Instituto de Economia Gastão Vidigal AS CONSEQUÊNCIAS DA POLÍTICA MONETÁRIA NORTEAMERICANA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA Após sua primeira reunião à frente do Banco Central americano (Reserva Federal – FED), a Presidente em exercício, Janet Yellen, surpreendeu o mercado, sugerindo que a taxa de juros básica poderia começar a subir antes da metade de 2015. Além disso, o Conselho de Política Monetária do FED (Comitê de Mercado Aberto Federal – FOMC) decidiu por nova redução de R$ 10 bilhões nas compras de títulos de dívida. Essa declaração e a redução adicional dos estímulos monetário implicam num aumento nas taxas de juros de longo prazo da economia norte-americana, pois o anúncio da nova Presidente aumenta a expectativa de maiores taxas curtas, que terminam por elevar as de longo prazo, e, por outro lado, a redução na compra de ativos diminui a quantidade de dinheiro disponível nessa mesma economia, o que também tende a incrementar as taxas de rendimento de maior prazo. De fato, o rendimento dos títulos de Tesouro Americano de dez anos apresentou forte aumento desde junho do ano passado, quando o então Presidente do FED, Ben Bernanke, anunciou que se iniciaria a redução na compra de papéis de dívida por parte da autoridade monetária (Gráfico 1). GRÁFICO 1 TAXA DE RENDIMENTO ANUAL DOS TÍTULOS DO TESOURO AMERICANO DE DEZ ANOS: Janeiro de 2013 – Fevereiro de 2014 (%) 3,1 2,9 2,7 2,5 2,3 2,1 1,9 1,7 1,5 Fonte: Elaboração IEGV/ACSP a partir dos dados do FED. Instituto de Economia Gastão Vidigal Que consequências poder-se-iam esperar para a economia brasileira? Em primeiro lugar, o incremento da taxa de juros de curto prazo americana reduz o ganho financeiro da entrada de capitais estrangeiros especulativos, ao encarecer a tomada de crédito no mercado internacional. Esse menor fluxo de capitais, num contexto de contínua deterioração das contas externas do Brasil, provocará nova desvalorização do real em relação ao dólar. A maior taxa de câmbio não deverá, entretanto, produzir impacto positivo na atividade econômica interna, pois a indústria nacional encontra-se cada vez mais dependente de componentes, equipamentos e insumos externos, elevando, portanto, seu custo de produção, e reduzindo ainda mais sua competitividade, o que, conjuntamente com o maior valor das importações, poderá piorar ainda mais o saldo da balança comercial (diferença entre exportações e importações de mercadorias). Esse aumento nos custos de produção implicará, por sua vez, em maior pressão inflacionária, realimentada pela estiagem sofrida pelo país e pelo próprio encarecimento dos produtos agropecuários, devido ao câmbio mais elevado, o que deverá levar o Banco Central a dar continuidade na política de aumento dos juros básicos.