Pró-Reitoria de Graduação Curso de Biomedicina Trabalho de Conclusão de Curso IMUNOLOCALIZAÇÃO DE LC3 EM MACRÓFAGOS MURINOS INFECTADOS COM PARACOCCIDIOIDES SPP Autora: Fernanda Cristina Koser Gustavo Orientador: Prof. Dr. André Moraes Nicola Brasília - DF 2015 FERNANDA CRISTINA KOSER GUSTAVO IMUNOLOCALIZAÇÃO DE LC3 EM MACRÓFAGOS MURINOS INFECTADOS COM PARACOCCIDIOIDES SPP Monografia apresentada ao curso de Graduação em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina. Orientador: Prof. Dr. André Moraes Nicola Brasília 2015 Monografia de autoria de Fernanda Cristina Koser Gustavo, intitulada IMUNOLOCALIZAÇÃO DE LC3 EM MACRÓFAGOS MURINOS INFECTADOS COM PARACOCCIDIOIDES SPP, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, em 25 de maio de 2015, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _________________________________________ Prof. Doutor André Moraes Nicola Orientador Universidade de Brasília, Faculdade de Medicina - UnB _________________________________________ Profa. Doutora Patrícia Albuquerque de Andrade Nicola Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia - UnB _________________________________________ Profa. Msc. Stella Maris Freitas de Lima Universidade Católica de Brasília, Curso de Odontologia - UCB Brasília 2015 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Luiz e Sandra, minha irmã Ana Flávia, minha tia Sandra e meu primo Lucca, com todo o meu carinho e amor. AGRADECIMENTOS Esta jornada não teria sido concluída sem a ajuda de inúmeras pessoas. Em primeiro lugar gostaria de agradecer meu orientador André Moraes Nicola por ter me dado a oportunidade de participar do seu grupo de pesquisa e por tudo que me ensinou. Á toda equipe do laboratório e colegas que me ajudaram com os experimentos, com as células quando elas morriam, com o meio de cultura que acabava ou contaminava, em especial Stella, Kellyane e Ananésia. Aos amigos que foram feitos ao longo da graduação, em especial Marina, Mariana e Ana Paula, que quero levar para a vida toda e que foram parceiras de trabalho, festas, viagem e muitas risadas. Á minha tia por me acolher em sua casa com muito carinho, amor e por ter sido quase uma mãe para mim. Ao meu primo que foi meu companheiro, quase irmão, e por ter me aturado todo esse tempo. Agradeço ao meu namorado, Angelo, por me ajudar com os experimentos e por me dar força, carinho, amor e companhia. Por fim, dedico e agradeço por este trabalho as pessoas mais importantes da minha vida, minha família. Aos meus pais, por terem me criado com muito amor, por sempre me apoiarem nas minhas decisões e serem os responsáveis por eu ser a pessoa que sou hoje e por me ajudar a suportar a distância entre nós durante esses 4 anos. Á minha irmã que sempre me apoiou, deu conselhos e foi minha amiga mesmo com a distância. RESUMO GUSTAVO, Fernanda Cristina Koser. Imunolocalização de LC3 em macrófagos murinos infectados com Paracoccidioides spp. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso em Biomedicina – UCB. Brasília, 2015. O Paracoccidioides brasiliensis e o P. lutzii são fungos termo-dimórficos, que apresentam dois tipos de morfologia, micélio, à temperatura ambiente (25°C) e levedura, à 37°C. São os agentes etiológicos da paracoccidioidomicose (PCM), uma das micoses sistêmicas mais importantes da América Latina. Os macrófagos são as principais células efetoras na resposta imunológica contra Paracoccidioides spp, e a relação entre essas células é fundamental para compreender a fisiopatologia da PCM. A autofagia é um processo celular de reciclagem de materiais como organelas, que são englobadas por vesículas chamadas de autofagossomos que se fundem com lisossomos posteriormente. Este mecanismo também desempenha importantes tarefas imunitárias a patógenos intracelulares como protozoários, bactérias, vírus e fungos. O presente trabalho faz parte de um projeto amplo cuja hipótese de trabalho é que a autofagia de macrófagos seja importante na resposta imunitária à infecção por Paracoccidioides spp. Dentro desta linha de pesquisa mais ampla, o objetivo desta monografia é verificar se há a presença do marcador de autofagossomos LC3 em vacúolos contendo o fungo fagocitado por macrófagos. Uma vez que existem fármacos em desenvolvimento clínico cujo mecanismo de ação é modular a maquinaria de autofagia do sistema imunitário, eventualmente este resultado poderá ajudar no desenvolvimento de novas terapias para a PCM. Palavras-chave: macrófagos. Paracoccidioides, paracoccidioidomicose, autofagia, LC3, e ABSTRACT Paracoccidioides brasiliensis and P. lutzii are thermo-dimorphic fungi, which show two types of morphology, mycelia at room temperature (25oC) and yeast at 37oC. These are etiologic agents of paracoccidioidomycosis (PCM), one of the most important systemic mycosis in Latin America. Macrophages are the major effector cells in the immune response against Paracoccidioides spp, and the relationship between those cells is important to understand the pathophysiology of PCM. Autophagy is a cellular process of recycling materials such as organelles, which are surrounded by vesicles called autophagosomes that later fuse with lysosomes. This mechanism also plays important roles the immune response to intracellular pathogens such as protozoa, bacteria, viruses and fungi. This work is part of a larger project whose working hypothesis is that macrophage autophagy is important in the immune response to infection by Paracoccidioides spp. Within this broader research program, the aim of this monograph is to evaluate the presence of the autophagosome marker LC3 in macrophages vacuoles containing phagocytosed Paracoccidioides spp yeast cells. As there are drugs in clinical development whose mechanism of action is to modulate the autophagy machinery, eventually this result might help develop new therapies for PCM. Keywords: macrophage. Paracoccidioides, paracoccidioidomycosis, autophagy, LC3 and LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Colônia de levedura do P. brasiliensis. 11 Figura 2: Colônia de micélio do P. brasiliensis. 12 Figura 3: Levedura do P. brasiliensis em forma de "roda de leme". 12 Figura 4: Levedura do P. brasiliensis em forma de "Mickey Mouse". 13 Figura 5: Distribuição da paracoccidioidomicose na América Latina. 14 Figura 6: Mortalidade da paracoccidioidomicose no Brasil. 15 Figura 7: Imagens de crianças com a forma aguda/subaguda paracoccidioidomicose. Figura 8: Jovens e da 17 adultos apresentando a forma aguda/subaguda da paracoccidioidomicose. 18 Figura 9: Cacterísticas clínicas da forma crônica da paracoccidioidomicose. 19 Figura 10: Imagens da paracoccidioidomicose. 19 Figura 11: Processo de formação do autofagossomo. 21 Figura 12: Controles da imunolocalização de LC3 (verde) em células RAW264.7. 27 Figura 13: Experimento de imunolocalização com células RAW264.7 infectadas. 28 LISTA DE SIGLAS IL Interleucina IFN-γ Interferon-gama NK Célula Natural Killer MHC Complexo principal de histocompatibilidade Pb01 Isolado 01 do Paracoccidioides lutzii Pb18 Isolado 18, altamente virulento do Paracoccidioides brasiliensis Pb265 Isolado 265 menos virulento do Paracoccidioides brasiliensis PBS Salina tamponada com fosfato PCM Paracoccidioidomicose PRR Receptor de reconhecimento padrão Th T-helper TLR Receptor “toll-like” TNF-α Fator de necrose tumoral-α SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10 2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 11 2.1 PARACOCCIDIOIDES spp .......................................................................... 11 2.2 PARACOCCIDIOIDOMICOSE ..................................................................... 13 2.2.1 Epidemiologia ........................................................................................ 14 2.2.2 Imunologia ............................................................................................. 15 2.2.3 Manifestações clínicas........................................................................... 16 2.3 AUTOFAGIA................................................................................................. 20 2.3.1 3 Autofagia na imunidade ......................................................................... 21 METODOLOGIA................................................................................................. 23 3.1 CULTIVO DE P. BRASILIENSIS E P. LUTZII .............................................. 23 3.2 CULTIVO DE MACRÓFAGOS ..................................................................... 23 3.3 INFECÇÃO IN VITRO DE MACRÓFAGOS COM P. BRASILIENSIS E P. LUTZII .................................................................................................................... 23 3.4 IMUNOLOCALIZAÇÃO DE LC3 EM MACRÓFAGOS INFECTADOS ......... 24 3.5 CONTROLES ............................................................................................... 24 3.6 PROCESSAMENTO DE IMAGENS ............................................................. 25 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 26 5 CONCLUSÃO..................................................................................................... 29 6 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ..................................................................... 30 10 1 INTRODUÇÃO A paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica causada pelos fungos Paracoccidioides brasiliensis e P. lutzii, endêmicos na América Latina. Estima-se que cerca de dez milhões de pessoas que vivem em áreas endêmicas são infectadas com P. brasiliensis, das quais apenas 2% desenvolvem a doença (MCEWEN et al., 1995). A PCM acomete uma pequena porcentagem das pessoas infectadas pelos fungos e a diferença entre as pessoas que carregam os microrganismos sem nenhum sintoma e aquelas que apresentam sintomas está na resposta imune eficaz dos primeiros. Já se sabe que a autofagia de macrófagos tem uma grande importância na resposta imune contra fungos patogênicos humanos como Cryptococcus neoformans, Candida albicans e Aspergillus fumigatus (NICOLA, et al., 2012; KYRMIZI, et al., 2013). Portanto, é importante a realização de estudos que elucidem o processo de imunidade de indivíduos que são capazes de conter o patógeno, para eventualmente encontrar medidas para a prevenção e terapia da PCM. 11 2 2.1 REVISÃO DE LITERATURA PARACOCCIDIOIDES spp O P. brasiliensis e o P. lutzii são fungos patogênicos humanos e causadores de uma micose sistêmica, a paracoccidioidomicose (PCM). Estes são considerados fungos termo-dimórficos, pois apresentam duas formas de vida: levedura, à 37oC, e filamentoso, em temperatura ambiente (25oC) (SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006; THEODORO, et al., 2012). Macroscopicamente, as colônias in vitro de leveduras apresentam uma coloração creme, são onduladas e com dobras e reentrâncias, conferindo um aspecto cerebriforme (Figura 1). Já as colônias filamentosas aderem-se ao meio de cultura e na parte superior, formando o micélio aéreo, possuem coloração branca (Figura 2) (BRUMMER, et al., 1993). Figura 1: Colônia de levedura do P. brasiliensis. 12 Figura 2: Colônia de micélio do P. brasiliensis. Fonte: LACAZ, et al., 1999. Microscopicamente, pode ser observado, nas colônias de levedura, brotamentos únicos ou múltiplos quando estão em processo de reprodução, que acabam formando figuras microscópicas sugestivas e reconhecidas como “roda de leme” (Figura 3) e “Mickey Mouse” (Figura 4). (SIDRIM, ROCHA, 2004; BRUMMER, et al., 1993) Figura 3: Levedura do P. brasiliensis em forma de "roda de leme". Fonte: http://ongdoencas.blogspot.com.br/2011/09/blastomicose-sul-americana-ou.html 13 Figura 4: Levedura do P. brasiliensis em forma de "Mickey Mouse". Fonte: http://quizlet.com/43550374/bcc-_-parasitology-_-test-04-flash-cards/ 2.2 PARACOCCIDIOIDOMICOSE A infecção de um indivíduo por Paracoccidioides spp ocorre pela via inalatória. Esta contaminação ocorre pelo fato do fungo provavelmente viver no solo na forma de micélio produtor de conídios. Quando há uma movimentação neste solo, os conídios ficam suspensos no ar e podem ser inalados. O microrganismo se instala no pulmão e, com a temperatura corporal (37oC), adquire a forma de levedura, caracterizada como forma causadora da doença. O mesmo pode se disseminar por via linfática e hematogênica para outros órgãos do corpo humano, dependendo da virulência do fungo, quantidade do inóculo e da patogenicidade (WANKE, AIDÊ, 2009). O microrganismo, após se estabelecer no corpo humano, pode permanecer em estado latente, porém viável e ao longo de algum tempo, a infecção pode progredir e assim iniciam-se as manifestações clínicas. Em indivíduos saudáveis, ou seja, com resposta imunológica satisfatória, a infecção pode ser contida e resultando numa resolução (WANKE, AIDÊ, 2009). 14 2.2.1 Epidemiologia A PCM foi descrita por Lutz em 1908 e teve seu primeiro caso relatado em criança por Montenegro em 1911. É uma das micoses mais importantes e endêmicas da América Latina (PEREIRA, et al., 2004). Os países que apresentam a maior incidência da micose são Colômbia, Argentina, Venezuela e Brasil, sendo esse último o país que tem o maior número de casos registrados e sua maioria nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Figura 5) (WANKE, AIDÊ, 2009; PALMEIRO, et al.,2005). Figura 5: Distribuição da paracoccidioidomicose na América Latina. Fonte: SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006. A incidência anual da doença é por volta de três casos a cada cem mil habitantes. Entre os anos de 1980 e 1995, foram registrados 3.181 casos de óbitos, uma taxa de mortalidade de 1,45 por milhão de habitantes por ano, se posicionando como a oitava causa de mortalidade por doença infecciosa e parasitária crônica no Brasil, segundo Ministério da Saúde (Figura 6) (SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006; COUTINHO, et al., 2002). 15 Figura 6: Mortalidade da paracoccidioidomicose no Brasil. Fonte: COUTINHO, et al., 2002. Dentre as faixas etárias em que a doença é mais comum, há um predomínio em pessoas entre 30 e 60 anos de idade, caracterizada pela forma crônica, observando-se uma razão de 13 homens para 1 mulher, podendo sofrer uma variação nesta proporção. Uma explicação para este fato é que o estrogênio seria um fator protetor das mulheres, inibindo a transformação do fungo de conídios para levedura (BRUMMER, et al., 1993, ARISTIZABAL, et al., 1998; RESTREPO, et al., 1984). 2.2.2 Imunologia No mecanismo da resposta imunológica inata, ocorre a ativação das proteínas do sistema complemento por via alternativa. As células natural-killer (NK), macrófagos, neutrófilos e monócitos, que são células da resposta inata, são importantes na resistência contra o P. brasiliensis. Já na resposta adaptativa, que 16 atua no desenvolvimento de memória imunológica baseada na ligação antígenoanticorpo, o fungo induz as células por meio de citocinas que foram produzidas pelas células durante a interação com fagócitos (FORTES, et al., 2011; SILVA, 2013). Experimentos e estudos clínicos comprovaram que, na resposta imunológica assintomática da PCM, a resposta que é gerada tem uma polarização para resposta do tipo T-helper 1 (Th1), já na doença nas formas mais graves, é Th2 (PINZAN, et al., 2010). Na resposta imunológica Th1 há indução na produção de interferon-γ (IFN-γ), que regula a autofagia e na Th2 de interleucina-4 (IL-4) e IL-13, que inibem a autofagia em macrófagos. Outra resposta encontrada no sistema imunológico, é a Th17, fonte de IL-22, inicia a resposta imune inata, e IL-17, principal mediador de inflamação e uma citocina fundamental na defesa do hospedeiro contra fungos extracelulares (NASCIMENTO, 2012; XU, et al., 2010; TAKATORI, et al., 2008). Recentemente pode ser observado que a resposta Th17 está associada não só com doenças autoimunes e doenças inflamatórias crônicas, mas também em doenças infecciosas (NASCIMENTO, 2012). Estudos experimentais e em pacientes que apresentavam PCM, demonstraram que as citocinas TNF-α e IFN-γ possuem um efeito sinérgico importante para a resistência do hospedeiro e uma atividade fungicida contra o P. brasiliensis eficaz (FORTES, et al., 2011). 2.2.3 Manifestações clínicas A PCM pode ser classificada de duas formas: Paracoccidioidomicose infecção e Paracoccidioidomicose doença. A PCM infecção pode ser assintomática e apresentar uma regressão espontânea, deixando apenas a hipersensibilidade tardia e anticorpos transitórios como indícios da infecção. A PCM doença ocorre uma vez que a capacidade imunológica insuficiente ou retardada do indivíduo permite a proliferação e disseminação do fungo para outros órgãos, assim manifestando a doença. (SIDRIM, ROCHA, 2004) As formas da PCM doença são divididas em: aguda/subaguda, crônica e sequelar (SIDRIM, ROCHA, 2004). 17 A forma aguda/subaguda acomete crianças, adolescentes e adultos até 30-35 anos e representa de 3 a 5% dos casos da PCM, sendo a distribuição em crianças entre os gêneros masculino e feminino semelhante nesta forma da doença. Esta apresenta um desenvolvimento mais rápido, o paciente procura um médico entre 4 a 12 semanas após a infecção e os sintomas mais comuns são: hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia, febre, lesões ósteo-articulares e cutâneas (Figuras 7 e 8) (SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006; WANKE, AIDÊ, 2009). Figura 7: Imagens de crianças com a forma aguda/subaguda da paracoccidioidomicose. A – abscessos em regiões frontal e clavicular, originados do acometimento ósteo-clavicular. B – acometimento linfático abscedado. C – linfonodomegalia inguinal. D – acometimento linfático abdominal com ascite e hepatoesplenomegalia. Fonte: SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006. 18 Figura 8: Jovens e adultos apresentando a forma aguda/subaguda da paracoccidioidomicose. A – presença de massas ganglionares em região supraclavicular, cervical e submandibular. B – linfonodomegalia. C – lesões ulceradas em face de aspecto verruciforme. D- lesões de aspecto pápulo-nodular e ulceradas. Fonte: SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006. A forma crônica corresponde a aproximadamente 90% dos casos e acomete principalmente adultos do sexo masculino com mais de 30 anos de idade. A doença age de forma silenciosa, pois progride lentamente, podendo levar anos até ser diagnosticada. Nesta forma, há o comprometimento pulmonar, resultando em sintomas e sinais como: tosse produtiva, lesões mucocutâneas, disfagia, rouquidão e perda de peso (Figuras 9 e 10) (SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006; Brasil. Ministério da Saúde, 2009). 19 Figura 9: Cacterísticas clínicas da forma crônica da paracoccidioidomicose. A – lesões cutâneas na face e lesões papulosas e ulcero-crostosas. B – acometimento peri-oral e mentoniano. C – linfonodos cervicais e submandibulares fisturizados. D – lesões com bordas irregulares na região peri-anal. Fonte: SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006. Figura 10: Imagens da paracoccidioidomicose. A – radiologia convencional mostrando imagem em “asa de borboleta”. B – opacidades nodulares e micronodulares difusas. C – tomografia de pulmão mostrando múltiplas cavitações. D – aumento bilateral de adrenais. E e F – envolvimento do sistema nervoso central, imagens de aspecto hipodenso e com realce de contraste em forma de anel. Fonte: SHIKANAI-YASUDA, et al., 2006. 20 A fase sequelar é classificada uma vez que a doença não está mais em atividade no momento da avaliação. Esta apresenta somente lesões fibróticascicatriciais e podendo ocorrer também a presença de calcificações (SIDRIM, ROCHA, 2004). 2.3 AUTOFAGIA Autofagia é um processo de reciclagem de material intracelular que ocorre em eucariotos, no qual o conteúdo (por exemplo, citoplasma ou organelas) é consumido e degradado pelo lisossomo. Tem sido caracterizada como uma resposta à privação de nutrientes e da homeostase (KUBALLA, et al., 2012). O processo ocorre mediante o isolamento do material intracelular formando uma vesícula de membrana dupla conhecida como autofagossomo, que envolve o material a ser reciclado. O mau funcionamento da autofagia pode elevar a susceptibilidade a infecções (MIZUSHIMA, 2007; KUBALLA, et al., 2012). Uma resposta imunológica a alguns patógenos intracelulares como bactérias, vírus e protozoários também faz parte do papel da autofagia (LEVINE, et al., 2011). No processo de autofagia estão envolvidas algumas proteínas citoplasmáticas que são responsáveis pela formação do autofagossomo. Algumas dessas proteínas são: Atg5, Atg16, Atg12, Atg8/LC3 (LC3 I), LC3 II (ZHAO, et al., 2008). A proteína Atg5 é responsável pela ação de dois sistemas de conjugação. O primeiro sistema gera um conjugado de Atg5 e Atg12 que são associados com o Atg16 e alongam a membrana dupla que irá isolar o material desejado. No segundo sistema, a parte terminal do Atg8/LC3 (LC3 I) é trocada por um fosfolipídeo, fosfatidiletanolamina, que por meio desta troca é gerado o LC3 II. O LC3 I consegue passar pela membrana dupla, diferente do LC3 II, que fica preso na membrana por ter a presença do fosfolipídeo. Por este motivo o LC3 II é conhecido como marcador de autofagossomo (Figura 11) (ZHAO, et al., 2008). 21 Figura 11: Processo de formação do autofagossomo. Esquema explicando alguns passos de como ocorre o processo de formação do autofagossomo com a presença das proteínas Atg5, Atg12, Atg16, Atg8/LC3 e LC3 II. A – Fagófago de membrana dupla. B – Conjugado de Atg5 e Atg12 associados com Atg16 para realizar o alongamento da membrana dupla. C – Troca da parte final do Atg8/LC3 1 por um fosfolipídeo, fosfatidiletanolamina, formando o LC3 II. D – Formação do autofagossomo e do autofagolisossomo. 2.3.1 Autofagia na imunidade A autofagia é um processo de reciclagem em células eucarióticas e vem demonstrando um papel na resposta imune na invasão microbiológica, como em vírus, bactérias, protozoários e fungos. Para ocorrer uma restrição do crescimento desses microrganismos, a autofagia atua enviando os patógenos para o lisossomo, no qual ocorre a degradação. Atua também fornecendo antígenos para o complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe I e II, que induzirá a resposta adaptativa (BIRMINGHAM, et al. 2007; SILVA, 2013). A resposta Th2 atua como um supressor da autofagia, no qual protege os microrganismos e elementos a serem eliminados pelo mecanismo. Na resposta Th1, 22 ocorre a indução e então a eliminação do material (DERETIC, et al., 2009; XU, et al., 2010). 23 3 3.1 METODOLOGIA CULTIVO DE P. BRASILIENSIS E P. LUTZII Foram utilizados para este trabalho três linhagens diferentes de fungo: Pb18, Pb265 e Pb01. O Pb18 é um isolado clínico de maior virulência de P. brasiliensis, e o Pb265 é considerado um isolado menos virulento desta mesma espécie. O Pb01 foi classificado recentemente como uma nova espécie P. lutzii. A forma de cultivo das três linhagens fúngicas foi realizada por meio de repique semanal, em tubos de ensaio de vidro com tampa, utilizando o meio Fava-Netto e incubação em estufas a 37oC. Foi utilizada a forma de levedura neste experimento. 3.2 CULTIVO DE MACRÓFAGOS A célula que foi utilizada no experimento é a RAW 264.7, uma linhagem imortalizada de macrófagos de camundongos. Cultivada em placas descartáveis e estéreis de cultura contendo o meio DMEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e antibióticos em estufa a 37oC com 5% de CO2. Essas células foram repicadas a cada três dias, de forma para obter células com uma melhor confluência (NICOLA, 2011). 3.3 INFECÇÃO IN VITRO DE MACRÓFAGOS COM P. BRASILIENSIS E P. LUTZII O experimento foi realizado em placas de 24 poços contendo lamínulas circulares estéreis de 12 mm de diâmetro. Após contagem em câmara de Neubauer, foi realizada uma suspensão contendo 2,5 x 105 células por mL em meio DMEM, e então adicionou-se as células RAW 264.7 nos poços. Foram incubadas por 24h para aderência. As linhagens de P. brasiliensis e P. lutzii em forma de levedura foram coletadas de repiques de cinco dias e contadas em câmara de Neubauer da mesma forma que as células, feita uma suspensão de 2,5 x 105 células por mL em meio 24 DMEM, e inoculadas nos poços que continha os macrófagos. Sendo assim, a proporção de fungo e macrófagos foi de 1:1. A placa foi incubada por mais 24h a 37oC em estufa com 5% de CO2 para permitir a infecção dos macrófagos (NICOLA, 2011). 3.4 IMUNOLOCALIZAÇÃO DE LC3 EM MACRÓFAGOS INFECTADOS Após o período de incubação, as células foram fixadas com metanol gelado por 10 minutos e lavadas com solução PBS. Simultaneamente preparou-se a solução do anticorpo primário (IgG policlonal de coelho contra LC3 humana) em diluição de 1:1000 e anticorpo secundário (IgG de cabra anti-IgG de coelho) em diluição de 1:2000. Cada incubação teve um tempo de 1h e logo após as lamínulas foram montadas em lâminas contendo uma gota do meio de montagem Prolong Gold e guardadas na geladeira e ao abrigo da luz para total secagem (NICOLA, 2011). 3.5 CONTROLES Foram utilizados três controles neste projeto. • Células RAW264.7 não infectadas e não coradas: controle de autofluorescência. • Células RAW264.7 não infectadas e coradas: controle negativo da infecção e controle positivo da coloração. • Células RAW264.7 infectadas com Cryptococcus neoformans e coradas: controle positivo, pois já se sabe que este fungo encontra-se em um autofagossomo em macrófagos (NICOLA, 2011). 25 3.6 PROCESSAMENTO DE IMAGENS As imagens foram observadas por microscopia de Epifluorescência no equipamento Zeiss Axio Observer Z1 (Zeiss, Alemanha) equipado com objetiva de 63x NA 1.4. As imagens coletadas foram processadas utilizando algoritmo de deconvolução iterativa com o software ZEN, que está equipado ao microscópio. As fatias das imagens processadas por deconvolução foram reconstituídas tridimensionalmente por projeção-Z no software ImageJ. 26 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante este trabalho foram realizados experimentos com imunofluorescência para observar se existe a presença de LC3 em volta de macrófagos murinos infectados com fungos do gênero Paracoccidioides spp, de modo que possa auxiliar no entendimento da interação da autofagia com estes microrganismos. Os resultados obtidos com dois isolados de P. brasiliensis e um de P. lutzii foram bem satisfatórios, juntamente com os três controles diferentes utilizados. Pode-se observar na Figura 12 que todos os controles, negativos e positivos, funcionaram adequadamente. No controle positivo, em que foi utilizado o microorganismo C. neoformans por já se saber que existe a presença do autofagossomo ao redor dessas células, a autofagia e a marcação do LC3 II funcionaram como o esperado, assim como no controle não corado (negativo), no qual não foi notada nenhuma presença de autofluorescência. 27 Figura 12: Controles da imunolocalização de LC3 (verde) em células RAW264.7. A - controle de autofluorescência (células não coradas e não infectadas). B - controle negativo da infecção e positivo da coloração (células coradas e não infectadas). C – controle positivo para a formação de LC3 II (autofagossomo) em células infectadas com C. neoformans. A barra de escala equivale a 5 µm. No experimento, foi localizado ao redor dos três isolados de fungos do gênero Paracoccidioides ssp fagocitados por macrófagos o marcador de autofagossomo LC3 II (forma ativada) juntamente com a presença de LC3 I dentro do citoplasma das células, conforme mostrado na Figura 13. Estes resultados sugerem que a autofagia de fato parece ter um papel na resposta a P. brasiliensis e P. lutzii, de maneira semelhante ao observado com C. neoformans e C. albicans A. fumigatus anteriormente em outros experimentos (NICOLA, et al., 2012; KYRMIZI, et al., 2013). 28 Figura 13: Experimento de imunolocalização com células RAW264.7 infectadas. A e B – células infectadas com isolados de P. brasiliensis, Pb18 e Pb265 respectivamente. C- células infectadas com isolado de P. lutzii, Pb01. A barra de escala equivale a 5 µm. 29 5 CONCLUSÃO A autofagia é um mecanismo fisiológico das células eucarióticas responsável pela obtenção de energia através da ‘’reciclagem’’ de materiais celulares, tendo também um papel de destaque na imunidade contra patógenos intracelulares (KUBALLA, et al., 2012). A imunolocalização de LC3 na membrana do autofagossomo durante a infecção de macrófagos RAW 246.7 por fungos do gênero Paracoccidioides ssp, demonstra que a autofagia é um mecanismo utilizado pelo fungo no processo de internalização celular. Dessa forma, este trabalho contribui para o melhor entendimento da interação patógeno-hospedeiro e encorajam uma investigação mais aprofundada, assim como, propicia o desenvolvimento de novas formas diagnósticas e terapêuticas para indivíduos portadores da paracoccidioidomicose. 30 6 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ARISTIZABAL, B. H. et al. Morphological transition of Paracoccidioides brasiliensis conidia to yeast cells: in vivo inhibition in females. Infect. Immun. v. 66, n. 11, p. 5587-5591, 1998. BIRMINGHAM, C. L. et. Al. Listeria monocytogens evades killing by autophagy during colonization of host cells. Autophagy. v. 3, n. 5, p. 442-451, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 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