICS por este patógeno e todos tinham leucemia aguda. A taxa de ICS por VRE foi de 7,4 por 10.000 pacientes-dia ou 63 por 10.000 neutropênicos-dia. Pacientes que desenvolveram ICS por VRE tinham mais dias de neutropenia; mais episódios simultâneos de infecção por Clostridium difficile, mais dias de tratamento com antibióticos (tais como vancomicina, 5 INTRODUÇÃO piperacilina e ciprofloxacina) e mais dias de internação, em comparação com pacientes colonizados que não desenvolveram ICS por VRE. Análise multivariada mostrou que entre esses pacientes colonizados, infecção por C difficile foi o único fator de risco independente para o desenvolvimento de ICS por VRE (23). Historicamente, os laboratórios relatam que 80 a 90% dos enterococos isolados são E. faecalis, enquanto E. faecium representam 5 a 10% dos enterococos (10) . Apesar disso, estudos têm demonstrado uma mudança no panorama das infecções causadas por enterococos. Um relato do SENTRY demonstrou que em 2001, E. faecium era responsável por 20% dos isolados clínicos nos Estados Unidos (24) . De acordo com Willems e colaboradores (6) ,o aumento na taxa de infecção por E. faecium pode estar relacionado ao complexo clonal 17 (CC17), caracterizado pela resistência a ampicilina e que tem sido associado com surtos nosocomiais por E. faecium nos cinco continentes. Um aumento no número de infecções causadas por E. faecium resistentes a ampicilina pertencentes para CC17 também tem sido observado em muitos países e isso tem sensivelmente alterado as taxas de infecções causadas por E. faecalis vs E. faecium. Esta mudança é um problema em potencial, uma vez que E. faecium é mais comumente associado com resistência à vancomicina que qualquer outra espécie de enterococos (25) . Um estudo de vigilância nos hospitais norte americanos realizado por Deshpande e colaboradores (3) demonstrou que 93% dos VRE isolados foram E. faecium. Em um estudo recente sobre infecções associadas à assistência a saúde, Hidron e colaboradores (26) , verificaram que E. faecium representava 5,6% dos isolados em ICS e era o terceiro patógeno mais comum, atrás apenas de 6 INTRODUÇÃO Staphylococcus coagulase negativa e Staphylococcus aureus, sendo inclusive, mais freqüente que E. faecalis (26). Acredita-se que a habilidade e o sucesso de E. faecium em disseminar no ambiente nosocomial não esteja somente relacionado à presença de genes de resistência, mas também a aquisição de determinantes os quais podem aumentar a capacidade do microrganismo em sobreviver, colonizar e/ou infectar pacientes. Entretanto, em termos de fatores de virulência, E. faecium parece não apresentar certos determinantes importantes previamente descritos como relacionados ao processo de infecção em E. faecalis, como hemolisinas, gelatinase, locus fsr e fatores de agregação (27) . Contudo, o gene hyEfm, que codifica uma proteína homóloga a hialuronidase, foi postulada como um potencial fator de virulência de isolados de E. faecium, desde que este gene é mais comum em isolados de E. faecium VRE que nos isolados VSE da mesma espécie (28) . Este gene também tem sido associado com isolados pertencentes ao complexo clonal CC17. Além disso, um plasmídeo carreando hyEfm tem sido previamente relacionado à colonização gastrointestinal em modelos animais (29). Arias e colaboradores (30) demonstraram pela primeira vez a evidência de um plasmídeo apresentando um papel na patogênese de E. faecium e peritonites em modelos animais, e que este plasmídeo continha o gene hyEfm e genes de resistência. Além disso, foi demonstrado que o plasmídeo carreando o gene hyEfm foi transferido por conjugação para cepas pertencentes ao complexo CC17 isoladas em diferentes parte do mundo, confirmando que a aquisição do plasmídeo hyEfm pode ser uma estratégia em aumentar a virulência in vivo ou habilidade em sobreviver em cepas 7 INTRODUÇÃO nosocomiais de E. faecium. O aumento da prevalência de cepas multiresistentes de E. faecium CC17 contendo um plasmídio nos EUA e Europa é uma perspectiva preocupante (30). O aumento da prevalência de E. faecium e conseqüente aumento da resistência aos glicopeptídeos tem se tornado um problema mundial. A grande capacidade de permanecer em ambiente hospitalar e a facilidade em adquirir genes de resistência e virulência permitem o sucesso alcançado pelos enterococos como um dos principais causadores de infecção hospitalar. Ainda que medidas de controle possam e devam ser aplicadas, o diagnóstico rápido e preciso não somente dos genes de resistência, bem como da espécie é de primordial importância no controle por parte das comissões de controle de infecção relacionada à assistência a saúde na disseminação deste patógeno no ambiente hospitalar. O uso de técnicas moleculares, entre elas destaca-se a PCR em tempo real, diminui drasticamente o tempo na liberação dos laudos por parte dos laboratórios de microbiologia, o que permite uma maior eficácia na adequação da terapia antimicrobiana. Aliado ao diagnóstico rápido e as medidas de controle de infecção hospitalar, o uso racional de antimicrobianos dentro do ambiente hospitalar também apresenta um papel chave no combate a infecções por VRE (154) , uma vez que o uso prolongado e indiscriminado de vancomicina, principalmente como terapia empírica, está relacionado à emergência da resistência a esta classe de antimicrobianos. Baseando-se na importância dos enterococos no ambiente hospitalar, no aumento das taxas de VRE em nossa instituição nos últimos anos e no aumento da prevalência de E. faecium ocorrido no Instituto de Oncologia Pediátrica da UNIFESP, optamos por caracterizá-lo epidemiologicamente, já 8 INTRODUÇÃO que de acordo com os dados citados aqui comprovam o impacto negativo das infecções por VRE no curso clínico neste grupo de pacientes. Sendo assim, esperamos que os dados apresentados neste trabalho possam servir de embasamento para o conhecimento de nossa epidemiologia hospitalar de modo que medidas e melhorias possam ser feitas no combate a disseminação de VRE em nossa instituição. 9 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 - Agente Etiológico Os enterococos foram inicialmente classificados como cocos Grampositivos e incluídos no gênero Streptococcus (31) . No início da década de 30 foram considerados como estreptococos do grupo D, diferenciando-se dos demais estreptococos devido as suas características sorológicas distintas, baseadas em propriedades antigênicas de polissacarídeos de composição variável (carboidrato C), localizado na parede celular e detectado através de técnicas imunológicas (32) . Ao final de 1930, Sherman recomendou que o táxon Enterococcus fosse especificamente utilizado para o grupo dos estreptococos do grupo D que crescessem entre temperaturas de 10 e 45°C; em pH 9,6; em caldo enriquecido contendo cloreto de sódio (NaCl) a 6,5%; que hidrolisassem a esculina e que sobrevivessem a 60°C por pelo menos 30 minutos (33). Apenas em meados da década de 80, estudos envolvendo composição de ácidos graxos, hibridação de ácidos nucléicos (DNA-DNA e DNA-rDNA) e catalogação comparativa da subunidade 16s do RNA ribossomal, evidenciaram claramente diferenças genotípicas, com conseqüente reclassificação dessas bactérias dando origem ao gênero Enterococcus, o que ocorreu apenas em 1984 (34). Atualmente o gênero Enterococcus, pertencente à família Streptococcaceae, é formado por 19 espécies, a saber: E. faecalis, E. faecium, E. casseliflavus, E. gallinarum, E. avium, E. cecorum, E. columbae, E. dispar, E. durans, E. flavescens, E. hirae, E. malodoratus, E. mundtti, E. psedoavium, E. raffinosus, E. sacharolyticus, E. seriolicida, E. solitarius e E. sulfureus (35-37) . 10 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Entretanto, na maioria dos cenários clínicos em todo o mundo, as espécies E. faecalis e E. faecium são as mais relacionadas a infecções em humanos, e as duas representam aproximadamente 80-90% de todos enterococos clínicos isolados, com maior ocorrência para espécie E. faecalis, aparecendo numa proporção de três a cinco casos para um de E. faecium em regiões como Pacífico, Europa e América do Norte; e taxas de até 17:1 na América do Sul, de acordo com um estudo SENTRY (Antimicrobial Surveillance Program) realizado entre 1997 - 2000 (38). Dentro da família Streptococcaceae, outros gêneros como Aerococcus, Gemella, Lactococcus, Peptococcus e Streptococcus podem ser isolados e confundidos na rotina microbiológica com o gênero Enterococcus. Para distinguir esse gênero dos demais, as principais provas ainda utilizadas pelos laboratórios de rotina são a bile esculina, o caldo NaCl a 6,5% e o teste da Lpyrrolidonyl β-naphtylamide (PYR) (31, 35, 36). As espécies pertencentes ao gênero Enterococcus apresentam morfologia cocóide, Gram-positivas, dispostas aos pares (diplococos) ou em cadeias curtas. Podem apresentar hemólise variável frente a meios de crescimento à base de sangue, predominando a γ-hemólise (ausência de hemólise). São negativos para o teste da catalase, entretanto, há espécies que reagem fracamente com o H2O2 produzindo uma reação pseudopositiva (31). Os enterococos são anaeróbios facultativos e estão amplamente distribuídos na natureza, sendo encontrados em solo, alimentos, água e como microbiota intestinal de muitos animais (36) . Por sobreviverem mais tempo na água do mar do que outros coliformes, os enterococos foram considerados pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos, como indicadores 11 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA mais confiáveis de doenças transmitidas por contato com água contaminada. Vale ressaltar que, sítios como cavidade oral, trato genitourinário e pele, podem ser frequentemente colonizados por esse microrganismo, contudo, menos frequentemente isolados. Em ambientes nosocomiais podem sobreviver inertes em fômites e superfícies inanimadas por até 24 horas (39). Tradicionalmente os enterococos foram considerados como agentes patogênicos de baixo grau de patogenicidade, entretanto, na década de 90, emergiu como uma importante causa de infecções nosocomiais (40). 2.2 - Epidemiologia das Infecções por Enterococcus spp. Desde o início do século 20, os cocos Gram-positivos já tinham sido reconhecidos como patógenos humanos em potencial (33) . O gênero Enterococcus foi considerado relativamente inócuo até o início dos anos 70, quando foi identificada a primeira amostra multiresistente. Passadas duas décadas foi reconhecido e identificado o potencial patogênico dessa bactéria causadora de diferentes infecções nosocomiais. Atualmente este microrganismo é o segundo ou terceiro gênero bacteriano mais importante isolado em infecções adquiridas em hospitais, a depender do centro médico em estudo, particularmente em grupos de alto risco como no caso de neonatos e portadores com doenças hematológicas (41) . Os possíveis fatores de risco para a colonização ou infecção por VRE variam conforme a população de estudo e a instituição de saúde. Em estudos brasileiros realizados por Barbosa e colaboradores sobre a prevalência de pacientes colonizados por VRE submetidos à diálise e transplante renal, a taxa observada foi de 14,4% e 13,6%, respectivamente. Entre os fatores de risco identificados associados na 12 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA população submetida à diálise foram o tipo de tratamento dialítico (hemodiálise), internação hospitalar e duração da estadia hospitalar. Já nos pacientes transplantados, esses fatores de risco não foram associados (156, 157). O papel dos enterococos em infecções urinárias foi primeiramente relatado em 1906, sendo posteriormente confirmado por outros pesquisadores (33, 42) . Sua presença no trato urinário pode ocorrer, normalmente, como colonização urinária assintomática e na maioria das vezes a infecção é hospitalar, podendo levar a casos de prostatite e abscessos perinéfricos (43-46) . Também pode estar associado com instrumentação ou anormalidades estruturais do trato urinário, com infecções urinárias recorrentes (43, 47). Após um surto de infecção hospitalar ocorrido entre os anos de 1986 a 1989 nos Estados Unidos, os enterococos ganharam destaque como o segundo patógeno mais isolado, sendo a urina seu principal sítio de isolamento (24, 43, 48) . Com o passar dos anos, vários autores têm relatado um aumento na incidência de infecções do trato urinário por enterococos adquiridos em hospitais (49-53) . Entre os fatores que contribuíram para esse aumento encontram-se: idade avançada do paciente, doença de base e o uso de antibioticoterapia prévia, sobretudo o uso de cefalosporinas de amplo espectro (54) . O seu uso prolongado (principalmente cefalosporinas de 3º geração) e a resistência intrínseca dos enterococos a esses β-lactâmicos, são fatores que contribuem para as infecções enterocócicas, uma vez que estes agentes causam uma pressão seletiva (49-52, 55, 56). Depois da infecção urinária, as infecções intra-abdominais e pélvicas são as mais frequentemente causadas por enterococos. No entanto, geralmente nas culturas obtidas desses dois últimos sítios são polimicrobianas, 13 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA o que dificulta a melhor compreensão sobre o Enterococcus spp. como sendo causa da infecção (43) . Vale salientar que este microrganismo pode ocasionar formação de abscessos abdominais e pélvicos e em alguns casos podem evoluir para um quadro de sepse (31, 43, 55). Bacteremia é a terceira causa de infecção enterocócica mais comum (43), sendo normalmente originada em pacientes com quadro clínico compatível com endocardite, podendo também ser decorrente de infecção do trato urinário, intra-abdominal e infecções intravenosa ou intra-arterial (43, 49, 53, 55) . A taxa de mortalidade associada à bacteremia por enterococos pode estar relacionada ao comprometimento clínico do paciente (49, 52, 53, 55, 57) . Nos Estados Unidos e no Canadá, a taxa de enterococos isolados de hemoculturas encontra-se em torno de 9%; índice mais alto que em países da América Latina. Esses dados corroboram com estudos realizados pelo SENTRY, nos anos de 1997 a 2001 (58) . Dados do Surveillance and Control of Pathogens of Epidemiologic Importance (SCOPE), projeto que monitora infecções de corrente sangüínea em pacientes hospitalizados nos Estados Unidos, indicou que 60% das infecções nosocomiais de corrente sanguínea no período de três anos (19951998) estavam relacionadas a bactérias Gram-positivas. Dessas, enterococos ocupou a terceira posição com 11,1% (59). A partir de 1912, começaram a ser associados a uma série de doenças, incluindo casos de endocardite (33, 42) . Nos casos das endocardites bacterianas, os enterococos podem causar cerca de 10 a 20% das ocorrências; sendo a terceira principal causa de endocardite infecciosa, a depender do centro hospitalar (60) . Entre as infecções relacionadas às espécies de E. faecalis e E. 14 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA faecium, 85% dos casos são de fonte endógena. Os casos de endocardite por enterococos, normalmente, costumam estar relacionado a pessoas que já possuem histórico cardíaco ou danos em válvulas cardíacas. Suas principais portas de entrada são o trato genitourinário e a via biliar, frequentemente mais comum em pessoas com idade superior a 50, sendo os homens afetados com mais freqüência que as mulheres (61). Outro grupo de risco importante que pode adquirir endocardite são os usuários de drogas endovenosas (62, 63) . A mortalidade de endocardite por enterococos é relativamente baixa e não mudou nas últimas décadas. Casos de infecção relacionada a próteses vasculares estão associadas a um pior prognóstico (60). Outras infecções enterocócicas menos frequente são infecções no sistema nervoso central e infecções neonatais. Enterococos raramente causam infecções respiratórias ou osteomielite (64) . Em adultos, infecção do sistema nervoso central ocorre em pacientes com histórico de cirurgia e/ ou quimioterapia, assim como osteomielite e infecção pulmonar (31, 43, 65, 66) . Meningites são bastante raras, e quando ocorre, são encontradas na maioria das vezes em recém-nascidos em estado grave (67). Atualmente, os enterococos predominam como agentes patogênicos mais isolados em infecções nosocomiais, tornando-se a segunda causa mais comum de microrganismos isolados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) (48) . Em estudo realizado pelo programa SENTRY na América Latina, foi verificado um crescente aumento no número de isolados, de 29,8% nos cinco primeiros anos (1997- 2001), para 72,5% nos últimos cinco anos desse estudo (2002-2007). E. faecalis (78,2%) e E. faecium (12,7%) foram às espécies mais 15 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA freqüentemente isoladas, sendo que sangue (41,4%) e pele/tecidos moles (11,0%) representaram os sítios mais freqüentemente isolados (68). Historicamente, a proporção de infecções enterocócicas provocadas pela espécie E. faecalis em relação às demais espécies chega aproximadamente a 10:1. Entretanto, nos últimos anos, o que se percebe é um declínio nessa taxa para 3:1 (69) . Embora E. faecalis continue sendo a espécie mais predominante em infecções clínicas, isolados de E. faecium vêm aumentando gradativamente. Esta mudança pode ser verificada em um estudo realizado nos Estados Unidos em 1999, realizada por pesquisadores da área farmacêutica voltada a vigilância de bactérias multiresistentes, onde verificouse que, em relação aos isolados de enterococos de hemoculturas, houve uma diminuição no número de E. faecalis em relação a E. faecium, caindo de 3,7:1 em 1996, para 1,9:1 em 1999, dados recolhidos a partir de 235 instituições durante o período do estudo. A explicação sugerida para este fato seria o aumento da resistência aos antimicrobianos verificados em E. faecium, no qual de 1.263 amostras dessa espécie testadas quase 31% apresentaram resistência aos antibióticos ampicilina, gentamicina e estreptomicina e principalmente a resistência à vancomicina (40,70). 2.3 - Infecções por Enterococcus spp. em Pacientes Oncológicos O câncer pediátrico representa de 0,5% a 3% de todos os tumores na maioria das populações. Internacionalmente, entre as neoplasias, os tumores pediátricos mais comuns são as leucemias, os linfomas e os tumores do Sistema Nervoso Central (71, 72). De acordo com dados brasileiros, com base em 16 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA referências dos registros de base populacional, são estimados mais de 9.000 casos novos de câncer infanto-juvenil por ano (73). A causa mais comum de doença e morte em pacientes com câncer é infecção. Tratamentos que alteram o sistema imunitário como quimioterapia, radioterapia, transplante de medula óssea e corticosteróides; além de procedimentos que rompam a integridade da pele como as cirurgias, biópsias, inserção de cateteres e uso prolongado de cateteres venosos centrais, proporcionam maiores riscos para o desenvolvimento de infecções que, na maioria das vezes, está relacionada a bactérias. Contudo, mesmo sendo as infecções bacterianas mais prevalentes, as fúngicas são geralmente as de maior morbidade (74). Complicações infecciosas estão entre os motivos mais freqüentes para a admissão de crianças com câncer nas UTIs, no qual representam como principal causa de morte das que não falecem da própria doença oncológica. Em pacientes neutropênicos, o risco de bacteremia e sepse é eminente, principalmente durante a primeira semana, onde são provocadas normalmente por bactérias aeróbias (85-90%) (75). Os episódios mais graves de infecções estão atribuídos as bactérias Gram-negativas; contudo, infecções por bactérias Gram-positivas têm aumentado nas ultimas décadas, provavelmente devido ao aumento do uso de cateter venoso central e o uso de antibioticoterapia profilática (74,76,77). Entre os antimicrobianos utilizados como antibioticoterapia empírica, no tratamento de pacientes com infecção bacteriana por microrganismo desconhecido estão antibióticos de amplo espectro, eficazes contra bactérias Gram-negativas e Gram-positivas. Entre os agentes comumente utilizados 17 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA incluem aminoglicosídeos, fluoroquinolonas, glicopeptídeos e β-lactâmicos, como penicilinas, cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactâmicos (74,76). A melhora na cobertura antibiótica tem alterado a incidência e prevalência dos agentes bacterianos nas últimas décadas (78). De acordo com a literatura, o uso de cefalosporinas de amplo espectro e de glicopeptídeos tem contribuído para o aumento no número de casos de infecções nosocomiais por enterococos em pacientes oncológicos. É o que foi verificado por Volkow e colaboradores (79) , em um estudo retrospectivo num centro oncológico do México durante o período de 10 anos (1986-1996). De acordo com esses pesquisadores, foi verificado um aumento na taxa de infecções enterocócicas em quase 7 vezes a partir de 1987, obtendo seus maiores índices entre os anos de 1994 e 1995. Segundo os autores, a provável causa para esse aumento foi o uso indiscriminado de cefalosporinas de terceira geração (79). Paralelo ao aumento da prevalência de infecções enterocócicas no meio hospitalar há um aumento da resistência antimicrobiana ao principal antimicrobiano utilizado na prática clínica para os cocos Gram-positivos, a vancomicina. O aumento da resistência a vancomicina representa um grave problema dado que, além de limitar as opções terapêuticas, a presença de VRE em ambiente hospitalar representa um risco potencial, uma preocupação crescente e fundamental na área de controle de infecção hospitalar, uma vez que os VRE carreiam genes de resistência a vancomicina que podem ser transferidos para outras bactérias do mesmo gênero (80) , ou para outras espécies mais virulentas, como o caso dos S. aureus resistentes à oxacilina (ORSA) (81, 82). 18 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Enterococos resistentes à vancomicina é causa substancial de morbidade e mortalidade em pacientes imunossuprimidos. Em estudo retrospectivo realizado por Matar e colaboradores (16) , de 2.115 pacientes imunossuprimidos, 99 (4,7%) estavam colonizados por VRE E. faecalis (VREEF), sendo que 12,5% eram relacionados a pacientes oncológicos e o maior percentual representava pacientes com leucemia. Entre os 99 pacientes colonizados por VRE-EF, 29 (29,29%) desenvolveram bacteremia e 32 (32,32%) episódios de infecção por VRE em outros sítios. A colonização por VRE apresentou o valor preditivo negativo de 99,9% e valor preditivo positivo de 29,3% para o desenvolvimento de bacteremia. Deste modo, os autores concluíram que a identificação de pacientes colonizados por VRE ajudaria a identificar os possíveis subgrupos de alto risco suspeitos a desenvolverem infecção (16). Em estudo realizado por Montecalvo e colaboradores (83) em unidade oncológica, verificou que a colonização por VRE em pacientes hospitalizados persistiu pelo menos durante 7 semanas (83) . O tempo prolongado de colonização aumenta consideravelmente o risco de infecção e dependendo da população de doentes estudada, o risco de se ter infecção por VRE a partir de uma colonização aumenta consideravelmente. Outro estudo realizado por Hachem & Raad pacientes imunocomprometidos (leucemia, (84) em três grupos de transplantados e sarcoma) colonizados por VRE E. faecium (VRE-EFM), mostrou que ao longo de três meses, 12/50 (24%) desses pacientes apresentaram bacteremia por esse microrganismo (84) . Em estudo comparativo realizado entre pacientes com prognóstico por bacteremia por VRE versus bacteremia por enterococos 19 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA sensíveis a vancomicina (VSE), realizado entre 1995 - 1997, foi verificado que, em relação à falha terapêutica, houve uma maior taxa nos pacientes com bacteremia por VRE (60% contra 40%); assim como a taxa de mortalidade, onde nesse mesmo grupo, também foi maior (52% contra 27%) (19). Entre as espécies enterocócicas, a aquisição por VRE-EFM tem apresentado um maior problema do que a aquisição de VRE-EF, principalmente por ser entre as espécies de enterococos a que apresenta uma maior virulência e pela sua resistência intrínseca a muitos antimicrobianos, incluindo β-lactâmicos e aminoglicosídeos, o que tem dificultado a eficácia do tratamento (21, 85-87). 2.4 - Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Enterococcus spp. As principais espécies enterocócicas causadoras de infecção no homem (E. faecalis e E. faecium) apresentam resistência intrínseca a diversos antimicrobianos, incluindo aztreonam; clindamicina, cefalosporinas e cotrimoxazol (Sulfametoxazol/Trimetoprima). Habitualmente tem pequena sensibilidade aos aminoglicosídeos e à penicilina G, moderada sensibilidade à ampicilina e ao cloranfenicol, mas são bastante sensíveis aos glicopeptídeos (88-91) . Entretanto, é notável a habilidade dos enterococos em adquirir novos genes de resistência, como a resistência a macrolídeos (gene ermB), tetraciclina (genes tetM e tetN), cloranfenicol (enzima cloranfenicol acetiltransferase), aminoglicosídeos (via enzimas modificadoras de aminoglicosídeos) e vancomicina (vanA, vanB...) (31). 20 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Geralmente, as infecções enterocócicas graves são tratadas com a associação de antimicrobianos (92) . A endocardite enterocócica é o protótipo da infecção em que a terapia combinada é superior à monoterapia (93) . A associação mais utilizada é ampicilina ou penicilina com aminoglicosídeos (gentamicina, por exemplo). A vancomicina é uma opção em pacientes alérgicos aos β-lactâmicos. Essas combinações agem sinergicamente devido à penetração de um inibidor da síntese protéica (aminoglicosídeos) pela parede celular defeituosa causada, por exemplo, por um β-lactâmico ou glicopeptídeo. Esse efeito sinérgico ocorre quando não há um nível alto de resistência aos aminoglicosídeos (MIC < 2.000 µg/L) ou resistência aos inibidores da parede celular (94). A extensão desse princípio a outras infecções enterocócicas necessita investigação. A necessidade de combinações bactericidas no tratamento de outras infecções enterocócicas é menos clara, particularmente em pacientes com bacteremia e sem endocardite. Nesses casos, a terapia combinada só é recomendada em situações especiais (95). Alguns antimicrobianos alternativos apresentaram boa atividade in vitro contra enterococos, entretanto é desconhecido o verdadeiro impacto desses resultados na prática médica. Um exemplo é o que foi observado em relação à trospectomicina (aminociclitol), que tem sido relatada como superior à estreptomicina, mas devido ao fato de ser inativada pelas mesmas enzimas que degradam a estreptomicina e a gentamicina, os resultados obtidos in vitro (94% de sensibilidade) devem representar uma falsa sensibilidade estudo realizado por Barry e colaboradores (96) (96, 97) . Em para avaliação da atividade antimicrobiana da trospectomicina, verificou-se que para a maioria dos 21 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA enterococos o perfil de sensibilidade foi apenas moderado (CIM50 = 16 µg/mL) (96) . Cloranfenicol e tetraciclina são antimicrobianos para os quais é comum observar sensibilidade dos enterococos, contudo, no passado já se tentou utilizar o cloranfenicol no tratamento desses patógenos, sem êxito. As tetraciclinas também não parecem apresentar resultados clínicos satisfatórios, especialmente em infecções potencialmente graves (98). Agentes antimicrobianos de várias classes, incluindo fluoroquinolonas, estreptograminas e novobiocina (em baixas concentrações), têm sido testados contra enterococos e têm demonstrado inibir o crescimento in vitro (98) . A novobiocina já foi utilizada previamente para o tratamento de infecções por microrganismos Gram-positivos, mas devido à sua relativa toxicidade e à alta taxa de surgimento de resistência, ela foi gradativamente abandonada. Apesar disso, quando começaram a surgir estafilococos resistentes à oxacilina, a utilização desse antimicrobiano voltou a ser avaliada. Para enterococos, entretanto, dados disponíveis até o momento não são suficientes para analisar sua eficácia e há estudos demonstrando apenas atividade discreta contra esses patógenos (99) . Além disso, a ligação protéica desse antimicrobiano é muito alta, o que pode interferir na sua eficácia in vivo, (99, 100). Outra classe de agentes antimicrobianos que demonstra atividade in vitro contra enterococos é o grupo das fluoroquinolonas (101, 102) . As novas fluoroquinolonas têm demonstrado boa atividade contra enterococos, em especial a clinafloxacina (cujo radical pirrolidinil na posição 7, garante maior atuação contra bactérias Gram-positivas (103) difluorinatado do ácido quinolona-carboxílico , e a esparfloxacina (membro (104) . Em estudo realizado por 22 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Jones e colaboradores (104) , a concentração de antimicrobiano necessária para inibir 50% das amostras de enterococos estudadas (CIM50) foi de 0,5 μg/mL e a concentração necessária para inibir 90% das amostras (CIM90) foi 2 μg/mL. As CIMs variaram de 0,12 a 2 μg/mL. No entanto tem-se observado emergência de resistência in vitro, bem como de falha terapêutica (104) , além disso, foram retiradas do mercado por efeitos colaterais. Em infecções enterocócicas graves, que necessitam de um tratamento prolongado e com administração intravenosa, a vancomicina é, entre os antimicrobianos disponíveis, um dos mais adequados para o tratamento (104). 2.4.1 - Glicopeptídeos A classe dos glicopeptídeos é formada por estruturas cíclicas complexas de açucares e aminoácidos (Figura 2). Entre os antimicrobianos que fazem parte desse grupo, a vancomicina se destaca. Figura 2 - Estrutura molecular da vancomicina (105). 23 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A vancomicina é um antimicrobiano bactericida que foi isolado pelo grupo de Eli Lilly em 1956, a partir da fermentação do fungo Amycolatopsis orientalis (relacionado à Nocardia) encontrado em amostras de solo coletado no interior das selvas de Bornéu (106). Com o nome originado da expressão inglesa “to vanquish” (aniquilar, destruir, vencer), vancomicina tornou-se quase uma lenda devido ao seu excelente desempenho frente a cepas de ORSA. Possui atividade contra cocos Gram-positivos, C. difficile e Corynebacterium spp., contudo, não possui atividade contra bactérias Gram-negativas e micobactérias (105). Sua disponibilidade para uso clínico ocorreu em 1958, após aprovação pelo Food and Drug Administration (FDA). Nessa mesma época, outros agentes anti-estafilocócicos (tetraciclinas, cefalosporinas, eritromicina e meticilina) passaram a serem utilizados, recebendo maior aceitação do que a vancomicina devido aos seus aparentes efeitos tóxicos (ouvidos e rins), levando a vancomicina a ser relegado para a posição de uma droga de última instância (105, 107). Avanços em processos de fermentação microbiológica e técnicas de separação permitiram a produção de vancomicina com alta pureza, resultando na eliminação de muitos dos seus efeitos colaterais. Com a incidência crescente de resistência bacteriana frente aos outros agentes quimioterápicos, o emprego clínico da vancomicina foi difundido e sua obtenção tornou-se objeto de grande interesse acadêmico e industrial (105). 24 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.4.1.1 – Mecanismo de Ação Da mesma maneira que os antimicrobianos β-lactâmicos agem, a vancomicina age no metabolismo de construção da parede celular bacteriana, através da ligação da porção terminal D-Ala-D-Ala de um pentapeptídeo encontrado em precursores de peptidoglicano, interferindo na etapa de transpeptidação (Figura 3) (105,108). Figura 3 - Etapa da Transpeptidação: Formação das ligações cruzadas nas cadeias peptídicas (108). O peptidoglicano (heteropolissacarídeo, tendo na sua constituição os monossacarídeos ácido N-acetilmurâmico - NAM e N-acetilglucosamina - NAG) é responsável pela rigidez e forma da parede celular bacteriana Especificamente, a vancomicina impede incorporação do ácido (108) . N- acetilmurâmico e o N-acetilglucosamina, que são subunidades constituintes da matriz do peptidoglicano, principal componente estrutural da parede celular das bactérias Gram-positivas (109). 25 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Com a sua característica hidrofílica, a molécula de vancomicina forma ligações através de seus átomos de hidrogênio com as interações do terminal D-Ala-D-Ala ligadas aos peptídeos NAM e NAG. Esses pontos de ligação formados (cinco) previnem a junção entre as subunidades do peptidoglicano (Figura 4) (105,109). Figura 4 - Ligação entre vancomicina e a porção terminal D-Ala-D-Ala do peptidoglicano (105). A consolidação da vancomicina como um antimicrobiano importante frente a bactérias Gram-positivas multiresistentes, trouxe um período de certa tranqüilidade nos programas de investigação e desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos pelas empresas farmacêuticas. Entretanto, com o surgimento das primeiras cepas de enterococos resistentes à vancomicina e a emergência da sua disseminação no ambiente hospitalar, levou a necessidade da busca de novos antimicrobianos para o tratamento deste patógeno multirresistente (105). 26 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Apesar da natureza não patogênica dos enterococos com relação a pessoas sadias, o relato em 1988 dos primeiros casos de resistência destas bactérias causou enorme alarme, pois os enterococos são capazes de infectar pacientes imunodeficientes, tais como transplantados e vítimas de AIDS. A ocorrência de colonização intestinal de VRE em pacientes com longos períodos de internação em hospitais pode não resultar em sintomas infecciosos, mas servirá de reservatório para transmissão a outros pacientes. A bactéria pode espalhar-se pelo contato direto ou indireto dentro de uma clínica de saúde ou hospital, bem como através de profissionais de saúde que trabalham em mais de uma instituição, e ainda por pacientes que são transferidos e que já haviam sido infectados. Em uma situação mais preocupante, o temor de que genes causadores de resistência à vancomicina presentes nos VRE fossem transmitidos para os ORSA foi recentemente confirmado em alguns casos isolados (n=7) surgidos na América do Norte, sendo conhecidos como VRSA (“vancomycin-resistant” S. aureus) (81,110). Em uma publicação de 2003, Chang e colaboradores (111) notificaram que em uma amostra de VRSA isolada de uma ponta de cateter de um paciente de Michigan, com quadro de insuficiência renal, foi isolado tanto o gene de resistência mecA (que confere resistência a oxacilina), quanto o gene vanA (encontrado em enterococos resistente a vancomicina). Essa presença foi confirmada através da PCR localizado em um plasmídeo de 60 kb e a seqüência de DNA do gene vanA VRSA foi idêntica à de uma amostra de E. faecalis resistente à vancomicina isolada a partir da mesma cultura de ponta cateter (111). 27 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Embora a vancomicina esteja inserida na prática clínica desde o final da década de 50, sua resistência surgiu somente 30 anos após sua introdução nos Estados Unidos (112) . Desde então, esse país vem enfrentado um aumento progressivo de VRE nos hospitais, principalmente relacionada à espécie E. faecium, que apresenta uma maior freqüência que E. faecalis Jones e colaboradores (113) . Segundo (114) , os índices médios de E. faecalis resistente a vancomicina são 2,8% e de E. faecium, 24,2% (114) . Na América Latina, de acordo com estudo realizado por Gales e colaboradores (68) , sobre a freqüência de Enterococcus spp. durante 10 anos de estudo SENTRY (1997 - 2006), verificou-se que a espécie E. faecalis continua sendo mais prevalente em relação à espécie E. faecium, com 78,2% contra 12,7% (n=2.026), respectivamente. Embora o número de E. faecalis e E. faecium apresentando fenótipo VRE foram semelhantes, a percentagem de VRE-EFM (19,8%) foi proporcionalmente superior ao VRE-EF (3,3%) em relação ao número total de isolados. Em 2006 foi verificado um aumento significativo de VRE-EFM no Brasil (68). 2.4.1.2 - Mecanismo de Resistência A resistência bacteriana à vancomicina em enterococos ocorre através de uma modificação genética no gene bacteriano, sintetizando, como exemplo, D-alanina-D-lactato (D-Ala-D-Lac) ao invés do dipeptídeo D-alanina-D-alanina (D-Ala-D-Ala) (105) . A modificação do aminoácido terminal D-alanina por D- lactato introduz uma interação eletrostática repulsiva no lugar da ligação de hidrogênio (Figura 5). Em conseqüência, a afinidade da vancomicina com a camada de peptidoglicano diminui em uma escala superior a 1000 vezes (109). 28 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Figura 5 - Interação eletrostática repulsiva entre vancomicina e a porção terminal modificada D-Ala-D-Lac do peptidoglicano (105). A aquisição do mecanismo de resistência a vancomicina é mediada por vários genes (115) . Embora a origem da sensibilidade de enterococos frente à teicoplanina envolva mecanismos diferentes daquele da vancomicina, essas características de sensibilidade e resistência frente aos dois glicopeptídeos servem como base para uma classificação clínica (105). Dos sete fenótipos descritos atualmente (Tabela 1), os genes vanA e vanB são, de longe, os mais prevalentes no mundo todo e são descritos principalmente entre as espécies E. faecalis e E. faecium, sendo essa segunda a mais prevalente em hospitais norte-americanos e europeus (113) . Cepas enterocócicas com fenótipo VanA apresentam alto grau de resistência a vancomicina e teicoplanina e a resistência pode ser induzida pela presença de glicopeptídeos (vancomicina, teicoplanina, avorpacina, ristocetina) e por agentes não glicopeptídeos, como bacitracina e polimixina B (116) . O tipo VanB 29 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA apresenta altos níveis de resistência a vancomicina enquanto a sensibilidade a teicoplanina é mantida, porém o gene encontra-se em elementos móveis que podem ser transferidos entre espécies enterocócicas (116). O terceiro fenótipo mais presente é do tipo VanC, descrito apenas nas espécies de E. casseliflavus, E. gallinarum e E. favescens (embora haja algum desacordo sobre esta espécie ser uma legítima espécie de enterococos) (117) . Diferente do fenótipo VanA e VanB, o fenótipo VanC possui em sua porção terminal o D-Ala-D-Ser, causando resistência intrínseca a vancomicina (baixo nível), mas sensibilidade a teicoplanina (116). Tabela 1 - Classificação dos genes que conferem resistência aos glicopeptídeos em Enterococcus spp. (115,118). Resistência Intrínseca Resistência Adquirida Fenótipo VanA VanB VanD VanE VanG VanL VanC Gene vanA vanB vanD vanE vanG vanL vanC CIM (µg/mL) Vancomicina 16 - 1000 4 - 32 (-1000) 64 - 128 8 - 32 16 8 2 - 32 CIM (µg/mL) Teicoplanina (4-) 16 - 512 0,5 - 1 4 - 64 0,5 0,5 Sensível 0,5 - 1 Modificação do alvo D-Ala-D-Ala D-Ala-D-Ala D-Ala-D-Ala D-Ala-D-Ser D-Ala-D-Ser Induzida Induzida Constitutiva Induzida Induzida Induzida Constitutiva /Induzida Plasmidial/ Cromossomo Plasmidial/ Cromossomo Cromossomo Cromossomo Cromossomo Cromossomo Cromossomo Tn1546 Tn1547 ou Tn1549 ..... ..... ..... ..... ..... +/- +/- − − + − − Expressão Localização Elemento Móvel Transferência por Conjugação Distribuição entre as espécies enterocócicas 1 E. faecium E. faecalis E. durans E. hirae E. gallinarum1 E. casseliflavus1 E. raffinosus E. avium E. mundtii E. faecium E. faecalis E. durans E. gallinarum1 E. faecium E. faecalis E. raffinosus E. faecalis E. faecalis D-Ala-D-Ser E. faecalis E. gallinarum (vanC1) E. casseliflavus (vanC2/3) E. flavescens Eventos raros de espécies que adquiriu gene de resistência vanA ou vanB, além da presença do vanC1 ou vanC2/3. 30 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os detalhes do mecanismo de resistência à vancomicina tem sido melhor documentado com o gene vanA mediado pelo transposon Tn1546, que se encontra localizado em plasmídeo ou cromossomo da célula bacteriana. Esse transposon codifica nove polipeptídeos que atuam em conjunto na conferência da resistência a vancomicina (Figura 6). Estes polipeptídeos podem ser distribuídos em quatro grupos funcionais: Transposição, Regulação, Resistência e Proteínas acessórias (não-essenciais) (119-121). Regulação Transposição Resistência Não- essenciais Desconhecida Transposase Resolvase Reguladora Prot. quinase Dehidrogenase Ligase Dipeptidase D,D-carboxipeptidase Figura 6 - Representação esquemática do Transposon Tn1546. A orientação dos genes é indicada pelas setas (122). Na região da função de transposição, encontram-se dois “open read fream” (orf1 e orf2) que são descritos em direções opostas e codificam a produção de duas enzimas, transponase e resolvase. A regulação dos genes que conferem resistência a vancomicina é controlada pelos genes vanR e vanS. Esses genes codificam proteínas que sinalizam a presença da vancomicina no meio extracelular, ativando assim os genes de resistência (vanH, vanA e vanX). Os genes de resistência aos glicopeptídeos são responsáveis pela produção de dipeptídeos. O gene vanA é responsável pela produção da terminação D-Ala-D-Lac, e esta formação depende do gene vanH, que atua como uma desidrogenase reduzindo piruvato em D-lactato, o 31 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA substrato usado pelo vanA. Já a vanX produz uma D,D dipeptidase que hidrolisa o D-Ala-D-Ala excedente, mas não hidrolisa D-Ala-D-Lac, impedindo a síntese de precursores finais desses tipos de dipeptídeos e sua inserção ao tripeptídeo precursor. Entre as proteínas não-essenciais, a proteína vanY, uma D,D carboxi-peptidase, poderia ajudar a resistência aos glicopeptídeos por clivar o terminal D-Ala dos precursores tardios resultantes da incorporação de D-Ala-D-Ala que escaparam da hidrólise por vanX, tornando-as sem afinidade pela vancomicina e o vanZ confere baixo grau de resistência a teicoplanina, mas seu mecanismo ainda é desconhecido (113, 119-123). Estudos epidemiológicos da década de 1990 demonstraram um crescimento significativo das infecções por Enterococcus spp. resistentes aos glicopeptídeos, em especial a vancomicina (95). Embora muitas combinações de drogas tenham sido propostas e testadas para o tratamento das infecções provocadas pelo VRE, à terapia conjugada ideal nestes casos nunca ficou bem definida. Como crescimento de isolados de VRE geralmente ocorre em pacientes com defesas significativamente comprometida e graves comorbidades, isto aumentou a importância de um efetivo tratamento antimicrobiano (119). Entre os antimicrobianos lançados nos últimos anos pelas indústrias farmacêuticas para o combate de microrganismos multiresistente, alguns já foram aprovados pelo FDA como opção terapêutica para os enterococos multiresistentes. Entre os recentes antimicrobianos introduzidos na prática clínica nos últimos anos estão: Quinupristina/dalfopristina (estreptograminas); Linezolida (oxazolidinonas); Daptomicina (lipopeptídeos cíclicos) e Tigeciclina (glicilciclinas). Apesar dos altos custos, representam ótimas opções para estes 32 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA casos. Entretanto, esses medicamentos apresentam certas limitações para o uso e a resistência em alguns já foi relatada (115). Embora existam essas novas opções terapêuticas, o uso da vancomicina ainda é o mais prevalente para o tratamento de isolados de enterococos e ainda mais para o tratamento de cepas MRSA. Este fato decorre não apenas devido à sua comprovada eficácia ao longo das décadas, mas, sobretudo, porque ainda é o mais acessível economicamente (Tabela 2). Tabela 2 - Custo atual dos novos antimicrobianos em relação à vancomicina (2009) de acordo com regime terapêutico padrão. Antimicrobiano Vancomicina Regime Terapêutico Padrão Administração Custo diaa (R$) 2g / 2 x dia IV 216,52 400mg / 1 x dia IV ou IM 557,69 1,2g / 2 x dia IV ou VO 1.094,22 Daptomicina (Cubicin ®) 400mg / 1 x dia IV 312,7 Tigeciglina (Tygacil ®) 100mg / 1 x dia IV 365,00 Teicoplanina (Targocid ®) Linezolida (Zyvox ®) a : média por paciente pesando 60 quilos e com função renal normal. IV: intravenosa; IM: intramuscular; VO: via oral. Dado: http://www.consultaremedio.com.br (acessado em outubro de 2009). 2.5 - Importância do Controle do uso da Vancomicina em Pacientes Oncológicos Segundo recentes recomendações da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, IDSA, os Gram-positivos são hoje responsáveis por 6070% dos episódios de infecção documentada em episódios de neutropenia febril, decorrente, na maioria das vezes, pela translocação de bactérias presentes no aparelho gastrointestinal (124) , dentre os quais, tem se destacado os enterococos (125). 33 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A escolha da antibioticoterapia empírica em pacientes com neutropenia febril depende do uso prévio do antimicrobiano e da flora microbiológica existente na instituição (124) . Entre as opções de monoterapias empíricas indicadas atualmente para esses casos, a cefepima está entre as mais usadas nos hospitais. Estudos recentes indicam o uso da cefepima como uma das melhores opções, uma vez que possui cobertura sobre várias bactérias Grampositivas como Staphylococcus spp. (incluindo as produtoras de β-lactamase) e Streptococcus spp. (abrangendo S. pneumoniae com resistência intermediária à penicilina), o que permite adiar o uso dos glicopeptídeos e por possuir menor poder de indução de seleção de bactérias resistentes, quando comparada à ceftazidima. Entretanto, o uso desse antimicrobiano não se aplica para os isolados de MRSA e enterococos; já que a cefepima não possui ação sobre estes (125). Para isolados de MRSA e enterococos o uso de vancomicina seria a escolha ideal, no entanto sabe-se que o uso da terapia prévia abusiva desse antimicrobiano aumenta o número de casos de cocos Gram-positivos com resistência a esse fármaco, principalmente entre as espécies de enterococos. Frente a esse crescente aumento mundial, provavelmente relacionado ao seu uso abusivo, diversos órgãos de referência internacional [“Hospital Infection Control Practices Advisory Committee” (HICPAC) of the “Centers for Disease Control and Prevention” (CDC), “European Organization for Reserarch and Treatment of Cancer” (EORTC) e “National Cancer Institute of Canada”] sugerem que o uso da vancomicina ou outro glicopeptídeo (teicoplanina) devem ser reservados para uma segunda etapa no manejo do paciente 34 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA imunodeprimido neutropênico febril, não indicando estas drogas na terapia empírica inicial (126,127). 2.6 - Biologia Molecular Aplicada ao Controle de Surtos Hospitalares Para que um surto de infecção hospitalar possa ser controlado, é necessária que haja uma investigação epidemiológica a fim de elucidar as fontes e vias de transmissão. Os recursos laboratoriais disponíveis envolvem desde os métodos clássicos de tipagem bacteriana até as mais recentes técnicas de biologia molecular. Muitas destas técnicas oferecem elevado grau de discriminação entre bactérias aparentemente iguais, permitindo um melhor conhecimento dos aspectos epidemiológicos da infecção hospitalar (35). Entre as técnicas moleculares de tipagem utilizada na análise de surtos de infecções hospitalares e na avaliação da disseminação de cepas multirresistentes no ambiente hospitalar, ou mesmo entre diferentes hospitais, utiliza-se o Pulsed-field Gel Electrophoresis (PFGE), técnica ainda considerada “padrão ouro” para análise desse tipo de estudo. Apesar disso, a técnica de Multilocus Sequence epidemiológicos globais Typing (MLST) é mais utilizada para estudos (128-130) . Esses estudos são normalmente associados à avaliação da sensibilidade das bactérias a antimicrobianos através de testes especiais de sensibilidade. Embora não exista uma técnica definitiva para tipagem molecular de enterococos, estudos indicam que PFGE é atualmente a técnica que tem apresentado os melhores resultados em termos de poder discriminatório e reprodutibilidade para este microrganismo (129,131). A detecção de amostras bacterianas com perfil molecular idêntico ou semelhante durante um surto sugere uma interpretação epidemiológica 35 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA fortemente relacionada a uma transmissão dos genes de resistência entre pacientes ou através de uma fonte comum. Entretanto, quando o aumento da taxa de infecção for causado por amostras com perfis moleculares distintos, a provável causa poderia estar relacionada à seleção independente de mutantes. Dependendo do tipo de caso, as medidas implementadas para o controle seguem modelos distintos. 36 OBJETIVOS 3 - OBJETIVOS 3.1 - Objetivo Principal • Estudar a epidemiologia dos isolados de enterococos com resistência à vancomicina (VRE) no Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP/GRAACC) no período de 2008/2009. 3.2 - Objetivos Específicos Estudo Retrospectivo • Investigar a incidência de VRE no IOP, durante o período de janeiro a agosto de 2008, através de levantamento de dados, seguidos de técnicas fenotípicas e genotípicas para caracterização dos isolados; Estudo Prospectivo • Rastrear isolados de VRE em pacientes internados no IOP, através de suscessivas culturas de vigilância de swab anal; • Verificar a aplicabilidade do uso de técnicas de tipagem molecular na caracterização e elucidação de possíveis surtos nas unidades de internação de cuidados de pacientes oncológicos; • Avaliar o impacto do estudo na implementação de medidas de controle de infecções por VRE no IOP. 37 MATERIAL E MÉTODOS 4 - MATERIAL E MÉTODOS 4.1 - Local de Estudo Esse estudo foi desenvolvido no Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP) / mantido pelo Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), vinculada ao setor de Oncologia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), sendo referência de ensino no tratamento e pesquisa do câncer infanto-juvenil e no desenvolvimento de pesquisas clínicas. O IOP dispõe de: área de internação (enfermarias, UTI e centro cirúrgico); laboratórios (hematologia e imunofenotipagem, citogenética, biologia molecular e criopreservação) e suporte (reabilitação e prótese, controle da dor, brinquedoteca terapêutica e Assistência social), além de área de Nutrição, Psicologia, Enfermagem e Odontologia. Anualmente o IOP realiza mais de 15 mil consultas, mil cirurgias, 20 transplantes de medula e mais de 11 mil sessões de quimioterapia anualmente, atendendo em média 300 novos casos/ano. Mais de cinco mil crianças e adolescentes já foram atendidas pela instituição ao longo dos 10 anos desde a sua inauguração. Com o passar do tempo, o IOP se especializou no atendimento de casos de alta complexidade, como tumores do sistema nervoso central e ósseo, leucemias e outras neoplasias que necessitam de transplante de medula óssea. A distribuição dos leitos e a localização das especializações dentro da estrutura do prédio estão representadas na Tabela 3. 38 MATERIAL E MÉTODOS Tabela 3 - Unidades e distribuição dos leitos no Instituto de Oncologia Pediátrica IOP/UNIFESP. Andar 1º Nome Ambulatório dos Médicos Descrição Quantidade de Leitos Consultórios divididos por doenças, RX, serviço social, triagem, inalação, pronto atendimento, enfermagem, odontologia, psicologia, psicopedagogia, nutrição, anestesia, oftalmologia, ambulatório de dor e atendimento multidisciplinar em cirurgia pediátrica, neurocirurgia, ortopedia e fisiatria. 2º Quimioterapia Ambulatorial O andar tem 25 postos com poltronas e macas, salas de coleta de exames e uma sala de procedimentos como punções, coleta de mielograma, biopsias de medula óssea e coleta de líquor. 3º Laboratório de Hematologia e Recreação A brinquedoteca proporciona brincadeiras e atividades importantes para as crianças e acompanhantes enquanto aguardam as consultas e procedimentos terapêuticos. 4º Central de quimioterapia, Farmácia e Escritórios Médicos Neste andar é onde é preparado a quimioterapia e o laboratório de transplante de medula óssea, onde se realiza, entre outras atividades, a cultura de células e a criopreservação de medula óssea e banco de sangue. 5º Centro Cirúrgico e Centro de Transplante de Medula Óssea Neste andar estão o centro cirúrgico e a unidade e transplante de medula óssea. 6º Unidade de Cuidados Especiais e UTI Aqui estão localizados os leitos para os que precisam permanecer internados até receber alta. 7º Internação Aqui estão localizados os leitos para os que precisam permanecer internados até receber alta. 8º Fisioterapia e Terapia Ocupacional Localizado o setor de fisioterapia e terapia ocupacional. Também o Laboratório de Citogenética e Biologia Molecular. 6 leitos de observação 6 leitos 4 leitos na Unidade de Cuidados Especiais. 7 Leitos na Unidade de Tratamento Intensivo 12 leitos para internação. 4.2 - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do IOP A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do IOP é constituída de membros consultores e executores, todos profissionais da área da saúde, formalmente designados a, planejar, elaborar, implementar, manter e avaliar o Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) adequando às 39 MATERIAL E MÉTODOS características e necessidades da instituição. Entre as ações desenvolvidas pelo CIH está a prevenção e a redução da incidência de infecções hospitalares. Os membros consultores são responsáveis pelo estabelecimento das diretrizes do CIH e os membros executores representam o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e, portanto, são encarregados da execução das ações programadas de controle de infecção hospitalar. O SCIH do IOP é formado por dois membros, uma equipe médica e uma equipe de enfermagem. Entre as normas de controle de infecção hospitalar para bactérias multiresistentes nas unidades de internação do IOP estão: identificar precocemente os pacientes colonizados e/ou infectados; programar as medidas preventivas e possibilitar a intervenção mais precoce em eventuais surtos de infecção hospitalar. No quadro de bactérias multiresistentes, priorizadas para implementação de medidas de controle, encontram-se os VRE. Um dos procedimentos adotados para os casos de pacientes com este microrganismo é o isolamento do paciente em quarto privativo, sendo que, na impossibilidade da conduta, o leito do paciente deverá permanecer isolado, quando possível, com biombo. Os aventais e outros acessórios exclusivos do isolamento deverão permanecer próximos ao leito do paciente, assim como outras medidas de precauções específicas, para contato, deverão ser adotadas. Entre estas medidas estão: a identificação do isolamento por um cartaz chamativo; a comunicação para a equipe de saúde sobre as medidas de isolamento; o uso obrigatório de luvas de procedimentos, aventais e máscaras (nos casos de transmissão de secreções por vias aéreas); a manutenção de aventais; o uso de estetoscópios e termômetros exclusivos para a unidade de isolamento e a desinfecção das 40 MATERIAL E MÉTODOS mãos com álcool gel, antes e após qualquer procedimento e a lavagem das mãos quando necessária. Existe um fluxo dessa conduta ao qual pode ser visualizado em anexo (Anexo 1). 4.3 - Desenho do Estudo Foram realizados dois estudos distintos, retrospectivo e prospectivo, ambos com enfoque epidemiológico de resistência à vancomicina em amostras de enterococos isoladas de pacientes internados no Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP/GRAACC). 4.3.1 - Estudo Retrospectivo Este estudo foi realizado através de um levantamento de dados do IOP, seguidos de análises das amostras realizadas no Laboratório Especial de Microbiologia Clínica (LEMC/UNIFESP), com intuito de verificar a incidência de pacientes colonizados e/ou infectados por enterococos resistentes à vancomicina. Todos os isolados bacterianos de diversos sítios (culturas de vigilância de swab anal e de sítios estéreis), armazenados no banco de microrganismos do LEMC e previamente identificados como Enterococcus spp. foram analisados no período de janeiro a agosto de 2008. Testes fenotípicos e moleculares foram realizados para identificação da espécie, confirmação do perfil de sensibilidade (principais antimicrobianos), investigação da presença do gene vanA, através da técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) e verificação da similaridade gênica, através da técnica de PFGE. Dados clínicos 41 MATERIAL E MÉTODOS como: idade, sítio, data de isolamento, tempo e unidade de internação foram obtidos a partir de informações da CCIH do IOP (Anexo 2). 4.3.2 - Estudo Prospectivo Após o estudo retrospectivo, foi realizado um rastreamento dos pacientes com suspeita de estarem colonizados por VRE, através de sucessivas culturas de vigilância de swab anal. A seleção dos pacientes para o estudo prospectivo foi realizada pelo CCIH do IOP, que estabeleceu os seguintes critérios: • Critérios de inclusão: todos pacientes internados no IOP no período do estudo, independentes do período de internação, do uso prévio de antimicrobianos, de estadias prévias em UTI, de transplantes de medula óssea e procedimentos cirúrgicos. • Critérios de exclusão: pacientes ambulatoriais, que não possuíam fatores de risco para VRE. As coletas de todos os pacientes internados foram realizadas mensalmente, no período de outubro a março de 2009, totalizando quatro etapas de coletas de cultura de vigilância, sendo, as três primeiras consecutivas e a última, após um intervalo de três meses. As datas das culturas de vigilância foram estabelecidas em um consenso entre CCIH do IOP, LEMC e Laboratório de Microbiologia do Hospital São Paulo. 42 MATERIAL E MÉTODOS 4.3.2.1 - Coleta das Amostras As coletas dos swabs foram realizadas pela equipe de enfermagem da instituição, de acordo com a orientação da CCIH. Cada coleta foi realizada no mesmo dia, durante o período matutino, em todas as alas de internação. Swab estéril e caldo NaCl 6,5% (5 mL) foram entregues para a equipe de enfermagem, seguido de orientações para realização da coleta. O swab estéril foi inserido na região do esfíncter anal do paciente (1 a 5 cm de diâmetro) e com movimentos rotatórios foram obtidas a amostra. Após a coleta, a amostra foi imediatamente introduzida no tubo de ensaio contendo o caldo NaCl 6,5% e o swab descartado. As amostras devidamente etiquetadas e identificadas seguiram imediatamente para o Laboratório de Microbiologia do Laboratório Central do Hospital São Paulo para processamento das mesmas. 4.3.2.2 - Processamento das Amostras Os tubos contendo a amostra foram colocados em estufa (± 35°C) por um período de aproximadamente duas horas. Após esse tempo, com auxílio de alça estéril descartável, a solução foi semeada em meios de cultura, utilizados para triagem de VRE. Os meios utilizados nesse estudo foram: laminocultivo VREBAC (Probac do Brasil, São Paulo, SP, Brasil) (154) e ágar Enterococossel (BBL, Becton Dickinson Microbiology Systems, Cockeysville, MD, EUA) acrescido de 6 μg/mL de vancomicina. Após semeadura os meios foram incubados a ±35°C, por 24 e 48 horas, para posteriores leituras e análises. 43 MATERIAL E MÉTODOS 4.4 - Identificação Fenotípica do Gênero As amostras que obtiveram crescimento em pelo menos um dos meios screening utilizados, as colônias com morfologia suspeita de Enterococcus spp. foram semeadas em ágar sangue para isolamento e posterior identificação. Foram realizados os seguintes testes de identificação fenotípica: prova da catalase; hidrólise da L-pyrrolidonyl β-naphtylamide (teste PYR), bile esculina e caldo NaCl 6,5%. A interpretação dos resultados foi realizada através da correlação destes testes (Anexo 3, Tabela1). 4.4.1 - Prova da Catalase Para verificação da produção da enzima catalase utilizou-se uma gota de peróxido de hidrogênio a 3%, aplicada sobre um esfregaço de colônias bacterianas em lâmina de vidro. A ausência de formação de bolhas na amostra indicou a não produção da enzima, característica do gênero Enterococcus. Como controle positivo utilizou-se S. aureus ATCC (American Type Culture Collection) 25.923 e, como controle negativo a cepa de E. faecalis ATCC 29.212. 4.4.2 - Hidrólise Enzimática da L-pyrrolidonyl β-naphtylamide (PYR) Sobre um disco contendo o substrato PYR, previamente umedecido com água estéril, foi realizado um esfregaço da amostra. Após 5 minutos o reagente dimetilaminocinamaldeído foi gotejado sobre o disco para detectar alfanaftilamina, substância liberada pela hidrólise do PYR (Probac do Brasil, São 44 MATERIAL E MÉTODOS Paulo, SP, Brasil). O aparecimento de coloração púrpura a rósea é indicativa de resultado positivo, o que caracteriza o gênero Enterococcus. 4.4.3 - Hidrólise da Bile Esculina As amostras foram semeadas em tubo com ágar inclinado de bile esculina (Difco Laboratories, Detroit, Michigan, EUA). Em seguida foram incubadas por 18-24 horas a ± 35 ºC para posterior leitura. O enegrecimento do meio indicou a hidrólise da esculina em esculetina que, combinado com o citrato férrico do meio, promove um complexo fenólico de coloração negra, característica do gênero Enterococcus. 4.4.4 - Crescimento em Caldo 6,5% de NaCl A prova do caldo hipercloretado evidencia a capacidade de tolerância de certas bactérias a altas concentrações de sal em caldo Brain Heart Infusion (BHI, Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) acrescido de 6,5% de cloreto de sódio. Esse teste é utilizado para diferenciar entre os gêneros Enterococcus e Streptococcus. Em cada tubo com NaCl 6,5% foram acrescidas de 3 a 5 colônias da amostra e após homogeneização foi incubado em estufa ± 35°C por 24 horas. A turvação (crescimento) do meio indicou teste positivo, característica das espécies de Enterococcus spp. 4.5 - Identificação Fenotípica das Espécies Os isolados que apresentaram características pertencentes ao gênero Enterococcus foram submetidos à identificação das espécies, nos quais foram 45 MATERIAL E MÉTODOS realizadas séries bioquímicas utilizando caldo base de Purple (Difco Laboratories, Detroit, Michigan, EUA) acrescido dos açúcares, teste da motilidade e produção de pigmento, segundo a descrição de Facklan & Teixeira (132) . A interpretação dos resultados foi realizada através da correlação destes testes (Anexo 3). 4.5.1 - Fermentação de Carboidratos A análise dos carboidratos foi verificada em meio líquido, constituído por caldo Purple acrescido a um dos seguintes carboidratos: Arabinose, Metil-α-DGlucopiranisídeo (MGB), Ácido piruvato, Arginina, Manitol, Sorbitol, Sorbose, Rafinose (Sigma, Chemival Co., St. Louis, EUA) com concentração final de 1%. Na seqüência de tubos contendo os açúcares (5 mL) descritos acima foram inoculado de 3 a 5 colônias isoladas da amostra para identificação. Devidamente homogeneizados foram incubados em estufa ± 35°C e as leituras foram realizadas em 24 e 48 horas. A reação positiva foi verificada através da mudança na coloração do meio de púrpura para amarela, provocada pelo consumo do carboidrato através do processo de fermentação, deixando a solução ácida, evidenciando-se o teste positivo através da mudança de cor (amarela). 4.5.2 - Teste de Motilidade Para o teste de motilidade foram utilizados 3 mL do meio semi-sólido Motility Medium (Difco Laboratories, Detroit, Michigan, EUA) distribuído em tubos de ensaio. Com uma alça de níquel-cromo as amostras foram inseridas 46 MATERIAL E MÉTODOS na região central do meio. Em seguida foram incubadas à ± 35ºC e as leituras foram realizadas com 24 e 48 horas de incubação. A observação de crescimento bacteriano apenas na linha da inserção é característica de organismos imóveis (motilidade negativa), enquanto a turbidez observada ao redor do pico do inóculo, evidencia a motilidade positiva. 4.5.3 - Produção de Pigmento A produção de pigmento foi verificada em swab estéril, através do raspado de colônias crescidas em placa de Müeller Hinton (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra), após período de incubação de 18-24 horas a ± 35ºC. A observação de coloração amarelada indica a produção de pigmento. 4.6 - Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos Paralelo ao processo de identificação de espécie foi realizado teste de disco difusão (método de Kirby-Bauer) de acordo com as recomendações do Clinical Laboratory Standards Institute (CLSI) (133) . Os antimicrobianos (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) testados foram: vancomicina (30 µg), teicoplanina (30 µg), ampicilina (10 µg), estreptomicina High Level (HL) (300 µg), gentamicinaHL (120 µg) e linezolida (30 µg). As placas foram incubadas a ± 35°C por 24 horas para posterior leitura do diâmetro dos halos do antibiograma. Para as amostras que apresentaram resistência intermediária pelo método de disco difusão a vancomicina e teicoplanina foram realizados testes para determinar a concentração inibitória mínima (CIM), usando o método de E-test® (AB Biodisk, Solna, Suécia) de acordo com as recomendações do 47 MATERIAL E MÉTODOS fabricante. Foi realizado como controle de qualidade, cepas de S. aureus (ATCC 29.213) e de E. faecalis (ATCC 29.212). 4.6.1 - Disco Difusão 4.6.1.1 - Inóculo Para obtenção do inóculo, selecionou-se da placa de cultura de ágar sangue 3 a 5 colônias isoladas, com mesmo tipo morfológico. Com auxílio de uma alça estéril, os microrganismos foram transferidos para um tubo contendo 5 mL de solução salina. A suspensão bacteriana foi homogeneizada e a turvação medida em turbidímetro digital (Baxter, Sacramento, EUA) e a escala utilizada foi a correspondente a 0,5 de McFarland, o que corresponde a uma concentração bacteriana em torno de 1 a 2 x 108 UFC/mL. 4.6.1.2 - Inoculação das Placas O swab alginetado estéril foi inserido dentro do tudo contendo a suspensão bacteriana ajustada. O excesso da solução no swab foi retirado através de movimentos rotatórios contra a parede interna do tubo. A semeadura foi realizada em placa de ágar Müeller-Hinton e o procedimento do esfregaço na placa foi efetivado de forma uniforme, a fim de assegurar a distribuição por igual do inóculo por toda superfície do ágar, como preconizado pelo CLSI M100-S18 (133). 48 MATERIAL E MÉTODOS 4.6.1.3 - Aplicação dos Discos e Interpretação dos Resultados Os discos de antimicrobianos foram dispensados na placa de ágar Müeller-Hinton inoculada de forma distribuída e espaçadamente. As placas foram colocadas em estufa a ± 35°C por 24 horas para posterior leitura dos halos. Os halos foram interpretados como sensíveis, intermediários ou resistentes; de acordo com os critérios de interpretação estabelecidos pelo CLSI M100-S18 (133). A cepa ATCC utilizada para este teste foi S. aureus ATCC 29.213 e de E. faecalis ATCC 29.212. 4.6.2 - Etest Para as cepas que apresentaram resistência intermediária, foi verificada a CIM através da técnica de Etest. A preparação da suspensão bacteriana em salina na escala 0,5 de McFarland e a inoculação das placas de Müeller-Hinton seguiram os mesmos critérios realizados na técnica de disco difusão, como descrito no item 4.5.1.3. A aplicação da fita em ágar inoculado foi seguida conforme orientações do fabricante. As placas foram colocadas em estufa a ± 35°C e após período de 24 horas, foi feita a interpretação da zona elíptica. A leitura da CIM foi realizada considerando a intersecção entre a fita de Etest e a zona elíptica de inibição de crescimento bacteriano. Quando a intersecção localizou-se entre duas numerações, foi considerada a concentração acima da intersecção. A cepa ATCC utilizada para esse teste foi E. faecalis ATCC 29.212. 49 MATERIAL E MÉTODOS 4.7 - Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Foram realizados ensaios de PCR para determinar a ocorrência do gene vanA em amostras resistentes à vancomicina. A extração de DNA das amostras testadas no estudo foi realizada a partir da retirada, com alça calibrada de 1:1000, de 3 a 5 colônias obtidas do meio de ágar sangue, e inseridas em tubo Eppendorf contendo 300 μL de água MiliQ estéril. A seguir, essa suspensão foi submetida à fervura por 15 minutos, a fim de romper a parede bacteriana e expor o DNA bacteriano. Após esta etapa, os tubos foram submetidos à centrifugação durante 3 minutos a 13.000 rpm e o sobrenadante com o DNA foi transferido para outro Eppendorf. Para amplificação do gene vanA foram utilizadas seqüências iniciadoras específicas segundo Dutka-Malen (134): vanA F - GGGAAAACGACAATTGC vanA R – GTACAATGCGGCCGTTA Para cada reação foram utilizados: 5 μL da Master Mix GoTaq® Green (Promega, Madison, WI, EUA); 0,5 μL de cada primer a 20 μM; 0,5 μL do DNA e 3,5 µL de água MiliQ estéril, obtendo um volume final de 10 μL. A reação de amplificação foi realizada no termociclador MasterCycler gradient (Eppendorf, Hamburgo, Alemanha), utilizando o seguinte programa: • 95ºC: 10 minutos • 95ºC: 1 minuto, 50ºC: 1 minuto, 72ºC: 1 minuto por 35 vezes • 72ºC: 10 minutos 50 MATERIAL E MÉTODOS Os produtos de PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1%, contendo brometo de etídio. A eletroforese foi realizada em um tampão de corrida (TBE 0,5X), a 100 volts por um período de 40 minutos. Como padrão de peso molecular foi utilizado um marcador de 100 pb (Invitrogen, Carlsbad, Califórnia, EUA). Os fragmentos de DNA de 732 pb, que corresponde ao peso do gene vanA, foram observados em transiluminador de luz ultravioleta. 4.8 - Eletroforese em Campo Pulsado (PFGE) As amostras de E. faecium foram subcultivadas em ágar sangue para a obtenção de colônias puras e isoladas. Foram transferidas aproximadamente quatro colônias de cada amostra para um tubo contendo 4 mL de tryptic soy broth (TSB - Oxoid, Basingstoke, Inglaterra), onde foram incubadas por um período de 18 a 24 horas. Após esse período, foram centrifugadas a 1.512 g (gravidade) por 15 minutos, e as células precipitadas foram diluídas em 1 mL de solução salina e transferidas para um tubo de microcentrifuga que foi previamente pesado. Os tubos foram centrifugados novamente a 25.200 g por aproximadamente 30 segundos e o sobrenadante foi cuidadosamente aspirado e desprezado. O centrifugado foi diluído em salina na proporção de 1:1 e um volume de 5 µL dessa solução foi transferida para outro tubo, onde foi adicionado 300 µL da solução tampão TEM (Tris 100 mM; pH 7,5; EDTA 100 mM; NaCl 150 mM; água destilada). Essa nova solução foi homogeneizada e misturada a 340 µL de agarose de baixo ponto de fusão (FMC, Rockland, USA) para a formação de pequenos blocos de géis contendo o DNA cromossômico. Os blocos foram incubados por cinco horas em solução EC (Tris 6 mM, pH 7,5; NaCl 1 M; EDTA 51 MATERIAL E MÉTODOS 0,01 M; Brij 58 0,5%; Sarcosil 0,5%; Deoxicolato 0,2% e água destilada) a 37ºC e a seguir foram incubados a 50ºC, em 2 mL de solução ES (EDTA 0,4 M, pH 9,3; Sarcosil 1,0%) contendo proteinase K (20 mg/mL, Sigma - P4914) por 12 horas. Após, os blocos foram lavados por quatro vezes com solução CHEF-TE (Tris 0,1 M, pH 7,5; EDTA 0,1 M) e armazenados nessa solução até a digestão enzimática. Foi utilizada a enzima de restrição Smal (New England Biolab, Inc., Beverly, Mass, USA), 10 U por amostra, para a digestão do DNA bacteriano das amostras de E. faecium estudadas. A digestão foi realizada por 12 a 18 horas a uma temperatura de 25ºC. Após a digestão, foi realizada a eletroforese em gel de agarose a 1,2% no sistema CHEF-DR III (Bio-Rad, Richmond, CA, EUA) e os padrões de variação da corrente elétrica foram 5 segundos iniciais e 60 segundos finais. A eletroforese foi realizada por um período de 23 horas, em solução 0,5x TBE (Tris 0,089 M; Ácido bórico 0,089 M; EDTA, 0,002 M) à temperatura de 14°C e utilizando uma corrente elétrica de 200 volts (6 V/cm). Os géis foram corados com brometo de etídio (0,08 µL/mL) por uma hora, descorados em água destilada por mais uma hora e fotografados sob luz ultravioleta. Os perfis migratórios obtidos após a fotografia do gel foram analisados visualmente seguindo os critérios de Tenover e colaboradores (131) , onde amostras são consideradas idênticas (mesmo clone) quando apresentam todas as bandas iguais; amostras com até seis bandas serão consideradas um subtipo de um mesmo clone, e amostras que apresentam sete ou mais bandas discordantes serão consideradas amostras não relacionadas epidemiologicamente (131). 52 MATERIAL E MÉTODOS Além da análise visual, os perfis de PFGE das amostras foram submetidos ao programa de análise de géis BioNumerics (Applied Maths, Kortrijk, Belgium) versão 5.0. Em todas as imagens, a definição de bandas foi realizada automaticamente pelo programa e depois conferida visualmente. O coeficiente de similaridade de Dice foi utilizado, e o dendrograma foi construído utilizando o algoritmo de análise filogenética UPGMA (Unweighted Pair-Groups Method using arithmetic averages) (135) . Os valores de otimização e tolerância utilizados para o conjunto de isolados foram de 0,8 e 2,0%, respectivamente. Um coeficiente de similaridade acima de 80% foi selecionado para definir cada cluster de isolados (136,137). 53 RESULTADOS 5 - RESULTADOS 5.1 - Resultados do Estudo Retrospectivo Através do levantamento de dados de janeiro a agosto de 2008, 24 amostras de Enterococcus spp. foram isoladas de 14 pacientes do IOP. Das dezenove espécies pertencentes ao gênero Enterococcus, apenas E. faecium e E. faecalis foram isoladas nesse estudo, sendo 83,3% (20/24) relacionados à espécie E. faecium e 16,7% (4/24) a E. faecalis, evidenciando uma proporção 5:1 entre as duas espécies, respectivamente (Figura 7). Figura 7 - Distribuição das espécies de Enterococcus spp. isoladas dos pacientes do IOP, durante o período de estudo retrospectivo realizado entre janeiro a agosto de 2008. Das quatro amostras de E. faecalis identificadas nesse período de estudo, duas foram associadas à infecção, sendo uma relacionada à ICS e outra à urina. As outras duas restantes foram isoladas em cultura de vigilância (swab anal). Em relação ao perfil de sensibilidade à vancomicina dessa espécie, nenhuma amostra demonstrou resistência à mesma. 54 RESULTADOS Vinte amostras isoladas de 11 pacientes foram identificadas como E. faecium, 85% (17/20) apresentaram resistência à vancomicina, sendo que 64,7% (11/17) foram isoladas através de culturas de vigilância (swab anal) e 35,3% (6/17) estavam associadas à infecção sendo 4 ICS, 1 de trato respiratório e 1 de trato urinário. Apenas três isolados de E. faecium não apresentaram resistência à vancomicina, contudo, dois casos foram isolados de ICS. Com relação ao gene que confere resistência à vancomicina, todas as 17 amostras de E. faecium analisadas apresentaram o gene de resistência vanA pela técnica de PCR (Figura 8). C+ P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 732 pb - Figura 8 - Gel de agarose a 1% demonstrando o resultado de amplificação de gene vanA (732 pb). C+ (controle positivo); P1 a P13 (amostras de E. faecium resistentes à vancomicina isoladas de janeiro a agosto de 2008). A distribuição de amostras de VRE-EFM, de acordo com os meses de estudo retrospectivo, pode ser visualizada na Figura 9. 55 RESULTADOS Figura 9 - Distribuição das 17 amostras de VRE-EFM isoladas durante os meses (janago/08), correlacionados aos casos clínicos de infecção. De acordo com a Figura 9, observam-se três momentos onde foram constatados casos de infecções por VRE-EFM: março, julho e agosto. Os dois episódios ocorridos no mês de março foram isolados de ICS, porém estavam atribuídos a um único paciente (P2). Nos três casos verificados no mês de julho, um era infecção do trato respiratório (P3) e dois ICS (P6 e P2), sendo esses dois últimos casos isolados de pacientes internados no sétimo andar (7A) do hospital. Em agosto foi detectado apenas um caso de infecção urinária de paciente de ambulatório. O aumento de infecções no mês de julho foi acompanhado com o aumento do número de isolados de VRE-EFM, oito no total, o maior verificado nesse estudo. A distribuição dos sítios onde foram isoladas as amostras de Enterococcus spp. ao longo dos oito meses do estudo retrospectivo pode ser visualizado na Figura 10, assim como o número de casos de VRE-EFM destacado em linha. 56 RESULTADOS Figura 10 - Sítios de isolamento de Enterococcus spp. ao longo do período retrospectivo. A linha azul representa a quantidade de casos de VRE-EFM verificados em cada mês. Quatro casos de bacteremia por VRE-EFM foram isolados de culturas colhidas através de cateter venoso central. Os outros dois episódios de bacteremia ocorridos no mês de julho, mês de maior prevalência, apresentaram sensibilidade a vancomicina, sendo que um episódio estava relacionado a E. faecalis e outro a E. faecium. Com esse mesmo perfil, as demais amostras de E. faecium isoladas em sítio sanguíneo foram achadas em abril e agosto. Em relação aos demais sítios de infecção analisados nesse estudo, visualizados em julho e agosto, apenas um único caso de VRE-EFM foi verificado nas vias respiratórias e no sítio urinário. Das 12 amostras de enterococos isolados em swab anal, 10 estavam relacionadas à espécie E. faecium, sendo que 9 destes 57 RESULTADOS apresentaram resistência à vancomicina. O número correspondente de cada isolado e os sítios respectivos podem ser visualizado em Anexo 4. Em relação ao perfil de sensibilidade aos demais antimicrobianos dos isolados de VRE-EFM, todas as amostras apresentaram sensibilidade a linezolida e resistência à ampicilina, teicoplanina e estreptomicina-HL. Para gentamicina-HL foi verificado sensibilidade de 82,3% (14/17). Em relação às amostras de VSE-EFM (E. faecium sensíveis à vancomicina), assim como a vancomicina, as amostras apresentaram sensibilidade a teicoplanina e linezolida. Semelhante as amostras de VRE-EFM, todas as amostras apresentaram resistência a ampicilina e a estreptomicina-HL. Em relação à gentamicina-HL, essas amostras apresentaram maior perfil de resistência (66.7%) quando comparado aos VRE-EFM (17,7%). 5.2 - Resultados do Estudo Prospectivo Esse estudo foi realizado durante três meses consecutivos: outubro a dezembro de 2008, seguido por mais um mês (março de 2009), após um intervalo de aproximadamente três meses. Um total de 98 amostras foi isolado nas quatro etapas de coletas de cultura de vigilância de swab anal num total de 80 pacientes estudados. A distribuição do número de coletas realizadas durante cada período e o número de amostras positivas para VRE encontra-se representada na Figura 11. 58 RESULTADOS Variação do percentual das amostras de VRE‐EFM ao longo do estudo 36,0% 9,4% 28,7% 0% Figura 11 - Resultados do estudo prospectivo, mostrando o número de coletas de swab anal realizadas em cada etapa das culturas de vigilância, o número de isolados de VREEF e VRE-EFM em cada estudo e ao lado, a variação do percentual dos casos de VREEFM ao longo do estudo. A coleta foi realizada em todos os pacientes internados no dia do estudo. A média de pacientes por unidade de internação nos quais foram realizadas as coletas foi: um em Ambulatório (AMB), quatro em Centro de Transplante de Medula Óssea (TMO), quatro em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), cinco em internação do sexto andar (6A) e onze em internação do sétimo andar (7A), totalizando em media 25 pacientes com amostras coletadas por dia estudado. Dos 98 swabs coletados durante as quatro coletas de estudo, 26,5% (26/98) foram positivos para VRE, sendo que 88,5% (23/26) estavam relacionadas à espécie E. faecium e apenas 11,5% (3/26) a E. faecalis. Em relação ao número de isolados de VRE-EFM, a primeira coleta de cultura de vigilância (outubro) apresentou um percentual de 36%, aumentando para 45,4% na segunda coleta (novembro), caindo para 16,7% na terceira etapa 59 RESULTADOS (dezembro). Na quarta coleta realizada em março, não foi verificado nenhum caso de VRE-EFM, observando-se apenas dois casos de VRE pertencentes à espécie E. faecalis (Figura 11). 5.3 - Caracterização dos Isolados de VRE Um total de 43 amostras de VRE foi isolado durante todos os 13 meses de estudo (retrospectivo e prospectivo), coletados num total de 89 pacientes. Destes, 40 estavam relacionados à espécie E. faecium e apenas 7% (n=3) foi identificado como sendo E. faecalis. Todos esses 43 isolados foram caracterizados conforme os seguintes critérios: tipo de estudo, unidade hospitalar, pacientes (P), idade, data da coleta, sítio de isolamento, diagnóstico de colonização ou infecção, espécime clínico e perfil de resistência, como demonstrado na Tabela 4. No anexo 5, é possível visualizar o fluxo geral do todas as coletas com seus respectivos resultados. Como também o número de isolado de E. faecium para realização da tipagem molecular. 60 RESULTADOS Tabela 4 - Caracterização das 43 amostras de VRE isoladas durante os estudos retrospectivo e prospectivo de 89 pacientes do hospital IOP de acordo os espécimes clínicos, unidades hospitalares de isolamento e perfil de sensibilidade aos Unidade P r o s p e c t iv o Estudo R e tr o s p e c tiv o antimicrobianos a b Pacientes Idade (anos) Data Sítio TMO Amb Amb TMO TMO TMO TMO TMO UTI TMO 7A 7A 7A UTI UTI Amb 6A P1 P2 P2 P3 P4 P5 P4 P3 P5 P3 P6 P3 P7 P3 P3 P8 P9 16 11 11 17 7 4 7 18 4 18 5 18 2 18 18 13 1 jan/2008 Swab anal mar/2008 Sangue mar/2008 Sangue mai/2008 Swab anal mai/2008 Swab anal jun/2008 Swab anal jun/2008 Swab anal jul/2008 Swab anal jul/2008 Swab anal jul/2008 Swab anal jul/2008 Sangue jul/2008 Swab anal jul/2008 Sangue jul/2008 Secreção Nasal jul/2008 Aspirado Traqueal ago/2008 Urina Jato Médio ago/2008 Swab anal 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 1º coleta 6A UTI 7A UTI 7A 7A 7A 7A 7A P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 20 17 1 21 11 12 2 14 1 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 out/2008 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta 2º coleta UTI 7A 7A 7A 7A UTI 6A 7A 7A UTI P14 P18 P19 P5 P20 P21 P22 P23 P24 P16 11 1 14 4 22 18 6 18 7 2 3º coleta TMO P25 3º coleta 7A P5 3º coleta 6A 3º coleta c Espécie Fenótipo de Resistência C I I C C C C C C C I C I C I I C E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal C C C C C C C C C E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 nov/2008 Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal Swab anal C C C C C C C C C C E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium E. faecium AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR AMP, VAN, TEC, STR, GEN 1 dez/2008 Swab anal C E. faecium AMP, VAN, TEC, STR 4 dez/2008 Swab anal C E. faecium AMP, VAN, TEC, STR P26 22 dez/2008 Swab anal C E. faecalis VAN, TEC, GEN UTI P27 18 dez/2008 Swab anal C E. faecium AMP, VAN, TEC 3º coleta 7A P28 9 dez/2008 Swab anal C E. faecium AMP, VAN, TEC, STR 4º coleta 4º coleta TMO 7A P29 P30 5 17 mar/2009 mar/2009 Swab anal Swab anal C C E. faecalis E. faecalis VAN, TEC VAN, TEC, GEN Diagnóstico a Unidades de Internação dos Pacientes: Amb (Ambulatório); TMO (Transplante de Medula Óssea); UTI (Unidade de Terapia Intensiva), 6A (sexto andar) e 7A (sétimo andar); b P, representa os pacientes numerados em ordem cronológica; c C, colonizados e I, infectados; d Antimicrobianos: AMP (ampicilina), VAN (vancomicina), TEC (teicoplanina), STR (estreptomicina) e GEN (gentamicina); Todas as amostras foram positivas para o gene vanA. 61 d RESULTADOS De acordo com os dados verificados na Tabela 4, em relação às unidades de internação, o 7º andar apresentou maior número de isolados (n=18); seguidos pela UTI e TMO com 9 cada, o 6º andar em terceiro, com quatro casos; e por último o ambulatório com apenas três isolados. Dos 30 pacientes onde foram isolados os 43 casos de VRE, a média de idade foi de 10,8 anos e com prevalência do sexo masculino, com uma proporção de mais de três casos para cada um feminino. Assim como no estudo retrospectivo, todas as amostras foram sensíveis à linezolida. Em relação aos aminoglicosídeos, todos VRE-EF apresentaram sensibilidade à estreptomicina-HL e em relação à gentamicina-HL apenas 33,3% (1/3). Já os VRE-EFM apresentaram 5% (2/40) de sensibilidade à estreptomicina-HL e 85% (34/40) a gentamicina-HL. Em relação à ampicilina, todas as amostras de VRE-EFM apresentaram resistência enquanto que os três casos de VRE-EF apresentaram sensibilidade. 5.4 - Tipagem Molecular das Amostras de E. faecium 5.4.1 - Critério de Inclusão das Amostras Isoladas para Tipagem Molecular Dos 40 isolados de VRE-EFM totalizados de ambos os estudos, 33 foram selecionados para realização da tipagem molecular, utilizando-se a técnica de PFGE, de acordo com os critérios pré-definidos. Conforme o critério de inclusão das amostras do estudo retrospectivo (uma amostra de VRE isolada por paciente) totalizou-se 10 isolados de VRE-EFM. A única exceção ocorrida foi relacionada ao paciente P3, do qual foram selecionadas duas 62 RESULTADOS amostras de VRE-EFM por terem sido isoladas em sítios distintos (swab anal e aspirado traqueal). Além das 10 amostras de VRE-EFM incluídas do estudo retrospectivo, foram ainda acrescentadas na tipagem duas amostras de E. faecium sensíveis a vancomicina, relacionadas aos pacientes P7 e P10, ambos pacientes apresentando episódios com posterior isolamento de VRE-EFM. Em relação ao paciente P7, as duas amostras foram isoladas em ICS. Já o paciente P10, a primeira amostra foi isolada de ICS e, posteriormente, o VRE-EFM foi isolada de cultura de vigilância de swab anal. Com relação ao estudo prospectivo, todas as amostras isoladas de VREEFM foram incluídas, totalizando 23. Do primeiro, segundo e terceiro estudo prospectivo, foram incluídas 9, 10 e 4 amostras, respectivamente. Nenhuma amostra de março entrou nesse estudo devido à ausência de casos de VREEFM. Como todos os casos de VRE-EFM isolados do estudo prospectivo foram incluídos para tipagem molecular, três amostras duplicadas, pacientes P5, P14 e P18, puderam ser analisadas quanto ao seu padrão. Com esses três casos, através da caracterização molecular, pode-se verificar se as amostras pertenciam a um mesmo clone, ou a amostra bacteriana adquiriu o gene de resistência a vancomicina. Na Tabela 5 encontram-se todos os isolados de E. faecium selecionadas para realização do PFGE de acordo com o estudo, unidades de internação, data do pedido, gene de resistência e padrão molecular pelo PFGE. 63 RESULTADOS Tabela 5 - Caracterização molecular das 35 amostras de E. faecium, selecionadas através do perfil de sensibilidade à vancomicina (33 VRE e 2 VSE). a Nº de amostras Estudo Pacientes Unidade de Internação Sítio Data do Pedido Gene Padrão 1 RETRO P1 TMO Swab anal 29/01/2008 van A A4 2 RETRO P2 Amb Sangue 25/03/2008 van A A1 3 RETRO P3 TMO Swab anal 10/05/2008 van A D 4 RETRO P3 UTI Aspirado Traqueal 25/07/2008 van A B 5 RETRO P4 TMO Swab anal 17/06/2008 van A B8 6 RETRO P5 TMO Swab anal 07/07/2008 van A B 7 2º PROSP P5 7A Swab anal 04/11/2008 van A B 8 RETRO P6 7A Sangue 09/07/2008 van A A2 9 RETRO P7 7A Sangue 18/07/2008 van A C 10 RETRO P7 7A Sangue 10/07/2008 AUSENTE C 11 RETRO P8 Amb Urina Jato Médio 03/08/2008 van A A2 12 RETRO P9 6A Swab anal 27/08/2008 van A G 13 RETRO P10 Amb Sangue 29/08/2008 AUSENTE B 14 1º PROSP P10 6A Swab anal 02/10/2008 van A B2 15 1º PROSP P11 UTI Swab anal 02/10/2008 van A B7 16 1º PROSP P12 7A Swab anal 02/10/2008 van A B 17 1º PROSP P13 UTI Swab anal 02/10/2008 van A B5 18 1º PROSP P14 7A Swab anal 02/10/2008 van A B 19 2º PROSP P14 UTI Swab anal 04/11/2008 van A B 20 1º PROSP P15 7A Swab anal 02/10/2008 van A B 21 1º PROSP P16 7A Swab anal 02/10/2008 van A NÃO TIPAVEL 22 2º PROSP P16 UTI Swab anal 04/11/2008 van A B7 23 1º PROSP P17 7A Swab anal 02/10/2008 van A A3 24 1º PROSP P18 7A Swab anal 02/10/2008 van A A 25 2º PROSP P18 7A Swab anal 04/11/2008 van A B1 26 2º PROSP P19 7A Swab anal 04/11/2008 van A A 27 2º PROSP P20 7A Swab anal 04/11/2008 van A A 28 2º PROSP P21 UTI Swab anal 04/11/2008 van A E 29 2º PROSP P22 6A Swab anal 04/11/2008 van A B6 30 2º PROSP P23 7A Swab anal 04/11/2008 van A B 31 2º PROSP P24 7A Swab anal 04/11/2008 van A B4 32 3º PROSP P5 7A Swab anal 04/11/2008 van A NÃO TIPAVEL 33 3º PROSP P25 UTI Swab anal 17/12/2008 van A F 34 3º PROSP P27 6A Swab anal 17/12/2008 van A B3 35 3º PROSP P28 Amb Swab anal 17/12/2008 van A B3 a Perfis identificados de acordo com os critérios estabelecidos por Tenover (131) . 64 RESULTADOS 5.4.2 - Análise da Tipagem Molecular Segundo Critérios de Tenover Das 35 amostras selecionadas, apenas duas amostras não foram possíveis ser tipadas, uma referente ao primeiro e outra ao segundo estudo, devido a reações inespecíficas, o que deixou o resultado inconclusivo em relação a sua linhagem. Das 33 amostras analisadas, de acordo com os critérios de Tenover e colaboradores (131) , sete padrões de PFGE foram encontrados (“A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F” e “G”). O padrão “B” e “A” foram os mais prevalentes, com 19 e 8 amostras, respectivamente. O padrão “B” apresentou nove subtipos e o padrão “A” apresentou cinco. Os padrões C, D, E, F e G não apresentaram subtipos. 5.4.3 - Análise da Tipagem Molecular pelo Programa BioNumerics A Figura 12 demonstra o dendrograma construído a partir da análise de similaridade utilizando o programa BioNumerics versão 5.0 (Applied Maths, Kortrijk, Belgium). Pela análise do dendrograma, o grau de similaridade entre o padrão “B” em relação ao “A” foi de 74,9% e em relação ao padrão “C” foi de 45,4%. A diferença entre a similaridade entre os padrões “A” e “C” foi relativamente maior do que em relação à “B”, com 49%. Entre os nove subtipos identificados na análise visual como padrão B (B1, B2, B3, B4, B5, B6, B7 e B8), o grau de similaridade encontrado variou de 84,1% a 100%; sendo a maior diferença encontrada no subtipo B6. 65 RESULTADOS Em concordância com a interpretação visual do PFGE, o subtipo B foi o que apresentou maior número de amostras com maior quantidade de padrões apresentando similaridade, nove das 19 amostras encontradas. Além desses subtipos, mais outros dois foram duplicados, “B3” e “B7”. Em relação ao subtipo B3, ambas as amostras foram isoladas na terceira coleta do estudo prospectivo, porém as unidades em que foram isoladas e os pacientes eram distintos. Em relação ao subtipo B7, a UTI foi o local de isolamento dos dois isolados, entretanto, esse padrão foi isolado entre a primeira e segunda coleta do estudo prospectivo e entre pacientes diferentes. Em relação ao percentual de similaridade encontrado nos subtipos A (A, A1, A2, A3, A4), a variação entre o percentual de similaridade foi entre 80,4% a 100%. Dos oito casos isolados, três estavam relacionados ao subtipo A e isoladas no sétimo andar. Curiosamente, os dois subtipos pertencentes ao A2 foram isolados de pacientes distintos, sítios e unidades diferentes após um intervalo de aproximadamente 30 dias. O percentual de similaridade entre esses dois subtipos (A e A2) foi de 80,4%. Amostras idênticas (100% de similaridade) de acordo com o dendrograma foram observadas em pacientes diferentes e unidades de internação distintas, como verificado entre: P27 e P28 (Padrão B3); P6 e P8 (A2) e entre P10, P5 e P14. 66 RESULTADOS Figura 12 - Dendrograma com o resultado da análise de similaridade de bandas dos padrões genéticos por PFGE das amostras de E. faecium. 5.4.4 - Correlação Entre Tipagem Molecular e Internação dos Pacientes 5.4.4.1 - Padrão de PFGE versus Unidades de Internação O padrão “B” de PFGE, encontrado em 57,6% (19/33) das amostras, foi encontrado nas cinco diferentes unidades do IOP (AMB, TMO, UTI, 6A e 7A), possuindo maior incidência no sétimo andar com 36,7% (7/19) e UTI com 26,3% (5/19), conforme demonstrado na Figura 13. Já o perfil “A”, apareceu em três diferentes unidades (TMO, 7°Andar e AMB), sendo que no 7A foi encontrado o maior número de amostras, com 62,5% (5/8). Embora sua maior disseminação 67 RESULTADOS tenha prevalecido no 7A, o primeiro perfil “A” desse estudo foi reportado na unidade de transplante de medula óssea (P1). Figura 13 - Distribuição dos perfis de PFGE dos isolados de E. faecium por unidade de internação. No sétimo andar, a proporção entre o número de isolados entre os dois perfis mais prevalentes (“A” e “B”) foi de 5:7, respectivamente. Em relação aos isolados de sítios estéreis, o perfil “A” apresentou maior número dos isolados do que o clone “B” (3:2), aparecendo em um dos casos neste andar, em ICS. As unidades apresentando maior número de variantes de clones foram UTI, TMO e 7A, com três perfis cada. Na UTI não foi reportado nenhum isolado com padrão tipo “A” e, em todas as unidades, o padrão “B” foi o mais prevalente, com 71,4% (5/7); 50% (2/4) e 50% (7/14), respectivamente. A menor quantidade de clones encontrados por andar foi dois padrões, verificados no ambulatório e o sexto andar. No ambulatório, a proporção entre “A” 68 RESULTADOS e “B” foi à mesma. Já no sexto andar o perfil “B” predominou em três das quatro amostras. 5.4.4.2 - Padrão de PFGE versus Período de Internação Pode se observar, de acordo com a Figura 14, uma predominância dos dois clones mais isolados (“A” e “B”) logo no início do estudo prospectivo. No mês de outubro, das oito amostras isoladas, 75% estavam relacionadas ao padrão “B”. Em novembro o índice do padrão “B” caiu apenas cerca de 5%, sendo que, das 10 amostras isoladas, sete pertenciam a um mesmo subtipo B. 2º estudo - Nov 1º estudo - Out Retrospectiv 3º estudo - Dez 4º estudo - mar Figura 14 - Distribuição dos perfis de PFGE dos isolados de E. faecium de acordo com os meses de isolamento. O perfil “B” foi encontrado tanto em cepas de E. faecium sensíveis quanto em cepas resistentes à vancomicina (P10). Sua permanência pode ser verificada 69 RESULTADOS desde junho, dando continuidade até o penúltimo mês estudado (dezembro) onde se obteve dois dos três casos verificados. O mesmo não ocorreu com o padrão de PFGE “A”, que a partir do mês de dezembro não foi mais visualizado, entretanto pode-se verificar que sua permanência no ambiente hospitalar precede-se deste janeiro. A partir do mês de dezembro observou-se uma redução no número de isolados e no número de padrões encontrados. Embora tenham sido isoladas apenas três amostras de VRE-EFM nesse mês, duas destas ainda estavam relacionadas ao padrão B. 5.4.4.3 - Padrão de PFGE versus Período de Internação versus Unidade de Internação, com Foco no Fluxo dos Pacientes no IOP A Figura 15 mostra o resultado da tipagem molecular das 33 amostras de VRE-EFM e 2 amostras de VSE-EFM com relação ao período de internação em um ano (janeiro de 2008 a dezembro de 2008) e as unidades em que os 27 pacientes estiveram internados. . 70 RESULTADOS PACIENTES P28 B3 P27 B3 P19 A P10 B B2 Legenda P20 A UTI P21 E 6º ANDAR P22 B6 7º ANDAR P23 B TMO P24 B4 AMBULATÓRIO B7 ALTA P16 ISOLADO P17 A3 P15 B P18 A B1 P14 B B P12 B P11 B7 P13 B5 ÓBITO P25 F P9 G P8 A2 P6 A2 P7 C P5 C B P3 B D B P4 B8 P2 A1 P1 A4 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Figura 15 – Fluxograma dos pacientes internados no IOP no período de janeiro a dezembro de 2008. Os deslocamentos pelas unidades estão representados por linhas distintas, distribuídas de forma semanal. Os símbolos representam: estrela (alta hospitalar), círculo (isolamento do paciente) e cruz (óbito). Os padrões de PFGE encontrados também estão em destaque, de acordo com seus respectivos padrões encontrados. 71 RESULTADOS De acordo com a Figura 15, foi possível observar o fluxo dos pacientes de acordo com seu trajeto nas unidades de internação ao longo das semanas e sua desenvoltura durante todos esses meses de estudo. Observa-se que os primeiros padrões A, B e D tiveram seus inícios na unidade TMO. Já os padrões C, E, F e G tiveram seus inícios em unidades distintas, 7A, UTI, TMO e 6A, respectivamente. Embora os padrões A e B tenham surgido na unidade TMO, observa-se que estes obtiveram uma maior distribuição no 7A. Na unidade TMO foi observado quatro padrões de PFGE, dentre os quais dois apresentaram semelhança (B e B8). Entretanto, o grau de similaridade encontrado entre ambos foi de 84,1%. O subtipo A2, isolado primeiramente em julho num paciente (P6) internado no 7A, foi em seguida isolado em um segundo paciente (P8). De acordo com o fluxo, observa-se que, no período do primeiro isolamento, ambos os pacientes encontravam-se no sétimo andar no mesmo período. De acordo com esses dados, sugere-se que houve transmissão do paciente P6 para P8, ocorrido no sétimo andar. Constata-se que as unidades que mais contribuíram para a disseminação do padrão B foram sexto e sétimo andar. O paciente P5 (paciente do TMO), provavelmente, foi o foco da disseminação para os outros pacientes, já que foi o primeiro caso de isolamento com esse perfil e, de acordo com seu deslocamento, observa-se um longo período de internação, principalmente no 7A. Em relação aos pacientes onde foram selecionados isolados de VSE-EFM e com posterior isolamento de VRE-EFM (P7 e P10), verifica-se que em relação ao paciente P7, o padrão de PFGE encontrado nos dois casos foi o “C”. Esse padrão não foi verificado em nenhum outro isolado. O intervalo de isolamento 72 RESULTADOS entre os dois isolados foi de uma semana. Já em relação ao paciente P10, o padrão verificado foi semelhante (B e B2). O grau de similaridade encontrado entre estes perfis foi de 86,8%. De acordo com o histórico do primeiro caso, P7, a aquisição do plasmídeo contendo o gene vanA pode ter sido provocada pelo uso de vancomicina, já que o mesmo fez uso prévio desse antimicrobiano durante seis dias antecedentes à semana do isolamento do VRE-EFM. Em relação ao segundo caso, a diferença entre os padrões de PFGE encontrados no intervalo desses dois meses, pode ter sido provocada por uma mutação da cepa, ainda mais presente com a pressão seletiva existente. A coleta do paciente P22 foi exatamente no momento de sua admissão no IOP. O padrão apresentado nesse caso foi semelhante ao clone mais prevalente do instituto (padrão “B”). O grau de similaridade encontrado entre esses perfis foi de 79,8% (o menor encontrado entre os perfis B). De acordo com o prontuário, este paciente foi transferido de outra instituição hospitalar, do mesmo estado, já apresentando histórico de VRE (espécie não especificada e amostra bacteriana não armazenada). Dos cinco óbitos ocorridos, quatro estavam relacionados ao clone B. Contudo, nenhum dos casos estava relacionado à ICS e as causas das mortes não foram associadas ao VRE-EFM. 73 DISCUSSÃO 6 - DISCUSSÃO Historicamente, as infecções enterocócicas em humanos são causadas por duas espécies, E. faecalis com 80 a 90% e E. faecium de 5 a 15% Assim como na literatura mundial, Gales e colaboradores (138) . (68) , em estudo do programa SENTRY sobre a freqüência de Enterococcus spp. em 10 anos na América Latina, verificou percentual semelhante entre as duas espécies: E. faecalis (78,2%) contra E. faecium (12,7%) (68) . O mesmo foi verificado em outros estudos brasileiros, como os realizados por Hörner e colaboradores e um recente por Bender (139) (140) , em hospitais localizados na região sul do Brasil também observou uma maior freqüência da espécie E. faecalis sobre E. faecium. Os percentuais achados entre as duas espécies, E. faecalis e E. faecium, nos respectivos estudos foram: 85% vs 6% (n=233) e 93% vs 4,4% (n=203) (139, 140). Diferente da maioria dos dados nacionais, em nosso estudo foi verificado uma maior prevalência da espécie E. faecium em relação à segunda espécie mais isolada, E. faecalis. O percentual verificado entre as duas foi de 83,3% contra 16,7%, numa freqüência de 5:1, respectivamente. De acordo com dois estudos de vigilância do programa SENTRY, que incluem dados sobre enterococos na América Latina, essa proporção difere das encontradas em outros continentes. No primeiro estudo, realizado por Mutnick e colaboradores (38) , a proporção entre as espécies E. faecalis e E. faecium encontrada durante os anos de 1997-2000 foi de 17:1, maior índice entre os demais continentes estudados, onde fora observado de 3 a 5:1. Seis anos após, Gales e colaboradores (68) , observaram em dez anos de estudo (1997-2006), uma redução desta proporção (6:1). 75 DISCUSSÃO Ao contrário dos relatos citados, dos vinte casos de E. faecium analisados neste estudo retrospectivo, 85% (n=17) apresentaram resistência aos glicopeptídeos, todos apresentando fenótipo VanA. Dos quatro casos de E. faecalis observados nos oito meses de estudo retrospectivo, nenhum apresentou perfil intermediário ou resistente aos glicopeptídeos. Este fato é considerado raro, já que no Brasil a espécie E. faecalis está mais relacionada com esse mecanismo de resistência (141). O mês de julho foi o que apresentou tanto o maior número de isolados de enterococos quanto o maior número de casos relacionados a infecções e de casos de VRE (n=8). Este número foi elevado já que na instituição o máximo de enterococos isolados era de dois casos por mês. De acordo com as análises do fluxo dos pacientes em conjunto com a tipagem molecular, observa-se que no fim do mês de junho houve a introdução de um perfil mais prevalente, denominado de “clone B”. Isso explica o aumento de VRE-EFM posterior a esse mês, já que na análise dos isolados do estudo prospectivo verificou-se uma disseminação deste clone em todos os andares da instituição analisados, caracterizando um surto por VRE-EFM. Assim como no estudo retrospectivo, o estudo prospectivo realizado durante etapas de coletas de cultura de vigilância confirmou a prevalência de VRE-EFM no IOP. Dentre as quatro coletas realizadas, na primeira e na segunda coleta (referentes aos meses de outubro e novembro respectivamente), observou-se uma prevalência de 100% de VRE-EFM. Nas duas últimas coletas, referentes aos meses de dezembro e março, observou-se uma redução desses casos, sendo que na última coleta não foi verificado nenhum VRE-EFM e apenas dois casos de VRE-EF foram observados. Essa 76 DISCUSSÃO diminuição da predominância de casos de VRE-EFM sobre VRE-EF, ao final do período analisado, pode ser considerada um fato positivo, visto que VRE-EF é mais sensível aos antimicrobianos e por sua menor virulência em comparação ao VRE-EFM. Diversos estudos brasileiros observaram uma predominância de VREEF sobre VRE-EFM (54, 142) . A predominância de VRE-EFM sobre VRE-EF verificada em nosso estudo pode estar relacionada a uma mudança dessas taxas, já observadas nos relatos de Gales e colaboradores (68) e D’Azevedo e colaboradores (128) no Brasil. Gales e colaboradores (68) verificaram um aumento considerável de isolados de E. faecium (VRE-EFM) no ano de 2006 nos centros participantes na América Latina, principalmente no Hospital São Paulo, que, como o IOP, faz parte da rede de hospitais da UNIFESP. D’Azevedo e colaboradores (128) constataram, na mesma instituição, que de 37 amostras positivas para VRE, 54,1% estavam relacionadas à espécie E. faecium, as demais a E. faecalis (25,9%) e todas isoladas em culturas de vigilâncias em diferentes unidades de internação. Todos esses dados corroboram com a hipótese de que clones de VREEFM podem estar emergindo no Brasil, principalmente na cidade de São Paulo, e que, com o passar dos anos espera-se que VRE-EFM torne-se o mais prevalente em nosso meio. Esse aspecto foi abordado por Cereda e colaboradores (141) , através da caracterização e o modo de disseminação de VRE-EFM no Brasil. Segundo este estudo, sete padrões de PFGE distintos foram encontrados nas 22 amostras de VRE-EFM isoladas em sete centros médicos brasileiros participantes e, destes, seis centros localizados na cidade de São Paulo. Um único padrão, com quatro subtipos, foi detectado em 17 das 77 DISCUSSÃO amostras isoladas em quatro diferentes hospitais. Baseado nas análises, os pesquisadores indicaram uma ocorrência de disseminação intra e interhospitalar de VRE em São Paulo e que provavelmente, a disseminação deste clone estava relacionada ao aumento da prevalência de VRE no Brasil (141). Assim como os dados relatados por Cereda e colaboradores (141) , é interessante verificar que em nosso estudo foi observado também o relato de provável disseminação clonal inter-hospitalar. Considerando o paciente P22, neste caso, a coleta de swab anal neste paciente foi exatamente na sua entrada no hospital (realizada na segunda etapa de coleta - novembro). O paciente em questão foi transferido de outra instituição hospitalar, localizada no mesmo estado e já estava colonizado por VRE (espécie não especificada e amostra bacteriana não armazenada). A tipagem molecular revelou que a amostra apresentou perfil B6, subtipo do clone mais prevalente na instituição (padrão “B”) (Figura 12), caracterizando a importância de culturas de vigilância na admissão de pacientes provenientes de outras instituições. Com relação ao perfil de sensibilidade, todas as amostras de VRE-EFM desse estudo apresentaram resistência à ampicilina. De acordo com os recentes estudos de genética populacional, a maioria dos VRE-EFM relacionados a infecções nosocomiais isoladas em várias partes do mundo faz parte de uma mesma linhagem pertencente ao complexo clonal denominada CC17 (30) . Cepas que apresentam esse perfil genético, além de possuírem resistência à ampicilina, carreiam genes de proteínas de superfície (esp) e hialuronidases (hyl) relacionados à virulência neste gênero bacteriano e, que são relacionados a surtos nosocomiais nos cinco continentes (143). Em pesquisa realizada por Titze-de-Almeida (2004) (153) sobre a virulência e variabilidade 78 DISCUSSÃO genética de E. faecium isolados no Brasil, verificou que entre as 19 amostras de VRE-EFM isoladas em São Paulo (Hospital Santa Marcelina), incluindo o primeiro caso de VRE-EFM com fenótipo VanA do Brasil, a presença do gene esp (marcador molecular localizado em ilhas de patogenicidade) foi detectada em 63,2% das amostras, não sendo verificada em nenhum das 11 amostras de VSE-EFM. Com base nesses resultados, o autor sugere que a resistência à vancomicina está associada à presença de prováveis ilhas de patogenicidade e desempenham um papel relevante na evolução dessa espécie de enterococos (153) . Acredita-se que esse complexo clonal seja o responsável por alterar as taxas de infecções causadas por E. faecalis versus E. faecium. Esta mudança representa um problema em potencial, uma vez que E. faecium é mais comumente associado à resistência a vancomicina do que E. faecalis (25) . Em nosso estudo, o mesmo perfil de sensibilidade observado para ampicilina foi também observado para teicoplanina (resistência), um dado concordante com a literatura, uma vez que o gene vanA encontrava-se presente em todos os isolados de VRE-EFM e, assim presente, proporciona altos níveis de resistência aos dois glicopeptídeos. De modo inverso, todas as amostras deste estudo apresentaram sensibilidade a linezolida, indicando que esse antimicrobiano continua a ser uma opção terapêutica adequada no tratamento das infecções por VRE. Altas taxas de sensibilidade a este antimicrobiano são semelhantes aos encontrados em outros países (68, 144) . Apesar de não ter sido verificado nenhum caso de resistência a linezolida neste estudo, já foram relatados casos na cidade de São Paulo. A primeira amostra relacionada à espécie E. faecalis, isolada em 79 DISCUSSÃO 2006 (145) , a segunda a E. faecium, isolada em 2009 (146) . O quadro clínico nestes dois casos foi distinto (queimados e trombose da artéria hepática, respectivamente), mas os enterococos resistentes a linezolida foram isolados em ICS após administração prolongada desse antimicrobiano. Ambos os casos possuíam o gene de resistência vanA e mutação G2576U no domínio V do rRNA 23S e foram tratados com tigeciclina, obtendo uma resposta favorável (145, 146) . Constata-se que, assim como aconteceu com a vancomicina, o uso inadequado e prolongado da linezolida pode ser considerado favorável para a seleção de cepas apresentando esse fenótipo multiresistente. Furtado e colaboradores (8) em estudo realizado no Hospital São Paulo observou um aumento progressivo na incidência de VRE em três anos (2000 2002), com o aumento de 15,8% em 2002. Os sítios de maior isolamento foram o urinário (36.6%) e o sanguíneo (20,8%), seguidos por infecções em partes moles (7,9%) (8) . Diferente dos dados obtidos por Furtado, em nosso estudo o sítio sanguíneo foi o mais prevalente (66,6%). Todos esses casos de ICS estavam relacionados a cateter venoso central, o que sugere que a manipulação deste foi a porta de entrada para as infecções. Deve-se salientar que os autores analisaram dados de um hospital geral e nosso estudo se deteve em pacientes oncológicos, na maioria neutropênicos. Dados do European Antimicrobial Resistance Surveillance System (EARSS) nos últimos sete anos corroboram com os nossos sobre o aumento da incidência de VRE-EFM isolados de hemocultura. Em países como Portugal o número de isolados alcançou 42,3% colaboradores (68) (143) . Do mesmo modo, Gales e observaram que dos sítios infecciosos de VRE da America 80 DISCUSSÃO Latina, houve uma maior predominância no sítio sangüíneo (42%), seguido pelo trato urinário (16%) e partes moles (13%). A relação de pacientes colonizados por enterococos resistente à vancomicina com progressão à infecção, assim como infecções causadas por diversos microrganismos, demonstra que infecções por VRE podem resultar no aumento da morbidade, tempo de hospitalização e custos, bem como aumento da mortalidade em pacientes com ICS (147) . Embora diversos estudos relatem a presença de infecções relacionadas à colonização (148) , as taxas dessa associação não são altas. Em um estudo de Roghmann e colaboradores (23) , por exemplo, foi encontrado um percentual de 17,8% entre pacientes colonizados por VRE que desenvolveram posterior ICS por esse patógeno. Entretanto, no estudo de Montecalvo e colaboradores (21) , essa relação foi baixa (1,7%). Contudo, de acordo com a literatura, ICS causadas por VRE, se comparada a infecções causadas por VSE, apresentam maior taxa de recorrência. Além disso, observou-se aumento na taxa de letalidade (independente da espécie (2, 17) ) e aumento nos custos hospitalares (US$ 27.000,00 por episódio de ICS) (17). Apesar dessas taxas não terem sido avaliadas em nosso estudo, em virtude da coleta de vigilância não ser realizada como rotina em todo o hospital, na unidade TMO é praticada essa rotina e foi possível verificar que, dentre 8 pacientes colonizados, dois desenvolveram infecção relacionada (25%). Por outro lado, dos nove casos de óbito ocorridos em toda a instituição, nenhum foi relacionado diretamente à colonização ou infecção por enterococos resistente à vancomicina, apesar disto ser um fator preditor independente de morte em pacientes, como demonstrado por Lode (12) em 2009. 81 DISCUSSÃO Uma vez verificada a presença de enterococos resistente à vancomicina numa instituição, as taxas de colonização e infecção tendem a aumentar, o que conseqüentemente podem vir a se transformar em epidemia a menos que sejam introduzidas medidas de controle eficazes (149). Estudos demonstram que a incidência de pacientes colonizados é 10 vezes maior que de pacientes infectados, e, uma vez que não detectados através de cultura de vigilância, a instalação de medidas de barreiras de contato efetivas fica comprometida (8). Os nossos estudos retro e prospectivo, possibilitaram a CCIH do IOP conhecer a real situação da instituição sobre os índices de colonização por VRE nos pacientes internados. A “foto análise” revelada através do estudo prospectivo, possibilitou a identificação de todos os pacientes colonizados por VRE num mesmo momento, sendo assim, possível uma intervenção mais direcionada da CCIH. Com as medidas aplicadas, observou-se uma redução do número de casos de colonização por VRE e consequentemente o número de infecções, documentado no estudo prospectivo onde não foi relatado mais nenhum caso de VRE. As coletas de vigilância contínuas associadas às medidas de controle de infecção são necessárias para o controle da disseminação de VRE-EFM (143) . Desde 1995, o CDC aconselha ações para reduzir a propagação de VRE, que incluem: identificação e isolamento de pacientes colonizados por VRE; higienização das mãos dos funcionários da área da saúde, limpeza adequada do ambiente e diagnóstico rápido. (150) . Estas recomendações auxiliam as instituições hospitalares e podem ser modificadas de acordo com a sua realidade. Em estudo de Santiago e colaboradores (2006), realizado no 82 DISCUSSÃO Hospital de São Paulo, verificou-se que o uso de meio de triagem para VRE (VREBAC) somado a técnicas de biologia molecular (PCR-Multiplex), reduziu o intervalo de tempo entre a coleta do swab anal do paciente até o resultado final para a CCIH do Hospital de 3 a 4 dias para 29 horas. Uma redução significante, que somada a medidas de controle implementadas pela CCIH possibilitaram uma redução de colonização por VRE em pacientes internados em UTI de 45,7% para 9,7% num período de quatro meses (155). De acordo com os resultados verificados no estudo retrospectivo, entre as condutas adotadas pela CCIH do IOP para o controle da disseminação de VRE-EFM, a cultura de vigilância contínua em todos os pacientes internados mostrou-se importante, uma vez que permitiu uma diminuição no número de ocorrência de pacientes colonizados, uma redução de quase 5 vezes (36% para 7,4%). A rapidez na liberação dos resultados também contribuiu para que as que as ações de controle da CCIH fossem instituídas de forma mais rápida. Os resultados das culturas de vigilância foram liberados para a CCIH entre 24 a 72 horas, com resultados parciais nas primeiras 24 horas, e os resultados finais em 72 horas incluindo identificação, perfil de sensibilidade e detecção do gene vanA. Comparando as medidas de controle adotadas pela CCIH antes e durante esse estudo, as mudanças determinantes foram no formato das campanhas voltadas para conscientização do problema; iniciado pela informação a todos os profissionais da área hospitalar. Foi realizada a campanha das “mãos limpas”, onde foi reforçada a conscientização de todos sobre a necessidade de higienização das mãos (lavagem ou uso de álcool gel) através de cartazes e panfletos fixado por todo o hospital, utilizando um 83 DISCUSSÃO personagem de história em quadrinhos conhecido pelas crianças e adultos (“Smilingüido”). Os visitantes também foram incentivados a evitar o contato excessivo com os pacientes, já que poderiam ser agentes facilitadores da transmissão do agente, visto que este microrganismo pode permanecer viável em superfícies ambientais de 7 a 14 dias com extensão de até dois meses (151), além do isolamento de contato para todos os pacientes colonizados ou infectados. O controle rigoroso de antimicrobianos também foi uma das medidas adotadas. Embora a literatura relate que a exposição prévia a cefalosporinas de 3º geração contribua para a incidência de VRE, no IOP, a cefalosporina de 4º geração (cefepime) é muito utilizada, por fazer parte do tratamento inicial dos episódios de neutropenia febril. Considerando que esse antimicrobiano apresenta menor relação com a emergência de VRE comparado a cefalosporinas de terceira geração, acreditamos que o uso empírico e prolongado da vancomicina é quem mais tenha contribuído para o aumento de VRE nesta instituição, uma vez que artigos publicados relatam seu maior poder de provocar seleção natural do que cefepime (152) . No presente estudo foi possível constatar a seleção de cepas VRE em paciente com uso da vancomicina (paciente P7). Após uma semana de uso de vancomicina no tratamento de ICS por VSE-EFM, foi isolado novamente E. faecium na corrente sanguínea, agora com perfil VRE-EFM. A análise da similaridade genética por PFGE das duas cepas isolados do paciente P7 demonstrou se tratar da mesma da cepa (padrão “C”), documentando a importância da vancomicina na pressão seletiva da resistência. 84 DISCUSSÃO Como relatado anteriormente, o uso prévio de antimicrobianos é um dos fatores de risco para aquisição de colonização e infecção por VRE e como verificada em nossos dados, os clones de VRE mais prevalentes (A e B) foram isolados da unidade TMO, unidade em que os pacientes mais usam antimicrobianos. Entretanto, observa-se que nessa unidade o maior problema não foi a disseminação clonal, uma vez que são verificados vários clones, mas a existência de uma pressão seletiva; diferente da UTI, na qual embora o uso de antimicrobiano seja freqüente, o que se verifica é o constante aparecimento destes dois clones. Através dos dados da tipagem molecular e da verificação do fluxograma dos pacientes durante o período de internação, foi possível constatar que no sétimo andar concentrou-se a maior distribuição dos dois clones predominantes (“A” e “B”). É provável que este fato seja explicado pela maior centralização de internados neste andar, maior número de leitos entre as unidades estudadas e maior fluxo da equipe de saúde, o que favoreceu a disseminação clonal intra-hospitalar, principalmente do padrão “B”, encontrado em todas as unidades do IOP. Além disso, a disseminação do clone mais prevalente (B) foi favorecida, principalmente, pelo tempo de internação, deslocamento e manipulação do paciente P5, onde foi isolada a primeira cepa com esse perfil (mês de junho), permanecendo este paciente colonizado até o mês de novembro. Com a mudança epidemiológica entre espécies de VRE observada na cidade de São Paulo, verificada pelo aumento da prevalência de VRE-EFM em alguns hospitais, acreditamos que essa diferença pode estar relacionada a um clone predominante, provavelmente um dos dois clones majoritários 85 DISCUSSÃO encontrados neste estudo (A e B). Para elucidar esta hipótese, um estudo epidemiológico de VRE-EFM a nível inter-hospitalar seria de grande importância, já que esta espécie possui uma maior habilidade e sucesso de sobrevivência que outras espécies de enterococos. Além disso, a presença de do gene vanA isolados em VRE-EFM aumenta a probabilidade de transmissão desse mecanismo de resistência para outras espécies mais virulentas, como S. aureus, uma vez que já existem relatos dessa transmissão (81, 82). 86 CONCLUSÃO 7 - CONCLUSÃO Estudo Retrospectivo • A resistência a vancomicina, mediada pelo gene vanA, no IOP foi relacionada à espécie E. faecium, contrastando com a baixa resistência a esta classe de antimicrobianos observada para E. faecalis; • O aumento significante do número de casos de VRE, observado no mês de julho no IOP, pode ser considerado como um surto causado por este microrganismo nesta instituição; Estudo Prospectivo • A alta incidência de colonização por VRE-EFM no IOP foi relacionada à disseminação clonal, verificado pela alta prevalência dos clones A e B disseminados em todas as unidades, principalmente no sétimo andar; • O estudo prospectivo somado as estratégias de controle de infecção coordenadas pela CCIH teve um impacto positivo, uma vez que não foi observado o isolamento de VRE-EFM colonizando pacientes na última coleta realizada em março de 2009, e não foi detectado nenhum caso de infecção a partir de agosto de 2008 até março de 2009; 87 CONCLUSÃO • Embora as medidas de controle de infecção tenham sido efetivas na redução dos casos de VRE-EFM no IOP, ainda foram detectados casos de VRE-EF, demonstrando a importância da continuidade de tais medidas e de avaliações epidemiológicos constante; • O uso de técnicas de biologia molecular demonstrou ser aplicável apresentando impacto na rapidez e sensibilidade com que foram liberados os laudos para a CCIH; • O modelo de culturas de vigilância continuada aplicado com êxito em todos os pacientes internados pode servir como padrão epidemiológico para as CCIH de outras instituições, a fim de conseguir resultados satisfatórios como alcançado no presente estudo; 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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OBJETIVOS: Devido à alta incidência de VRE isolados em pacientes do IOP, entre Janeiro a Agosto/08, foram adotadas ações emergenciais, com a finalidade de rastrear os isolados de VRE e conter a sua disseminação na instituição. O presente estudo teve como objetivo analisar epidemiologicamente os isolados de VRE no IOP no período de Janeiro/08 a Março/09. MATERIAL E MÉTODOS: No estudo retrospectivo foi realizado levantamento de dados, seguidos de análises fenotípicas e genotípicas de amostras de enterococos durante os oito primeiros meses de 2008, com a finalidade de verificar a incidência de pacientes colonizados e/ou infectados por VRE. Os dados do estudo prospectivo foram avaliados de acordo com quatro sucessivas etapas de culturas de vigilância de swab anal realizadas em todos os pacientes internados no IOP em um determinado dia, entre Outubro/08 a Março/09. Foram utilizados meios de cultura de triagem e realizada caracterização fenotípica e molecular dos VRE, assim como PFGE dos VRE-EFM. RESULTADOS: Verificou-se grande incidência de VRE (colonizados e infectados) no IOP (70,8%). Todos os casos foram de E. faecium, sendo 23,5% provenientes de ICS relacionada a CVC. O maior índice de isolados de VRE-EFM foi verificado em julho (n=8), sendo três casos de infecção. No estudo prospectivo, as sucessivas coletas de culturas de vigilância somadas às medidas de controle adotadas no IOP mostraram uma redução significativa no índice de VRE-EFM, caindo de 36% (Outubro/08) para 0% (Março/09). De acordo com o PFGE, houve a prevalência de dois clones A e B, totalizando 27 dos 35 isolados de VRE-EFM analisados, localizados, principalmente, no sétimo andar (12 casos). Acredita-se que este andar foi o principal responsável pela disseminação deste patógeno no IOP. CONCLUSÃO: O modelo prospectivo utilizado neste estudo, somado as estratégias de controle coordenadas pela CCIH do IOP, apresentou impacto positivo no controle da disseminação de VRE, uma vez que verificou-se uma drástica redução no número de casos. Sendo assim, o presente estudo pode servir como modelo epidemiológico para as CCIH de outras instituições no controle da disseminação de VRE no ambiente hospitalar. 109 ABSTRACT 10 - ABSTRACT BACKGROUND: The pediatric cancer represent between 0.5 - 3% of the tumors. VRE infections in this population, is a potential risk related to high rates of morbidity and mortality especially in the acquisition of VRE-EFM, due to their greater virulence and resistance. Although the relationship between colonization versus infection is relatively low, the likelihood of oncology patients develop infection with the colonizing strain is considerable. OBJECTIVES: Due to high incidence of VRE isolated from patients in IOP between January and August/08 were adopted emergency measures, in order to trace the VRE isolates and contain its spread in the institution. The objective of the present work was to study epidemiologically isolates of VRE in IOP during the January/08 to March/09. MATERIAL AND METHODS: A retrospective study was conducted on the data, followed by phenotypic and genotypic analysis of enterococcal samples during the first eight months of 2008, in order to determine the incidence of colonized patients and/or infected with VRE. Data from the prospective study were evaluated according to four successive surveillance cultures of anal swabs taken from all units of the IOP between Octuber/08 and March/09. We used screening media and performed phenotypic and molecular characterization of VRE, and PFGE of VRE-EFM. RESULTS: A high incidence of VRE (colonized and infected) in IOP (70.8%) was observed. All cases were related to the species E. faecium, with 23.5% from BSI associated to the CVC. The highest rate of isolates of VRE-EFM was observed in July (n=8), and three cases related to infection. In the prospective study, successive samples of surveillance cultures added to the new control measures adopted in IOP showed a significant reduction in the rate of VRE-EFM, decreasing from 36% (Octuber/08) to 0% (March/09). According to PFGE results, there was the prevalence of two clones A and B, totalling 27 of 35 isolates of VRE-EFM analysed, mainly located on the seventh floor (12 cases). We believed that this floor was the main responsible for the dissemination of this pathogen in IOP. CONCLUSION: The prospectively study used in this study, associated with control strategies coordinated by the HICC of IOP showed a positive impact on controlling the spread of VRE, since there was observed a significant reduction in the number of cases. Therefore, this study can serve as an epidemiological model for HICC of other institutions in controlling the spread of VRE in the hospital. 111 ANEXOS 11 - ANEXO Anexo 1 - Fluxo de Conduta para Casos de Bactérias Multiresistentes (MR) Adotadas pelo Programa de Controle de Infecção Hospitalar do IOP Negativo Precaução Padrão Positivo INSTITUIR AS PRECAUÇÕES POR CONTATO • • • • • • Isolamento do paciente Identificação do isolamento por um cartaz colorido na porta Reforçar a lavagem e desinfecção de mãos Uso de luvas e aventais Equipamento individualizado (estetoscópio, esfigmo, etc.) Comunicar médicos, enfermeiras e equipes de apoio • Manter sempre as precauções de contato e em todas as internações no caso de, P. aeruginosa MR, Acinetobacter spp MR e Enterococo resistente a vancomicina (VRE). • Para outros gram negativos como Acinetobacter, Klebsiella e E.coli, colher culturas de vigilância após o término do tratamento. Se negativas, suspender as precauções de contato 113 ANEXOS Anexo 2 - Ficha Informativa dos Casos de Pacientes Relatados por Isolados Bacterianos Multiresistentes. Bactéria Multiresistente CCIH / IOP / Data / Nome: ________________________________________________________ / Data de nasc.: Data de internação: Doença de base: / / / Sexo: F M RH Unidade: ________________________________________________ Motivo da hospitalização:________________________________________________ Bactéria:____________________________________________________________ Local (is) de isolamento: Sangue e Urina e Ferida cirúrgica Secreção traqueal Data do 1º isolado: Pele Líquor Narina Outros _________________ Catéter / / Colonização: Infecção: Presença de: Acesso vascular (com permanência superior àe 24 horas) Acesso venoso central: Sim Não Não Dias-catéter EOT: Sim Não Dias-tubo 2. Não Traqueostomia: Sim Uso de antibioterapia prévia: Sim Quais? 1. Não Dias-catéter Catéter venoso de longa permanência: Sim SVD: Sim Sim Não Não 3. 4. Data da implantação das precauções específicas 5. 6. / 7. / Medidas tomadas: ________________________________________________________ Controle da disseminação: Sim Não 114 ANEXOS Anexo 3 - Resumo dos Principais Testes Laboratoriais Utilizados para a Identificação do Gênero e da Espécie de Enterococcus spp. Tabela 6 - Características fenotípicas utilizadas para a identificação presuntiva de Enterococcus e gêneros relacionados. Gênero Enterococcus Leuconostoc Pediococcus Vagococcus Streptococcus Lactococcus Sensibilidade à Vancomicina Produção de PYR Hidrolise da Esculina R ou S R R S S S + ‐ ‐ + ‐ v + v v + v v Crescimento em NaCl 6.5% 10°C 45°C + v + + v + + + ‐ + ‐ + + v v v v v Abreviações e símbolos: PYR: pyrrolidonyl-arylamidase; (+): > 90% positivo; (-): < 10% positivo; (v): variável; R: (132) . resistente; S: sensível. Fonte: Facklam, Sahn & Teixeira Tabela 7 - Características fenotípicas utilizadas para a identificação das espécies de Enterococcus e gêneros relacionados. Espécies MAN SOR ARG ARA SBL RAF TEL MOT PIG SUC PYU MGP EFRO Grupo 1 E. avium + + - + + - - - - + + + R E. malodoratus + + - - + + - - - + + - S E. raffinosus + + - + + + - - - + + + R E. pseudoavium + + - - + - - - - + + + R E. saccharolyticus + + - - + + - - - + - + R Grupo 2 * E. faecalis + * - + * - + - + - - + + - R Lactococcus spp. + - + - - - - - - v - - S - * E. faecium + * - + + v v - - - - S E. casseliflavus + - +* + v + -* +* +* + - + R E. mundii + + v + - - + + - - S * - + - + R E. gallinarum Grupo 3 - + * - + * + + - + - + + E. durans - - + - - - - - - - - - S E. hirae - - + - - + - - - + - - S E. dispar - - + - - + - - - + + + R Grupo 4 E. sulfureus - - - - - + - - + + - + R E. cecorum - - - - + + - - - + + - R Grupo 5 E. columbae + - - + + + - - - + + - R V. fluvialis + - - - + - - + - + - + R Abreviações e símbolos: MAN: Manitol; SOR: Sorbose; ARG: Arginina; ARA: Arabinose; SBL: Sorbitol; RAF: Rafinose; TEL: Telurito; MOT: Motilidade; PIG: Pigmento; SUC: Sucrose; PYU: Piruvato; MGP: Metil-α-glicopiranosida; EFRO: disco de eritromicina (100 µg); (+): > 90% positivo; (-): < 10% positivo; (v): variável; (*): exceções ocasionais (< 3%); R: resistente; S: (132) . sensível. Fonte: Facklam, Sahn & Teixeira 115 ANEXOS Anexo 4 - Fluxograma dos Isolados de Enterococcus spp. no Instituto IOP durante Estudo Retrospectivo. Estudo Retrospectivo Janeiro - Agosto / 2008 24 amostras de Enterococcus spp. de 14 pacientes E. faecium (20) E. faecalis (4) VSE-EFM (3) VRE-EFM (17) C (11) I (6) Sangue (4) Urina (1) C (0) VRE-EF (0) I (3) Sangue (3) VSE-EF (4) I (2) C (2) Sangue (1) Urina (1) Secreção Traqueal (1) Abreviações: (n): número das amostras; VRE-EFM: E. faecium resistente à vancomicina; VRE-EF: E. faecalis resistente à vancomicina; VSE-EFM: E. faecium sensível à vancomicina; VSE-EF: E. faecalis sensível à vancomicina; I - Infecção; C - Colonização 116 ANEXOS Anexo 5 - Fluxograma dos Isolados de VRE no IOP Durante Estudo Prospectivo, Seleção das Amostras para Tipagem Molecular e Resultado da Tipagem. Estudo Prospectivo Outubro - Dezembro/2008 e Março/2009 98 amostras de Cultura de vigilância anal de 80 pacientes 1º Coleta (25) Outubro VRE-EFM (9) VRE-EF (0) 2º Coleta (22) Novembro VRE-EFM (10) VRE-EF (0) 3º Coleta (24) Dezembro VRE-EFM (4) 4º Coleta (27) Março VRE-EF (1) VRE-EFM (0) VRE-EF (2) 23 amostras positivas de VRE-EFM - Prospectivo 10 amostras positivas de VRE-EFM - Retrospectivo 2 amostras de VSE-EFM Retrospectivo 35 amostras de EFM selecionadas para tipagem pelo PFGE Tipadas (33) Perfil Subtipo Número de isolados (%) Não Tipadas (2) Mais Prevalentes (n) A A – A4 8 (24,3%) A (3) e A2 (2) B B – B8 19 (57,6%) B (9), B3 (2) e B7 (2) C C 2 (6%) D D 1 (3%) E E 1 (3%) F F 1 (3%) G G 1 (3%) Abreviações: (n): número das amostras; VRE-EFM: E. faecium resistente à vancomicina; VRE-EF: E. faecalis resistente à vancomicina; VSE-EFM: E. faecium sensível à vancomicina; VSE-EF: E. faecalis sensível à vancomicina 117