A Expansão capitalista do fim do século XVIII e 1ª metade do XIX: a Inglaterra Amaury Gremaud HEG Século XIX: grandes movimentos Expansão da economia britânica com base na estrutura tecnológica lançada na virada do XVIII – XIX (1ª Revolução Industrial) 1. Inglaterra procura se expandir economicamente tanto interna como externamente Manter seu predomínio internacional Outros países: procuram fazer catch – up 2. Tirar o atraso e promover desenvolvimento econômico e tecnológico Alemanha, EUA – os mais observados Revolução Industrial: Por que na Inglaterra no final do XVIII / início do XIX ? Indústria têxtil inglesa XVIII 1760 – importa 2,5 milhões de libras de algodão utilizados em trabalhos manuais em casa 1787 – importa 22 milhões de libras de algodão, fibras são lavadas, cardadas e enroladas em máquinas (algumas movidas a mão, outras a água) 1815 – importa 350 milhões de libras, utilizada em sistemas fabris; produtos 1/10 do preço e mais da metade da produção exportada Revolução industrial – mudanças importantes Empresarial Redistribuição dos investimentos Antes custos das manufaturas quase todos variáveis (mão de obra e matéria prima), agora grande parte custos fixos (máquinas) Revisão do conceito de risco - Antigo sistema flexível faz-se ajustes em fase de depressão e crescimento - prisioneiro do investimento Trabalhador Mudança no papel ocupacional Separação em relação aos meios de produção; torna-se operador Mudança no estilo de vida Trabalho em ritmo definido pela fábrica e sob vigilância dos supervisores Fábrica – prisão, relógio - carcereiro Inglaterra: Mercado interno (crescente) População não grande, mas crescente (ritmo maior que Europa) Aprimoramento das comunicações internas (estradas, vias fluviais), diminuição das barreiras alfandegárias e pedágios internos (mercantilismo) Renda média elevada e crescente Salários mais altos (?) (Tendência a inovação capital intensiva) Melhor distribuição de renda e mobilidade maior Tendência a ampliar consumo ? Menos consumo de bens de luxo, maior tendência a compra de bens mais sombrios e sólidos Consumo crescente e com padrão favorável a produtos duráveis, padronizados e baratos Inglaterra: Mercado externo GB possui uma sólida tradição marítima Investiu em garantir privilégios comercias e Império colonial Relação estreita entre diplomacia (interesses governamentais) e comércio externo Acesso a meios de transporte para atingir mercados distantes Holanda também possui comércio externo forte mas tem uma base produtiva interna (exportadora) menor GB capacidade de fabricar, com baixo custo, artigos em que a demanda é mais elástica Mercados da GB não são os sofisticados mercados da Europa (que possui inclusive restrições mercantilistas), mas mercados do Além-Mar: África, Ásia, América Denominador comum da demanda externa: mercado que quer produtos baratos (não é mercado de produtos caros, diferenciados e de qualidade) Reforço em relação à expansão do mercado interno (complementaridade) Revolução Industrial: Mercado externo x interno Revolução Industrial leva a um aumento da produção que só mercado interno não seria capaz de absorver sozinho (K. Berril) Avanço tecnológico requer tamanho mínimo de mercado mercado de um país só não suficiente Questão: exportações oscilaram no final do XVIII Dimensão e estabilidade do mercado interno (mais confiável) são fundamentais para a acumulação de capital (David Eversley); mas Variabilidade das exportações é estimulo à mudança Ondas de investimento e mudanças técnicas associados à ondas de expansão das exportações Surtos de demanda (externos) criam problemas em certas operações – aumento do poder do produtor Incentivo à transformação tecnológica Alterações nas condições de oferta Pressões de demanda existiram em outros lugares e tempos sem provocar a Revolução Industrial. Talvez maior na GB, especialmente em alguns setores É importante observar como na Inglaterra ocorreu: A invenção dos mecanismos poupadores de mão de obra A adoção destes mecanismos e sua difusão pela indústria As facilidades inglesas para a reação produtiva à demanda (1) Inglaterra tem nível de qualificação técnica superior e maior predisposição para “máquina” Aptidão inglesa difícil de provar e explicar Interessante é observar a dificuldade dos países continentais em utilizar e se adaptar as invenções bem difundidas na Inglaterra Talvez menor restrições nas corporações de artesãos e nos processos de aprendizagem; Maiores possibilidades de mobilidade social, com meritocracia mais considerada e menor restrição ao trabalho mecânico e destreza manual Fluxo de artesãos estrangeiros errático, mas durante longo tempo Inglaterra – Estrutura Social Nobreza – pequena e sem grandes privilégios Pequena aristocracia – possui terras e depende de sua exploração afirmam seu berço mas o sustentam com lucros Nobres e aristocratas: Com o direito da progenitura, é necessário dar solução à resto dos filhos: cargos públicos (crescem com Império), mas alguns acabam indo para grande comércio Supervisionam trabalhos nas terras, envolvidos com sua exploração e investimentos (minas, animais, plantações) e compartilham exploração com outros grupos Estas classes não são parasitas e não enxergam o comércio e a busca do excedente como algo desprezível e rejeitável – ao contrário sustentam a racionalidade econômica e a busca do lucro Abaixo da aristocracia existem menores “barreiras sociais” entre exploração da terra e outras atividades Diferente do continente, força da tradição é mais fraca: exclusividade ocupacional garantido por hábito ou lei não importante – incentivo a empreendimentos livre Empresas familiares (ou particulares) mais permeável a outros grupos com capital ou saberes diferentes As facilidades inglesas para a reação produtiva à demanda (2) Iniciativa comercial não cerceada por guildas ou regulamentações locais ou governamentais (diferente dos concorrentes) Desenvolvimento da Industria domiciliar rural com contratadores em geral sendo os comerciantes Reage à demanda adaptando a produção Presteza em abandonar velhos métodos em favor dos novos Redução dos custos em detrimento da solidez ou da aparência Opção por quantidade e preço em relação à qualidade (opção pelo lucro em detrimento do orgulho artesanal) Papel da agricultura - houve aumento de produtividade agrícola (alguns Revolução agrícola) Enclousures, investimento, fim terras sem cultivo, rotação culturas, seleção de rebanhos Problema: absorve recursos (necessário também capital) Mesmo que revolução industrial seja poupadora de mão de obra, produtividade da agricultura impede que haja grandes problemas com custo da mão de obra importância da acumulação prévia de capital e do baixo custo do crédito Inflação de preços e de lucros importante na Inglaterra Elevação dos preços drenando recursos consumidor para produtor ocorreu em outros lugares também (talvez mais na GB) Problema é como usar os lucros – onde reinvesti-los, muitos países imobilização e/ou ocupações mais honrosas, na Inglaterra, no comércio/indústria Sistema financeiro inglês – um dos mais desenvolvidos Ajuda a transferir recursos da agricultura para a industria (outros países diferentes: Japão imposto sobre propriedade) Importante para financiar avanço tecnológico (assume riscos) e talvez ainda mais para sustentar estoques em momento de depressão Questão: até onde são importantes investimentos em capital físico ou capital de giro nesta transformação (início investimentos não caros)? o Requisitos de capital não tão altos – em geral acessíveis a indivíduos o Problema maior é enfrentar risco e oscilações no mercado Mais importante fluxos de capital do que estoque ideia frequente hoje é que toda industrialização (desenvolvimento) tem custo alto e é necessário diminuir consumo e aumentar poupança para viabilizar investimentos explicação para GB no XVIII não parece corroborar esta tese Até onde este crescimento é de fato fruto de boas políticas do laissez faire ? Visão clássica Desde XVIII - - sucesso do laissez faire britânico (RI): comprova superioridade das políticas de livre mercado Com estas políticas GB passou a França intervencionista GB – arquiteto da nova ordem econômica mundial Nova ordem é liberal Outros países seguiram exemplo da GB Além de exemplo da GB; teóricos liberais ajudam a difundir vantagens do laissez faire Ordem liberal Políticas internas de laissez faire Não restrição a fluxos (nacionais e internacionais) de capital, mercadorias e pessoas Estabilidade econômica nacional e internacional Dada por Padrão Ouro e princípio do orçamento equilibrado Até onde este crescimento é de fato fruto de boas políticas do laissez faire ? Como países enriqueceram de fato ? “É um expediente muito comum e inteligente de quem chegou ao topo chutar a escada pela qual subiu a fim de impedir os outros de fazerem o mesmo . Não é outro o segredo da doutrina cosmopolita de Adam Smith e das tendências cosmopolitas de seu contemporâneo William Pitty” (1848) Friederich List “Qualquer nação que, valendo-se de taxas protecionistas e restrições à navegação , tiver levado a sua capacidade industrial e a sua navegação a um grau de desenvolvimento que impeça as outras de concorrerem livremente com ela não pode fazer coisa com ela mais sabia, do que chutar a escada pela qual ascendeu à grandeza, pregar os benefícios do livre comércio e declarar em tom penitente, que até recentemente vinha trilhando o caminho errado, mas acaba de descobrir a grande verdade” Friederich List (1789 – 1846) Economista alemão servidor público, em 1816 chega a sub-secretário ministerial. 1817 professor de administração e política na Universidade de Tübingen renuncia em 1819:por desentendimentos políticos deputado na câmara de Württemberg expulso da câmara em 1822, sentenciado a prisão, fugiu para percorrer a França e a Inglaterra e regressou em 1824 para terminar sentença, liberado ao prometer emigrar para os EUA, Viveu nos EUA de 1825 a 1832, inicialmente como agricultor, dedicando-se mais tarde ao jornalismo. Ficou rico com descobrimento de carvão em suas terras mas morreu pobre por problemas financeiros Defendeu a extensão do sistema ferroviário alemão inspirador da União Aduaneira dos Estados Alemães de 1834 (Zollverein) que é a base da unificação alemã. Pai do argumento da industria nascente Inspiração nos EUA: A. Hamilton Publica em 1841: “O sistema nacional de economia política” Inglaterra e a Revolução Industrial (de novo...) Tese de vários autores (Ha-Joon Chang) GB adota políticas liberais depois de ter feito diferença tecnológica História inglesa marcada por políticas de fomento à manufatura (indústria têxtil) que depois são esquecidas Em 1820 tarifas inglesas de importação atingem grande numero de produtos, são altas e com grande desvio padrão Efetivamente depois do fim das Corn Laws e dos acordos de 1860 pouco produtos tributados, alíquotas zeradas o Ressurgem no fim do XIX As intervenções britânicas antes do XIX (1) Tudor: Desenvolvimento da industria de produtos de lã Gradualista (secular) política de dificultar as exportações de lã bruta e mesmo de manufaturas inacabadas “Importação” de mão de obra especializada Controle fino produção de lã, desenvolvimento das manufaturas e troca das exportações de produto básico por produto com Valor adicionado Ampliação dos mercados Controle marítimos – acordos de navegação e Colônias Quebra de concorrentes:1700 proibição de colônias exportarem manufaturas de lã – destrói manufaturas irlandesas Proibição de se importar tecidos de algodão da Índia – impede avanço o Quando produção têxtil inglesa entra em cena (inicio do XIX) produção indu não enfrenta – (Índia vai importar 40% das exportações inglesas de tecidos de algodão) As intervenções britânicas antes do XIX (2) Século XVIII legislação de 1721: exemplo de política tributária que favorece setor produtivo nacional (mercantilista) Rebaixa tarifas de importação de matérias primas e congêneres e/ou introduz reembolso aduaneiro para tarifas de importação sobre matérias primas utilizados em bens exportados Forte elevação de impostos sobre importação de manufaturas (selecionadas) Redução das tarifas de exportação de manufaturas (especialmente se demanda elástica) e/ou introdução/ampliação de subsídios à exportação Fim do XVIII (durante Revolução Industrial) – sistema é ampliado Reduções tarifárias importantes só aparecem em meados do XIX Vantagens já estabelecidas e produtores manufatureiros confiantes: pressão por livre mercado Primeira de 1833, mais forte com a abolição das corn laws (havia subido em 1815) e outros produtos manufaturados em 1846; 1860: nova rodada de redução Fim da Corn law de 46: vitória da doutrina do laissez faire questões doutrinarias não pouco importante reduções afetam custo de produção inglesa (Matérias primas e wage goods) Alguns: “Imperialismo do livre comércio”: conter industrialização dos outros com livre comércio, financiar aquisição de bens Ampliar vantagens nos outros países de produção de agrícolas e matérias primas e desestimula avanço em manufaturas o Estabelecer sistema de troca GB: países conseguem recursos com vendas de matérias primas e alimentos para importar manufaturas (ferrovias) britânicas – divisão internacional do trabalho o Encarece alimentos e matérias primas para fornecedores – problemas de vantagem relativa de produção de bens manufaturados o Possibilita exportações de capitais ((pressão da city londrina) Crescimento do Comércio internacional inglês no XIX Crescimento das exportações de produtos manufatureiros Importância da marinha mercante inglesa (fretes e seguros na balança de serviços) Exportações inicialmente têxteis de algodão e metalurgia, mas toma outra dimensões com ferrovias Impacto das ferrovias – enorme em todas as dimensões Exportação de capital também ganha outras dimensões Complementaridade no BP B. Comercial negativa (crescente) com X e M crescendo, B. Serviços positiva (crescente) com fretes e juros crescendo BTC: positiva BK: negativa