título do resumo

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Avaliação de parâmetros metabólicos em ratos expostos à fluoxetina
durante desenvolvimento
Bruno Vinicius Duarte Marques; Graziela Scalianti Ceravolo, e-mail:
[email protected]
Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciências
Fisiológicas/CCB.
Área e sub-área do conhecimento: Saúde/Farmácia
Palavras-chave: Farmacologia, Exposição intrauterina a fármacos; Fluoxetina
Resumo
A fluoxetina (FLX) cruza barreira placentária, é secretada no leite materno e é
comumente usada para o tratamento de depressão gestacional e pós-parto. É
amplamente descrito que a FLX pode provocar efeitos no desenvolvimento de
áreas do sistema nervoso central que realizam a regulação neuroendócrina. O
objetivo deste trabalho foi avaliar se o tratamento materno com FLX, e a
consequente exposição da prole a este fármaco, provoca alterações em
padrões morfológicos e também na resposta à insulina da prole adulta. Foram
utilizados ratos Wistar, com 75 dias de idade, cujas progenitoras receberam
FLX (5mg/kg) ou água (Controle) durante a gestação e amamentação. Foram
aferidos o peso e comprimento naso-anal para cálculo do índice de Lee e os
depósitos de gorduras removidos, dissecados e pesados. Em ratos com
restrição alimentar de quatro horas, foi aferida a glicemia basal e realizado o
teste de sensibilidade à insulina (ITT). Os resultados encontrados mostram que
a exposição à FLX não provoca alterações nos parâmetros metabólicos
avaliados neste trabalho.
Introdução e objetivo
A depressão é uma doença multifatorial e que atinge diversas faixas etárias. A
grande incidência desta patologia se mantem em mulheres em idade fértil e
gestante, e tem uma prevalência de 8,5% à 11,0% durante a gravidez e de
6,5% à 12,9% no período pós natal (GAYNES et al., 2005).
Para o tratamento da depressão, um dos fármacos mais utilizados é a
fluoxetina, classificada como categoria C pelo FDA, já é amplamente descrita a
sua farmacocinética e conhecida a sua capacidade de atravessar a placenta
humana (Heikkinen et al. 2002) e também de ser excretada pelo leito materno
(Hendrick et al. 2001).
De acordo com Sousa-Ferreira et al., (2014) a exposição in vitro à fluoxetina
aumenta proliferação das células neuroprogenitoras no hipotálamo e inibe a
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sua diferenciação. Além disso, a fluoxetina in vitro altera a expressão de
neuropeptideos que controlam a ingesta de alimentos, como por exemplo,
aumenta a expressão do neuropeptídeo Y (NPY) e AgRP durante a proliferação
celular, e diminui a expressão de NPY durante a diferenciação destas células.
A exposição à fluoxetina durante o desenvolvimento do neonato pode causar
alterações, em longo prazo, no eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal, levando a
diminuição dos níveis séricos de corticosterona, de globulina ligadora de
corticosterona e do índice de corticosterona livre (Pawluski et al. 2012), o que
pode interferir no metabolismo da glicose e alterar a glicemia.
Foi demonstrado que a exposição à fluoxetina, na dose de 10mg/Kg, pode
causar alterações metabólicas e endócrinas na vida adulta de ratos, essas
alterações são consistente com a diabetes tipo 2 e suas co-morbidades, tais
como obesidade e dislipidemia (De Long et al., 2015).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar se a exposição intrauterina e
durante a lactação à fluoxetina causa alteração no Índice de Lee, na
porcentagem de gordura perigonadal e retroperitoneal, e no teste de tolerância
à insulina (ITT).
Procedimentos metodológicos
Para este estudo foram utilizadas fêmeas penhas dividas em dois grupos, o
grupo fluoxetina, que recebeu este fármaco na dose de 5mg/Kg/dia, e o grupo
controle, que recebeu água da torneira, sendo ambos os tratamentos
realizados por gavagem. As progenitoras receberam o tratamento desde o dia
gestacional 0, dia em que foi determinado a gravidez, até o 21º dia após o
nascimento da ninhada, sendo este o dia do desmane da ninhada. Após o
desmame, a prole foi alocada em gaiolas coletivas (5 ratos/gaiola) até o dia dos
experimentos. Para os experimentos foi utilizada a prole masculina, com 75-95
dias de idade.
Índice de Lee e peso de tecido adiposo: Os ratos foram pesados (g), em
balança apropriada, e anestesiados com tiopental sódico (40mg/Kg, ip). Após,
o comprimento naso-anal (cm) foi medido e cálculo o índice de Lee. Também
foram dissecadas e pesadas as gorduras perigonadal e retroperitoneal e os
valores expressos como peso de gordura por 100g de peso corporal.
Teste de tolerância à insulina: Os ratos foram privados de ração nas 4 horas
que precederam o teste, porém com acesso livre a água. Para realização do
procedimento esses foram anestesiados com tiopental sódico, na dose de
40mg/Kg, por via intraperitoneal. Depois de anestesiados, foi realizado um
corte na causa do animal para aferir a glicemia basal (ng/dL), com o uso de
um glicosímetro. Em seguida, foi administrada insulina humana na dose de
0,75 U/kg por via endovenosa na veia peniana. A glicemia dos animais foi
aferida nos tempo 4, 8, 12 e 16 minutos após a administração da insulina. A
constante de decaimento da glicose durante o teste (kITT) foi calculada a partir
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da regressão linear do logaritmo neperiano dos valores de glicemia (Lobato et
al, 2011). As comparações foram feitas com o teste T, considerando a
diferença estatística quando p<0,05. Os protocolos realizados neste estudo
foram aprovados pelo comitê de Ética da Universidade Estadual de Londrina
(CEUA nº14441-2013.18).
Resultados e discussão
A exposição à fluoxetina durante o desenvolvimento não alterou, na prole
adulta: o peso corporal (C: 288,00 ± 18,61 (7) vs FLX: 310,10 ± 14,59 (8)),
comprimento naso-anal (C: 22,07 ± 0,48 (7) vs FLX: 21,94 ± 0,29 (8)), gordura
perigonadal (C: 0,95 ± 0,04 (6) vs FLX: 0,91 ± 0,04 (7)), gordura retroperitonial
(C: 0,79 ± 0,08 (6) vs FLX: 0,80±0,05 (7)), índice de Lee (C: 29,85 ± 0,31 (7) vs
FLX: 30,81 ± 0,35 (8)), glicemia basal (C: 123,10 ± 4,98 (7) vs FLX: 124,30 ±
6,25 (6)), resposta ao ITT (C: 2,57 ± 0,11 (7) vs FLX: 2,42 ± 0,27 (6)).
Nossos resultados, em ratos com aproximadamente 11 semanas de idade,
estão de acordo com os apresentados por Long et al (2015). Estes autores
demonstram que a exposição a 10mg/Kg de fluoxetina durante o
desenvolvimento, não altera na prole masculina, com 10-16 semanas de idade,
a tolerância à glicose e o peso corpóreo. Por outro lado, estes autores
demonstram que com 26 semanas de idade, a prole exposta à fluoxetina
durante o desenvolvimento apresenta diabetes tipo 2 e aumento do depósito de
gordura visceral. Sabe-se que o envelhecimento é um importante fator para
desenvolvimento de diabetes e outras alterações metabólicas, entretanto, até o
presente momento não é possível inferir se o envelhecimento da prole exposta
à fluoxetina, na dose de 5mg/Kg, poderia levar ao desenvolvimento de
alterações metabólicas.
Conclusão
A exposição à fluoxetina na dose de 5mg/Kg durante o desenvolvimento
embrionário e pós-natal não provoca alterações nos parâmetros metabólicos
avaliados na prole masculina adulta. Mostrando que nesta dosagem, a
exposição à fluoxetina pode ser considerada segura do ponto de vista
metabólico.
Agradecimentos
Os autores são gratos ao CNPq pelo auxílio financeiro (Edital Universal:
457034/2014-9).
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Referências
DE LONG, N.E. et al. Antenatal Exposure to the selective serotonin reuptake
inhibitor fluoxetine leads to postnatal metabolic and endocrine changes
associated with type 2 diabetes in Wistar rats. Toxicology and Applied
Pharmacology, Vol 285, p.32-40, 2015.
GAYNES, B. N. et al. Perinatal Depression: Prevalence, Screening Accuracy,
and Screening Outcomes. Evidence Report/Technology Assessment No.
119. (Prepared by the RTI-University of North Carolina Evidence-based
Practice Center, under Contract No. 290-02-0016.) AHRQ Publication No. 05E006-2. Rockville, MD: Agency for Healthcare Research and Quality. February
2005.
HEIKKINEN, T. et al. Transplacental transfer of citalopram, fluoxetine and their
primary demethylated metabolites in isolated perfused human placenta. BJOG:
an International Journal of Obstetrics and Gynaecology, Vol. 109, p. 1003–
1008, September 2002.
HENDRICK, V. et al. Fluoxetine and Norfluoxetine Concentrations in Nursing
Infants and Breast Milk. Society of Biological Psychiatry, Vol. 50, p.775-782,
2001.
LOBATO, N. S. et al. Obesity induced by neonatal treatment with monosodium
glutamate impairs microvascular reactivity in adult rats: Role of NO and
prostanoids. Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases, Vol. 21, p.
808-816, 2011.
PAWLUSKI, J. L. et al. Developmental Fluoxetine Exposure Differentially Alters
Central and Peripheral Measures of the HPA System in Adolescent Male and
Female Offspring. Neuroscience, vol. 220, p. 131-141, 2012.
SOUSA-FERREIRA, L. et al. Fluoxetine Induces Proliferation and Inhibits
Differentiation of Hypothalamic Neuroprogenitor Cells In Vitro. PLOS ONE, Vol
9, e88917, Março 2014.
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