SERVIÇO SAÚDE SAÚDE As temidas doenças de inverno N em sempre os prazeres proporcionados com a chegada do inverno (um bom vinho quente, fondue, chá) suplantam os problemas causados pelas doenças respiratórias, freqüentes nessa estação, principalmente quando nos deparamos com sintomas indesejáveis como tosse, coriza, dores pelo corpo, espirros e outros. No inverno, as baixas temperaturas e o ar seco favorecem o aparecimento dessas doenças, e, por isso, os cuidados com a saúde devem ser redobrados. A incidência de gripes e resfriados aumenta, e agravam-se as manifestações de crises de asma (ou bronquite alérgica) e rinite. As crianças e os idosos são os mais atingidos, pois seus organismos possuem menor capacidade de resistência às doenças, e as complicações passam a ser mais freqüentes. Em São Paulo, no mês de maio passado, houve aumento no número de internações de crianças com problemas respiratórios. Dos 170 atendimentos diários no pronto socorro do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da capital paulista, 70% estavam relacionados a bronquite alérgica e rinite. Medidas simples são importantes na prevenção dessas moléstias, como, por exemplo, estar agasalhado e evitar aglomerações, já que com o frio as pessoas tendem a ficar em locais fechados, sem ventilação, o que facilita a transmissão de doenças e a exposição a substâncias irritantes, como o fumo e a poeira. A melhor forma de se prevenir é começar por conhecer as doenças mais freqüentes no inverno e saber quais os procedimentos necessários para a sua prevenção e tratamento. A chegada da estação mais fria do ano é acompanhada por preocupações com o aparecimento de doenças respiratórias, responsáveis pelo aumento do movimento nos ambulatórios médicos e hospitais. Medidas simples, como manter o ambiente arejado e limpo, são importantes na prevenção e no combate aos agentes causadores PHOTOS.COM GRIPES E RESFRIADOS 24 Revista do Idec | Junho 2006 São diversas as manifestaçõs das gripes e resfriados, que podem afetar apenas nariz e garganta com sintomas característicos como espirros, congestão nasal e coriza. Podem também comprometer outros órgãos, provocando dores no corpo, febre e fraqueza. O resfriado provoca normalmente espirros, coriza e febre baixa, e pode ser causado por vírus ou bactérias. Pode, também, evoluir para rinites, gripes e infecções respiratórias graves. Evitar a exposição ao frio, as bebidas geladas e não permanecer em ambientes fechados são algumas formas de prevenir o resfriado. Já a gripe é uma doença muito contagiosa, que ataca as vias respiratórias (nariz, garganta e pulmões) e é causada pelo vírus influenza, transmitido através de gotículas de saliva. Não há tratamento específico para curá-la, mas para aliviar seus sintomas, que são febre alta, dores musculares e articulares, dores de cabeça e inflamação nos olhos. A forma mais efetiva de proteção contra a gripe é tomar a vacina todos os anos, o que as pessoas acima de 60 anos, principalmente, não devem dispensar. Segundo o médico geriatra João Toniolo Neto, da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), a vacina possui alta eficácia, não devendo ser substituída por outras formas de prevenção, como chás ou vitaminas. “A vacina é segura e não apresenta efeitos colaterais sérios, a não ser uma discreta e tem- porária reação local, com vermelhidão, dor e febre baixa em não mais que 1% das pessoas. Ela é anualmente atualizada com os vírus circulantes, identificados no Brasil pela vigilância epidemiológica. Posteriormente, os resultados são encaminhados à Organização Mundial de Saúde, que vai recomendar aos laboratórios a composição adequada das próximas vacinas”, ressalta o médico. Também auxiliam na prevenção da gripe a ingestão de muito líquido e uma alimentação equilibrada, com proteínas, legumes e frutas. Outras medidas importantes: manter a casa sempre ventilada, principalmente os quartos de dormir, e praticar exercícios ao ar livre. Correr, nadar ou caminhar aumentam a capacidade respiratória, mas é bom não esquecer de consultar um médico para uma avaliação das condições físicas. Ajuda muito, também, evitar o estresse e manter um bom sono repousante e reparador. As gripes e resfriados são portas de entrada para que as bactérias se alojem no aparelho respiratório, provocando infecções respiratórias que atingem pulmões (pneumonia), faringe (faringite), laringe (laringite), amígdalas (amigdalites) e outros órgãos. Alergias respiratórias: o que são e como combatê-las B aixa umidade do ar, queda brusca de temperatura e grande concentração de poluentes no inverno são fatores que, juntos, desencadeiam as crises alérgicas de rinite e asma brônquica. A alergia é uma resposta imunológica exagerada do organismo no contato com agressores ambientais, substâncias estranhas que podem ser desde poeira doméstica, fungos, odores fortes até ácaros, pólen de plantas e pêlos de animais. São os alérgenos. O tratamento principal prevê sobretudo o controle do ambiente, cujos objetos e espaços devem ser mantidos limpos; a prática constante de exercícios físicos, principalmente a natação; o uso de medicamentos para conter e prevenir as crises e a aplicação de vacina. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) – também conhecida por Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia –, cerca de 30% da popu- lação sofre de algum tipo de alergia. “A alergia é uma patologia crônica. No inverno, a mucosa fica mais irritada, o que deixa a defesa do organismo baixa e propicia a crise”, explica o médico Ataualpa Reis, da ASBAI de Minas Gerais. A alergia pode se manifestar no nariz (rinite), nos olhos (conjuntivite) e nos pulmões (asma brônquica). RINITE A rinite é a inflamação alérgica da mucosa do nariz. Produz entupimento das narinas, espirros repetidos, coceira nasal insistente (ou coçam também os olhos, os ouvidos, o céu da boca e a garganta), alteração do olfato e do paladar, e tosse crônica noturna. A rinite é considerada um fator de risco para a asma. De acordo com a ASBAI, 78% dos pacientes com asma têm também rinite alérgica. Os médicos recomendam medicamentos de três categorias para combater a rinite: antiRevista do Idec | Junho 2006 25 SAÚDE SAÚDE histamínicos, corticóides e vacinas. Os portadores da doença são orientados a utilizar diariamente soro fisiológico para limpar e hidratar o nariz. Prevenir as crises alérgicas significa atacar os agentes agressores. “A arquitetura de interiores precisa mudar. As pessoas ficam muito tempo dentro de casa, e elementos como carpetes, tapetes e cortinas são muito comuns, pois todos eles facilitam a sobrevivência dos agentes agressores”, afirma Ataualpa, ressaltando que, apesar das propagandas, não há aparelhos eficazes que combatam os ácaros. Outras recomendações importantes, como livrar-se de objetos que acumulam poeira e ácaros e impermeabilizar travesseiros e colchões, devem ser observados por todos os portadores de doenças alérgicas. Certos tipos de rinite provocam muita congestão e obstrução nasal, levando ao uso indiscriminado de descongestionantes nasais. A Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA) alerta para que esses medicamentos não sejam usados por mais de sete dias, pois podem pio- Para evitar crises respiratórias ● Manter as janelas abertas durante o dia. Evitar ambientes fechados e onde há fumantes. ● Os móveis devem ser simples, de fácil limpeza. ● Os travesseiros devem ser de espuma inteiriça e não em flocos. Colchões e travesseiros devem ser encapados com material contra ácaros. ● Cobertores e malhas de lã não devem ser usados. ● A limpeza da casa, principalmente dos quartos, deve ser feita diariamente com água e sabão e 26 com produtos de limpeza adequados. Evitar produtos com odor ativo, como os derivados de amoníaco. ● Tapetes, carpetes, cortinas e bichos de pelúcia não devem ser utilizados. ● Lavar as mãos com freqüência e evitar seu contato com os olhos, o nariz e a boca. ● Deixar uma bacia com água no quarto de dormir nos dias de baixa umidade do ar. ● Nas mudanças bruscas de temperatura, evitar bebidas geladas, exposição ao vento frio e ar-condicionado. ● Não fazer exercícios físicos rígidos. ● Beber bastante líquido e manter uma alimentação equilibrada. ● Principalmente as crianças devem evitar friagens após o banho quente. ● Manter o calendário de vacinas das crianças em dia e o aleitamento materno. Revista do Idec | Junho 2006 rar a obstrução do nariz. Além disso, seu uso prolongado pode provocar taquicardia e aumento da pressão arterial. Há até casos de usuários que se viciam nesses remédios. ASMA OU BRONQUITE ALÉRGICA Asma e bronquite alérgica são a mesma doença. O termo mais correto, segundo a ABRA, é asma brônquica. Trata-se de uma doença crônica que acomete 10% da população brasileira e é responsável, anualmente, por 400 mil internações hospitalares, 2 mil óbitos, um número incontável de atendimentos ambulatoriais, além de faltas ao trabalho e à escola. A doença é caracterizada por tosse, sensação de aperto no peito, respiração curta, cansaço e chiado no peito. Como as outras doenças respiratórias, seus sintomas podem ser reduzidos evitando-se os fatores que a desencadeiam. É importante que o asmático relate ao seu médico suas impressões na crise, para que se possa desenvolver um tratamento adequado para o combate e a prevenção de crises. Por se tratar de doença inflamatória das vias respiratórias, principalmente os brônquios, a inflamação permanece mesmo quando não há crise de falta de ar. Por isso, os remédios devem ser tomados de maneira regular, independentemente dos sintomas. A ABRA alerta que a utilização adequada do medicamento é importante para o controle da asma e a melhoria das condições gerais de vida dos asmáticos. Por isso, a associação auxilia os pacientes na agilização do acesso gratuito dos medicamentos de alto custo que o tratamento exige. O Ministério da Saúde disponibiliza os medicamentos para asmáticos, que devem procurar postos do SUS para se cadastrar e receber os remédios. Segundo a ABRA, as vacinas são indicadas para os casos de alergia respiratória como a asma, e seus efeitos terapêuticos são considerados excelentes. Só o médico especialista pode indicá-las após a avaliação de cada pessoa. Custam em média R$ 300,00 por ano. Outro alerta da ABRA é que alguns adultos com asma podem ter crise aguda da doença em conseqüência do uso de determinados medicamentos, como aspirinas ou antiinflamatórios não derivados de esteróides, como o diclofenaco e o ibuprofeno ou ainda beta-bloqueadores (usados para tratamento do coração). Cresce o mercado de antigripais D entre os remédios de venda livre mais utilizados no Brasil, destacam-se os antigripais. Mas eles realmente curam? O pediatra Renato Lopes de Souza, da Unifesp/EPM, explica que esse tipo de medicamento fornece apenas um alívio aos sintomas da gripe, mas não combate o vírus que a provoca. Ele destaca que todas as vitaminas, principalmente a vitamina C, muito utilizada pelas pessoas gripadas, atuam como fator de defesa para o organismo, pois o mantêm imune e em melhores condições, mas não atuam na cura. O pediatra alerta os pais para o risco do uso de antigripais em crianças: “esses medicamentos têm uma mistura de componentes, como efedrina, descongestionantes e antiinflamatórios. É preciso ter cuidado”. Quer seja buscando a cura, quer seja perseguindo o alívio para os sintomas, o fato é que uma grande parcela da população compra antigripais. É o que mostra, por exemplo, um levantamento feito pela própria Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (ABIMIP). A categoria dos antigripais correspondeu, no ano passado, a 8,7% do mercado brasileiro de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs). E de março de 2004 a março de 2005, os antigripais foram os remédios de venda livre que mais cresceram no país: 20,1%. Os medicamentos isentos de prescrição médica correspondem a 30% do total do faturamento anual da indústria farmacêutica no Brasil, e como sua venda é livre, seus preços são liberados e regidos pela concorrência. UM DIA FORAM INOFENSIVOS A história está repleta de casos de medicamentos outrora considerados inofensivos e vendidos livremente, que mais tarde vieram a se mostrar perigosos. Um dos mais conhecidos é o caso da talidomida, sedativo comercializado entre o final dos anos 50 e início dos 60, que acabou causando a malformação de milhares de bebês, pois era indicado para gestantes. Mesmo princípios ativos considerados seguros, como o ácido acetilsalicílico, o paracetamol e a dipirona sódica, muito presentes em antitérmicos, antigripais e analgésicos, podem causar danos importantes à saúde. Segundo informações da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), em poucos países desenvolvidos (a Alemanha é um deles) a dipirona é ministrada, só em certos casos, e unicamente sob prescrição médica. O princípio foi retirado do mercado ou sofre restrições em uma extensa lista de países, como Alemanha, Austrália, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Holanda, Irlanda, Israel, Itália, Noruega, Suécia, Suíça e Venezuela, entre outros. O ácido acetilsalicílico, ministrado a menores de 12 anos, pode causar a síndrome de Reye (distúrbio cerebral grave), e problemas hepáticos decorrentes do uso contínuo do paracetamol já foram relatados em estudos científicos nos últimos anos. Por isso, é importante dizer que o Idec é contrário à automedicação, bem como à publicidade de quaisquer medicamentos, mesmo os MIPs. Serviço Mais informações sobre doenças alérgicas podem ser obtidas nos sites da ABRA (www.asmaticos.org.br e da ASBAI: www.sbai.or.br) Para conhecer mais sobre restrições a medicamentos de venda livre, procure a Sobravime (www.sobravime.org.br ou [email protected]) Revista do Idec | Junho 2006 27