sbi Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano II – Nº 6 – Abril/Maio/Junho de 2004 EDITORIAL NESTA EDIÇÃO Os avanços da Infectologia e a busca de um mundo melhor J ulgamos ser bastante positivo e promissor o balanço dos primeiros seis meses de gestão da atual Diretoria da SBI. Com o trabalho de equipe e o apoio de colaboradores estamos conseguindo inúmeros avanços em prol da Infectologia e da melhoria dos serviços prestados aos associados. Às novas oportunidades para obtenção do título de especialista, soma-se a mudança da SBI para nova sede e a reformulação do estatuto social, ainda em curso. Como prioridades de curto prazo, elegemos a produção de conhecimentos e a difusão de informações. A criação dos comitês científicos em diversas frentes, reunindo colegas renomados, dará sustentabilidade ao nosso programa de educação continuada. Já a modernização do site na Internet, a ser lançado durante o Congresso Paulista de Infectologia, compreenderá uma revisão de conteúdo e um novo design, tornando-o ágil e prático, transformando-o em um verdadeiro Portal, com todas as suas potencialidades. O II Fórum Nacional de AIDS, em novembro deste ano, uma realização conjunta da SBI e do corpo científico do Jornal Brasileiro de Aids, é outro exemplo do quanto iremos investir em espaços de capacitação permanente dos infectologistas. No cenário internacional, a SBI esteve presente na Conferência de Aids de Bangcoc, em julho, oportunidade que tivemos de compartilhar os últimos avanços médicos e científicos e também de nos engajarmos na meta global de conter o desenfreado avanço da epidemia e garantir tratamentos para os 38 milhões de infectados dos países pobres, onde morrem 8.000 pessoas diariamente por causa da Aids. A aspiração do objetivo de um mundo livre do HIV e da Aids está ligada não só ao desafio de promover o acesso universal à assistência, mas também de aperfeiçoar os medicamentos atuais, facilitando a posologia e diminuindo os efeitos colaterais;de ampliar as ações de prevenção e desenvolver uma vacina eficaz, após tentativas frustradas. Aqui no Brasil, passamos a engrossar a luta da classe médica pela valorização da profissão, materializada na defesa da implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada dos Procedimentos Médicos, que tem encontrado na intransigência e na insensibilidade dos planos de saúde seu maior obstáculo. Por fim, prestamos a homenagem e dedicamos esta edição do Boletim à memória do saudoso professor Ricardo Veronesi, um dos fundadores e ex-presidentes da SBI, que tanto contribuiu para a evolução e prestígio da infectologia brasileira. João Silva de Mendonça Presidente da SBI ENTREVISTA Luiz Jacintho fala do risco potencial da pandemia do Influenza. Pág. 2 NOTÍCIAS DA SBI Criação dos comitês científicos e concurso de título de Especialista. Pág. 3 NOTÍCIAS DA SBI Vídeo-conferência sobre anti-retrovirais e renovação do Portal na Internet. Pág. 4 MOVIMENTO MÉDICO SBI adere à mobilização nacional pela implantação da CBHPM. Pág. 5 ATUALIZAÇÃO Eventos, cursos e o que foi discutido na Conferência Internacional de Aids. Pág. 6 MEMÓRIA Homenagem ao Professor Ricardo Veronesi, um dos fundadores da SBI. Pág. 7 NOVA SEDE VACINAÇÃO No início de junho, a SBI deixou o antigo endereço na rua da Consolação, no Jardim Paulista, para ocupar um espaço mais amplo, de fácil acesso e com melhores instalações, à rua Domingos de Morais, 1.061, conjunto 114, no bairro Vila Mariana, em São Paulo. Os telefones também mudaram: (11) 5575-5647 e 5572-8958. E-mail: [email protected] Programa Nacional de Imunização mantém excelente cobertura. Pág. 8 ENTREVISTA “Temos uma situação de pandemia potencial do Influenza” Superintendente da SUCEN (Superintendência do Controle de Endemias) da Secretaria de Estado da Saúde, Luiz Jacintho da Silva fala sobre a possibilidade de uma epidemia de âmbito mundial do vírus Influenza e as providências que estão sendo tomadas para controlar a gripe. (sbi) Qual a perspectiva de uma pandemia do Influenza? Dr. Jacintho – Não há uma epidemia do Influenza em âmbito mundial. Temos sim uma situação de pandemia potencial. Detectamos a ocorrência de incrementos sazonais de gripe, com maior incidência nas regiões de clima temperado, embora presentes também nas áreas tropicais. Recentemente um surto de gripe na ilha de Madagascar, próxima da costa leste da África, deixou claro que a gripe não é somente um problema de países desenvolvidos ou de áreas urbanas. O século 20 presenciou pelo menos três pandemias, a pior delas a de 1918-19, conhecida como “gripe espanhola”, em que teriam morrido cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, mais do que nos quatro anos da Primeira Guerra Mundial. (sbi) Por que foi criado o Grupo Regional de Observação da Gripe (GROG) no estado de São Paulo? Quais são os seus principais objetivos? Dr. Jacintho – A finalidade da iniciativa é incrementar as ações de vigilância da gripe no estado de São Paulo. Hoje o Ministério da Saúde coordena um sistema de vigilância da gripe com dois centros-sentinela na cidade de São Paulo. Para um estado com quase 40 milhões de habitantes isso é pouco, daí a necessidade de aumentar o número desses centros. A iniciativa do GROG é um bom exemplo de parceria público-privado. Ela congrega a Secre2 - Boletim SBI nhecimento da cepa viral circulante, pois isso determinará a composição das vacinas a serem empregadas e tem valor preditivo no que diz respeito à ocorrência ou não de epidemias ou mesmo pandemias. taria Estadual da Saúde, a empresa Aventis-Pasteur e pessoas com contribuição e conhecimento relevantes nos diferentes aspectos da gripe. A iniciativa do GROG é de origem francesa, sendo que a marca “GROG” pertence à empresa de vacinas Aventis-Pasteur. (sbi) Qual a relação da rede global da OMS para o acompanhamento mundial dessa doença? Dr. Jacintho – A vigilância da gripe possui dois componentes principais, um clínico, com a notificação de quadros sindrômicos, e outro laboratorial, com o isolamento dos vírus circulantes para caracterização. Não basta sabermos se existe ou não Influenza, é vital o co- (sbi) Qual o andamento dos trabalhos da Agência Paulista de Controle de Doenças? Dr. Jacintho – O processo de implantação de uma entidade que congregue as instituições responsáveis pela promoção e proteção da saúde e pelo controle das doenças no estado de São Paulo vem progredindo conforme o cronograma estabelecido no início de 2003. O projeto de lei já foi enviado ao governador que deverá encaminhá-lo para apreciação da Assembléia Legislativa. Acredito que teremos existência “de direito” até o final do ano. Paralelamente, a Secretaria da Saúde já vem se organizando para atuar nessa área como um corpo único. Reflexos importantes dessa evolução da política já são sentidos. Informações sobre esse processo podem ser obtidas por meio do Boletim Epidemiológico Paulista http:// www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/ bepa_menu.htm. TRAJETÓRIA Luiz Jacintho da Silva é médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Fez residência em Infectologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo entre os anos de 1974 e 76. É professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, desde 1976. É doutor em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e é livre-docente pela Unicamp. Dr. Jacintho é também Superintendente de Controle de Endemias [SUCEN] da Secretaria de Estado da Saúde, desde 1999. Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia Filiada à AMB CONSELHO EDITORIAL DIRETORIA Presidente João Silva de Mendonça Vice-Presidente Denise Vantil Marangoni 1º Secretário Juvêncio José Duailibe Furtado 2º Secretário Érico Antônio Gomes de Arruda 1º Tesoureiro Roberto Márcio da Costa Florim 2º Tesoureiro Flávio de Queiroz Telles Filho Coordenadores Boletim da SBI: Thaís Guimarães Portal SBI: Vera M. C. de Moraes Educação Continuada: Eduardo A. S. Medeiros PRESIDÊNCIA DAS SOCIEDADES FEDERADAS DE INFECTOLOGIA Raquel Guimarães (AL), Eucides Batista da Silva (AM), Fernando Sérgio da Badaró (BA), Anastácio Queiroz de Sousa (CE), Eliana Lima Bicudo dos Santos (DF), Carlos Urbano Gonçalves Ferreira Jr. (ES), Marilia Dalva Turchi (GO), Graça Viana (MA), Antonio Carlos de C. Toledo Jr. (MG), Andréa de Siqueira C. Lindenberg (MS), Raimundo Nonato Q. Leão (PA), Francisco Orniudo Fernandes (PB), Martha Maria Romeiro (PE), Kelsen Dantas Eulálio (PI), Alceu Fontana Pacheco Júnior (PR), Ralph Antonio Xavier Ferreira (RJ), Kleber Giovanni Luz (RN), André Luis de Freitas Alves (RO), Paulo Renato P. Behar (RS), Silvia Cristina de C. Flores (SC), Angela Maria da Silva (SE), Hamilton Antonio Bonilha de Moraes (SP), Hertz Ward de Oliveira (TO). SUGESTÕES Sociedade Brasileira de Infectologia R. Domingos de Moraes, 1061 cj. 114 CEP 04009-002 - São Paulo - SP Tel/Fax (11) 5572-8958/5575-5647 E-mail: [email protected] Editor: Mário Scheffer Editor adjunto: Fernando Fulanetti (MTb 21.186) Redatora: Renata Bessi Arte e diagramação: José Humberto de S. Santos Secretaria: Givalda Guanás Visite nosso Portal na Internet www.infectologia.org.br Abril/Maio/Junho de 2004 TÍTULO DE ESPECIALISTA Médicos com mais de 10 anos de carreira têm exame específico pela última vez O próximo concurso para obtenção do título de Especialista em Infectologia, durante o IV Congresso da Sociedade Paulista de Infectologia (18 a 21/ 08, em Santos/SP), marca duas mudanças: é a primeira vez que ocorre em um evento de nível regional e a última ocasião em que será oferecido um concurso específico para infectologistas com mais de 10 anos de carreira. Os editais para o concurso foram publicados no final do mês de junho e já estão em conformidade com a Resolução CFM nº 1634/2002, que dispõe sobre o reconhecimento das especialidades médicas, dentro do convênio firmado entre o Conselho Federal de Medicina, a Comissão Nacional de Residência Médica e a Associação Médica Brasileira. A íntegra dos documentos está à disposição no site da SBI. A obtenção do título tornou-se mais ágil a partir deste ano, pois os concursos serão oferecidos em congressos nacionais da SBI, nos anos ímpares, e em congressos regionais, nos anos pares. Mudanças nas diretrizes para a revalidação do título também estão sendo discutidas entre a Sociedade e a AMB. São pré-requisitos básicos para o concurso: graduação em medicina, CRM definitivo e certificado de Residência Médica em Infectologia (reconhecido pela Comissão Nacional de Residência Médica) ou título de Mestre ou Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Infectologia ou Medicina Tropical (emitido por Programa de Pós-graduação reconhecido pela CAPES). Para médicos com mais de 10 anos de atuação, solicita-se a comprovação da experiência na área via documento emitido pela diretoria de uma das federadas da SBI ou, onde não houver regional da Sociedade, pela diretoria da associação médica local, federada da AMB. Estes profissionais têm ainda como alternativas: apresentação de título de Mestre ou Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias, Infectologia ou Medicina Tropical, emitido por Programa de Pós-graduação reconhecido pela CAPES, ou a comprovação de atividade docente em faculdade de medicina ou universidade. O processo de avaliação compre- ende prova de títulos e exame discursivo sobre assunto sorteado pela Comissão Examinadora, a partir de uma lista prévia de 20 temas. Preenchimento de formulário específico, pagamento de taxa administrativa, CV e outros documentos são as exigências para a inscrição no concurso, que poderá ser feita até o dia 13 de agosto. A Comissão é formada pelos seguintes associados: Juvencio José Duailibe Furtado (presidente), André Villela Lomar, Caio Rosenthal e Ricardo Leite Hayden. Os editais, formulário de inscrição, lista de temas da prova discursiva, leituras recomendadas e informações adicionais estão à disposição na sede da SBI e das federadas, ou no site www.infectologia.org.br. A importância dos Comitês Científicos Eduardo Medeiros* Uma das principais metas de uma sociedade científica é a valorização de seus membros. Um dos mecanismos de buscar essa meta é inserir seus sócios nas decisões técnicas da diretoria, como também na participação ativa de profissionais de elevado nível científico nos programas de treinamento e de atualização em infectologia (“educação continuada”). Neste caminho, a SBI decidiu criar Comitês Científicos constituídos por sócios que estejam trabalhando na linha de pesquisa relacionada ao Comitê (máximo de quatro sócios por Comitê), os quais estarão desenvolvendo atividades de educação continuada/reciclagem Abril/Maio/Junho de 2004 em determinada área da infectologia. Tais Comitês Científicos contarão com o apoio e auxiliarão a diretoria da SBI na realização de eventos, na produção de pareceres técnicos e diretrizes, na elaboração de programas de educação conti- nuada e, ademais, representarão a diretoria sempre que solicitados. Por outro lado, a atual diretoria criará mecanismos para a participação dos Comitês e apoiará, dentro das possibilidades, técnica e economicamente, iniciativas que possam estar de acordo com as atividades apresentadas. Nesta direção foram constituídos 16 Comitês Científicos: 1. Antimicrobianos 2. Sepse 3. Parasitologia Clínica 4. Micologia Médica 5. Medicina dos Viajantes 6. Infecção em transplantes 7. Infecção Hospitalar 8. Imunizações 9. Vírus Linfotrópico Humano (HTLV) 10. Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) 11. Hepatites Virais 12. Epidemiologia Clínica 13. Doenças Emergentes 14. Biologia Molecular 15. Bacteriologia Clínica 16. Tuberculose e Micobacterioses Atualmente, estamos fazendo contato com os profissionais indicados para os Comitês e temos recebido muito apoio a esta iniciativa. * Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros é Coordenador Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia Boletim SBI - 3 NOTÍCIAS DA SBI Video-conferência discute terapia anti-retroviral Evento reuniu cerca de 300 pessoas em São Paulo e foi transmitido ao vivo para 13 cidades A s diversas estratégias da terapia anti-retroviral, quais são as suas práticas hoje no mundo e os rumos que estão tomando são questões que levaram importantes nomes da infectologia nacional e internacional a se reunirem recentemente para a segunda edição da “Video-conferência Internacional – Estratégias na Terapia Anti-retroviral”. Com base em São Paulo, o evento foi transmitido via satélite para 13 cidades brasileiras. O encontro trouxe ao Brasil o especialista espanhol Vincent Soriano, chefe do departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Carlos III, em Madrid, um centro de referência em HIV/Aids e hepatites virais na Espanha. O tema abordado por ele foi a Hepatite C em pacientes coinfectados por HIV. Segundo Soriano, a infecção crônica provocada pelo vírus da hepatite C (HCV) afeta um terço dos pacientes com HIV/Aids na América do Norte e Europa. Mas a prevalência aumenta para mais de 75% entre os usuários de drogas intravenosas em todo o mundo. Entre os co-infectados “os melhores candidatos para terapia anti-HCV são 4 - Boletim SBI indivíduos HIV-positivos sem expressivo imunocomprometimento e com hepatite C crônica comprovada”, explica. O infectologista Roberto Badaró, professor da Faculdade de Medicina da Unifesp e da Universidade Federal da Bahia, tratou da importância da durabilidade da terapia antiretroviral do HIV. “Hoje milhares de pacientes estão salvos, mas não podem ainda libertar-se da utilização diária dos esquemas de supressão da replicação do HIV. A supressão da replicação viral só ocorre em presença constante no sangue do paciente de elevadas concentrações das drogas utilizadas”. Segundo ele, se o tratamento é irregular e mesmo com fases de interrupção, ocorrerá uma alta pressão seletiva com replicação de mutantes HIV já resistentes às drogas. “Portanto, irregularidades e interrupções do tratamento anti-retroviral são tão sérias quanto deixar de tratar o paciente. A nova ótica e tônica da concepção de tratamento dos pacientes infectados pelo HIV com anti-retroviral acrescenta mais um paradigma além da supressão da carga viral, que é a sustentabilidade dessa supressão”, explica o infectologista. Outra presença internacional foi a do Dr Mark Nelson, diretor da Unidade de Estudos Clínicos de HIV no Chelsea and Westminster Hospital, em Londres, maior centro de tratamento de HIV do norte da Europa. O foco da sua apresentação foi o uso de inibidores da protease com booster. “As razões para o uso de booster inclui a possibilidade de reduzir o número de tomadas diárias e o número de comprimidos, além da melhora na tolerabilidade”, diz Nelson. Especialistas das seguintes cidades participaram do encontro: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e Vitória. O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Dr. João Silva de Mendonça, fez os pronunciamentos de abertura e encerramento do encontro. O Dr. Mauro Schechter, da UFRJ, comandou os debates. A vídeo-conferência foi patrocinada pela Abbott Laboratórios do Brasil e apoiada pela SBI. Novo Portal da SBI O portal da SBI está passando por uma completa reformulação e a nova versão do site da entidade estará disponível em meados de agosto. Além de um novo design, mais moderno e interativo, o sistema que dá suporte ao banco de dados do portal facilitará as atualizações de conteúdo e a navegação dos usuários. Estarão no portal uma versão eletrônica do Boletim da SBI, publicações de estudos e pesquisas, agenda de cursos e eventos, e ainda as notícias de interesse dos profissionais de Infectologia e da área de saúde em geral. Alguns serviços exclusivos aos associados da SBI também estarão disponíveis, como uma biblioteca virtual com as publicações internacionais assinados pela Sociedade. Os comitês científicos da SBI terão espaço permanente no Portal e serão responsáveis pelo programa de educação continuada online. Vera Moraes, responsável pelo Portal da SBI Abril/Maio/Junho de 2004 MOVIMENTO MÉDICO SBI participa de mobilização Entidades criticam seguro em defesa da CBHPM de responsabilidade civil Aldemir Martins (AMB), Juvêncio Furtado e João Mendonça (SBI) no ato público em Brasília A SBI esteve representada, no dia 15 de junho, em ato público na Câmara dos Deputados, em Brasília, que reuniu cerca de 1.000 médicos em defesa da implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). Com o apoio da Frente Parlamentar da Saúde – composta por 230 deputados e 27 senadores –, a principal discussão foi a tramitação do Projeto de Lei nº 3466 de 2004, que estabelece a CBHPM como referencial de honorários médicos para os planos privados de saúde. Além da manifestação em Brasília, vêm crescendo a cada dia os movimentos estaduais pela implantação da CBHPM. Assembléias, passeatas, paralisações de atendimento e descredenciamento coletivo têm sido os instrumentos dos médicos para tentativa de acordos com as operadoras de planos de saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vem tentando mediar as negociações entre os médicos e os planos de saúde, mas ainda não obteve sucesso. No dia 15 de julho, os médicos ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo. Médicos do ABC e de Santos também já haviam realizado passeatas de protesto. A mobilização já alcança 15 estados, com suspensão da prestação Abril/Maio/Junho de 2004 de serviços a planos de saúde em diversos níveis. Importância da CBHPM A CBHPM é a referência mínima e ética para a remuneração do trabalho médico. Classifica, por ordem de complexidade, tempo de execução, cognição e risco, cerca de 5.400 procedimentos médicos. O valor mínimo da consulta é R$ 42,00. Já a remuneração dos procedimentos varia de R$ 8,00 a R$ 2.100,00, podendo sofrer acréscimo ou decréscimo de 20%, dependendo das negociações nas diferentes regiões do País. Há cerca de dez anos os médicos não recebem reajustes dos planos de saúde. Em contrapartida, apenas nos últimos sete anos as empresas penalizaram os usuários com 248% de aumento, isso sem contar a recente majoração de 11,75% autorizada pela ANS. O Índice do Custo de Vida (ICV), no mesmo período, foi de 72,63%, segundo o Dieese. Vale registrar que, hoje, há planos que pagam o irrisório valor de R$ 8,00 por consulta. Num caso como esse, abatidos os tributos e despesas de manutenção de consultório, o médico por pouco não trabalha no vermelho. A média paga pelas empresas está entre R$ 20,00 e R$ 25,00. Vem crescendo no Brasil a oferta de seguro de responsabilidade civil ou seguro por “má praxis”, dirigido aos médicos. As entidades médicas nacionais – Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Confederação Médica Brasileira – divulgaram posicionamento oficial, alertando os médicos que não contratem esse tipo de serviço. Os seguros comercializados no país apresentam uma apólice com cobertura limitada, principalmen- te no que se refere ao dano moral, não eximindo o médico de colocar em risco seu patrimônio, caso seja condenado ao pagamento maior do que o valor contratado. As experiências internacionais têm demonstrado que a aquisição desse seguro pela classe médica contribui para o aumento do número de ações, que muitas vezes se baseiam em pedidos quase sempre emitidos por pacientes, ou ainda envolvendo interesses financeiros de terceiros. Prevenção As entidades incentivam os médicos a tomarem as seguintes providências, visando a prevenção das ações indenizatórias. ✔ Mantenha-se tecnicamente capacitado para o exercício da profissão, através de atualizações freqüentes; ✔ Respeite os limites de sua competência profissional; ✔ Invista muito na manutenção de uma boa relação médico-paciente/familiares; ✔ Documente, sem protelação, da maneira mais completa possível, todos os seus atos médicos no prontuário do paciente, o mais importante documento médicojurídico disponível; ✔ Aborde o paciente/familiares utilizando uma linguagem plenamente compreensível por ele/eles; ✔ Não deixe de dizer sempre a verdade; ✔ Não diga o que não sabe. É correto dizer “não sei” ou “isto não se sabe”; ✔ Evite atendimentos e prescrições à distância (por exemplo, por telefone); ✔ Utilize o termo de consentimento informado, constando nele o estado clínico do paciente, o tratamento necessário, os possíveis riscos e complicações; ✔ Faça encaminhamentos responsáveis (por escrito, com arquivo de cópia ou registro na ficha hospitalar, além de contato prévio com o serviço que receberá o paciente); ✔ Não faça exames constrangedores sem a presença de um assistente; ✔ Atenda a imprensa, se solicitado; prepare-se, se houver tempo; utilize linguagem que o espectador/ leitor compreenda; procure manter a calma; qualquer que seja a pergunta, diga sempre a verdade. Boletim SBI - 5 ATUALIZAÇÃO Conferência de Aids exigiu acesso para todos O Dr. Joep Lange, “A história nos julgapresidente da Sociedará com dureza se não de Internacional de respondermos com toAids (IAS) falou sobre da energia e recursos a importância de Connecessários à luta conferências Internaciotra a Aids”, disse o exnais de Aids serem sepresidente da África do diadas por países em Sul e Nobel da Paz, Neldesenvolvimento e deson Mandela, no encerfendeu o Fundo Global ramento da XV ConfeNelson Mandela, no encerramento da Conferência de Luta Contra Aids, Turência Internacional de berculose e Malária. Aids, em Bangcoc, Tailândia. O evento reuniu, Em Bangcoc, o Brasil passou a liderar uma de 11 a 16 de julho, 15 mil pessoas de 160 paírede de cooperação tecnológica em HIV/Aids, forses e teve como tema “acesso para todos”. mada também por China, Rússia, Nigéria, Ucrânia Relatório divulgado no início da Conferência e Tailândia. O objetivo principal é fortalecer o apontou que mais de 20 milhões de pessoas em acesso aos tratamentos, por meio da produção todo o mundo já morreram por causa da Aids. de medicamentos genéricos. Hoje, existem 38 milhões de portadores do HIV, Já a parte científica da Conferência abordou que devem passar de 100 milhões em 2010. os mais recentes estudos clínicos sobre novas No entanto, pouco mais de 500 mil pessoas drogas, efeitos colaterais, doenças oportunistas, recebem medicamentos anti-retrovirais nos paíadesão ao tratamento, terapias de resgate, vacises em desenvolvimento, incluindo os 140 mil nas, políticas públicas, epidemiologia, prevenção pacientes em tratamento no Brasil. e DSTs, dentre outros temas de interesse, que poNa cerimônia de aberturta, o Secretário Geral dem ser conferidos nos sites www.aids2004.org da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi e www.kaisernetwork.org. A próxima ConferênAnnan, alertou para o crescimento da epidemia cia Internacional de Aids será realizada em Toentre as mulheres: “elas representam quase meronto, Canadá, em 2006. tade das infecções de Aids entre os adultos. Na O Brasil irá sediar a 3ª Conferência da IAS soÁfrica Sub-Saariana, elas representam 58% dos bre Patogênese e Tratamento do HIV, de 24 a 27 casos. Também estamos preocupados com a Ásia, de julho de 2005, no Rio de Janeiro. que já é responsável por 25% dos novos casos”. Residência Médica terá novas regras O Ministério da Educação (MEC) anunciou, no início de julho, as novas regras para os programas de residência médica, que deverão realizar provas práticas de admissão e contar com um médico responsável por supervisionar o trabalho dos residentes nos hospitais. Aprovadas pela Comissão Nacional de Residência Médica, as resoluções exigirão dos programas de residência avaliações 6 - Boletim SBI mais criteriosas. As instituições de ensino terão prazos para se adaptar às novas regras. Uma das mudanças garante ao residente, por exemplo, a manutenção da vaga caso ele seja chamado para o serviço militar. Questões como o total de horas de trabalho e a dedicação exclusiva do residente a determinada instituição, para impedir jornadas duplas, ainda serão discutidas pelo MEC. Definidos como pós-graduação lato sensu, os programas de residência duram geralmente de dois a quatro anos. Acima de 3 mil programas em cerca de 450 instituições de ensino serão afetados pelas mudanças anunciadas pelo governo. Segundo dados do MEC, no país são cerca de 59,7 mil graduandos em medicina e aproximadamente 16,5 mil médicos residentes. CALENDÁRIO DE EVENTOS - 2004 4 a 6/11 1º Congresso Mineiro de Infectologia Belo Horizonte, MG Tel.: (31) 3261-3873 ou [email protected] 02 a 04/12 II Congresso de Infectologia do Cone Sul (da Associação Panamericana de Infectologia) Local: Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, SP Tel.: (11) 3141-0707 ou [email protected] 24 a 27/11 II Fórum Brasileiro de Aids (realização: SBI e Jornal Brasileiro de Aids) São Paulo, SP 19 e 20/11 III Fórum de Infecções Fúngicas na Prática Clínica São Paulo, SP Local: Hotel Renaissance, São Paulo, SP Tel.: (11) 3141-0707 ou [email protected] 6 a 7/08 (SP) e 22 a 23/10 (BH) Curso de Atualização em Patologia Hepática Realização: Sociedade Brasileira de Hepatologia São Paulo, SP e Belo Horizonte, MG Tel.: (11) 5081-2444 30/10 a 02/11 44th ICAAC Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy Washington, DC, EUA www.icaac.org/44ICAAC/44icaac.asp 17 a 20/11 5ª Louis Pasteur Conference on Infecious Disease Pathogens and Their Eco-Systems Paris, França www.pasteur.fr/infosci/conf/sb/CLP5 14 a 18/11 7th International Congress in Drug Therapy in HIV Infection Glasgow, Escócia e-mail: [email protected] Abril/Maio/Junho de 2004 MEMÓRIA Homenagem a Ricardo Veronesi Por Roberto Focaccia (*) Na convivência de mais de 30 anos, tive o privilégio de receber lições de ciência e de vida do professor Veronesi e pude entender a profundidade de seu senso crítico, o entusiasmo e a paixão com que se entregou à causa humana ao longo de sua carreira de médico e docente. O mestre exerceu a função de propor grandes teses, de trazer à crítica os grandes problemas médico-sociais. Escolheu caminhos universitários e políticos (aliás, um mau político) que estavam em frontal oposição às minhas convicções, mas sua sinceridade e o ímpeto com que os defendia merecia sempre minha profunda admiração. Defendia idéias avançadas para sua época: queria o controle da natalidade. Defendia o fim da ditadura acadêmica em sua Universidade, e acabou tendo o desprezo dos beneficiários. Queria a indústria farmacêutica internacional integrada ao pesquisador nacional. Queria a legalização do aborto e teve violenta reação clerical. Defendia a vacinação básica compulsória porque não podia compreender a cegueira dos gestores da saúde, o que lhe valeu a inimizade de tantos cientistas menores cronificados nas esferas do poder público. Tendo iniciado sua carreira médica especializando-se em Virologia, nos Estados Unidos, de volta ao Brasil elegeu as vacinas antivirais como sua linha de pesquisa, e posteriormente o tétano, onde deu enorme contribuição ao estudo dessa patologia. Fundou a Sociedade Internacional de Tétano, com sede em Lyon, na França, e alcançou o respeito da Organização Mundial da Saúde e da sociedade científica mundial. Em 1980, comandou a fundação da Sociedade Brasileira de InfecAbril/Maio/Junho de 2004 des universidades do exterior, foi contemplado e festejado nos grandes centros científicos do mundo, recebendo as mais altas e merecidas comendas. Em nossas andanças pelos grandes centros de pesquisa do mundo pude testemunhar o quanto era reconhecido e respeitado. Assisti a discussões científicas entre o mestre e os grandes Ricardo Veronesi, um dos fundadores da SBI, faleceu no dia 8 de maio de 2004, nomes da ciência aos 85 anos, em São Paulo mundial. Veronesi fatologia. Por suas mãos e liderança, meu mestre. Ensinou-me os camizia proposições que freqüentebuscou uma alternativa associativa nhos da ciência e me contemplou mente deixavam seus interlocutores à Medicina Tropical e que, por com o convívio de sua inteligência, entusiasmados. abraçar essencialmente apenas as sua personalidade marcante, impulCompartilhamos tantas e tantas grandes endemias nacionais, teimosiva, humana. Ninguém foi indiferenpesquisas com grandes nomes da samente não abria espaço à desamte ao mestre: endeusado por muiciência mundial, em uma época que parada infectologia clínica. Foi seu tos, odiado por outros. Veronesi foi a pesquisa não estava atrelada e enprimeiro Presidente, conseguindo polêmico como desejava. comendada pelo marketing das às duras penas superar descrédiFoi extremamente discriminado grandes corporações da indústria tos e preconceitos, implantando a por suas posições políticas mais “à farmacêutica. Tive o orgulho de hoje forte e reconhecida SBI. direita”. Muitos se afastaram pelo conviver em nossas andanças pelo Consultor da Academia de Ciênrótulo injusto que recebeu de mundo com figuras notáveis como cias dos Estados Unidos, membro “agente da direita”. Conseguiu, em Sabin, Salk, Frenkel, Krugman, do conselho editorial de inúmeras seu tempo, a contradição de preGadusek, Trepo, Cvetanovic, Masur, publicações indexadas, traçou hogar à direita e lutar pelas injustiças Gallo, Montagnier, Fauci, Rizzetto, rizontes para tantos discípulos, deie desigualdades sociais. Mas isso o Blumberg, Bizzini, Kryzanovski, xou uma escola, escreveu livros magoava muito, e talvez tenha sido Yamaguchi, e tantos expoentes mais aqui e lá fora, elaborou um dos a força motriz de viver a ciência em da infectologia. E assim era meu mais extensos currículos da univeresferas científicas mais altas no exmestre. Assim são os gênios. Prosidade brasileira. terior onde tinha seus méritos refessor Veronesi foi um Homem exEntretanto, e curiosamente, guarconhecidos. traordinário, que honrou nossa cidava o segredo de que seu maior feiProfessor Emérito da Universidaência e deixa uma lacuna que jato em vida havia sido a paternidade de de São Paulo recebeu título de mais será preenchida. Um cidadão de uma lei que conseguiu fazer aproProfessor Honóris Causa de granda Humanidade. var tornando obrigatória a vacinação antitetânica em pré-escolares. Osten(*) Infectologista e Professor Livre-docente pela FMUSP. Coordenador do Grupo de Hepatites do Hospital Emílio Ribas. tava a soberba dos vencedores, mas Foi fundador e vice-presidente da SBI. Co-autor de inúmeros como todo ser humano se gratificaartigos e livros com Ricardo Veronesi, entre eles o Tratado de va mesmo pelos pequenos atos de Infectologia, ganhador do Prêmio Jabuti em 1997. A íntegra dessa grandeza que pode oferecer à socihomenagem está no site da SBI: www.infectologia.org.br. edade. Era o que mais admirava no Boletim SBI - 7 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO Índices de vacinação superam expectativas A necessidade do controle mundial da gripe é um alerta que vem sendo dado por importantes órgãos da saúde. A Organização Panamericana de Saúde (Opas) alerta para a chegada da gripe mais forte dos últimos tempos, provocada pelo vírus Fujian, subtipo do Influenza. A população idosa merece atenção especial nas políticas públicas que visam prevenir a doença. “O organismo do idoso é mais vulnerável à gripe. Eles podem sofrer complicações, como a desestabilização de um quadro de doença cardíaca ou renal”, explica Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. A Campanha Nacional de Vacinação do Idoso deste ano superou mais uma vez as expectativas do governo. A meta das autoridades era alcançar 10,64 milhões de pessoas acima dos 60 anos, o que representa 70% da população idosa. No entanto, dados prévios divulgados pelo ministério já indicam a imunização de 12,6 milhões de idosos em todo o país, o que representa 83% dessa população. A campanha realizada é uma das maiores do mundo. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que oferecem essa vacina gratuitamente para idosos”, destaca Barbosa. Mais de 80% dos municípios brasileiros superaram a meta de 70% de cobertura da população idosa estabelecida pelo ministério nos anos de 1999, 2001 e 2003. “Os resultados são bastante satisfatórios, levando-se em conta que se trata de uma vacina que é preciso tomar todos os anos”, observa Barbosa. As autoridades alertam, ainda, para a falta de respaldo à campanha pelos médicos brasileiros. Pesquisa realizada em 2001 pelo governo do estado de São Paulo, instituto Data Folha e laboratório Aventis-Pasteur mostrou que 71,4% dos idosos entrevistados não receberam recomendação do médico para se vacinar. 8 - Boletim SBI Mais de 80% dos idosos foram vacinados “Os médicos precisam se informar sobre os benefícios da vacina e transmitir isso aos seus pacientes”, afirma Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Departamento de Vigilância Epidemiológica, da SVS. Conquistas do PNI Os impactos das iniciativas do programa fizeram com que, já em 1980, a estratégia do Dia Nacional de Vacinação contra a Poliomielite fosse recomendada pela Opas e adotada por diversos países do mundo. O Brasil não registra nenhum caso de poliomielite desde 1980. Doenças que afligiam milhares de crianças brasileiras estão controladas, como as formas graves de tuberculose, o sarampo, o tétano, a coqueluche, a difteria, a rubéola, a caxumba. Foram erradicadas a febre amarela urbana e a varíola. As crianças menores de dois anos passaram a receber em 1999, em caráter de rotina, a vacina contra a bactéria Haemophilus influenzae tipo b, uma das principais causadoras da meningite infantil. A cobertura vacinal obtida pelo PNI em menores de um ano chegou a 94,7% em 1999, enquanto que em 1978 atingia somente 40% das crianças. Entre as vacinas de rotina, em menores de um ano, o país vem alcançando 100% de cobertura contra a tuberculose. Assim como tem alcançado as médias de 98% contra sarampo, 94% contra difteria, coqueluche e tétano. Os investimentos na compra de imunobiológicos cresceram 290% de 1995 a 2000. Os recursos saltaram de R$ 60 milhões, em 1995, para R$ 234 milhões, em 2000, segundo dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. A Secretaria de Vigilância em Saúde disponibilizou 1,6 bilhão de doses no período de 1995 a 2000. De 214 milhões, em 1995, saltou para 329 milhões no ano de 2000. O Brasil produz 75% das vacinas que são distribuídas pelo governo. Dessa porcentagem, metade é produzida pelo Instituto Butantã. Em entrevista ao Dr. Drauzio Varella, o dirigente do Instituto, Isaias Raw, observa que o Brasil precisa trilhar o caminho da auto-suficiência. No caso da Hepatite B, por exemplo, a demanda brasileira é de 40 milhões de doses e os investimentos para as importações da vacina são altos. “O Brasil gasta na importação desses produtos 200 milhões de dólares por ano. Para montar uma fábrica de Primeiro Mundo, gastaria 25 milhões. Temos competência para fazer a vacina bem feita numa fábrica que nada fica a dever às do Primeiro Mundo”, explica Raw. A rede pública coloca à disposição de toda a população os imunobiológicos de rotina, nos postos de vacinação, e também os imunobiológicos especiais, nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Centros de Referência são criados para atender público especial Os primeiros centros foram instalados em 1993 nos estados de São Paulo, Ceará, Paraná e Distrito Federal. Hoje o número de centros chega a 36, espalhos em diversas regiões do país. Os CRIEs atendem a população que necessita de produtos especiais, de alta tecnologia e de custos elevados e que são adquiridos pela Secretaria de Vigilância em Saúde. Para fazer uso dessa medicação, é necessário que o paciente apresente a indicação médica e um relatório clínico sobre seu caso. Ao melhorar o acesso à vacinação e com a implantação do acompanhamento das reações pósvacinais - ações proporcionadas pelo PNI - começaram a ser iden- tificadas pessoas que necessitavam de abordagens individualizadas. São pacientes que, por serem portadores de quadros clínicos especiais - doenças crônicas ou imunodeficiência - ou por terem história anterior de reações graves a componentes do produtos, precisam de imunobiológicos especiais. A normatização técnica do PNI conta com o apoio de um Comitê Técnico Assessor em Imunizações, no qual também participam peritos indicados pelas sociedades médicas de especialidades, tais como as Sociedades Brasileira de Pediatria, Medicina Tropical e, mais recentemente, também de Infectologia (Dra. Marta Heloisa Lopes é a representante da SBI). Abril/Maio/Junho de 2004