Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP . CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected] EDIÇÃO 1146 – Ano 28; 1ª semana maio 2013.. Singapura, meu amor! JOSÉ MARTINS. Como um modelo econométrico da economia vulgar faz o milagre de transformar uma Cidade-estado e entreposto comercial totalmente improdutivo na indústria mais moderna e competitiva do mundo. Frente à divisão internacional do trabalho especificamente capitalista, que se torna mais clara nestes anos 2010, o objetivo da economia vulgar é convencer o distinto público que as economias emergentes se aproximam velozmente das desenvolvidas. A economia chinesa já não é a segunda do mundo? E a brasileira já não é (ou está próxima de ser) a 5ª do mundo? Um mundo melhor é possível! Essa estripulia ideológica aparece, por exemplo, no relatório de 2011 da Unido sobre a produção mundial de manufaturas, que estamos a utilizar em nossos recentes boletins. Seus economistas construíram o chamado Competitive Industrial Performance (CIP). E explicam: “ A Unido desenvolveu o índice de Desempenho Competitivo Industrial (CIP) para classificar o desempenho industrial das economias. O índice avalia o desempenho industrial usando indicadores de performance de uma economia produzir e exportar bens manufaturados competitivamente. O índice CIP compreende oito indicadores classificados em seis dimensões: ● Capacidade industrial, medida pelo MVA (Manufacturing Value Added) per capita ●Capacidade de exportação de manufaturas, medida pelas exportações de manufaturas per capita ●Impacto no MVA mundial, medido pela participação da economia no MVA mundial ●Impacto no comércio mundial de manufaturas, medido pela participação da economia nas exportações mundiais de manufaturas ●Intensidade da industrialização, medida pela participação da manufatura no PIB e pelas atividades de média e alta tecnologia na produção de manufaturas ●Qualidade de exportação, medida pela participação das exportações de manufaturas nas exportações totais da economia e dos produtos de média e alta tecnologia nas exportações de manufaturas.”1 Na forma como é apresentado, o modelo parece bastante consistente para detectar e classificar a capacidade industrial e exportadora das economias. Mas só na forma. Os problemas aparecem quando seus autores o aplicam no mundo real. O problema, por exemplo, do padrão de aferição de cada um dos grandes indicadores listados acima, aparentemente técnico, é essencialmente político. 1 United Nations Industrial Development Organization (UNIDO), “Industrial Development Report 2011”, pgs 163/164. 1 Quer dizer, dependendo de como a produção industrial e o comércio externo se organiza nas economias depois das metamorfoses recentes (últimos trinta anos) do mercado mundial, a apuração das variáveis nos antigos parâmetros da contabilidade nacional mostra resultados claramente distorcidos. É o que aparece, logo na primeira linha da tabela com o ranking das mais produtivas e competitivas indústrias do mundo (pg. 165/166). A líder disparada é a economia de Singapura! Em 2º lugar os EUA, o Japão em 3º, a Alemanha em 4º, etc. Assim, o elegante modelo dos economistas da Unido resulta na excrecência estatística de apresentar essa Cidade-estado e entreposto comercial totalmente improdutivo como a indústria mais competitiva e moderna do mundo.2 Em Singapura não existe terra (agricultura 0% do PIB), mas consegue o milagre, não notado pelos economistas, de produzir manufaturas no valor de US$ 55 bilhões (20% do PIB) e exportá-las no montante de US$ 408 bilhões no mesmo ano. Como explicar a natureza do desenvolvimento de uma economia que produz 100 e exporta 150? Essa contabilidade nacional, pelo próprio absurdo dos seus números, não consegue mais aferir quanto da produção e das exportações nacionais foi gerado fora ou dentro da própria economia nacional. Repetindo, o modelo dos economistas da Unido não leva em conta essas distorções entre a antiga forma de medição das grandes variáveis econômicas nacionais, que funcionava bem até os anos 1960, e as novas circunstâncias em que essas variáveis são geradas atualmente no mercado mundial. O motivo? Esses economistas são tecnicamente muito competentes, entretanto devem fazer modelos que não levam em conta as reais metamorfoses da organização da produção global de valor, de mais-valia e, finalmente, do comércio internacional. Mas não são exatamente essas metamorfoses que devem ser esclarecidas? Se elas revelam uma significativa elevação da dominação e exploração das antigas potências imperialistas sobre as economias “emergentes”, isso não deveria ser motivo para escondê-las. Mas como exigir dos economistas do imperialismo a demonstração para as massas que até o Estado do bem-estar na Eurozona, Japão e EUA, está sucumbindo às ondas turbulentas dessas metamorfoses do capital global e que os pobres da periferia não devem, portanto, contar com a mais minúscula possibilidade de que um mundo melhor é possível? Nossa investigação avança. Estamos mais próximos das raízes da doença. Aparece uma Singapura bem maior e bem mais estratégica. Tudo isso no próximo boletim. 2 Singapura é um amontoado de pequenas ilhas ( 687 Km quadrados de área total, pouco maior que a Ilha do Governador, RJ) localizadas na ponta sul da Malásia. População de 5 milhões de habitantes, pouco mais que a população da zona leste do município de São Paulo. Contabilidade nacional de Singapura: Produto Interno Bruto (PIB) US$ 276 bilhões; Exportações US$ 408 bilhões; Importações US$ 380 bilhões PIB por setores: Agricultura 0,1%; Indústria 19,6%; Serviços 80,3%. 2 Para receber semanalmente em seu email análises econômicas como esta que você acabou de ler, assine e divulgue o boletim CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação Popular, S.Paulo. Em 2013, estamos completando 27 ANOS DE VIDA. Vinte e sete anos informando e educando a classe trabalhadora! ASSINE AGORA A CRÍTICA Ligue agora para (11) 9235 7060 ou (48) 96409331 ou escreva um e-mail para [email protected] e saiba as condições para a assinatura! 3