2 a prática de enermagem no setor de urgência e

Propaganda
A CARACTERIZAÇÃO DA DEMANDA DO SETOR DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA SOB A ÓTICA DOS USUÁRIOS E PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
A CHARACTERIZATION OF THE INDUSTRY DEMAND URGENT AND
EMERGENCY UNDER THE PERSPECTIVE OF USERS AND ROFESSIONAL
NURSING
Flávia Lopes dos Santos: [email protected]
Michelly Tays Andreoti: [email protected]
Orientador: Paulo Fernando Barcelos Borges: [email protected]
RESUMO
Este estudo busca a caracterização da demanda do setor de urgência e
emergência sob a ótica dos usuários e profissionais de enfermagem. Trata-se de
uma pesquisa descritiva, exploratória com abordagem qualitativa, realizada em um
hospital do interior paulista. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas
semiestruturadas e depoimento gravado com 08 pacientes e 10 profissionais de
enfermagem, sendo 08 técnicos em enfermagem e 02 enfermeiros que atuam no
setor acima citado. Os dados foram apresentados em forma de narrativas e seus
pontos em comum agrupados em eixos temáticos. Nos relatos, os pacientes revelam
as dificuldades encontradas para obter atendimento na atenção primaria de saúde, e
os profissionais declaram as angústias e o impacto que a superlotação do setor de
urgência e emergência ocasiona. As narrativas permitem compreender a experiência
relacionada entre a equipe de enfermagem e os usuários, evidenciando a
problemática envolvendo os motivos pelos quais os mesmos buscam o setor de
urgência e emergência e o impacto da alta demanda na atuação destes
profissionais. Além disso, retrata a deficiência na organização e na prestação dos
serviços de saúde e a ausência de referência e contrarreferência, sendo estes
fatores potencializadores do aumento de fluxo no setor, sobrecarga de trabalho,
estresse e prejuízo na qualidade da assistência prestada.
Palavras-chave: Urgência e Emergência. Enfermagem. Qualidade da assistência a
Saúde. Aumento do Fluxo de Usuários.
ABSTRACT
This study aims to characterize the demand for urgent and emergency sector
from the perspective of users and nursing professionals. This is a descriptive,
exploratory qualitative research, conducted at performed in a hospital in São Paulo.
Data collection was conducted through semi-structured interviews and recorded
statement of 08 patients and 10 nursing professionals, 08 nursing technicians and 02
nurses working in the above mentioned industry. The data were presented in the
form of narratives and their commonalities grouped into themes. In the reports, the
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
patients reveal the difficulties encountered in obtaining care in primary health care,
and professionals declare the anguish and the impact that overcrowding in the
emergency department and urgent causes. Narratives allow us to understand related
experience between the nursing staff and users, highlighting the issues surrounding
the reasons why they seek emergency care sector and the impact of high demand on
the performance of these professionals. Furthermore, portrays the deficiency in the
organization and delivery of health services and the lack of reference and counterreference with these potentiating increase flow in this sector, work overload, stress
and loss in quality of care factors.
Keywords: Emergency Department. Nursing. Health care quality. Increased Flow
Users.
INTRODUÇÃO
O sistema de saúde é composto por instituições prestadoras de serviços de
saúde, na qual segue um nível hierárquico de atendimento, de acordo com a
complexidade dos casos. Esse sistema exige uma organização e interação desses
níveis de atenção a saúde: Unidade Básica de Saúde (UBS), ambulatório de
especialidades e hospitais.
Reconhece-se que há uma falha neste sistema e um dos reflexos desta falha
é a utilização do setor de urgência e emergência de forma incorreta.
Para Simons (2008), um dos argumentos apresentados para o aumento
excessivo da procura pelos Serviços de Urgências Hospitalares (SUH) é que a maior
parte dos atendimentos realizados é decorrente de problemas ‘simples’ que
poderiam ser atendidos em serviços de atenção básica, especializados ou até
mesmo em serviços de urgência de menor complexidade.
Este trabalho teve por objetivo caracterizar a demanda neste setor,
analisando os motivos pelos quais os usuários buscam o setor de urgência e
emergência e identificar a percepção da equipe de enfermagem frente ao fluxo
desse campo de ação, considerando também o impacto que esse fator trás para
atuação desse profissional.
A vivência das autoras no setor de urgência e emergência associado a uma
revisão integrativa sobre o assunto, despertou o interesse pela pesquisa que teve o
seguinte questionamento: a deficiência na organização e na prestação de serviços
de saúde motiva o aumento no fluxo do setor de urgência e emergência?
Em resposta a essa questão foi levantada a seguinte hipótese norteadora do
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
trabalho: A deficiência na organização e prestação dos serviços de saúde nos
diferentes níveis de atenção, bem como a ausência de referência e contrarreferência
contribuem para o aumento do fluxo no setor de urgência e emergência,
ocasionando sobrecarga de trabalho, estresse e perda na qualidade da assistência
prestada.
A pesquisa foi realizada no setor de Urgência e Emergência de um hospital
filantrópico em uma cidade do interior do estado de São Paulo, após aprovação do
Comitê de ética do Unisalesiano, Protocolo nº. 816.800 em 29/09/2104.
Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva de caráter exploratório, com
abordagem qualitativa, sendo utilizado como método o estudo de caso, com coleta
áudio gravável.
1
AS POLÍTICAS DE SAÚDE E O ATENDIMENTO DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988, sistema esse
considerado um conjunto de ações e de serviços prestados á saúde e realizados por
órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais ou por entidades a ele
vinculadas, responsável pela promoção, prevenção e assistência a saúde, baseadas
nos princípios e diretrizes estabelecidas pelo sistema (PEREIRA et al., 2008).
O setor de urgência e emergência é classificado como principal porta de
acesso do sistema de saúde e ampara os usuários com as mais diversificadas
queixas e agravos à saúde em caráter de urgência ou não.
Para abordar a temática urgência e emergência se faz necessário
compreender ambos os significados.
Segundo SANTOS (2008), considera-se urgência uma prioridade moderada
de atendimento, cujo portador necessita de atendimento mediato, pois não há risco
de morte e a de emergência definida como uma alta prioridade de atendimento, cujo
individuo necessita de tratamento medico imediato, pois há risco de morte.
O
Sistema
de
Saúde
preconiza
que
as
ações
de
saúde
sejam
descentralizadas, hierarquizadas e regionalizadas, sendo que a rede de atenção a
saúde deve ser constituída de forma a agregar serviços de complexidade crescente,
de acordo com os níveis de atenção a saúde (SANTOS, 2003).
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
O sistema de referência e contrarreferência desempenha um importante papel
na organização do sistema de saúde, que tem por principio a integralidade no
cuidado, garantindo a seus usuários um atendimento íntegro envolvendo todas suas
necessidades nos mais diversos níveis de complexidade (DIAS, 2012).
Desse modo este sistema possibilita o atendimento nos diferentes níveis de
complexidade, de forma que a assistência seja prestada de acordo com as reais
necessidades do individuo.
2
A PRÁTICA DE ENERMAGEM NO SETOR DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
A enfermagem é considera uma profissão desenvolvida por um grupo de
trabalhadores qualificados para prestar assistência conforme o código de ética e
regras para o exercício da profissão (PIRES, 2009).
Os cuidados prestados em saúde são realizados pelos profissionais de
enfermagem que atuam como uma equipe, porém apresentam diferentes
competências.
A cada uma das categorias profissionais (auxiliar de enfermagem, técnico em
enfermagem e enfermeiro), corresponde a um processo de formação próprio, que
pressupõe um conjunto distinto de atividades (PEDUZZI; ANSELMI, 2004).
Segundo Lopes (2009), o trabalho da equipe de enfermagem neste campo de
ação, requer conhecimento e preparo para assumir, com competência, a função que
cada membro da equipe exerce, sendo que todos têm o dever de conhecer suas
limitações legais e suas atribuições.
O setor de urgência e emergência é um ambiente complexo onde são
atendidos desde casos simples até emergências decorrentes de acidentes
automobilísticos, violência, doenças de diversas etiologias, entre outras.
Os profissionais deste setor devem estar capacitados para atuar com
agilidade, porém de forma humanizada, sempre levando em consideração a
importância de sua atuação durante um procedimento de urgência, bem como suas
limitações frente ao fluxo desse setor.
3
METODOLOGIA
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
Foi realizado um estudo de caso buscando caracterizar os usuários do setor
de urgência e emergência e a percepção da equipe de enfermagem frente a esse
campo de ação.
Foram entrevistados oito usuários de ambos os sexos, tendo como critérios
de inclusão a idade entre vinte e cinquenta anos, serem residentes na cidade de
pesquisa. Também foram entrevistados dez profissionais da equipe de enfermagem,
sendo oito técnicos em enfermagem e dois enfermeiros, de ambos os sexos, tendo
como critérios de inclusão a atuação no setor por mais de seis meses. Todos os
entrevistados participaram da coleta de dados voluntariamente, assinando o Termo
de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
A técnica realizada foi a coleta áudio gravável de dados com base em uma
entrevista semiestruturada, sendo realizada por um processo de captação de áudio
de um celular modelo Samsung Win Duos, e um MP4 modelo Philco onde o tempo
médio das entrevistas foi de aproximadamente 8 minutos. As entrevistas foram
realizadas simultaneamente ao processo de atendimento do setor de urgência e
emergência.
Após as entrevista, realizou-se a transformação dos relatos orais em texto
através de três etapas, sendo transcrição, textualização e transcriação para melhor
contextualização das informações coletadas. Meyhi e Holanda (2007) explicam as
etapas do seguinte modo:
A transcrição é uma operação estritamente técnica. Inicia-se com a escuta
dos relatos por algumas vezes, absorvendo as informações coletadas.
Após é
realizado a passagem minuciosa da entrevista para o papel, com todos os erros,
lapsos e vacilos, inclusive as perguntas do entrevistador.
A textualização é um ajuste das palavras. Compreende primeiramente em
eliminar as perguntas de forma a permanecer somente as respostas, ganhando
também uma pequena reorganização das palavras, tornando-se mais clara.
E por último, a transcriação mostra uma forma de deixar os depoimentos mais
complexos, removendo ou acrescentando palavras, frases, pontuação e parágrafos,
tornado a leitura mais fácil e prazerosa.
Essas etapas têm a finalidade de transformar as informações coletadas em
um texto organizado, com uma sequência lógica, que possibilita o leitor analisar o
conteúdo com mais clareza e objetividade.
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
4
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Optou-se pela discussão dos dados mediante eixos temáticos, ou seja, após
identificação de conteúdos em comuns nas narrativas dos entrevistados. O
agrupamento de dados significativos tem como objetivo auxiliar na orientação e
planejamento do trabalho.
O estudo foi aplicado em dois grupos distintos, sendo de extrema importância
de caracterizar os sujeitos da pesquisa, de forma a distingui-los para melhor
compreensão da discussão. Para manter o anonimato dos participantes, as idades
dos participantes foram alteradas.
Quadro 1 – Caracterização dos profissionais de enfermagem
PROFISSIONAIS
SEXO
IDADE
Enf. 01
Enf. 02
T.E 01
T.E 02
T.E 03
T.E 04
T.E 05
T.E 06
T.E 07
T.E 08
Feminino
Feminino
Feminino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
Masculino
Feminino
Feminino
31
30
23
30
42
43
24
21
26
38
TEMPO DE ATUAÇÃO NO
PRONTO SOCORRO (ANOS)
1
3
2
1,5
15
20
2
1
2
9
CATEGORIA PROFISSIONAL
Enfermeiro
Enfermeiro
Técnico em Enfermagem
Técnico em Enfermagem
Técnica em Enfermagem
Técnica em Enfermagem
Técnico em Enfermagem
Técnico em Enfermagem
Técnica em enfermagem
Técnica em Enfermagem
Fonte: LOPES; ANDREOTI, 2014
Quadro 2 – Caracterização dos usuários dos serviços de saúde
USUÁRIOS
SEXO
IDADE
(ANOS)
Usuário 01
Masculino
31
Usuário 02
Feminino
48
Usuário 03
Usuário 04
Usuário 05
Usuário 06
Usuário 07
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
25
38
38
28
25
Usuário 08
Feminino
27
PROFISSÃO
Encarregado de
deposito
Auxiliar de serviços
Gerais
Do lar
Eletricista
Tratorista
Almoxarife
Auxiliar de serviços
gerais
Do lar
ESTADO
CIVIL
BAIRRO
ONDE
RESIDE
Solteiro
Pasetto
POSSUI
UNIDADE DE
SAÚDE NO
BAIRRO ONDE
RESIDE
Sim
Divorciada
Jd. Bela Vista
Sim
Solteira
Casado
União Estável
Divorciado
Casada
São Benedito
Rebouças
Ribeiro
Pasetto
Jd.Santa
Maria
Bom Viver II
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Casada
Sim
Fonte: LOPES; ANDREOTI, 2014
Quadro 3: Caracterização dos motivos pelos quais o usuário buscou o serviço de
urgência e emergência
USUÁRIOS
OS MOTIVOS PELOS QUAIS O USUÁRIO BUSCOU O SERVIÇO DE URGÊNCIA E
EMERGÊNCIA
Usuário 01
Dor na nuca. Relata não ser hipertenso
Usuário 02
Dor no calcâneo direito
Usuário 03
Dor no corpo e diarréia
Usuário 04
Vomito e diarréia
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
Usuário 05
Dor de garganta
Usuário 06
Tontura
Usuário 07
Dor de cabeça e náuseas
Usuário 08
Dor de garganta
Fonte: LOPES; ANDREOTI, 2014
4.1
Apresentação dos eixos
Para maior clareza na demonstração dos resultados, o conteúdo foi divido em
eixos temáticos, de forma a interpretar os dados. A elaboração dos eixos foi
realizada após a leitura minuciosa dos relatos e identificação de pontos em comuns,
de importância significativa e que vão de encontro com os objetivos desta pesquisa.
Quadro 4: Eixos Temáticos
Eixo 1
O significado de urgência e emergência para os profissionais de enfermagem
Eixo 2
A alta demanda do setor de urgência e emergência e suas consequências para os
usuários e profissionais de enfermagem
Eixo 3
As dificuldades do acesso ao serviço de saúde na atenção básica e suas
implicações
Fonte: LOPES; ANDREOTI, 2014
EIXO I: O significado de urgência e emergência para os profissionais de
enfermagem.
O significado de urgência e emergência foi conceituado de diferentes formas
pelos profissionais da equipe de enfermagem.
O termo emergência é definido como uma categoria na triagem onde a
assistência é prestada em casos de prejuízo á saúde com risco de vida potencial ou
qualquer alteração no organismo que exigem tratamento imediato. Da mesma forma
que a emergência, a urgência é considerada uma categoria de triagem, no entanto o
cuidado é fornecido em casos de doença grave ou dano a saúde que não conduz
um risco de vida imediato (BRUNNER e SUDDARTH, 2011).
Urgência é quando o paciente necessita de um atendimento
rápido, porém pode esperar, pois não corre risco de morte e
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
emergência não se dá pra esperar, pois o paciente corre risco
eminente de morte (Enf. 02)
Urgência é tudo aquilo que precisa de uma intervenção, porém
com menos necessidade que a emergência essa sim precisa
de atendimento imediato, pois nesse caso o paciente corre
risco de morte (...) (Enf. 01)
Durante os relatos surgiram alguns equívocos, porém observou-se que o
profissional pode não saber conceituar urgência e emergência na íntegra, porém tem
consciência de quais atendimentos devem ser priorizados.
[...] um paciente hipertenso, apresentando pressão arterial
170x90mmHg, chega aqui ao mesmo tempo que uma pessoa
baleada, com um sangramento importante... O paciente
hipertenso precisa ser medicado, porém pode aguardar, isso é
uma urgência. Já aquele paciente baleado, deve ser atendido
imediatamente, pois sua condição pode se agravar
rapidamente... Isso é uma emergência! (T.E. 03)
Urgência é o que pode esperar... por exemplo: uma sutura de
pequeno porte. Na emergência o paciente deve ser atendido o
mais rápido possível, caso isso não aconteça pode levá-lo a
morte. (T.E. 06)
O trabalho em enfermagem envolve uma combinação de conhecimento
cientifico e ético, articuladas ás competências clinicas, a fim de realizar uma
intervenção de qualidade ao usuário do serviço de saúde (PETTER; PERRY 2013).
Diante disso ressalta-se a importância do conhecimento teórico e prático entre
a equipe de enfermagem, porém de acordo com alguns relatos, observa-se a falta
de compreensão no que se diz respeito ao conceito de urgência e emergência:
“Urgência e emergência é quando um paciente chega de
resgate, esse sim apresenta risco de morte” ( T.E. 07)
“Urgência é quando o paciente tem que ser atendido rápido e
emergência podem esperar um pouco” (T.E.04 )
Diante disso Santos (2008) considera que atendimento tanto de urgência
como de emergência, requer profissionais preparados e treinados que saibam
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
priorizar os atendimentos e o conhecimento sobre o estado do paciente faz a
diferença no final do atendimento.
Eixo II: A alta demanda do setor de urgência e emergência e suas consequências
para os usuários e profissionais de enfermagem
O fluxo elevado no setor de urgência e emergência traz consequências para
ambas às partes. O processo de trabalho geralmente é intenso. Pacientes buscam o
atendimento de urgência e emergência para solucionar seus problemas de saúde,
seja ele simples ou não, confiando na instituição e nos profissionais que ali atuam,
na expectativa de resolução de seu caso.
Muitos pacientes que são atendidos no setor de emergência estão
insatisfeitos com os serviços oferecidos pelos ambulatórios e pelas UBS, esperam
uma solução definitiva, e outros devido à falta de tempo para consultas de rotina ou
dificuldade de acesso as mesmas, desejam realizar uma breve avaliação para
eliminar qualquer doença (SOUZA; SILVA; NORI. 2007).
Eu tenho o hábito de vir aqui por conta da agilidade no
atendimento... Eu acho mais rápido que na UBS (...)
(Usuário 01)
[...] na UBS eles falam que tem que ter consulta
marcada... Esses agendamentos demoram muito... Se eu
for lá agora eles não me atendem... Lá eles só atendem
um tanto de pessoas por dia (...) (Usuário 03)
[...] eu sei que aqui eles me passam um medicamento
mais eficaz... Eu vim aqui por que tenho um tratamento
melhor (...) (Usuário 05)
Os pacientes deste setor encontram-se divididos entre aqueles que realmente
precisam de uma assistência imediata e os demais que não se enquadram em
caráter de urgência ou emergência.
O desconhecimento da população acerca do caráter de atendimento de
urgência
e
emergência
juntamente
com
as
condições
ainda
deficitárias
apresentadas pela atenção primária levam os pacientes a buscar os serviços de PS
para atender suas necessidades (SOUZA; SILVA; NORI, 2007).
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
Tais problemas são de ordem estrutural. Somente mudanças realizadas para
conscientização da população e uma reorganização dos serviços de atenção
primaria de saúde poderiam saná-los.
“Costume... Eu só venho aqui” (...) (usuário 04)
“Porque lá na UBS é só com agendamento... Aqui é mais
rápido” (Usuário 06)
[...] “se for marcar demora muito... Na ultima vez que fui
agendar uma consulta demorou três meses! Prefiro vir aqui”
(...) (Usuário 08)
Os serviços de urgência e emergência sofrem com a demanda espontânea
por atenderem como “portas abertas”, diminuindo consideravelmente a qualidade da
assistência prestada, ocasionado pela sobrecarga de trabalho e quantitativo de
recursos humanos inadequados.
Além de assegurar as manobras de sustentação de vida em casos de
urgência e emergência, essas unidades tem representado o livre acesso para
usuários com queixas crônicas e sociais, que buscam esses serviços e
sobrecarregam a equipe de enfermagem, buscando soluções para problemas
simples que deveriam ser atendidos em outros níveis de atenção a saúde (OHARA;
MELO; LAUS, 2010).
Em alguns momentos acabamos deixando a desejar...
Trabalhamos num número reduzido de funcionários...
Queremos prestar um atendimento melhor, porém, muitas
vezes isso não é possível (...) (T.E 05)
Na enfermagem a falta de reconhecimento do trabalho destes profissionais é
algo cotidiano. O trabalho deve ser algo prazeroso, atendendo os requisitos mínimos
para a atuação e para a qualidade de vida dos indivíduos. A desvalorização do
profissional de saúde juntamente com o fluxo inadequado, falta de paciência dos
usuários e recursos humanos deficientes, torna esse ambiente estressante e
cansativo.
A unidade de urgência e emergência possui uma demanda espontânea, na
maioria das vezes maior que a prevista, resultando em condições de trabalho nem
sempre apropriadas, decorrentes de um numero intenso de atendimentos. Para
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
reverter este quadro existe a necessidade de além de uma equipe de enfermagem
qualificada, um quantitativo suficiente para atender a esta demanda (OHARA;
MELO; LAUS, 2010).
Tem dias que é muito estressante... Muita correria, gente
no corredor, muito soro, quando falta funcionário nem se
fala... Sobrecarrega mais ainda (...) (T.E 08)
Quem tem dois empregos é um estresse bem maior...
Acho que se o funcionário fosse bem remunerado ele
poderia ficar em um emprego só e se doar bem mais (T.E
02)
A imprevisibilidade da demanda aliada a gravidade, ao desgaste e a
complexidade torna esse cenário um verdadeiro desafio para os profissionais que
atuam neste setor, que podem ter seu desempenho facilmente influenciado pelos
fatores citados acima. A maior fonte de satisfação da equipe de enfermagem em
unidade de emergência é o reconhecimento do seu trabalho pelo usuário.
Outra realidade constatada por este estudo é a baixa remuneração destes
profissionais. A falta de reconhecimento salarial obriga esta categoria a obter mais
de um vínculo para manter suas necessidades financeiras. O duplo vínculo também
é apontado pelos profissionais como um fator de prejuízo na qualidade de
atendimentos aos usuários deste setor.
EIXO II:
As dificuldades de acesso ao serviço de saúde na Atenção Básica e suas
implicações.
O setor de urgência e emergência é visto como uma “porta de entrada” para
o sistema de saúde, não obedecendo aos níveis de atenção à saúde, conforme as
diretrizes do SUS.
Para Potter e Perry (2013) a atenção primaria de saúde desenvolve ações em
busca de melhores resultados para toda população, incluindo cuidados primários,
imunização, programas em âmbito nacional, planejamento familiar e controle de
doenças. Esses programas quando bem sucedido, reduz a incidência de doenças,
minimiza complicações e reduz a necessidade de utilização dos outros níveis de
atenção à saúde, neste caso com recursos de intervenção mais caros.
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
A obtenção de acesso aos serviços de saúde em relação à organização por
agendamentos de consultas para o mesmo dia em que o usuário necessita do
atendimento, poderá não ser obtido caso haja indisponibilidade da rede básica,
induzindo o mesmo a buscar hospitais para casos simples (ASSIS; JESUS, 2012).
Eu procurei nesse serviço porque aqui o atendimento é mais
rápido, na UBS precisa estar agendando e não tenho tempo...
Por isso preferi vir até aqui. (Usuário 07)
Esse horário (14h30min) eu não conseguiria passar no medico
lá no posto de saúde! Eu teria que ter sentido essa dor antes
das seis horas da manhã para poder tentar um encaixe para
uma consulta (...) (Usuário 02)
O fluxo desse setor é bem grande, devido à grande quantidade
de pacientes ambulatoriais e de UBS... Isso acaba
sobrecarregando o trabalho... Emergências são poucas (T.E
02)
Os serviços de saúde devem garantir ao usuário uma assistência integral e de
qualidade. Para que esse atendimento ocorra de maneira eficiente é necessário um
conhecimento sobre a finalidade de cada serviço, devendo existir uma interlocução
entre
as
redes,
nos
seus
diferentes níveis
de
complexidade
(BAGGIO;
CALLEGARO; ERDMANN, 2008)
Diante dessa informação o sistema de referência e contra referência
expressa grande importância no atendimento continuo do usuário, porém observamse dificuldades de integração dos diversos níveis assistenciais.
[...] “se eu for na UBS agora (14:30), eles não vão me atender,
encaminham para o pronto socorro, afirmando não ter médico.
Não vejo vantagem nenhuma em ir ao posto de saúde” (
Usuário 02)
[...] “estou com muita dor de garganta, se eu for à UBS agora
eles não me atendem e orientam vir pra cá... Emergência”
(Usuário 08)
“Eu acredito que a maioria das pessoas que procuram este
serviço é devido à rapidez no atendimento... Na verdade 90%
dos casos são de posto de saúde, então para não esperar a
consulta no posto eles procuram atendimento aqui... Casos de
emergência são poucos” (T.E 01)
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
Conforme evidenciado nos relatos, a falta de entendimento da real finalidade
do setor de urgência e emergência, bem como a ausência de um sistema articulado,
ou seja, de referência e contra referência, prejudica a continuidade da assistência
prestada, refletindo em um atendimento sem resolutividade.
CONCLUSÃO
Após a realização desta pesquisa, foi possível compreender as angústias e o
impacto que os profissionais do setor de urgência e emergência sofrem devido à
superlotação, bem como as dificuldades que os usuários enfrentam para conseguir
atendimento na atenção primária e os principais motivos que os levam ao setor de
urgência e emergência.
As narrativas proporcionaram a captação de informações, o que possibilitou
analisar a realidade vivenciada por ambas as partes envolvidas na pesquisa,
confirmando a validade desta técnica metodológica.
Ficou claro que a deficiência na organização e prestação dos serviços de
saúde nos diferentes níveis de atenção, bem como a ausência de referência e
contrarreferência proporciona aumento do fluxo no setor de urgência e emergência e
perda na qualidade da assistência prestada.
Considerando todas as dificuldades e barreiras que os usuários encontram na
tentativa de atendimento pela atenção primaria de saúde, bem como as dificuldades
que os profissionais da equipe de enfermagem enfrentam diante da superlotação,
déficit de recursos humanos que refletem em estresse, cansaço físico e mental, é de
extrema importância que se estabeleça mudanças culturais da população quanto ao
uso do setor de urgência e emergência, bem como uma reestruturação no
fluxograma de atendimento, onde os níveis de atenção sejam restabelecidos e
obedecidos de forma criteriosa. Sendo assim o usuário será atendido pelos níveis de
atenção de acordo com sua necessidade.
Constatou-se também que a implantação de algumas medidas pode organizar
o fluxo deste setor, como por exemplo, a triagem com classificação de risco proposta
pelo Ministério da Saúde e o sistema de referenciar o usuário quando necessário.
Diante de todas as evidências pesquisadas e apresentadas, concluiu-se que é
importante ouvir os dois lados e conhecer as dificuldades que ambos enfrentam,
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
evitando assim decisões ou julgamentos precipitados. Para tanto, faz-se necessário
compreender os motivos que trazem essa problemática, bem como tentar solucionálos, buscando alternativas que possam melhorar a qualidade da assistência prestada
e o acesso dos usuários nos demais níveis de atenção a saúde.
REFERÊNCIAS
ASSIS, M.M.A; JESUS, W. L. A. Acesso aos serviços de saúde: abordagens,
conceitos, políticas e modelo de análise. Rev. Ciências e saúde coletiva. Feira de
Santana/BA, v.17, n.11, p. 2875-85, 2012.
BAGGIO, M. A; CALLEGARO, G.D; ERDMANN, A. L. Compreendendo as
dimensões do cuidado em uma unidade de emergência hospitalar. Rev. Bras.
Enferm. Brasília/DF, v.61, n.05, p. 552-7, set. /out. 2008.
BRUNNER e SUDDARTH. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 12.ed. Rio
de Janeiro/RJ: Guanabara, 2011, v.2, p.2155-56.
DIAS, V.A. Referência e contra – referência: Um importante sistema para
complementaridade da integralidade da assistência, 2012. Monografia (Especialista
em Saúde Pública) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC.
LOPES, L. Atendimento de emergência no Brasil, 2009. Monografia (Especialista
em conduta de enfermagem no paciente crítico) – Centro Educacional São Camilo –
Sul, Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma/SC.
MEYHI, J. C. S. B; HOLANDA, F. Historia Oral: Como fazer, como pensar. São
Paulo/SP: Contexto, 2007.
OHARA, R.; MELO, M. R. A. C.; LAUS, A. M. Caracterização do perfil assistencial
dos pacientes adultos de um pronto socorro. Revista Brasileira de Enfermagem.
vol.63 no 5 Brasília Set/Out. 2010.
PAI, D.D.; LAUTERT. O trabalho em urgência e emergência e a relação com a
saúde das profissionais de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enferm. Ribeirão
Preto/SP,
v.
16,
n.
03,
2008.
Disponível
em:<
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v16n3/pt_17.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2014.
PEDUZZI, M; ANSELMI, M.L. O auxiliar e o técnico de enfermagem: categorias
profissionais diferentes e trabalhos equivalentes. Rev. Bras. Enferm. Brasília/DF, v.
57, n. 04, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003471672004000400008&script=sci_arttext. Acesso em: 26 ago. 2014
PEREIRA, A.L. et al. Programas de atenção à saúde. In: FIGUEIREDO, N.M.A.
(org). Ensinando a cuidar em saúde pública. São Caetano do Sul/SP: Yendis,
2008.p.255-275.
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
PIRES, D. Enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev. Bras.
Enferm. Brasília/DF, v. 62, n. 05, p. 739-44, 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n5/15.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2014.
POTTER, P. A; PERRY, A. G. Fundamentos de enfermagem. 8 ed. Rio de
Janeiro/RJ: Elsevier, 2013, p. 1-10.
SANTOS, J.S. et al. Avaliação do modelo de organização da Unidade de
Emergência do HCFMRP-USP, adotando, como referência, as políticas
nacionais de atenção às urgências e de humanização. Medicina, Ribeirão Preto,
p.498-515,
2003.
Artigo
on
line.
Disponível
em:
http://revista.fmrp.usp.br/2003/36n2e4/avaliacao_modelo_organizacao_ue.pdf.
Acesso em: 28 mai. 2014.
SANTOS, N.C.M. Urgência e emergência para enfermagem – Do atendimento
pré-hospitalar à sala de emergência. 5. ed. São Paulo/SP: Iátria, 2008.p.17-25.
SIMONS, D.A. Avaliação do perfil da demanda na unidade de emergência em
Alagoas a partir da municipalização da saúde e do Programa Saúde da Família,
2008. Tese (doutorado em saúde pública) – Centro de pesquisa Aggeu Magalhães,
Fundação Oswaldo Cruz, Recife/PE
SOUZA, R. B.; SILVA, M. J. P.; NORI. A. Pronto Socorro: uma visão sobre a
interação entre profissionais de enfermagem e pacientes. Revista Gaúcha de
Enfermagem; 28(2):p. 242-9. 2007.
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.10, jan/jul de 2014
Download