Discurso de posse O Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) tem muitas responsabilidades junto à sua categoria profissional e também muitas responsabilidades junto à sociedade brasileira como um todo. Tem as suas funções legais, de fiscalização e registro, que são funções constitucionais determinadas a esta autarquia federal por legislação específica. Tem as suas funções políticas, de desenvolver e acompanhar com um olhar crítico os diferentes campos da política, sobretudo das políticas econômicas implementadas no Brasil e no Estado de Minas Gerais. E tem também suas funções sociais, trabalhando junto à categoria profissional dos economistas para não afastarmos da responsabilidade da construção de uma sociedade brasileira democrática, ética e socialmente justa. Recentemente, a Receita Federal divulgou cálculo de que 27 milhões de brasileiros tiveram renda suficiente em 2014 para fazer Declaração de Imposto de Renda. Não estou me referindo ao pagamento de Imposto de Renda e sim capacidade de renda para apenas Declaração. O que me chama a atenção é o fato que, em 2014, estavam aptos a votar nas eleições de outubro 136 milhões de brasileiros. Quer dizer que fomos pródigos na expansão da democracia política, mas, hipocritamente, insistimos em ser excludentes na democracia econômica. Chamamos os brasileiros para participar da Festa Eleitoral. Mas, na hora do Banquete da Economia, convidamos só as elites. E o que mais me espanta é que, quando o país timidamente realiza pequenas modificações na distribuição de renda através dos programas sociais, vem à tona como um vulcão incandescente toda ordem de preconceito aos pobres e ódio de classe. Basta acompanharmos a internet e as outras mídias. Ainda no ano de 2014, tivemos uma notícia que seria motivo de orgulho para qualquer país do mundo: apesar de termos ainda 7 milhões de pessoas com alimentação insuficiente, segundo a FAO, o Brasil saiu do Mapa da Fome. A imprensa fez pouquíssima referência sobre isso. Mas nessa semana, em função da seca prolongada, a mesma imprensa dava grande destaque, lastimando o fato de que o Brasil vai exportar menos alimentos. Nesta lógica, tem-se a impressão que exportar alimentos tem mais significado social do que produzi-los para nossas populações. Não é por acaso que o Corecon-MG trouxe para IV Encontro de Economistas do Sudeste (Enesud) o tema de uma nova reflexão sobre o ensino da Economia. Naquele mês de dezembro de 2014, estiveram aqui neste mesmo auditório economistas e estudantes de várias regiões do país discutindo aa necessidade dos currículos de Ciências Econômicas serem mais permeáveis ao dinamismo histórico da sociedade brasileira, tanto do ponto de vista das dificuldades endógenas quanto dos desafios de nossa inserção internacional. Neste ano de 2015, o Conselho Regional de Economia de Minas Gerais completa 50 anos de existência. Há muito que comemorarmos. Mas ainda há um longo caminho que devemos percorrer. A legislação que regulamenta a nossa profissão data de 1951. Obviamente o Brasil e o Mundo mudaram de forma expressiva. Estamos em uma luta conjunta ao Conselho Federal de Economia, acompanhando um Projeto de Lei que hoje se encontra no Senado Federal, cujo conteúdo moderniza e beneficia a empregabilidade dos profissionais de Economia. O Corecon-MG, dentre as comemorações de seus 50 anos, pretende realizar no segundo semestre deste ano, um conjunto de diálogos/debates com as diferentes áreas das Ciências Sociais e Exatas que nos fazem interface na construção da nossa própria Ciência. Pretendemos convidar a Ciência Política, a História, o Direito, a Psicologia e os profissionais dos Métodos Quantitativos. Desejamos trazer para o debate a necessidade de diversificação da economia brasileira e particularmente da economia mineira que sofreu tanto com o processo de desindustrialização e especialização na exportação de commodities. Neste ponto, queremos chamar a atenção do Estado Brasileiro e também do empresariado para o novo papel que a Economia Criativa já começa a ocupar no mundo. Os modelos tradicionais de produção e reprodução de bens e serviços dão lugar ao trabalho criativo cuja importância econômica e social se fundem. Essa ainda é uma proposta aberta que será amplamente discutida com a comunidade acadêmica e os profissionais de mercado. Esperamos com isso contribuir para o arejamento e a ampliação da capacidade de diálogo do profissional de Economia com a sociedade brasileira. E terminando, quero aproveitar minhas palavras finais para fazer um apelo ao bom senso, sobretudo ao bom senso dos mais jovens. Como já estou me aproximando dos sessenta anos de idade, com alguma experiência acumulada, vejo com muita preocupação argumentos equivocados de grupos radicais com discurso neofacista camuflado de falsa linguagem liberal, com pouco apreço pela preservação da democracia brasileira. Nós que vivemos os anos de chumbo, da censura e da tortura, das prisões arbitrárias e dos assassinatos por opinião, e sobretudo da corrupção escondida, impedida de ser exposta nos jornais, jamais poderemos apoiar o retorno da ditadura no Brasil. Fiquem atentos: a quem interessa calar a maioria? Muito obrigado, Antônio de Pádua Ubirajara e Silva Presidente do Corecon-MG Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 2015. Conselho Regional de Economia de Minas Gerais – 10ª Reg. – MG Rua Paraíba, 777 – Funcionários – CEP 30.130-140 – Belo Horizonte – MG Tel: (31) 3261-5806 – Fax: (31) 3261-8127 – www.portaldoeconomista.org.br - [email protected]