BIOQUÍMICA I 1º ano de Medicina Ensino teórico 2010/2011 12ª aula teórica Importância metabólica da glucose Metabolismo dos glícidos: Análise comparativa da glicólise e da neoglicogénese 8-11-2010 Metabolismo Actividade celular altamente coordenada (somatório de todas as transformações químicas) que ocorre através de reacções catalizadas por enzimas Vias metabólicas (remoção, transferência ou adição de um átomo ou grupo funcional) (percursor ⇒ produto ou metabolito) Objectivos: Obter W (captura w solar ou degradando nutrientes) Converter nutrientes em percursores de macromoléculas Polimerização de percursores monoméricos Síntese e degradação de biomoléculas necessárias a funções especializadas. 1 Catabolismo e Anabolismo As vias catabólicas são convergentes As vias anabólicas são divergentes 2 Digestão Principais classes de biomoléculas Especificidades metabólicas dos diferentes tecidos Heat ATP 3 Especificidades metabólicas dos diferentes tecidos Heat ATP HIDRATOS DE CARBONO/GLÚCIDOS Fórmula geral: Ex: Cx(H2O)y ou (CH2O)n Ex: C6H12O6 (glucose), C12H22O11 (sacarose) Funções: - Metabolismo energético → glucose - Reservas de carbono e energia → glicogénio e amido - Estruturas de suporte → celulose, quitina - Reconhecimento celular → glicoproteínas 4 HIDRATOS DE CARBONO/GLÚCIDOS Classificação com base nº oses: Monossacarídeo – 1 unidade açúcar (ose) Dissacarídeo – 2 unidades açúcar Oligossacarídeo – 2-10 unidades açúcar Polissacarídeo – > 10 unidades açúcar HIDRATOS DE CARBONO/GLÚCIDOS (classificação de acordo com a complexidade) Oses Aldoses Osídos Cetoses Holosídos Oligosidos Heterosídos Poliosidos 5 MONOSSACARÍDEOS (classificação de acordo com nº átomos C) Pentoses Hexoses Ribose Ribulose Arabinose Xilulose Glucose Frutose Galactose Manose D-Aldoses Ácidos nucleícos Ribose-P → Via das pentoses GLICOPROTEÍNAS Glicólise; Amido; Glicogénio Lactose; glicoproteínas 6 Estruturas cíclicas da glucose: D-glucose <1% glucose em cadeia aberta 1/3 anómero α 2/3 anómero β Conformação em cadeira (predominante): Conformação em barco: α-D-glucose β-D-glucose D-Cetoses Anómeros: α - OH ligado ao C1 abaixo do plano do anel β – OH ligado ao C1 acima do plano do anel Via das pentoses GLICOPROTEÍNAS Sacarose 7 DISSACARÍDEOS mais comuns Sacarose Glu(α α1-2β β )Fru Lig α1,2-glicosídica Hidrólise por invertase/sacarase Não redutor! Lactose Gal(β β 1-4α α)Glu Lig β 1,4-glicosídica Hidrólise por lactase Maltose Glu(α α1-4 α)Glu Lig α1,4-glicosídica Hidrólise por maltase Polissacarídeos Glicogénio ANIMAIS Amido PLANTAS 8 Glicogénio e Amido 1) Polímeros de glucose ramificados 2) Unidades de glicose ligadas por ligações glicosídicas α-1,4 3) Ramificações: ligações glicosídicas α-1,6 Glicogénio 10 em 10 glicoses Amido 30 em 30 glicoses ↑ Solubilidade ↑ Mobilização 9 Os açucares ligam-se a álcoois e aminas por ligações glicosídicas: 1) Ligações O-glicosídicas 2) Ligações N-glicosídicas Glicogénio METABOLISMO Catabolismo Anabolismo Compartimentalização das vias metabólicas: 10 Objectivos 1. Explicar a entrada de glucose nas células 2. Analisar a via glicolítica 3. Explicar a regulação da glicólise 4. Analisar o destino do piruvato em aerobiose e anaerobiose 5. Analisar comparativamente a neoglicogénese e a glicólise 6. Avaliar o papel destes metabolismos na manutenção da glicémia A célula – sistema termodinâmico aberto Necessita de gerar e libertar energia para manter a sua autoorganização (génese entalpica compensa neg-entropia para não violar o 2º princípio) Definição de um “fuel” ideal: Solúvel (meios acquosos) Quimicamente estável Estrutura simples (ligações simples, i.e. fácil de queimar) Hidratos de carbono Glucose (facilmente oxidáveis, gerando CO2 e H2O) (única aldose monomérica na natureza) 11 Metabolização da glicose Metabolismo dos Hidratos de Carbono Glucose Glicólise Glicogénio (síntese/degradação) C. Krebs Via das Pentoses Fosforilação Oxidativa 12 Entrada e metabolismo da glucose fora dentro Glucose GLUT Glicémia: - Após refeição (≈ ≈30 min): 120-140 mg/dl - Jejum (após ≈2 hr): 80-100 mg/dl Glucose-6-P Glicólise Glucogénio C. Krebs Via das Pentoses Fosforilação oxidativa * Hiperglicémia perda de H2O das células (efeito osmótico da glucose) desidratação dos tecidos * Hipoglicémia ↓ ATP GV e cérebro são os mais atingidos porque necessitam de um aporte constante de glucose Entrada e metabolismo da glucose TRANSPORTE FACILITADO DA GLUCOSE: Transporte trans-epitelial: simporte de glucose/Na+ dentro Regulação pela insulina nas células musculares e adipócitos 13 TRANSPORTE FACILITADO DE GLUCOSE Transporte / captação: ‘fixação’ da glucose na célula Regulação pela insulina nas células musculares e adipócitos Transporte trans-epitelial: simporte de glucose/Na+ (GLUT-4) dentro Glicólise (via metabólica ancestral) isomerização Fase I Reacções endergónicas: - Fosforilação glucose (6C) - Formação de 2 G-3-P (3C) - Utilização de 2 ATP 2º fosfato – desestabilização Fase II Reacções exergónicas - 2 G-3-P → 2 Piruvato - Formação de 2 NADH - Formação de 4 ATP Reacção geral: Glucose + 2Pi + 2ADP + 2NAD+ → 2 Piruvato + 2ATP + 2NADH + 2H+ + 2H2O 2X Objectivos: Formar ATP e NADH Formar precursores de: aminoácidos, lípidos e açucares 14 Glicólise Via das pentoses Hexocinase Fosfofrutocinase Síntese de glicogénio Glicerol Locais de regulação e/ou controlo E catalizando reacções irreversíveis: 1. Hexocinase AA aromáticos 2. Fosfofrutocinase (estimulada por ↓ ATP/AMP) Piruvato cinase 3. Piruvato cinase Hexocinase 1ª enzima irreversível da glicólise, cataliza a fosforilação da glucose Hexocinase – inibida pelo produto! * Hexocinase (cérebro, músculo e maior parte dos tecidos) Km baixo (alta afinidade) e Vmax baixo (fosforilação da glucose ocorre independentemente da [glucose]); inibida alostericamente pelo produto (glucose-6-P) * Glucocinase (fígado e células-β pancreáticas) – isoenzima da hexocinase Km elevado (baixa afinidade, 50x inferior) e Vmax elevado; depende da [glucose] no sangue; inibida por frutose-6-P (não por glucose-6-P) 15 Fosfofrutocinase Enzima chave da glicólise; estimulada por diminuição de (ATP/AMP) A actividade de Fosfofrutocinase decresce à medida que aumenta a carga energética celular (↑ ↑ ATP) → diminuição da velocidade da glicólise + + Citrato Ciclo de Krebs AMP Frutose-2,6-bisfosfato ADP ATP -Fosfofrutocinase-2 = PFK-2 -Frutose-2,6-bisfosfatase (regulada pela PKA) Regulação da actividade da Fosfofrutocinase: - Estimulação por frutose-2,6-bisfosfato Frutose-2,6-bisfosfato é um regulador alostérico da fosfofrutocinase-1 (PFK-1) e da frutose-1,6-bisfosfatase (neoglicogénese). A [Frutose-2,6-bisfosfato] celular é regulada pelas enzimas: - Fosfofrutocinase-2 = PFK-2 (fosforilação de frutose-6-P) e - Frutose-2,6-bisfosfatase = FBPase2 16 Regulação da actividade da Fosfofrutocinase - Papel da insulina/glucagina Controlo da síntese e degradação de frutose 2,6-bi-fosfato pela PFK2 e FBPase2 Insulina Regulação da actividade da piruvato cinase (enzima irreversível) Glucagina PKA AMP Permite que a glicólise prossiga Acetil-CoA Activadores Inibidores 17 Conversão de metabolitos da glicólise noutros metabolitos: - Glucose-1-P Glicogénio - Via das pentoses Nucleótidos - Açucares aminados Glicoproteínas - Glicerol-3-P Lípidos - 2,3-BPG - Serina - Aminoácidos aromáticos - Aminoácidos (Asp, Asn, Ala) Anaerobiose - Lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima citosólica. - Existem diferentes isoenzimas da LDH nos tecidos. - A libertação de LDH implica a ruptura da membrana celular. Então, a libertação das diferentes isoenzimas da LDH permite avaliar diferentes patologias: - Enfarte de miocárdio - Infecção hepática - Doenças musculares 18 Neoglicogénese ou gluconeogénese Síntese “de novo” de glucose Através da neoglicogénese, a glucose pode ser sintetizada a partir de precursores que não são hidratos de carbono: Glycerol-3-P Glycerol Lactato ---- músculo esquelético Glicerol ---- hidrólise de triglicerídeos Aminoácidos -- proteínas da dieta -- proteínas do músculo (jejum) A neoglicogénese é essencial no jejum (4-18 horas após a refeição) Lactate Finalidades da neoglicogénese Manter os níveis de glucose sanguínea para suportar o metabolismo de tecidos que usam a glucose como primeiro substrato: cérebro, glóbulo vermelho, retina, músculo, rim, córnea, testículo Num indivíduo normal os níveis de glicémia são mantidos. A neoglicogénese é essencial no jejum, 4-18 h após a refeição. Ingestão glucose (700 g/dia) Jejum, 12 hr Fome, 3 dias Fome, 5 dias Músculo em exercício Glóbulo vermelho Tecido adiposo FÍGADO Lactato Aminoácidos Glucose (mg/dl) 100 80 70 65 Neoglicogénese Glicerol Neoglicogénese Glicogenólise Glucose para o sangue 19 Precursores da Neoglicogénese TCA cycle Neoglucogénese ou Gluconeogénese Glucose6-phosphatase (RE) Diferenças enzimáticas entre: GLICÓLISE (Phosphoglucose isomerase) NEOGLICOGÉNESE Hexocinase Glucose-6-fosfatase* Fosfofrutocinase Frutose-1,6bisfosfatase (Fructose-bisphosphate aldolase) (Triose-P isomerase) (Glyceraldehyde-3-P dehydrogenase) Piruvato cinase Piruvato carboxilase e Fosfoenolpiruvato (PEP) carboxicinase * Sobretudo hepática, não existe no cérebro ou no músculo (Phosphoglicerate kinase) (Phosphoglicerate mutase) (Enolase) Locais de regulação e/ou controlo E catalizando reacções irreversíveis: (ex. alanina) A neoglicogénese é estimulada ~4 horas após a refeição 20 Piruvato carboxilase (Pir Oxa) Trocador piruvato/OH - (Enzima importante na neoglicogénese e ciclo de Krebs) Enzima estimulada por Piruvato carboxilase acetil-CoA (acetil-CoA é modulador alostérico): Malato desidrogenase - Piruvato + HCO3 + ATP Oxaloacetato + ADP + Pi Piruvato carboxilase Se ATP ↑ Oxaloacetato é consumido na Neoglicogénese Transportador malato/α α-cetoglutarato Se ATP ↓ Oxaloacetato entra no Ciclo de Krebs Malato desidrogenase Permite a saída de oxaloacetato da mitocôndria Ocorre regeneração da [NADH] no citosol! Shunt Malato-Aspartato AA AA α-cetoácido α-cetoácido Aspartato Necessário à Neoglicogénese Aspartato citosol Mitocôndria 21 Posfoenolpiruvato carboxicinase (PEP) Oxaloacetato + GTP insulina + ↑↓ PEP + CO2 + GDP mitochondrial malate dehydrogenase AMPc Glucagina Em acidose prolongada, a PEPCK é regulada (upregulated) no túbulo renal proximal, permitindo o aumentod a secreção de NH3 e a produção de HCO3-. Regulação das enzimas da Glicólise e da Neoglicogénese 22 Glucagina e Insulina Glucagina (↑ ↑ AMPc PKA): Estimula a fosforilação de PFK-2 (inactiva) e FBPase-2 (activa) ⇓ ↓ [frutose-2,6-bisfosfato] Insulina + (após refeição) Glucagina (em jejum) ⇓ Inibe glicólise Estimula neoglicogénese CICLO de CORI cooperação metabólica entre o músculo e o fígado - exercício físico Músculos activos usam glicogénio lactato (glicólise) O lactato é usado pelo fígado para formar glucose A glucose regressa ao músculo glicogénio glucose lactato glucose (Ciclo de Cori) 23 Metabolização da glicose Formação de NADH e ATP TPP Mg2+ Lactato desidrogenase Piruvato descarboxilase Piruvato desidrogenase Álcool desidrogenase Requer O2! Leveduras 24 Formação de Coenzimas reduzidos, NADH e FADH2 Glicogénio Triglicerídeos Glicogenólise Lipólise Glucose β-Oxidação Piruvato NADH Proteólise Ácidos gordos Aminoácidos Glicólise NADH Proteínas Oxidação Desaminação e Oxidação Acetil-CoA NADH, FADH2 Ciclo de Krebs 25