Pericardites ANTONIO ALVES DE COUTO Professor Titular de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense e Cardiologista do Hospital dos Servidores do Estado -INAMPS/RJ PERICARDITES Pericardite é uma inflamação do pericárdio visceral e/ou parietal. Quase nunca a pericardite é uma doença primária do coração. Assim devemos sempre procurar a enfermidade, geralmente sistêmica, que a determina '. elemento importante na eficácia da bomba cardíaca. Os pacientes pericardiectomizados comportam-se normalmente quando em repouso ou submetidos a esforços discretos, mas a "performance" cardíaca fica prejudicada nos esforços extremos. ETIOLOGIA FUNÇÕES DO PERICÁRDIO 1. Fixar o coração em posição geométrica adequada e protegê-Io de infecções provenientes de estruturas vizinhas. Isto é respaldado pela maior incidência de infecções nos pacientes sem pericárdio. 2. Evitar a hiperdistensão das câmaras cardíacas, já que a pressão negativa intrapericárdica facilita o afluxo de sangue no átrio direito, constituindo um 264 Jull Ago I Set 2001 São várias as causas, sendo as principais as seguintes: 1. Idiopática (provavelmente viral); 2. Infecciosas (virótica, bacteriana, tuberculosa ou por fungos); 3. Febre reumática aguda; 4. Infarto agudo do miocárdio (pericardite epistenocárdica, na fase precoce, e depois de 4 a 6 semanas, síndrome de Dressler); Rev SOCERJ Vol XIV N° 3 .Uremia; Outras colagenoses: artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêrnico, poliarterite nodosa (doença de Kussmaul-Maier); Tumores metastáticos; Síndrome pós-infarto do miocárdio (síndrome de Dressler); 9. Síndrome pós-pericardiotomia; 10.Mixedema; "11. Irradiação (segue-se geralmente a tratamento de mais de 4.000 cGy, incluindo mais de 30% do coração); 12.Trauma (cateterismo, marcapasso, traumas direto e indireto); 13.Agentes químicos: procainamida e hidralazina 2-6. _Observação: ultimamente devemos pesquisar a SIDA , como uma causa importante de pericardite, particularmente nos indivíduos de risco. A pericardite pode ser aguda (até 6 semanas), subaguda (até 6 meses) e crônica (além de 6 meses). As pericardites agudas podem ser fibrinosas, .serofibrlnosas, purulentas, hemorrágicas, quilosas etc. Entretanto o importante é tentar reconhecer a etiologia mesmas. das Dentre as neoplasias benignas primárias do coração, ,ppdemos citar os teratomas, fibromas e angiomas, Sflquanto que as malignas primárias referem-se ao mesotelioma e ao sarcoma. As pericardites por oooplasias metastáticas são geralmente decorrentes . '''dO pulmão, mama, linfoma, leucemia e comumente oosmelanomas 2. difícil de ser determinada, sendo mais alta em , opsias do que clinicamente. A mais freqüente de sé a pericardite do infarto agudo do miocárdio e , 'tuberculose, em que seu diagnóstico é üentemente obscurecido pelo próprio infarto, não ssitando terapêutica 2. Segue-se a pericardite da viral ou, mais precisamente, a idiopática, ndo-se usar o termo viral quando se conseguir , i a etiologia (geralmente influenza e Coxsackie), " ntlo-se incluir também o vírus da caxumba e o • ência geral antes de 1930 (em necropsias) era tÁ>, compreendendo a pericardite aguda 5%. De ~t1950, num estudo amplo, a incidência diminuiu 5%, e a aguda para 2,5%. A partir de então, numa de 104 mil e 400 necropsias, sua incidência gerar passou a 0,1%. É mats comum em homens do que em mulheres, numa proporção de 3:2, adultos é mais freqüente do que em crianças. e em A pericardite bacteriana purulenta com tamponamento e a pericardite reumática constituem a maior parte dos casos na infância. A pericardite da artrite reumatóide, no adulto, ocorre quase sempre com a clínica da mesma e, na criança, pode ser a primeira manifestação da enfermidade. A partir da era antibiótica houve diminuição das pericardites bacterianas e aumento das viróticas, permanecendo a tuberculose estável (3 a 10% das pericardites agudas). Entretanto é importante ressaltar que no Rio de Janeiro morrem 3 pessoas por dia em decorrência de tuberculose, sendo um dos casos associado à SIDA Miopericardite pode ocorrer em decorrência de vírus Coxsackie e também pela bactéria Borrelia burgdorferi. PATOLOGIA A pericardite da febre reumática tem o aspecto característico em "pão com manteiga" e nunca leva à constrição. Na bacteriana, ocorre um infiltrado de polimorfonucleares, podendo advir do exsudato inflamatório um tecido de granulação com aparecimento de cicatrizes locais ou generalizadas; às vezes toda a cavidade pericárdica é ocupada por traves fibrosas, surgindo então a pericardite adesiva. Derrames pericárdicos a) Seroso b) Supurativo c) Hemorrágico d) Misto o hemorrágico pode ocorrer em qualquer tipo de pericardite e não apenas na tuberculosa e neoplásica, em que é especialmente comum. O aspecto hemorrágico franco ocorre mais freqüentemente com uso de anticoagulantes e póscirúrgico. o aspecto cintilante, também denominado de "gold paint", deve-se à abundância de colesterol; quando leitoso, é o quilopericárdio, que ocorre em tumores, na trombose da veia cava, no defeito congênito do sistema linfático etc. Jull Ago I Set 2001 265 Quando não conseguimos identificar o mecanismo do quilopericárdio, pensamos em quilopericárdio primário. pescoço (inervação frênica da face diafragmática do pericárdio) 2. FISIOPATOLOGIA A tosse e a dispnéia podem ser devidas ao derrame (mecânico) ou à pleurite. o o atrito folheto mais fino do pericárdio é o visceral (epicárdico), com 1mm de espessura e coberto por uma superfície serosa. A camada serosa do pericárdio parietal continua com a camada serosa do pericárdio visceral. Separam-se por uma cavidade virtual contendo uma pequena quantidade de líquido seroso e límpido de até 50m!. Diante de inflamação ou de uma injúria, o pericárdio reage formando um exsudato (derrame pericárdico) em volume variável. É claro que, se o líquido acumular rapidamente ou o volume for grande, os ventrículos poderão ser comprimidos. Na prática, 1 a 2 litros no saco pericárdico acumulado lentamente é bem tolerado. No processo de cicatrização, o pericárdio se espessa e algumas vezes calcifica, podendo então surgir a constrição. Obviamente, com a constrição, eleva-se a pressão venosa, inclusive com aumento inspiratório (sinal de Kussmaul). Mais adiante discutiremos a fisiopatologia do tamponamento cardíaco. O processo de espessamento do pericárdio pode se estender ao miocárdio, causando às vezes uma redução na contratilidade miocárdica, embora o principal problema da pericardite constritiva seja a hipodiastolia (restrição ao enchimento ventricular). Com a restrição ao enchimento ventricular, a pressão diastólica ventricular direita e esquerda aumenta, levando a grandes pressões atriais médias. Certamente, a aceleração do retorno venoso das veias cavas para o átrio direito, que normalmente ocorre na inspiração, vai estar impedida na pericardite constritiva. Assim a pressão venosa média não diminuirá na inspiração e às vezes chegará a aumentar (sinal de Kussmaul). QUADRO CLíNICO E DIAGNÓSTICO Sintomas gerais como febre, astenia, perda de peso e artralgia podem estar presentes, fazendo parte da doença sistêmica. A dor, tipo pleurítica, é um sintoma de importância, assim como a tosse e a dispnéia, podendo o alívio ser obtido na posição de "prece maometana", isto é, sentado e inclinado para frente 3. Esta dor caracteristicamente irradia-se para o pescoço e ombros, podendo se acentuar com o movimento do 266 Jull Ago I Set 2001 pericárdico é o único sinal patognomônico da pericardite aguda 3. Às vezes foge ao seu caráter raspante de "couro novo", apresentando-se musical e distante. Sua localização habitual é na região paraesternal esquerda, sendo palpável em 20% dos casos. Seus componentes são: " o sistólico, diastólico e pré-sistólico, constituindo o atrito pericárdico trifásico. Ocasionalmente é bifásico ou unifásico. Este último é de diagnóstico diferencial às vezes difícil com os sopros, sobretudo quando houver derrame. Com o aumento do derrame, o atrito pode diminuir ou desaparecer, mas pode persistir até em derrame pericárdico volumoso 3. No derrame pericárdico podemos encontrar: 1. Aumento generalizado na macicez cardíaca; 2. Passando de decúbito para a posição sentada, a macicez predomina no 4° espaço intercostal, na borda esternal, sendo menor a área de macicez; 3. Sinal de Ewart ou PIN, que ocorre nos grandes derrames pericárdicos ou nas grandes cardiomegalias por compressão cardíaca na base do pulmão esquerdo, havendo rnacicez, respiração brônquica, broncofonia e raros estertores subcrepitantes; 4. Sinal de Roth, de .valor discutível, caracteriza-se por macicez no 4° espaço intercostal, na corda esternal direita; 5. Sinal de Dressler, que se caracteriza por diminuição do som timpânico à percussão na porção inferior do esterno; 6. Ictus cordis impalpável ou difícil de palpar e bulhas hipofonéticas 3-6. O derrame pericárdico pode levar ao tamponamento cardíaco se ocorrer abruptamente por dificuldade do enchimento diastólico do coração, quando acima de 150ml, que é a capacidade máxima do saco pericárdico sem sintomas. Se tal derrame ocorrer subitamente, como nas feridas cardíacas ou pericardites purulentas, levará ao tamponamento cardíaco; se, no entanto, for lento e pouco viscoso como na tuberculose, haverá uma adaptação hemodinâmica sem tamponamento, mesmo que o derrame seja volumoso. Inicialmente, o débito cardíaco é normal. Depois a resistência periférica aumenta e o débito cardíaco e a pressão arterial diminuem, levando ao choque cardiogênico por tamponamento cardíaco. Rev SOCERJ Vol XIV N° 3 I MES COMPLEMENTARES 'ECG- embora haja exceções, diferentemente do ';infárto agudo do miocárdio, em que as alterações 'de repolarização são localizadas e mais intensas, . na pericardite as alterações são difusas e pouco ensas. As alterações podem ser transitórias, com lesão b~picárdica e padrão simpaticotônico, sobretudo Ql;:parede inferior, sem inversão recíproca nas erlvações contrárias, Taquicardia sinusal e ondas de comportamento variável somente retornarão à-linha de base após algumas semanas, diferente infarto agudo do rniocárcio. Obviamente, não ocorrerá onda de necrose (q), exceto se houver peri:miocardite, particularmente quando o agente ~~o'vírus Coxsackie B. 'ErulO'anto na pericardite o padrão de isquemia . aparece em média em uma semana, no infarto agudo niiocárdio a injúria e a isquemia são COQCOmitantes. É valorizado por alguns o ST côncavo pericardite e convexo na insuficiência coronária. Pode,:'haver diminuição de voltagem do QRS, mas • ,'J~~,normal,porém, no derrame pericárdico, pode . erdiminuição da voltagem de P 3, ância elétrica de P,QRS e T é patognomônica, presente, de tamponamento cardíaco. a eração eletrocardiográfica mais característica pericardites é o desnivelamento do segmento "", ~~~~1!j' ame radiológico - pequena quantidade de do não é detectada por fluoroscopia, mas nos mes mais volumosos pode desaparecer o arcoaortico e os demais contornos do coração, gurando um aspecto em moringa e, diferente ticiência cardíaca congestiva, os pulmões ransparência normal. No entanto contornos res podem estar presentes devido a e septado. trluindo: variações bruscas de tamanho do Ção ao RX, sobretudo PA, apagando as rações normais da silhueta cardíaca, sugerem ....gl'lóstico de derrame pericárdico. ~.~m· "l,'- i.; ~~:,,,,:,",,,,~:\ o'cardiografia - é um dos mais sensíveis 1II!É:Wdlos para o diagnóstico, sendo o preferido na fiação inicial de suspeição de derrame • 'rdico. É simples, sem riscos, não invasivo e ser feito à beira do leito, distinguindo 'nte o derrame pericárdico do aumento :A partir de 50ml já se identifica o derrame ico 3. ltados falso-positivos, no entanto, ocorrem : derrame pleural esquerdo, consolidação !inonar, grande aurícula esquerda, cisto pericárdico anterior e constrição cardíaca por tumor intrapericárdico. As vezes tem-se dúvida na ecocardiografia se uma determinada imagem é ou não indicativa de líquido . Nestes casos, impõe-se a realização da tomografia computadorizada, que poderá diferenciar através da densidade se o conteúdo é gordura ou líquido, O ecocardiograma bidimensional é de grande utilidade, particularmente no corte subcostal, embora não existam sinais especiais. No derrame pericárdico praticamente não se altera pelo ecodoppler o fluxo mitral e tricúspide, entretanto, quando houver tamponamento, o pico de "EU mitral diminui na inspiração e aumenta na expiração. O contrário ocorre com o fluxo tricúspide. Por outro lado, na miocardiopatia restritiva, praticamente não há variação respiratória deste fluxo. No tamponamento ocorre também o colapso de AD ou VD na respiração. 4. Exame do líquido pericárdico - avalia-se em: proteínas, glicose, linfa, colesterol, celularidade e até mesmo microorganismo eventualmente presentes, Outros exames importantes são: injeção de ar no pericárdio (para avaliar o espessamento), hemograma, PPD (mantoux) etc. Nos casos de suspeição de tuberculose é importante solicitar a dosagem de ADA (adenosina deaminase) do líquido pericárdico, que é particularmente sensível a esta etiologia. Ultimamente tem sido utilizado com maior sensibilidade o teste ou reação em cadeia da polimerase. Infelizmente, na prática, o aspecto do líquido pericárdico é de pouca ajuda, impondo-se na verdade a punção do pericárdio quando a suspeita é de tamponamento ou de pericardite purulenta. A própria biópsia freqüentemente é inconclusiva. 5. Estudo radioisotõpico - pode ser realizado o SCAN, pois a imagem fornecida pelo radioisótopo reflete as dimensões do coração, enquanto o RX de tórax mostra as dimensões externas incluindo o pericárdio. É um exame pouco utilizado, porém o radioisótopo mais empregado é o Tecnécio 99 marcado com alburnina. Na presença de derrame pericárdico, há uma apreciável diferença no tamanho da imagem cardíaca obtida por estas duas técnicas, Diante de um paciente com pericardite, além de se dever atentar para o diagnóstico etiológico, devemos nos preocupar com duas terríveis complicações: pericardite constritiva e tamponamento cardíaco. Jull Ago 'I $012001 267 Na pericardite constritiva, caracteristicamente há distensão das veias cervicais com pulso venoso que tem a forma clássica de M ou W. Tal pulso é decorrente de proeminentes colapsos X e Y, por causa da elevada pressão atrial direita. Inclusive, recentemente, foi enfatizada a utilidade e a praticidade do exame do pescoço para este diagnóstico. Evita-se, assim, o exagero de exames sofisticados como a biópsia hepática 8. Na pericardite constritiva geralmente o coração é de tamanho normal e pode haver um ruído seco depois da 2a bulha, denominado "knock" pericárdico, que na verdade é uma 3a bulha precoce (ruído de Lian). o ECG da pericardite constritiva demonstra onda P alargada, QRS de baixa voltagem e alterações inespecíficas de ST e T. No estudo radiológico podemos encontrar calcificação pericárdica, porém a alteração mais freqüente é a congestão pulmonar (insuficiência cardíaca diastólica). Ao ecocardiograma podemos observar o pericárdio espessado e vibrações do endocárdio do ventrículo esquerdo na diástole, como septo interventricular hipocinético ou paradoxal. A grande característica da pericardite constritiva, sob o ponto de vista hemodinâmico, é a equalização das pressões diastólicas de átrio direito, ventrículo direito, artéria pulmonar, átrio esquerdo e ventrículo esquerdo. Normalmente, estas pressões não ultrapassam 40mmHg, enquanto as miocardiopatias restritivas costumam ultrapassá-Ia. Quando o sangue passa do átrio direito para o ventrículo direito, ocorre uma elevação pressórica acentuada com restrição precoce por causa de carapaça (sinal da raiz quadrada ou de Friederich). o nanismo MULlBREY constitui a causa mais freqüente de pericardite constritiva no primeiro ano de vida. Nesta síndrome, há comprometimento muscular (Muscle), hepático (Liver), cerebral (Brain) e ocular (Eye). Nas fases adiantadas o paciente com pericardite constritiva pode ser internado em anasarca, perpetuada pela diminuição da pressão oncótica subseqüente a enteropatia perdedora de proteínas. Fadiga inexplicável às vezes é manifestação de pericardite constritiva oculta, sobretudo em idosos. Nestes casos poderemos formular o diagnóstico através do teste de infusão de soro fisiológico 200ml em 20 min, que determinará o aparecimento de um 268 Jull Ago I Set 2001 pulso venoso característico. Trabalho recente chama a atenção para a presença de rubor facial simulando tumor carcinóide e episódios hipertensivos, simulando feocromocitoma em casos de pericardite constritiva 8. A ressonância magnética e tomografia computadorizada podem visualizar tumores. Também são úteis em revelar espessamento pericárdico e podem ser mais sensíveis que o ecocardiograma. TRATAMENTO 1. Vai depender da etiologia. Na pericardite aguda benigna, em 25% dos casos pode haver recorrência, às vezes com grande derrame, podendo evoluir para constrição. A recorrência de pericardite opõe-se à suspeição diagnóstica de tuberculose. 2. Caso a dor seja intensa, usa-se morfina (2 a 5mg, IV) ou meperidina (25 a 75mg IV, lentamente, como solução diluída). 3. Antiinflamatórios: ácido acetilsalicílico (500mg de 6/6h, VO) ou indometacina (25-50mg, 8/8h VO). 4. Corticóide nos casos refratários ou de constrição. No caso da tuberculose, o uso da prednisona 20 a 40mg é obrigatório porque diminui a incidência de constrição de modo acentuado, reduzindo grandemente a mortalidade. Utiliza-se o corticosteróide enquanto houver derrame. 5. Drenagem cirúrgica, que além de aliviadora é diagnóstica, sendo mandatária na pericardite purulenta bacteriana ou quando houver suspeita de tamponamento. 6. Em caso de etiologia tuberculosa, fazemos a rifampicina 600mg por dia, por 6 meses; etambutol 200mg/dia, por 6 meses; isoniazida 400mg/dia, por 2 anos, para uma quimioprofllaxia (as referidas doses são para adulto). A isoniazida a longo prazo pode determinar neuropatia, anemia e hepatite; a rifampicina pode levar a icterícia. plaquetopenia e insuficiência renal, enquanto o etambutol pode, adversamente, provocar neurite óptica. Havendo espessamento pericárdico, o corticóide deve ser usado. Ultimamente temos utilizado o esquema RIP (Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida), cujas doses são 600, 400 e 2.000mg/dia, respectivamente, nos primeiros dois meses de tratamento. Nos 4 meses subseqüentes, as doses são 600mg/dia de rifampicina e 400mg/dia de isoniazida. A pirazinamida é suspensa nesta segunda fase de tratamento. Na pericardite do infarto agudo do miocárdio não há tratamento. O prognóstico é reservado por ocorrer mais Rev SOCERJ Vol XIV N° 3 A N 01 re V S ql c< c( pE SE Ii( dE freqüentemente nos infartos extensos. Deve-se, entretanto, evitar no paciente infartado com pericardite o uso de anticoagulantes. 7. Na pericardite por irradiação não há tratamento específico; o prognóstico é reservado porque geralmente se acompanha de miocardite e de fibrose pulmonar. 8. Na artrite reumatóide usamos ácido acetilsalicílico e, se não ceder, corticóides. 19. Na pericardite lúpica o tratamento é o do lúpus. Pode haver grandes derrames. 10.Pêricarditê em síndrome de Dressler: ocorre tardiamente no infarto agudo do miocárdio. É de origem imunológica e trata-se com repouso e antiinflamatórios (aspirina, codeína etc). telediastólica desta câmara até igualar-se ao pD2 do ventrículo esquerdo, configurando então o tamponamento, com ou sem pulso paradoxal (queda inspiratória da pressão sistólica maior que 1015mmHg). O pulso paradoxal está ausente em insuficiência aórtica, hipertensão arterial sistêmica. CIA, etc. resposta ao esteróide é diagnóstica, devendo ser usado com cautela devido a recidivas ou por poder rolongar o curso da doença. Sugere-se mais odernamente o uso de estimulantes imunológicos omo o levamizole. A pressão venosa central sofre acréscimos que podem exceder 20mmHg, porque a pressão intrapericárdica elevada impede o retorno venoso. Finalmente há tendência ao desaparecimento do colapso Y e à acentuação do descenso X - pulso jugular monofásico. os casos refratários há necessidade, casionalmente, de pericardiectomia, quando ecorrente, ou aos primeiros sinais de constrição (onda .precoce). síndrome de Dressler é a complicação mais grave s pericardites, cujo reconhecimento é essencial, já a terapêutica imediata salva a vida do paciente 7. . b o ponto de vista fisiopatológico, é importante frisar e 80-100ml de líquido podem não produzir mpressão pericárdica. Ela ocorre como seqüência do estiramento de fibras elásticas, o que ~n:nite, em alguns casos, grande acúmulo de líquido , tamponamento. O acréscimo substancial do o pericárdico aumenta a pressão intrapericárdica modo não acentuado, até um determinado limiar, • um pequeno aumento de volume passa a ser ~ iente para produzir acréscimos de pressão stante significativos. Portanto as alterações dinâmicas ocorrem em função da quantidade de e da velocidade deste acúmulo, de tal modo 100 a 200ml acumulados rapidamente lnam o tamponamento agudo. Com a equalização das pressões, há um fechamento prematuro das válvulas atrioventriculares associada à diminuição do fluxo coronariano. Com o aumento da pressão ventricular, ocorre redução do débito cardíaco e da pressão arterial, enquanto a resistência periférica eleva-se e, em conseqüência, haverá uma taquicardia compensatória. TAMPONAMENTO CARDíACO Etiologia São as mesmas da pericardite, devendo-se destacar os traumatismos direto e indireto, penetrantes ou não. Como causas menos freqüentes podemos citar as infecções e neoplasias. Entretanto, as metástases constituem a etiologia mais freqüente do tamponamento cardíaco. Os anticoagulantes em pacientes com neoplasias e com pericardite podem culminar com tamponamento, especialmente nas pericardites urêmicas sob hemodiálise e em pósoperatório de cirurgia plástica. Outras condições que se associam com esta entidade são representadas por pericardite do infarto agudo do miocárdio, cateterismo cardíaco, implante de marca-passo, confusão em ressuscitação com pericardiocentese, dissecção aórtica e condições muito raras como, por exemplo. aquelas que decorrem de agulhas como na acupuntura, em pacientes com anomalias congênitas 4-6. Quadro clínico e exame físico mos que na pessoa normal a pressão ~ ícárdica caracteriza-se por ser igual à pressão . I e por ser negativa na expiração, tornandomais negativa na inspiração. No . snto, persiste a queda inspiratória, apesar toda pressão intrapericárdica que cursa com • ão do volume diastólico final. Como a ãe inicia-se no ventrículo direito devido à sua mplacência, há aumento da pressão ai Os sinais e sintomas característicos de falência circulatória e o choque constituem a manifestação clínica típica; entretanto o achado mais precoce é a taquipnéia acompanhada de taquicardia. Há, ainda, ansiedade, cianose periférica e síncope devida à redução do débito cardíaco . Jull Ago I Set 2001 269 o pulso paradoxal é o sinal patognomônico, embora nem sempre esteja presente. Por outro lado, também pode ser encontrado em afecções como a asma grave. Outros achados incluem hipofonese de bulhas não obrigatória e ruído diastólico precoce. O sinal de EwartPins pode estar presente e caracteriza-se por macicez e respiração brônquica à ausculta, ambos abaixo da escápula esquerda. Porém pode ocorrer em grandes dilatações do coração, mesmo sem derrame. É possível que com o derrame pericárdico crônico, em presença ou ausência de tamponamento, ocorre ascite, edema de membros inferiores e refluxo hepatojugular. No tamponamento, o ingurgitamento das veias do pescoço é maior que na insuficiência cardíaca congestiva e, em geral, é monofásico. Eventualmente, no derrame crônico pode haver edema facial e cianose labial decorrentes da compressão das veias cavas 7. TRATAMENTO É caracterizado pela pericardiocentese que consiste no acesso à região formada pelo ângulo entre o processo xifóide e o arco intercostal por meio de uma agulha aspiradora conectada a um "jacaré" nas precordiais e direcionada para o ombro direito. A elevação dos segmentos ST ou PR indica que a agulha atingiu o miocárdio, sendo necessário retrocedê-Ia alguns mm. A presença de um aspirado contendo líquido hemorrágico requer a medida do seu hematócrito, já que o líquido proveniente do saco pericárdico caracteriza-se por possuir hematócrito menor que o do sangue periférico e por ser incoagulável. Este procedimento é de extrema importância, pois orienta quanto à origem do aspirado. ( REFERÊNCIAS 1. Classicamente, o tamponamento cardíaco caracterizase pela tríade de Beck, isto é, pressão venosa aumentada, pressão sistólica diminuída e coração quieto. Nos casos extremos, o pulso paradoxal pode até sumir na inspiração e geralmente é superior a 25mmHg 7. Pode haver derrame pleural uni ou bilateral em decorrência do aumento da pressão venosa por retenção renal de sódio e água, havendo ainda a possibilidade de evolução para cirrose cardíaca. Tais características são encontradas no tamponamento cardíaco crônico. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS O ecocardiograma representa o principal meio diagnóstico através do qual pode-se detectar colabamento inspiratório de aurícula e ventrículo direitos, "swinging heart" e abaulamento do septo interventricular. O eletrocardiograma será sugestivo quando houver alternância elétrica de p, QRS e T e, ocasionalmente, fibrilação atrial, sendo necessária a sua repetição periódica, tendo-se em vista a evolução do quadro. Finalmente, no estudo radiológico, estão presentes cardiomegalia (mais de 250ml de líquido) e congestão pulmonar 7-8-9-10-11. Braunwald, E - Heart disease. WB Saunders Company, 1470,1984. 2. Goldwasser, GP et ai - Pericardite: etiologias diversas em serviço de clínica médica. 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