Relato do Caso • I.P = FMO, feminino, 76 anos, negra, natural e procedente de Sobral-CE. • QP = “Queimação na batata da perna” • HDA: paciente relata que, há 1 ano, iniciou um quadro de cinesalgia em membro inferior esquerdo. Há duas semanas apresenta piora do quadro, levando-a a uma claudicação intermitente, incluindo espisódios de dor noturna. Apresenta varizes. Menciona recorrentes ulcerações de difícil cicatrização em MMI, há meses. Relata tosse com secreção. Relata diurese concentrada, com odor normal e coloração alaranjada. Nega febre, náusea, vômitos e qualquer outro sinal e/ou sintoma associados ao quadro atual. Resolveu procurar atendimento no CSF para uma conclusão diagnóstica. • HPP: hipertensa, obesa, diabética (DM-2). Com histórico de DPOC. Internou-se há 2 anos, por pneumonia. Nega cirurgia. Nega hemotransfusão e refere imunizações em dia. • HS: Tabagista há, aproximadamente, 50 anos. Nega etilismo há 26 anos. Sedentária. • HF: pai hipertenso, etilista e tabagista. Mãe com HAS e DM2. • Paciente encontra-se acianótica, anictérica normocorada, hidratada, orientada, cooperativa dispneica e afebril. • FR= 30 rpm • PA= 180/110 mmHg • Membro afetado apresenta leve atrofia, coloração pálida, pele lisa, ausência de pelos, unhas hipertróficas e temperatura baixa, em relação à extremidade contralateral. Exame Físico • Apresenta ausência de pulsos no membro inferior esquerdo, com lenta perfusão capilar. • A paciente ainda apresenta pulsos periféricos no membro inferior direito de 2/2+ e índice de pressão sistólica tornozelo-braço (ITB) de 0,6 à esquerda e de 1,0 à direita. Exames Complementares • Ultrassonografia Doppler apontou ausência de fluxo na artéria ilíaca externa esquerda e ondas monofásicas de baixa amplitude no segmento femoropoplíteo e nas artérias da perna esquerda. • Foi indicada arteriografia seguida de angioplastia transluminal percutânea com implante de stent na artéria ilíaca externa esquerda. Qual o Diagnóstico? Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) Definição • Obstrução aterosclerótica da circulação arterial para membros inferiores; • É parte de um distúrbio sistêmico de aterosclerose que afeta outras circulações importantes; • Hemodinâmica e perfusão reduzida ao músculo esquelético e à pele. Epidemiologia • Homens: 30-44 anos 6/ 10.000 65-74 anos • 61/ 10.000 Mulheres: 30-44 anos 3/ 10.000 65-74 anos 54/ 10.000 • Afeta aproximadamente 1 milhão de adultos nos Estados Unidos; • Mulheres e homens tem risco semelhante de desenvolvimento de DAOP. • Os pacientes com diabetes mellitus tipo 2 têm um risco quatro vezes maior de desenvolver DAOP; • Níveis reduzidos de HDL- colesterol e níveis aumentados de triglicerídeos são mais frequentemente associados a DAOP; • O tabagismo associa-se a um risco três a quatro vezes aumentado de DAOP. Fisiopatologia • Etiologia: DM-2, aterosclerose, dislipidemias, tabagismo, sedentarismo. • Hemodinâmica: - Estenose arterial diminuição do fluxo e pressão sanguínea - Pacientes com claudicação apresentam fluxo normal para o musculo em repouso, mas fluxo deficiente para demandas metabólicas - ITB abaixo de 0,90 é considerado diagnóstico de DAP. • pa no tornozelo, durante o exercício (claudicação) • pa no tornozelo, em repouso (isquemia crítica) • Isquemia crítica: ulceração distal e gangrena • Anormalidades metabólicas e neurológicas: - desnervação axonal distal; - perda de fibras musculares; - metabolismo oxidativo; - lactato Manifestações Clínicas • Assintomática; • Dois tipos principais de dor: Claudicação e Dor Noturna; • O paciente pode ter uma claudicação afetando a nádega e a coxa (doença oclusiva illaca), a panturrilha (+comum), ou o pé (raramente); Diagnóstico • Exame clínico: - Relacionar a HAS, sopros cardíacos e arritmias; - Observar pele de pernas e pés (cor, temperatura, pelos, unhas, traumas e infecções); - Palpar pulsos Femoral e Braquial; - Presença de sopro femoral; - Verificar pressão arterial no tornozelo; - Observar presença de úlceras ou gangrena. • Exame Laboratorial: - Elevação do Hematócrito e/ou da contagem de plaquetas; - Baixa saturação de O2 (doença pulmonar); - Proteinúria; - Testes de coagulação: Fator V de Leyden, proteína S, proteína C, antitrombina III, dentre outros; - Diabetes (glicemia em jejum ou pós-prandial e nível de Hb A1C); - Perfil lipídico; - Níveis de Homocisteína; - Níveis de Proteína reativa-C. Tratamento • O tratamento clínico da DAOP tem dois objetivos: a melhora funcional do membro inferior e a prevenção dos eventos relacionados à distribuição multifocal da doença aterosclerótica. As recomendações atuais de tratamento da DAOP incluem abstenção do tabagismo; estatinas para reduzir LDL para menos de 100 mg/dL; terapia antiplaquetária com ácido acetilsalicílico ou clopidogrel para pacientes com história de DAOP sintomático; programa de exercício supervisionado para pacientes com claudicação, controle da HAS e da glicemia. • O cilostazol, um inibidor da fosfodiesterase III, na dose de 100 mg, VO, de 12/12 h, parece ser o medicamento mais útil para o manejo da claudicação intermitente, aumentando a distância de marcha e os escores de qualidade de vida. • Em razão do desenvolvimento tecnológico e por sua natureza menos invasiva, os métodos endovasculares são cada vez mais considerados como primeira opção, principalmente em situações nas quais a melhora sintomática a curto e longo prazo é equivalente aos métodos cirúrgicos. • Nos pacientes com isquemia aguda, o objetivo da intervenção é claramente evitar a trombose secundária com piora da isquemia. Portanto, a anticoagulação com heparina não fracionada intravenosa é indicada de ime- diato. A terapia trombolítica direcionada por cateter pode ser indicada em pacientes com graus menos avançados de isquemia e parece apresentar vantagens em termos de morbimortalidade em relação ao tratamento cirúrgico, mas demanda tempo e custos superiores. • Na decisão de amputação e na escolha do nível da amputação, deve-se levar em consideração o potencial de cicatrização, o grau de reabilitação e a qualidade de vida do paciente. Entretanto, a revascularização arterial continua sendo o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes com DAOP e pode evitar muitas amputações.