54º Congresso Brasileiro de Genética Resumos do 54º Congresso Brasileiro de Genética • 16 a 19 de setembro de 2008 Bahia Othon Palace Hotel • Salvador • BA • Brasil www.sbg.org.br - ISBN 978-85-89109-06-2 Resgate de linhagens mitocondriais de grupos ameríndios extintos pela estratégia de “Garimpagem Homopátrica” Gonçalves, VF1; Parra, FC1; Gonçalves-Dornelas, H1; Rodrigues-Carvalho, C2; Silva, HP2; Pena, SDJ1 Departamento de Bioquímica e Imunologia, UFMG, Belo Horizonte, MG 2 Museu Nacional do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ [email protected] 1 Palavras-chave: DNA mitocondrial, diversidade humana, ameríndios A população ameríndia do Brasil sofreu uma drástica redução demográfica nos últimos 500 anos. Contudo, seus haplótipos mitocondriais foram assimilados e persistem na população brasileira atual, constituindo cerca de 30% do total. Esse reservatório de linhagens ameríndias torna a população brasileira uma rica fonte potencial de informação sobre nações ameríndias extintas, especialmente da costa leste do país. Nosso objetivo nesse estudo foi testar se, através do estudo de uma população rural atual que habita hoje a região onde historicamente viviam os índios Botocudos, poderíamos resgatar haplótipos mitocondriais desse grupo indígena. Denominamos esta estratégia de “Garimpagem Homopátrica”. Estudamos amostras de DNA de 174 indivíduos, sendo 74 matrilinhagens da população de Queixadinha e, como grupo controle, 100 indivíduos de outras cidades do nordeste de Minas Gerais. As linhagens ameríndias foram selecionadas por RFLP e hierarquicamente submetidas ao sequenciamento das regiões controle e mini-sequenciamento de SNPs da região codificadora do mtDNA para obtenção e confirmação dos haplótipos respectivamente. Em nossa análise, obtivemos 76 linhagens mitocondriais ameríndias, constituída por 42 haplótipos diferentes. As 20 linhagens de Queixadinha, compreendendo 13 haplótipos, apresentaram um excesso significativo do haplogrupo C1 (70%) e ausência do haplogrupo A, sendo este último o mais comum no grupo controle. Dentre os haplótipos encontrados em Queixadinha havia vários que não haviam sido previamente descritos, sugerindo uma origem a partir dos Botocudos. Entretanto, uma explicação alternativa era que as diferenças entre Queixadinha e o grupo controle eram devidas à deriva genética. Para decidir entre essas hipóteses, realizamos o estudo de linhagens mitocondriais de 10 dentes extraídos de crânios classificados como Botocudos da coleção do Museu Nacional. Apenas quatro haplótipos diferentes foram encontrados nos 10 dentes, dois dos quais (50%) apresentaram identidade com haplótipos observados em Queixadinha. Este compartilhamento de haplótipos entre a população de Queixadinha e os crânios do Museu Nacional valida a estratégia de Garimpagem Homopátrica, abrindo perspectivas de reconstituição de nossa história, especialmente em casos onde a análise direta de material genético não é possível. Apoio financeiro: CNPq, Fapemig. 1