BC0209–Fenômenos Eletromagnéticos Terceiro quadrimestre de 2013 Prof. José Kenichi Mizukoshi Aula 5 (versão 18/11/2013) Energia potencial elétrica Material Suplementar ■ Considere um sistema formado por duas cargas pontuais, q1 e q2 , por simplicidade localizadas sobre um plano. O trabalho realizado pela força elétrica F~12 , que atua na carga q2 , ao longo de um caminho C qualquer é dado por Z F~12 · d~ℓ Wa→b = F~12 q2 C d~ℓ q1 C ■ Em coordenadas polares, tomando a posição da carga q1 como a origem do referencial, temos que a força F~12 é dada por F~12 = 1 q1 q2 r̂ 4πε0 r2 ou seja, possui direção radial. Aula 5 2 / 25 Energia potencial elétrica Material Suplementar ■ Vamos escolher um caminho de a até b dividido em duas etapas: a → a′ , através de um trecho C1 tangente à direção radial (direção θ̂) e a′ → b, que é radial (direção r̂). O trabalho de a → b é b rb a′ q1 C1 C3 a C 2 b′ q2 ra = dr Wa→b 1 1 = q1 q2 2 4πε0 ra 1 = q1 q2 4πε0 Portanto, Wa→b Aula 5 Z rb ra Z θ a′ θa dr r2 ~ + r̂ · (ra dθ) | {z } = 0, pois r̂ ⊥ dθ~ 1 1 1 q1 q2 − = 4πε0 ra rb Z rb ra z }| { r̂ · d~r r2 3 / 25 Energia potencial elétrica Material Suplementar ■ O mesmo resultado é obtido se formos de a para b′ através do trecho C2 e de lá para o ponto b, através de um caminho na direção tangencial a ~r. ■ Qualquer caminho C pode ser dividido em trechos tangencial e paralelo à F~12 , dando o resultado acima. Logo, o trabalho da força elétrica não depende do caminho. Neste caso, é dito que a força é conservativa, e consequentemente existe uma função energia potencial, U (r), associada a ela. Por definição, ∆U = Ub − Ua = −Wa→b = − 1 1 1 q1 q2 − = 4πε0 rb ra Z b F~ · d~ℓ a ➢ Relembre que somente a variação da energia potencial possui significado fı́sico, ou seja, a função U (r) pode ser definida a menos de uma constante. Aula 5 4 / 25 Energia potencial elétrica Material Suplementar ■ Escolha de um ponto de referência. Em geral, toma-se Ua = 0 para ra → ∞ (quando q2 encontra-se no infinito). Neste caso, tomando b como um ponto qualquer, tal que rb = r é a distância entre as cargas, define-se a função energia potencial para o sistema com as cargas q1 e q2 como sendo 1 q1 q2 U (r) = 4πε0 r Aula 5 5 / 25 Energia potencial de um sistema de cargas Material Suplementar ■ Considere um sistema com cargas q1 , q2 e q3 , inicialmente localizadas no infinito. Temos que U = 0 para esta configuração. Para montar o sistema com as três cargas localizadas a distâncias finitas, temos os seguintes passos: ◆ Passo 1: trazer a carga q1 do infinito até a posição ~ r1 . Não há gasto de energia, portanto U1 = 0 ◆ Passo 2: trazer a carga q2 do infinito até a posição ~ r2 . A energia necessária para montar o sistema é dada por U2 = 1 q1 q2 4πε0 r12 onde r12 = |~r2 − ~r1 | é a distância entre as cargas. Aula 5 6 / 25 Energia potencial de um sistema de cargas Material Suplementar ◆ Passo 3: trazer a carga q3 do infinito até a posição ~ r3 . A energia necessária é dada por 1 q2 q1 U3 = q3 + 4πε0 r13 r23 onde ri3 = |~r3 − ~ri |, i = 1, 2 ■ A energia potencial do sistema é dada pela soma de todas as energias necessárias para montar o sistema: ⇒ Aula 5 U = U1 + U2 + U3 q1 q2 q1 q3 q2 q3 1 + + U= 4πε0 r12 r13 r23 configuração final q1 r12 r13 q2 r23 q3 7 / 25 Energia potencial de um sistema de cargas Material Suplementar ■ Para um sistema com N cargas pontuais, U= N X j=1 i<j 1 qi qj 4πε0 rij onde rij = |~rj − ~ri | é a distância entre a i-ésima carga e a j-ésima carga. A restrição i < j é para não contar em dobro as energias entre a i-ésima carga e a j-ésima carga. Aula 5 8 / 25 Potencial elétrico Material Suplementar ■ ■ Considere uma carga q na posição ~r1 . O campo elétrico gerado por essa carga na posição P é dado por ~ = 1 q rˆ10 ; r̂10 = ~r − ~r1 E 2 4πε0 r10 |~r − ~r1 | P ~r10 q ~ E ~r ~r1 O Uma carga de prova q0 no ponto P sente uma força (conservativa) dada por ~ F~ = q0 E ■ O trabalho da força F~ para deslocar a carga de prova de um ponto Pa para Pb é dado por Z WPa →Pb = F~ · d~ℓ = −∆U C ⇒ Aula 5 q0 Z ~ · d~ℓ = −∆U = −[U (rb ) − U (ra )] E C 9 / 25 Potencial elétrico Material Suplementar Segue que Z ■ b a ~ · d~ℓ = − ∆U ≡ −∆V = −[V (rb ) − V (ra )] E q0 V (r) é conhecido como potencial elétrico, que é a energia potencial por ~ mas não da carga de unidade de carga elétrica. Ele depende do campo E, prova q0 . J Unidades no SI: [V] = ≡ V = volt C ■ O potencial elétrico (ou a diferença de potencial) de uma carga q é dado por Z rb Z 1 1 ~ℓ ~ ~ r̂ · d E · dℓ = − V (rb ) − V (ra ) = − 4πε0 ra r2 | {z } C = r̂·d~ r = dr ⇒ Aula 5 1 1 1 V (rb ) − V (ra ) = q − 4πε0 rb ra 10 / 25 Potencial elétrico Material Suplementar ■ Similarmente à função energia potencial, a função potencial elétrico V (r) é definida a menos de uma constante. A escolha do nı́vel zero é arbitrária, porém é comum se tomar V (r) = 0 para r → ∞. Logo, 1 q V (r) = 4πε0 r Aula 5 11 / 25 Diferenças de potencial em um campo elétrico uniforme Material Suplementar ■ Considere uma região do espaço onde existe um campo elétrico uniforme na direção y. A diferença de potencial entre os pontos a e b é dada por ∆V = V (b) − V (a) = − Z b ya ~ · d~ℓ E yb a ~ = −E ̂ e d~ℓ = dy ̂, portanto Neste caso, E Z yb Edy = E (yb − ya ) = −Ed ∆V = V (yb )−V (ya ) = + | {z } ya = −d ■ Aula 5 Como a diferença de potencial ∆V é negativa, tem-se que V (yb ) < V (ya ). Em geral, as linhas do campo elétrico sempre apontam no sentido da diminuição do potencial elétrico. 12 / 25 Diferenças de potencial em um campo elétrico uniforme Material Suplementar ■ Suponha que uma carga de prova q0 se desloque do ponto ya para yb . A variação da sua energia potencial será ∆U = q0 ∆V = −q0 Ed ◆ Se q0 > 0 a variação da energia será negativa, enquanto que se q0 < 0, ela terá variação positiva. Aula 5 ■ Para o caso q0 > 0, podemos fazer uma analogia com o campo gravitacional, ~ por ~g e q0 por m. Quando um corpo de massa m cai de onde se substitui E uma altura d, a sua energia potencial gravitacional sofre uma mudança de −mgd. ■ Assim como no caso do campo gravitacional, a diferença de potencial elétrico ou a variação da energia potencial elétrica só depende dos valores da diferença entre ya e yb , que são pontos na direção do campo elétrico. 13 / 25 Diferenças de potencial em um campo elétrico uniforme – exemplo Material Suplementar Ex. 1 Uma bateria de 12 V é conectado entre duas placas paralelas, conforme mostra a figura ao lado. A distância entre as placas é de 0,30 cm e se pressupõe que o campo elétrico seja uniforme. (a) Qual a intensidade do campo elétrico entre as placas? (b) Se um elétron for liberado do repouso na placa B, qual a sua energia cinética assim que chega na placa A? Solução (a) Como se trata de um campo elétrico uniforme, tem-se que |∆V | = Ed, onde d é a distância entre as placas. Logo, |∆V | 12 V E= = d 0,30 × 10−2 m Aula 5 ⇒ E = 4,0 × 103 V/m 14 / 25 Diferenças de potencial em um campo elétrico uniforme – exemplo Material Suplementar (b) A variação na energia potencial do sistema elétron/campo é ∆U = UB − UA = (−e)(VB − VA ) = (−1,60 × 10−19 C)(12 V) Portanto, ∆U = −1,92 × 10−18 J ■ Como a energia total do sistema se conserva, ∆U + ∆K = 0, portanto ∆K = KB − KA = −∆U |{z} ⇒ KB = 1,92 × 10−18 J =0 Observação: se a diferença de potencial for de 1 V, temos que ∆K = −∆U = (e)(1 V) = 1,60 × 10−19 J Essa quantidade de energia define a unidade de elétron-Volt (eV): 1 eV = (e)(1 V) = 1,60 × 10−19 J Aula 5 15 / 25 Potencial de um sistema de cargas pontuais Material Suplementar ■ Conforme visto na aula 2, pág. 3, o campo elétrico num ponto P devido a um sistema com N cargas pontuais é dado por z q1 P ~r2 ~ r) = E ~1 + E ~2 + . . . + E ~N E(~ ~i = onde E ■ ~r y 1 qi ~r − ~ri . 2 r̂i0 e r̂i0 = |~ 4πε0 ri0 r − ~ri | x O ~rN qN Se todas as cargas da distribuição estiverem à uma distância finita do ponto P , podemos tomar o nı́vel zero (V = 0) quando ri → ∞. Com esta escolha, o potencial no ponto P é dado por V (~r) = − Aula 5 q2 ~r1 Z P ~ · d~ℓ E ∞ 16 / 25 Potencial de um sistema de cargas pontuais Material Suplementar ■ Temos que V (~r) = − Logo Z N P X ∞ i=1 ~ i · d~ℓ = − E Z P ∞ ~ 1 · d~ℓ + E Z P ~ 2 · d~ℓ + . . . + E ∞ Z P ∞ ~ N · d~ℓ E 1 q1 1 q2 1 qN V (~r) = + + ... + 4πε0 r10 4πε0 r20 4πε0 rN 0 N 1 X qi ∴ V (r) = 4πε0 ri0 i=1 onde ri0 é a distância da i-ésima carga até o ponto P . Aula 5 17 / 25 Potencial de um sistema de cargas pontuais –Material exemplo Suplementar Ex. 2 Obtenha o potencial de um dipolo elétrico num ponto distante. Considere que o dipolo elétrico seja formado pelas cargas +q e −q, separadas de uma distância d, localizadas sobre o eixo z. Solução O potencial elétrico do dipolo num ponto P é dado por 1 (−q) q V (r) = + 4πε0 r+ r− r+ P +q ■ r+ Aula 5 d cos θ 2 r r− θ θ′ d x −q Para r ≫ d, onde θ′ ≈ θ, temos que r θ y P d r ≈ r+ + cos θ 2 d ⇒ r+ ≈ r 1 − cos θ 2r 18 / 25 Aplicação: potencial de um dipolo elétrico num ponto distante Material Suplementar Analogamente, temos que r− ≈ r + d cos θ 2 ⇒ r− ≈ r 1 + d cos θ 2r d cos θ, temos Fazendo ǫ ≡ 2r 1 q 1 1 V ≈ − 4πε0 r 1 − ǫ 1 + ǫ 1 ■ Para x ≪ 1, a função f (x) ≡ pode ser expandida em uma série de 1±x Taylor em torno de x0 = 0: df (0) f (x) = f (0) + x + ··· dx Aula 5 19 / 25 Aplicação: potencial de um dipolo elétrico num ponto distante Material Suplementar Temos que f (0) = 1 ∓ df = dx (1 ± x)2 df (0) = ∓1 x ⇒ ⇒ f (x) = 1 ∓ x + O(x2 ) Logo, para ǫ ≪ 1, tem-se que = 2ǫ }| { 1 q z (1 + ǫ) − (1 − ǫ) V ≈ 4πε0 r Aula 5 ⇒ V ≈ 1 qd cos θ 2 4πε0 r 20 / 25 Material Suplementar Material Suplementar Obtenção da força a partir da energia potencial Material Suplementar ■ Temos que ∆U = − ■ Z F~ · d~ℓ ⇔ dU = −F~ · d~ℓ Em coordenadas cartesianas, ( F~ = Fx ı̂ + Fy ̂ + Fz k̂ d~ℓ = dx ı̂ + dy ̂ + dz k̂ ⇒ F~ · d~ℓ = Fx dx + Fy dy + Fz dz Por outro lado, como U = U (x, y, z) dU = ∂U ∂U ∂U dx + dy + dz ∂x ∂y ∂z Portanto, dU = −F~ · d~ℓ implica que ∂U ∂U ∂U dx + dy + dz = −(Fx dx + Fy dy + Fz dz) ∂x ∂y ∂z Aula 5 22 / 25 Obtenção da força a partir da energia potencial Material Suplementar Segue que ∂U Fx = − ∂x ∂U Fy = − ∂y Fz = − ∂U ∂z Aula 5 ∂U ∂U ∂U ~ ~ k̂ ı̂ + ̂ + ⇒ F = −∇U = − ∂x ∂y ∂z 23 / 25 Obtenção da força a partir da energia potencial – exemplo Material Suplementar Ex. 3 Encontre a força resultante sobre a carga q3 do Ex. 3 da Aula 1, pág. 15, a partir da energia potencial do sistema. Solução ■ q3 = q ′ r+ r− x Originalmente a carga q3 se encontra em x = 0 e y qualquer. Contudo, para se calcular a força sobre ela, vamos deslocá-la ligeiramente para a direita, tal que a sua posição seja dada por (x, y). A energia potencial do sistema é (veja pág. 7) q1 q2 q1 q3 q2 q3 1 + + U= 4πε0 2a r+ r− onde q1 = Aula 5 q2 = p r+ = y 2 + (a + x)2 e r− = p y 2 + (a − x)2 24 / 25 Obtenção da força a partir da energia potencial – exemplo Material Suplementar Como U = U (x, y), tem-se que ∂U ∂U ~ ı̂ + ̂ F3 = − ∂x ∂y 1 ∂ ∂ q1 q2 p q3 =− ı̂ + ̂ +p 2 2 4πε0 ∂x ∂y y + (a + x) y 2 + (a − x)2 2(a + x) ı̂ + 2y ̂ −2(a − x) ı̂ + 2y ̂ 1 ~ q3 q1 (−1/2) +q2 (−1/2) ⇒ F3 = − 3/2 2 2 4πε0 [(a + x) + y ] [(a − x)2 + y 2 ]3/2 ■ ■ Fazendo q1 = −q2 = q e q3 = q ′ , a força sobre q3 em x = 0 será ′a qq 1 ı̂ F~3 = 2πε0 (a2 + y 2 )3/2 que é o resultado obtido aplicando-se a lei de Coulomb diretamente. Aula 5 25 / 25