Sociedade de Infectologia do Distrito Federal Brasília, 20 de março de 2017. Ao Senhor Secretário de Saúde do Distrito Federal, Dr. Humberto Fonseca Carta Sociedade de Infectologia do Distrito Federal sobre a Especialidade na Rede Pública do Distrito Federal A presente carta tem a finalidade de contribuir com a melhoria da Saúde Pública do Distrito Federal, apontando alguns elementos críticos que impactam na qualidade da assistência, no momento em que se promulga a portaria n.123 de 16 de março de 2017, para que sejam viabilizadas as soluções mais efetivas que atendam os anseios da população, de forma harmônica com as expectativas e necessidades dos profissionais de saúde envolvidos. A especialidade Infectologia congrega médicos e médicas que estão inseridos em diferentes campos da assistência à saúde, contribuindo nas áreas hospitalar e clínica, na vigilância em saúde, no diagnóstico e enfrentamento das epidemias e de doenças emergentes. O campo de atuação no marco da saúde pública se estende à identificação e tratamento de agravos que acometem a nossa população cronicamente, em especial: infecção por HIV, os vírus causadores das hepatites A, B e C, sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis, infecções relacionadas à assistência à saúde e infecções por bactérias multirresistentes. Em momentos recentes a população brasileira contou com infectologistas para combater agravos de grande importância, como por exemplo: Febre Amarela, Zika vírus, Dengue e Chikungunya. A nossa participação também foi muito relevante na elaboração dos planos de contingência para o acolhimento de possíveis casos de Doença pelo vírus Ebola no Brasil, dentre outros. No dia 27/02/2017, a Organização Mundial de Saúde publicou uma lista de bactérias para as quais a pesquisa de novos antibióticos é urgentemente necessária. Esta realidade está presente no Distrito Federal, sendo crucial a promoção do uso racional de antimicrobianos em todos os contextos, principalmente no ambiente hospitalar. Novamente, os profissionais infectologistas jogam um papel crucial no planejamento das estratégias e na execução das atividades de saúde pública nesse campo. Na rede pública do Distrito Federal encontramo-nos numa situação de crise na saúde, haja vista a declaração pelo governo de estado de emergência durante os últimos dois anos. A falta de insumos para a realização de exames microbiológicos, Sociedade de Infectologia do Distrito Federal exames complementares para avaliar e acompanhar os pacientes que sofrem de infecções em ambiente hospitalar e a irregularidade no fornecimento de alguns antibióticos, somadas à estrutura física precária de várias unidades de saúde e também à falta de outros materiais, criam um cenário desfavorável ao melhor resultado terapêutico possível para os pacientes. Também é de grande preocupação a falta de insumos para os exames sorológicos para o diagnóstico de HIV e hepatites B e C que dificulta o acesso de muitos pacientes ao diagnóstico destas patologias podendo gerar diagnósticos tardios e também a possibilidade de transmissão dessas infecções para terceiros. Especificamente, para a população que vive com a infecção por HIV/aids, o desabastecimento de medicamentos para tratar e evitar as infecções oportunistas tem causado problemas constantes. Em relação à Portaria n.123 de 16 de março de 2017, a Sociedade Brasileira de Infectologia, Regional DF, reconhece a urgente necessidade de reformulação do sistema de saúde para corrigir o enorme problema de acesso ao cuidado que a maioria da população enfrenta. No entanto, o impacto da referida portaria, na atuação dos profissionais infectologistas, deve ser considerado no contexto do cenário constituído pelos nove Centros de Referência para o Atendimento de Pacientes Portadores do HIV/Aids no Distrito Federal, a saber: Hospital Dia - 508/509 Sul, Centro de Saúde n.11 - 905 Norte, Hospital Universitário de Brasília, Hospital Regional de Sobradinho, Centro de Saúde n.01 de Planaltina, Policlínica de Taguatinga, Ambulatório n.02 do Hospital Regional de Ceilândia, Centro de Saúde n.02 do Guará e Centro de Saúde n.05 do Gama. Nestas unidades há um fluxo de trabalho estabelecido e equipe multiprofissional constituída, além do infectologista, por enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas, o que é recomendado e desejável, dentro da política nacional de cuidado oferecido às pessoas que vivem com HIV/aids, propiciando uma assistência integral ao paciente com elevada resolubilidade. Solicitamos, portanto, a manutenção destes Centros de Referência atualmente constituídos com a sua respectiva estrutura física e a equipe multiprofissional de atendimento, que beneficiam um grupo significativo de pacientes. Propomos que tais centros de referência coexistam com a Estratégia de Saúde da Família, favorecendo a integração das ações. A distribuição dos profissionais infectologistas tanto na lotação por Regional de Saúde, quanto na distribuição das horas individuais de trabalho nas unidades que necessitam ser contempladas pode ser adequada com a finalidade de atender da melhor forma a todas as demandas da população geral sem prejuízo ao cuidado oferecido à população que vive com a infecção por HIV/aids. Sociedade de Infectologia do Distrito Federal Por outro lado, a situação dos profissionais que não são concursados na SES para a área de infectologia, mas que atuam no atendimento de pacientes portadores de HIV/Aids, deve receber especial atenção dos gestores, tendo em vista o grande número de pacientes e a sobrecarga de alguns serviços, sendo necessário considerar a manutenção destes profissionais vinculados ao Programa de HIV/Aids, desde que demonstrem expertise na área. Colocamo-nos a disposição dos gestores do sistema de saúde do Distrito Federal para que por meio do diálogo construtivo encontremos as melhores soluções para os problemas que enfrentamos. Atenciosamente, Valéria Paes Lima Fernandes Presidente da Sociedade de Infectologia do DF Gustavo Adolfo Sierra Romero Vice-Presidente da Sociedade de Infectologia do DF Diretor da Faculdade de Medicina da UnB