DEMANDAM PREVENÇÃO

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Série
SÉRIE SAÚDE DO PROFESSOR
Melina Pockrandt
PROBLEMAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
DEMANDAM PREVENÇÃO
Sem cuidados, salas de aula são o ambiente ideal para transmissão de doenças
infectocontagiosas e para o agravamento de casos de rinite e asma
O
s problemas relacionados à saúde respiratória
são a segunda maior causa de afastamento de professores.
Segundo o Sindicato Único dos
Trabalhadores do Ensino, de Belo
Horizonte (MG), as doenças respiratórias foram responsáveis por
12,2% das licenças médicas dos
professores de escolas municipais,
entre 2001 e 2002 – apenas 3% a
menos do que os diagnósticos de
transtornos mentais e comportamentais.
Um estudo mais recente, publicado em 2007 pela professora
Patrícia Gomes da Costa, mestre em
Meio Ambiente e Sustentabilidade,
chegou a resultados similares. A tese de Patrícia avaliou as principais
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causas de afastamento dos professores de 5ª a 8ª séries em Ipatinga
(MG), e, para a surpresa da pesquisadora, os problemas respiratórios
também apareceram em segundo lugar. Na pesquisa, as doenças
respiratórias foram responsáveis
por 15,98% dos afastamentos, também apenas 3% a menos do que
os transtornos comportamentais.
“Imaginei que as doenças do aparelho respiratório figurariam entre os principais causadores, mas
não como o segundo motivo para
afastamentos do ambiente escolar.
Esperava que os problemas circulatórios e osteomusculares viessem
antes”, comenta Patrícia.
São consideradas doenças do
sistema respiratório os proble-
mas que acometem os órgãos desse sistema, como pulmão, faringe, laringe, traqueia, diafragma,
nariz e boca. Entre as mais comuns estão gripe, resfriado, rinite, bronquite, asma e, até mesmo,
tuberculose e pneumonia. Essas
ocorrências vêm se repetindo na
atividade docente. Uma pesquisa
de 2010 sobre a saúde e as condições de trabalho dos educadores, realizada pelo Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial de
São Paulo (Apeoesp), apontou
que entre os principais diagnósticos estão: gripe (35,6% dos entrevistados), resfriado (33,6%),
rinite (32,8%) e sinusite (23,1%).
Além disso, 41% dos professores
pesquisados disseram sofrer com
tosse frequente e 40% afirmaram
ter coceira no nariz como sintoma comum.
O perigo está no ar
A pesquisa realizada por Patrícia
Gomes com os professores de
Ipatinga apontou que, entre os docentes afastados por problemas respiratórios, 62% foram diagnosticados com infecções agudas das vias
aéreas superiores. São doenças como otite, sinusite e laringite. “Esse
tipo de infecção é bastante comum
no inverno, devido à variação de
temperatura e maior concentração
de pessoas em ambientes fechados,
e é causada por diferentes agentes
infecciosos. Mais de 70% dos casos
são virais”, aponta o otorrinolaringologista Sérgio Maniglia, do Instituto
Paranaense de Otorrinolaringologia,
de Curitiba (PR).
O especialista explica que os vírus causadores dessas infecções são
transmitidos pelo ar e que em cada indivíduo podem gerar uma
reação diferente. “É muito comum
que várias pessoas sejam portadoras do vírus e não manifestem nenhuma doença. Em compensação,
em outra pessoa, ele pode causar
otite ou ainda laringite”, comenta. Segundo ele, a diferença está na
imunidade de cada um. “Por isso,
uma forma de prevenção é manter
a saúde em dia: comer bem, dormir bem, realizar atividades físicas, etc.”
A prevenção também é feita com atitudes diárias e simples,
como manter os ambientes arejados e as mãos sempre higienizadas
com álcool gel, os mesmos métodos
que previnem a gripe e o resfriado
– dois problemas comuns no inverno. Enquanto a gripe é transmitida pelo vírus influenza, o resfriado pode ser causado por centenas
de diferentes agentes infecciosos,
que também podem causar infec-
ções no ouvido, nariz e garganta. “E
as crianças são portadoras de muitos destes vírus e bactérias”, explica o pneumologista Adalberto Sperb
Rubin, diretor da Sociedade Brasileira
de Pneumologia e Tisiologia.
Rubin lembra que apesar de a
etiqueta social dizer aos pais que a
criança doente não deve ser levada
para a escola, isso não acontece. “É
comum os alunos irem para a escola gripados ou resfriados. Assim,
podem transmitir a doença para
colegas e professores.” Para prevenir o contágio, ele orienta que os
professores busquem manter boca
e nariz distantes do rosto da criança infectada, para evitar a transmissão direta. “Além disso, é fundamental a higienização frequente
das mãos com álcool gel”, afirma
o médico, acrescentando que é importante que as salas de aula estejam sempre bem ventiladas, com
circulação de ar. Se o frio não permitir, o especialista sugere que as
janelas sejam abertas sempre que
as crianças saírem da classe, mantendo assim o ambiente arejado.
Quando o assunto são as doenças transmissíveis, uma das preocupações dos docentes é a quantidade de alunos em sala de aula, já
que a aglomeração contribui para a
proliferação mais rápida das doenças. Na pesquisa da Apeoesp, 54%
dos professores entrevistados afirmaram dar aula para turmas com
mais de 35 alunos. Dados mais recentes do Ministério da Educação
(MEC), de 2010, apontam que a
maior média de alunos por sala
de aula é de 27,4, no ensino fundamental, nos Estados de Alagoas
e São Paulo. No ensino médio, a
média chega a 38,8 alunos por sala, também no Estado de Alagoas.
“A quantidade de alunos em sala de aula é um fator de risco para a transmissão de doenças infectocontagiosas, entretanto, os
números não significam nada
isoladamente”, salienta o pneumologista Alberto Sperb Rubin.
Ele explica que se o ambiente for
amplo, permitindo uma distância considerável entre as pessoas,
a quantidade de alunos não influencia de forma tão significativa os riscos de contágio.
Asma e rinite
Doenças como a asma e a rinite foram a segunda causa de afastamento por problemas respiratórios entre os professores de
Ipatinga, pesquisados por Patrícia.
Segundo a médica alergista Fátima
Emerson, da Clínica de Alergia da
Policlínica Geral do Rio de Janeiro
(RJ), rinite é uma das alergias respiratórias mais comuns e muitas
vezes não é diagnosticada corretamente. “A rinite alérgica pode se
confundir com resfriados e gripes,
pois seus sintomas são semelhantes: espirros em série, coriza abundante, congestão nasal. Coçam nariz, olhos, ouvidos e garganta. Mas
a rinite é uma doença herdada, ou
seja, tem origem genética”, explica.
O pneumologista afirma que
há muitos pacientes que nascem
com a predisposição para a rinite, mas demoram anos para desenvolver o problema. “O mesmo
acontece com a asma, que é uma
doença considerada de grande
incidência (7% dos adultos apresentam o problema). As duas doenças devem ser diagnosticadas
o quanto antes e tratadas, para estarem sob controle”, alerta
Rubin. No caso da asma, os sintomas são notados durante a crise, em que o paciente sente dificuldade de respirar, falta de
ar, sensação de chiado no peito,
cansaço e tosse.
Mas se ambos são problemas de
origem genética, qual a relação do
diagnóstico com a sala de aula?
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Os especialistas explicam que a
relação é direta. “Um dos fatores
de controle das doenças é evitar
atitudes que promovam crises:
[deve-se] manter distância de
pessoas resfriadas, permanecer
em ambientes ventilados e evitar contato com substâncias que
promovem irritação nas vias respiratórias, como a poeira comum
e o pó do giz”, enumera Rubin.
Nesse aspecto, a médica
Fátima ressalta que o pó do giz,
na maioria das vezes, não é o
responsável por causar alergia
respiratória. “O que ele pode fazer é provocar irritação das vias
respiratórias e desencadear ou
piorar a asma e a rinite. Por isso, o ideal é usar quadro branco,
mas, se não houver outro jeito,
a limpeza do pó de giz deve ser
feita com pano úmido”, orienta.
O pneumologista também
aponta outras atitudes preventivas, como buscar manter distância do quadro negro na hora de
escrever, evitar levar a mão suja
de pó de giz à boca ou ao nariz
e acabar com a prática de “bater
apagador”, em especial na sala
de aula. “O giz é um fator que
pode fazer surgir ou piorar uma
crise de rinite ou asma. Ele até
pode causar um problema pulmonar, mas são casos muito raros em que é necessária uma
quantidade muito grande de pó
do material.”
Para a pesquisadora Patrícia,
as más condições de saúde do
professor são causadas tanto pelo ambiente inadequado de trabalho como também pela própria atitude do profissional. “O
docente leva uma vida de muito
estresse e correria, e pouco cuida da sua saúde e de sua qualidade de vida”, comenta. Por isso, ela é a favor de um trabalho
educativo com professores e de
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uma ação mais efetiva dos empregadores. “Acredito que o trabalho preventivo realizado com
os professores seria de suma
importância. Seria fundamental que, ao entrar na carreira de
magistério, o docente passasse
por uma avaliação física e mental e tivesse acompanhamento profissional ao longo de seu
trabalho. Por exemplo: controle
médico ocupacional, ginástica
laboral, assistência psicossocial,
além de palestras educativas
e oficinas visando promover a
saúde do professor.”
Na sala de aula
Desde 1996, Débora Carolina
Morais é professora de educação infantil. Em 2004, mudou-se para os Estados Unidos e,
depois de apenas dois meses de
atividade docente, foi diagnosticada com pneumonia. Ficou
um ano afastada até se recuperar completamente. A conclusão
médica: problemas respiratórios graves causados pela falta de ventilação em sala de aula somada à grande quantidade
de agentes infecciosos presentes nos alunos. Apesar de o caso não ter acontecido enquanto
ela ainda lecionava no Brasil, o
cenário não é diferente em nosso País.
Segundo pesquisa realizada pela Apeoesp, 50,2% dos professores consideram que a ventilação nas salas de aula não é
adequada e 51,1% reclamam da
poeira no ambiente. O pneumologista Rubin explica que esses
são dois fatores de risco para a
transmissão de doenças respiratórias infecciosas (como gripes,
otite e laringite) e que também
aumentam a chance de crises de
rinite e asma. “A falta de ventilação em sala de aula é um dos
principais fatores de risco para a
saúde respiratória do professor.
Sem circulação de ar, o ambiente acaba concentrando maior
quantidade de substâncias que
promovem crises alérgicas e
também de agentes infecciosos
responsáveis por doenças transmissíveis”, explica. Por isso, as
salas de aulas devem ser sempre bem ventiladas. Em época
de clima frio, em que as janelas
passam a maior parte do tempo
fechada, o pneumologista orienta: “sempre que as crianças saírem da classe para alguma atividade, procure abrir as janelas
para arejar o ambiente.”
Usando giz
Usando giz
A médica alergista Fátima
Emerson e o pneumologista
Alfredo Sperb Rubin dão algumas orientações sobre o trabalho com o giz para evitar crises de
rinite ou asma:
• Sempre que for possível, substitua o quadro negro por quadro branco;
• Ao escrever no quadro, mantenha o rosto o mais distante
possível da lousa;
• Não toque na boca ou nariz
com a mão suja de giz;
• Remova o pó do giz com pano úmido;
• Não bata os apagadores. Se
for inevitável, não faça isso em
sala de aula e fique o mais distante possível da nuvem de
poeira.
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