Comentário Econômico - Outubro / 06 O cenário externo para 2007 Conforme esperado pela ampla maioria do mercado, o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, em sua reunião de Setembro passado, manteve estável sua taxa básica , a Fed Fund, em 5,25% ao ano, embora fazendo as ressalvas de praxe quanto aos riscos da inflação. Em nossa opinião, trata-se mais de uma tentativa de manter o mercado alerta e evitar uma inversão muito forte na curva de juros (até aqui infrutífera), pois com a queda nos preços das commodities, em especial do petróleo, e com indicadores de atividade dando nítidos sinais de uma desaceleração, parece claro que a taxa básica de juros já atingiu seu pico neste ciclo de aperto atual. A dúvida que permanece é quanto ao grau desta desaceleração. A taxa anualizada de crescimento do PIB norte-americano no segundo trimestre foi de 2,6%, contra uma taxa de crescimento, também anualizada, no primeiro trimestre, de 5,6%. Para efeitos de comparação, também é bom lembrar que, no ano passado, este crescimento se situou em torno de 3,3%, o que deixa bastante claro o efeito da alta dos juros sobre o nível de atividade sem, no entanto, caracterizar um “hard landing”. Tem-se, assim, uma alta probabilidade de que, em 2007, o cenário norte-americano seja marcado por uma combinação de um pouso suave da economia, com uma inflação próxima à zona de conforto do Fed, o que sugere que a Autoridade Monetária pode começar a reduzir a taxa básica de juros em meados do ano. Este cenário, associado à expectativa de continuidade do crescimento asiático, ainda que a taxas menores do aquelas verificadas nos últimos anos, também reduziria os riscos de uma queda acentuada nos preços das commodities. A percepção de que o desaquecimento da economia norte-americana é inevitável, com a conseqüente inversão da yield curve, somado a um déficit na Conta –Corrente do Balanço de Pagamentos, que beira 8% do PIB, levaria a crer que o dólar se enfraquecesse frente às demais moedas fortes. As relações entre as principais moedas, no entanto, têm se mantido razoavelmente estáveis o que, a nosso ver, retrata em boa parte o ajuste da demanda agregada norteamericana, tanto pública quanto privada. Embora muito pouco alardeado, tem sido notável o progresso verificado nas contas públicas norte-americanas, esperando-se para o final do atual ano fiscal que o décifit do setor público volte a cerca de 2% do PIB, contra uma cifra de 4,5% do PIB no final do primeiro mandato do Presidente George Bush. Ao lado desta menor demanda do setor público tem-se, conforme já discutido, uma contenção da demanda privada, como consequência do aperto da política monetária o que, naturalmente, reduz a demanda agregada, tendendo a minorar o problema nas contas externas norte-americanas, e reduzindo o peso de uma eventual desvalorização do dólar neste ajuste. Como acreditamos que o crescimento econômico na Europa e no Japão não serão brilhantes e que, portanto, seus Bancos Centrais também não devam elevar adicionalmente suas taxas básicas de juros, vemos como provável um cenário de dólar forte a médio prazo contra as principais moedas do G-7. Esta hipótese poderá ganhar mais força, caso a China atenda aos apelos gerais e permita uma maior flutuação de sua moeda. Assim, o cenário externo que julgamos mais provável para o próximo ano contempla um desaquecimento, ainda que não dramático, da economia mundial, o início da redução da Fed Fund por volta do meio do ano e um dólar incialmente mais valorizado. Uma vez definidas nossas eleições e conhecidas as linhas mestras do programa econômico do próximo Governo, traçaremos o cenário interno mais provável para 2007,tendo como pano de fundo o ambiente macroeconômico internacional acima descrito.