T16 – Efeito das hormonas no metabolismo celular – insulina e glucagina e adrenalina Glucose – o substrato mais utilizado A glucose, apesar de não ser a molécula mais eficiente para obtenção de energia, é a mais utilizada. A glucose é uma molécula reactiva devido aos seus grupos álcool, que reagem com os grupos amina das proteínas, pelo que não seria a molécula mais indicada para utilizar como fuel. Contudo, é muito solúvel em água e não é lipofílica, o que permite ao organismo ter a capacidade de controlar a concentração de glucose no plasma e a entrada ou saída de glucose nas células. Os sensores pancreáticos são sensíveis à concentração plasmática de glucose. Aquando do seu aumento ou diminuição, são activados e libertam factores – Hormonas – que actuam nas células-alvo, através da interacção dessas hormonas com os transportadores de glucose, permitindo a entrada ou saída de glucose das células. Há, portanto, um balanço da glicemia no plasma, pelo controlo dos sensores que libertam hormonas que actuam nos tecidos-alvo, cujo metabolismo irá influenciar a concentração da glicemia, para esta ser constante. Meio de actuação da insulina Quando há um aumento da glucose plasmática, por exemplo, depois das refeições, os sensores células β pancreáticas produzem e libertam insulina para o plasma. Esta vai actuar no sentido de haver gasto de glucose, de forma a produzir energia, primeiramente, e a armazená-la, posteriormente, tendo um efeito hipoglicemiante. Vai, portanto, estimular, primeiramente, a síntese de ATP (importância da hexocinase, PDH e da cadeia fosforilativa) e, posteriormente, a síntese de glicogénio (importância da glicogénio sintetase) e a lipogénese, através da síntese de AG (importância da acetil-CoA carboxilase) e da síntese de colesterol (importância da enzima HMG-CoA redutase). É também estimulada a síntese proteica. Como consequência disto há uma diminuição da glucose plasmática. Efeito da insulina Órgão Tem efeito? Fígado Não tem efeito no gasto de glucose Músculo Tem efeito Tecido adiposo Tem efeito Cérebro Não tem efeito Glóbulo vermelho Não tem efeito Porquê? O fígado não tem receptores de captação de glucose – órgão altruísta. Há um aumento da síntese da hexocinase, estimulando a glicólise e a produção de ATP. Há um aumento da síntese de glicogénio sintetase, estimulação do armazenamento de glucose, sob a forma de glicogénio hepático. Estimulação do gasto de glucose, pelo aumento da taxa de glicólise (hexocinase II) e da formação de ATP. Aumento da síntese de glicogénio muscular. Aumento dos níveis de creatina fosfato – aumento de armazenamento de energia. Aumento da formação de triglicerídeos pela activação da acetil-CoA carboxilase. Inibição da lipase. O cérebro precisa de um aporte constante de glucose e não oscilatório, por isso é indiferente à acção da insulina. É independente da acção da insulina Meio de actuação da glucagina Quando há uma diminuição da glucose, por exemplo no jejum, os sensores das células α pancreáticas reagem e produzem glucagina, que é libertada para o plasma. A glucagina tem um efeito hiperglicemiante, o que significa que vai estimular os metabolismos, que permitem produzir glucose. Assim sendo, vai haver uma estimulação da neoglicogénese (importância da fosfoenolpiruvato carboxicinase, piruvato carboxilase e frutose 1,6 bisfosfatase) e da glicogenólise (importância da glucose-6-fosfatase). Além disso, é também estimulada a lipólise, havendo um aumento do aporte de corpos cetónicos e de ácidos gordos, para haver outros substractos para a obtenção de ATP. E é estimulado o catabolismo das proteínas, para haver aporte de aa glicogénicos (último recurso). Como consequência disto há um aumento da glucose plasmática. Efeito da glucagina Órgão Tem efeito? Fígado Tem maior efeito Músculo Não tem efeito Tecido adiposo Tem baixo efeito Cérebro Não tem efeito Porquê? Inibe a glicogénio sintetase Activa a fosforilase a, estimulando a glicogenólise Aumenta a actividade da glucose-6-fosfatase Aumenta a síntese de glucose, a partir de piruvato e lactato pela gluconeogénese e a partir de aa glucagénicos Não possuiu receptores para a glucagina Não pode ser privado de glucose, para a sobrevivência física Há estimulação da lipólise, pela activação da lipase Mas tem pouco ou nenhum efeito O cérebro precisa de um aporte constante de glucose e não oscilatório, por isso é indiferente à acção da glucagina Balanço entre a insulina e a glucagina A manutenção da concentração plasmática de glucose não é regulada pelas hormonas insulina e glucagina isoladas, é sim regulada pelo balanço da concentração plasmática de cada uma, de forma a permitir baixas variações da glicemia, visto que episódios agudos de hipoglicémia e de hiperglicémia são ambos prejudiciais ao organismo. ↑ glicémia ↓ glicémia libertação de glucagina libertação de insulina ligação da glucagina aos receptores ligação da insulina aos receptores activação da proteína G exocitose de transportadores de glucose activação da adenilato ciclase ↑ permeabilidade celular da glucose remoção da glucose do plasma ↑ glucocinase - Km elevado ↑ glicogénio sintetase ↓ glicogénio fosforilase ↑ fosfofrutocinase 1 ↑ piruvato desidrogenase ↑ acetil-CoA carboxilase ↑ lipoproteína lipase (LPL) ↑ cAMP activação da proteína cinase A - PKA ↓ glicogénio sintetase ↑ glicogénio fosforilase ↑ glucose-6-fosfatase ↑ fosfoenolpiruvato carboxicinase ↑ piruvato carboxilase ↑ frutose 1,6 bisfosfatase Efeito da epinefrina ou adrenalina no músculo O músculo não sente o efeito da glucagina, pois a sua função não permite libertar glucose para o plasma. Todas as reservas de glucose são para uso próprio. Assim, o músculo sente o efeito da hormona epinefrina, produzida nas glândulas supra-renais, para que em situações de stress o músculo tenha capacidade de reagir ao estímulo e produzir mais ATP para a contracção muscular. Então, a epinefrina é reconhecida pelos receptores musculares. De seguida, a proteína G é activada e a adenilato ciclase faz aumentar a concentração de cAMP que permite a activação da proteína cinase A. Por conseguinte, a PKA tem dois efeitos, através da fosforilação de enzimas intervenientes na síntese e degradação do glicogénio. Por um lado, a PKA ao fosforilar a fosforilase cinase ela torna-se activa e vai activar a glicogénio fosforilase a que vai estimular a glicogenólise, transformando glicogénio em glucose-1-P. Esta glucose fosfatada sofre acção da fosfoglucomutase transformando-se em glucose-6-P. Como o músculo não tem a enzima glucose-6-fosfatase, a G6P é directamente encaminhada para a via glicolítica, para obtenção rápida de energia. Por este motivo, diz-se que as reservas de glicogénio formadas aquando da libertação da insulina são apenas para uso próprio do músculo e não para aumentar os níveis séricos de glicemia. Por outro lado, a PKA fosforila a glicogénio sintetase que passa a estar inactiva e, simultaneamente, à estimulação da degradação do glicogénio cessam as vias de síntese. activação da fosforilase cinase activação da glicogénio fosforilase ↑glicogenólise ↑ Glucose-1-P ↑ Glucose-6-P ↑ Glicólise Epinefrina receptores activação da Proteína G activação da adenilato ciclase ↑ cAMP activação da PKA fosforilação inactivação da glicogénio sintetase ↓ Síntese de glicogénio