Universidade de Brasília – DAN Teoria Antropológica I, Turma C – 2016/2 Aluno: Bruno Araújo Lopes – 15/0031491 3º Exercício de Avaliação (Prova) Grupo 1 [3,0] 1. O primeiro objetivo da pesquisa etnográfica de campo, para Malinowski, seria, de maneira geral, descobrir o esquema básico da vida tribal, ou seja, estabelecer o contorno firme e claro da constituição tribal e delinear leis e padrões de todos os fenômenos culturais, isolando-os de fatos irrelevantes. A metodologia que o autor apresenta para chegar a tal objetivo é a documentação estatística por evidência concreta, que consiste em fazer um levantamento geral de todos os fenômenos que caracterizam cada aspecto da vida tribal na totalidade de seus aspectos, através da coleta de dados concretos sobre todos os fatos observados, buscando cobrir o maior número possível de fatos o mais detalhadamente possível. Como frequentemente os elementos da constituição social tribal não estão formulados explicitamente por meio de leis escritas e nem mesmo na mente dos nativos, é necessário que o pesquisador formule inferências gerais, por indução, a partir dos dados concretos coletados. É necessário, para isso, aplicar um tratamento científico, sistemático e metódico, visando conduzir a pesquisa através de linhas de efetiva relevância e objetivos importantes. Sempre que possível, o etnógrafo deve materializar as informações adquiridas na forma de diagramas, planos de estudo e pesquisa, quadros sinóticos completos, mapas, esquemas, para auxiliá-lo em sua pesquisa e tornar mais claras e concisas suas informações. O segundo objetivo da pesquisa etnográfica, segundo o autor, seria ir além de estabelecer as regras e regularidades que regem a vida tribal, e reunir dados referendes ao modo como determinado costume é seguido na prática, na medida em que a vida real jamais adere rigidamente à precisão dessas regras. Busca-se registrar os fenômenos que não podem ser registrados apenas com o auxílio de questionários ou documentações estatísticas: os imponderáveis da vida real, que devem ser observados em plena realidade, o que se torna possível por meio da convivência íntima com os nativos e da residência na aldeia, que permite a observação de como os nativos realmente vivem. O método sugerido por Malinowski para alcançar esse objetivo é o uso do diário etnográfico. Deve-se formular os fatos cientificamente e registrá-los, visando compreender o aspecto íntimo de todos os relacionamentos sociais, que se apresentam, por sua vez, de forma diversa do quadro legal e cristalizado das relações sociais. Deve-se registrar fatos normais e típicos, bem como os que apresentam desvios ligeiros ou acentuados da norma, registrando-se o máximo possível de detalhes, o tom do comportamento, as atitudes dos indivíduos diante das diversas atividades da vida cotidiana, etc. O autor recomenda ainda que o pesquisador tente se colocar como parte do grupo, participando de atividades e conversas com os nativos, o que acaba possibilitando uma compreensão mais fácil e transparente do comportamento nativo e de sua maneira de ser em todos os tipos de transações sociais. Enquanto o primeiro objetivo se concentra no “esqueleto” da constituição tribal e o segundo se concentra na sua “carne e sangue”, o terceiro, por sua vez, interessa-se pelo seu “espírito”, ou seja, consiste em identificar motivos, ideias, sentimentos e impulsos subjetivos que guiam os nativos no exercício de suas atividades. É necessário, portanto, fazer o registro dos pontos de vista, palavras e opiniões dessas pessoas, coletando e anotando asserções, narrativas típicas, elementos folclóricos e fórmulas mágicas, produzindo-se, assim, um documento da mentalidade nativa. Grupo 2 [3,0] 5. Segundo Malinowski, o fundamento mais elementar da pesquisa de campo etnográfica consiste, de maneira geral, em assegurar condições adequadas à pesquisa, visando, antes de tudo, entrar em contato mais íntimo possível com a vida dos nativos. Para isso, seria essencial que o pesquisador passasse a residir efetivamente nas aldeias, procurando afastar-se da companhia de outros brancos. A partir desse contato direto e cotidiano, é possível conhecer os nativos e familiarizar-se com seus costumes e crenças de maneira muito mais satisfatória do que se dependesse de fontes indiretas, através de informantes. O autor argumenta que estar efetivamente em contato com os nativos proporciona que a vida do pesquisador na aldeia assuma um caráter natural, em plena harmonia com o ambiente que o rodeia. Assim, o etnógrafo passa a tomar parte na vida da aldeia, a atmosfera de sua vida diária tende a se alinhar com a dos nativos, isto é, o pesquisador começa a se habituar, assumir interesses e expectativas com relação aos acontecimentos diários da aldeia. Com essa convivência e o passar do tempo, o etnógrafo vai deixando de representar um elemento perturbador na vida tribal e vai passando a ser aceito como parte integrante da vida na aldeia, bem como vai aprendendo as regras de comportamento e etiqueta dos nativos, começa a aproveitar a companhia deles e a participar de algumas das atividades cotidianas. A partir desses fatores, referindo-se à sua própria experiência de campo nas ilhas Trobriand, Malinowski afirma que tudo o que se passava no decorrer do dia estava plenamente ao seu alcance e não podia, assim, escapar à sua observação. Grupo 3 [4,0] 1. Rivers entende a estrutura social como aqueles fatores da vida social e da cultura que constituem os alicerces mais fundamentais da sociedade. Para ele, seria algo que permanece abaixo da superfície, os fundamentos não vistos de toda a vida de um povo. Seriam aqueles traços de caráter fundamental dificílimos de serem modificados - o “arcabouço da sociedade”. O autor utiliza essa noção de estrutura social para buscar explicar os processos de mudança social provenientes do contato entre povos diferentes. Assim sendo, ele constata que o simples contato entre povos é capaz de transferir muito no sentido da cultura material, por exemplo, a introdução da utilização de novos produtos em determinada sociedade, ou então introduzir novos vocábulos à língua, enquanto que a estrutura social, profundamente assentada, pode permanecer a despeito dessas mudanças menos fundamentais, sendo muito difícil e lentamente modificada. Rivers dá o exemplo da cultura nativa das ilhas havaianas, onde a cultura nativa estava bastante devastada, a velha religião havia sumido, o povo diminuiu em número, as condições políticas foram alteradas, porém, o sistema de parentesco permanecia em uso inalterado. Nesse caso, o sistema de parentesco constituiria um alicerce da estrutura social daquele povo. Dado seu caráter tão fundamental, o autor coloca que se deve começar pelo estudo da estrutura social a tentativa de analisar uma cultura e verificar até onde a comunidade da cultura se deve à mistura de povos. O estudo da estrutura social, para Rivers, deve ser tomado como guia para amparar o processo de análise das sociedades. Radcliffe-Brown, por sua vez, entende a estrutura social como uma complexa rede de relações sociais pela qual os indivíduos estão unidos, a partir da qual resultam os fenômenos sociais. O autor, diferentemente de Rivers, elenca os seguintes aspectos como os constituintes da estrutura social: primeiramente, inclui todas as relações de pessoa a pessoa, como por exemplo, as relações de parentesco; e em segundo lugar, inclui a diferenciação de indivíduos e classes por seu desempenho social, como por exemplo, as posições sociais diferenciadoras de homens e mulheres. Radcliffe-Brown considera que as sociedades operam por meio de uma relação de continuidade dinâmica. Com base nessa noção, pode-se discriminar dois conceitos: estrutura social e forma estrutural. A estrutura social é configurada pela realidade concreta existente, isto é, está sempre se renovando de acordo com as relações concretas existentes entre as pessoas, mudando ano após ano, dia após dia, por exemplo, com a morte e o nascimento de pessoas, casamentos, divórcios, etc. Por outro lado, as espécies de relações pouco mudam, em geral, ao longo do tempo, o que se relacionaria com a forma estrutural, que, em geral, permanece constante ao longo do tempo. Esse conceito de forma estrutural de Radcliffe-Brown é o que se assemelha mais à concepção de estrutura social de Rivers.