Dourado ou Preto? Qual a cor do Vestido do Brasil? Autor: José Carlos de L ima Júnior Dourado ou Preto? Qual a cor do vestido do Brasil? 04 de Março de 2015 No final de fevereiro, a foto de um vestido centralizou as atenções nas mídias sociais. A dúvida se “azul e preto” ou “branco e dourado” evidenciava um fato óbvio. A perspectiva individual, gerando dois contornos para a mesma realidade. Considerando o vestido como metáfora, alguns fatos atualizados do mercado. sinalize aumento na sua taxa de referência de juros (especialistas consideram um possível aumento de 0,25%), há de recordar que os EUA mantêm em 0,25% a sua taxa de juros desde dezembro de 2008. Na prática, a mínima movimentação do FED em relação a essa taxa tenderia a valorizar, ainda mais, as cotações internacionais da moeda americana; Valorização do dólar: entre os países da América Latina, o Brasil é o que mais sente a desvalorização da própria moeda diante da moeda americana. Somente em 2015, US$ 1,00 saltou de R$ 2,692 (02/janeiro/2015) para R$ 2,979 (04/março/2015). Uma valorização de 10,7% em dois meses. Se estendido o prazo, a moeda americana esteve cotada, há um ano, em R$ 2,397 (02/janeiro/2014) ou R$ 2,320 (05/março/20141). Portanto, acréscimo de 24,2% e 28,5%, respectivamente; Nova Economia de Estado: no final de fevereiro, o Fórum Econômico Mundial publicou estudo na qual evidencia uma “Guerra Econômica”, que pode desacelerar ou mesmo reverter o que se entende por Globalização. No estudo, os autores afirmam que o campo de batalha do século XXI acontece no ambiente econômico, sobretudo na guerra das moedas, e a ocupação dos territórios foi alterada para a manipulação do preço dos recursos, como o petróleo; Recuperação dos EUA: aparentemente a maior economia do mundo começa a apresentar sinais de crescimento. A fala mais recente partiu do economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), que afirmou que os EUA terão previsão de crescimento de 3,6% para 2015 e 3,3% para 2016. Esses números impressionam quando se considera que as previsões para a Zona do Euro são de 1,2% para 2015 e 1,4% para 2016; Recuperação & Dólar: ainda que o Banco Central Americano (FED) não 1 O dia 04 de março de 2014 foi carnaval. A cotação utilizada foi a do primeiro dia útil subsequente. Queda nas Commodities & Hegemonia Regional: um dos efeitos dessa Nova Economia de Estado é a politização das negociações comerciais, de modo que as negociações regionais passam a entrar em conflito com os blocos econômicos existentes. Duas consequências são visíveis. A primeira é o surgimento de uma concorrência entre governos por poder e influência, o que faz com que os bancos centrais de origem atuem como instrumentos voltados aos interesses particulares dessas nações. A segunda é o surgimento de uma concorrência por mercados fechados e não mais por recursos naturais, principalmente por que as próprias commodities, com a migração dos investimentos nos últimos anos, gradativamente têm se tornado mais barata. Na medida em que a liderança global se esvai, a hegemonia regional passa a causar impacto global, porém com agravante: o regionalismo dificulta qualquer solução global; Quadro 1 – Taxas de Juros do Banco Central em Países Selecionados Taxa de Juros do Banco Central País Valor Juros FED Estados Unidos 0,250 % Juros RBA Austrália 2,250 % Juros BACEN Brasil 12,750 % Juros BOC Canadá 0,750 % Juros PBC China 5,350 % Juros BCE Europa 0,050 % Juros BoE Grã-Bretanha 0,500 % Juros BoJ Japão 0,100 % Juros CBR Rússia 15,000 % Juros SARB África do Sul 5,750 % Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Global-rates.com Hegemonia Regional Made in China: no cenário identificado pelo Fórum Econômico Mundial, merece atenção os acordos regionais na área de infraestrutura entre a China e diversos países em desenvolvimento, como Brasil, Argentina, Angola e Nigéria. Na relação “China e país em desenvolvimento”, o gigante asiático dispõe de crédito e passa a ter um mercado fechado para a sua indústria, tornando-se a maior beneficiária nessa relação. Portanto, o Banco Popular da China (BPC) precisa estabelecer uma estrutura que mantenha a competitiva da atividade industrial dentro do país; Data 16-12-2008 03-02-2015 04-03-2015 21-01-2015 01-03-2015 04-09-2014 05-03-2009 05-10-2010 30-01-2015 17-07-2014 China: quando se analisa o gigante asiático, a segunda maior economia do mundo surpreendeu o mercado ao cortar, em menos de quatro meses, a própria taxa de referência para empréstimos e depósito em 0,25% (Quadro 2). Na prática, trata-se de nova ação coercitiva que visa minimizar os efeitos internos de um mercado imobiliário estagnado, com fuga de capital e risco de deflação, e que pode vir a encarecer o custo de financiamento das empresas chinesas. Há de destacar que o crédito é relevante a toda atividade produtiva; Quadro 2 – Taxas de Referência de Juros no Banco Popular da China (BPC) Data da Alteração pelo BPC Taxa de Referência 01 março 2015 5,350% 21 novembro 2014 5,600 % 28 fevereiro 2014 5,350 % 06 julho 2012 6,000 % 08 junho 2012 6,310 % 07 julho 2011 6,560 % 06 abril 2011 6,310 % 09 fevereiro 2011 6,060 % 26 dezembro 2010 5,810 % 20 outubro 2010 5,560 % 23 dezembro 2008 5,310 % Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Global-rates.com China & PIB: em 2014, o país asiático teve um PIB de 7,4% - o menor em 25 anos. Considerando que dificilmente a China caberá no mundo se mantiver a taxa de crescimento em dois dígitos (há de considerar o apetite cada vez maior por commodities metálicas, minerais e agrícolas), especula-se que Pequim irá estabelecer 7% como meta de crescimento para 2015; E o Brasil, parte 1: o boletim Focus divulgado em 02 de março pelo Banco Central afirma que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação, subiu de 7,33% para 7,47%. A taxa Selic foi revista para 13% ao final de 2015. No entanto, a grande novidade, é uma retração na economia de 0,58% (PIB negativo) e câmbio em R$ 2,91; E o Brasil, parte 2: em paralelo, a presidente Dilma Rousseff se especializa na arte de puxar orelhas. A mais recente foi a do ministro da Fazenda Joaquim Levy, após declaração de que as desonerações fiscais do seu antecessor foram “grosseiras”. Antes, foi o Ministro do Planejamento Nelson Barbosa, quando este fez comentário sobre possível mudança nas regras de reajuste do salário mínimo; E o Brasil, parte 3: quando se entra no caso PETROBRÁS, nenhum pavilhão auditivo ainda foi beliscado, apesar da estatal se encontrar em meio a um espesso lamaçal. Rebaixamento do grau de investimento pelas agências de risco, maior endividamento entre as empresas petrolíferas do mundo, atraso no balanço financeiro do 4TRI2014 (ainda não auditado), perda de credibilidade internacional, máquina estatal utilizada para fins partidário político e corrupção são alguns dos fatos perceptíveis; E o Brasil, parte 4: orelhas a parte, a guerra “Situação x Oposição” no Governo se tornou explícita. Na véspera da visita da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), que pode alterar a nota de grau de investimento do Brasil de “seguro” para “especulativo”, o presidente do Senado, Renan Calheiros, resolveu não ir ao jantar oferecido pela presidente (domingo, 01/03) e fez público o seu descontentamento com a devolução da Medida Provisória que propõe a desoneração fiscal (quarta, 04/03). Dessa forma, a rivalidade Executivo/Legislativo esboça um cenário difícil para o Governo efetivar as ações de ajustes necessários na Economia; E o Brasil, parte 5: Executivo e Legislativo resolveram medir forças às vésperas da avaliação do grau de investimento do Brasil pela S&P e que servirá, a partir de então, como parâmetro aos investidores mundiais; E o Brasil, parte n: “Brasil fica para trás de países vizinhos na recuperação econômica” (The Wall Street Journal). “A crise é de confiança” (Veja). “Década Perdida” (Exame). “Caminhoneiros mantém bloqueio” (Valor Econômico). “Governo tenta evitar calote” (Estadão). “Governo corre risco de apagão financeiro em 2015” (Exame). “Janot entrega lista de políticos” (Valor Econômico). “Desvio de refinaria em Pernambuco abasteceu três partidos” (Folha de S. Paulo). “Dólar opera em alta e ultrapassa R$ 2,90” (Globo). “Recessão a caminho do Brasil: a queda de um titã” (The Economist). “Comitê de monitoramento do setor elétrico eleva risco de apagão em 2015” (Veja). Em apenas quinze minutos, esse foi o recorte das notícias divulgadas nos principais veículos de imprensa. Resumindo: Quadro 3 – Resumo das Ocorrências Ocorrências Externas Ocorrências Internas Disparada do dólar (10,7% em 2015); Volta da inflação; Previsão de 3,6% do PIB dos EUA; Retração na economia; Possível aumento de juros pelo FED; PIB negativo; Formação de Nova Economia de Estado; Interferência da presidente junto aos Manipulação de preço dos recursos ministros; (petróleo); Operação Lava-Jato; Alianças regionais X Blocos tradicionais; Corrupção nos principais gestores do Estado; Bancos Centrais utilizados como Executivo x Legislativo, dificultando aprovação instrumentos de interesse; em caráter de urgência nos ajustes; Acordo China e países em Revisão da nota de avaliação do grau de risco desenvolvimento em obras de do Brasil; infraestrutura; Possibilidade de ter o grau alterado de Diminuição de juros na China; “Seguro” para “Especulativo”. Queda do PIB chinês (menor em 25 anos). Fonte: Elaborado pelo autor Para concluir. Se toda perspectiva sempre é individual e, ainda que os fatos possam significar diferentes contornos para uma mesma realidade, refaço a pergunta. Dourado ou Preto? Qual é a cor do vestido Brasil?