06/05/2013 21:05:00 O PROBLEMA ESTÁ DO LADO DA PRODUÇÃO Orlando Caliman Num olhar mais “rasteiro sobre a economia brasileira vamos perceber que do ponto de vista de demanda – ou seja, do lado de quem compra -, à exceção do que acontece com os investimentos que tem apresentado um desempenho aquém do desejado, mas, principalmente no que se refere ao humor da população em geral, não há muita coisa a reclamar. Nem mesmo o baixo crescimento do PIB é visto, ainda, é bom ressaltar, como problema, para esse público. Afinal, com salários em alta, e em muitos casos superando a inflação, baixo desemprego e transferências de renda sendo ampliadas e corrigidas, não é de se esperar reclamações. A inflação, essa sim, já está no radar das preocupações dos consumidores. Numa avaliação bem simples, estamos diante de uma situação um tanto quanto inusitada, para não dizer paradoxal, onde aparecem simultaneamente juros em queda, crédito em expansão, baixo crescimento do PIB, inflação pressionada para cima, baixo desemprego, salários em alta, produtividade em baixa e outras coisas mais, teoricamente de difícil explicação. E a principal, e sem dúvida, a única pergunta a se fazer é: por que a economia brasileira não cresce? Ou ainda, por que parou de crescer? Seria ainda por conta da crise externa, ou por razões internas? A impressão que fica é a de que o fraco crescimento do PIB ainda não atingiu o bolso do cidadão. O que não é de todo ruim, a se levar em conta que dessa forma, pelo menos do lado da demanda efetiva, o consumo vem funcionando como “tábua de salvação” do próprio baixo desempenho da economia. No entanto, não se pode confiar “ad infinitum” no componente consumo como estratégia de saída da inércia da economia ou também como fonte capaz de ativar o componente investimento, esse sim, considerado único fator que proporcionaria sustentabilidade num processo de retomada mais segura do crescimento. O jornal Valor, na sua edição da última quinta feira – 02 de maio – publicou um caderno especial sobre os rumos da economia brasileira, onde aparecem entrevistas e artigos de dez renomados economistas, 06/05/2013 21:05:00 exatamente objetivando encontrar respostas e também possíveis saídas desse “imbróglio” no qual está metida a nossa economia. E o consenso a que chegaram é de que a economia brasileira passa por momento de turbulência, de instabilidade, de incertezas e até de fraquezas de natureza institucional. Características que devem ser vistas como estruturais, portanto, de maior grau de dificuldade de serem trabalhadas. Fixo atenção maior nas respostas dadas por aqueles economistas com os quais me considera mais alinhado. Começo pelo excelente artigo de Marcos Lisboa, que aborda o que deve ser considerado como crucial para uma país que deseja alçar patamares mais elevados de desenvolvimento: o componente institucional. Na avaliação de Lisboa “o país apresenta indícios de deterioração institucional”. O que isso significa? Na verdade, o crescimento econômico, e consequentemente também o desenvolvimento econômico não acontece desconectados de uma eficiente estrutura institucional. Por instituições entende-se todo o aparato legal, normativo, burocrático, jurídico, de regulação de mercados, como o do mercado de trabalho, de capitais, de crédito etc. Em suma, é tudo que faz com o ambiente geral apresente-se favorável ao desenvolvimento dos negócios e da sociedade. É a dimensão que agrega confiança e segurança ao ambiente. Para Lisboa, o Brasil pode aumentar a produtividade geral da sua economia melhorando o seu aparato institucional, que hoje, funcionam mais como entrave e fonte de custos para as atividades produtivas. Reformas institucionais, portanto, podem destravar investimentos privados e públicos, principalmente em infraestrutura, nosso grande gargalo. É possível captar das análises feitas pelos economistas um certo consenso de que existe um problema do lado da oferta, isto é, do lado da produção. E nesse aspecto, aparecem como mais convergentes as análises de Edmar Bacha e Luiz Carlos Mendonça de Barros. E a atenção principal dos dois vai para a indústria, que vem perdendo competitividade de forma acentuada. Bacha chega a propor uma saída ousada para o setor industrial, algo como um Plano Real para o setor industrial. Mas, Pior mesmo seria se o diagnóstico de consenso apontasse para 06/05/2013 21:05:00 um problema típico de demanda efetiva – falta de compradores -. O fato de estar do lado da oferta tem a vantagem das soluções estarem mais próximas do alcance das decisões e intervenções internas. No entanto, não deixa de ser um grande desafio.