AVALIAÇÃO DA RESPOSTA HEMODINÂMICA À INFUSÃO DE NITROPRUSSIATO DE SÓDIO EM RATOS ADULTOS EXPOSTOS À FLUOXETINA Leonardo André da Costa Marques (Bolsista Fundação Araucária), Natália Kimie Matsubara, Gislaine Garcia Pelosi Gomes, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Fisiológicas. Área e sub-área do conhecimento: Ciências Biológicas/Farmacologia. Palavras-chave: Respostas Vasculares, Nitroprussiato de Sódio, Fluoxetina. Resumo Fluoxetina (FLX) é um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Sabe-se que fetos e neonatos são expostos ao fármaco durante a gestação e amamentação. Não se conhece estudos que investiguem os efeitos causados no sistema cardiovascular de animais adultos expostos à FLX durante a gestação e amamentação. Assim, o presente estudo investigou os efeitos da exposição materna à FLX durante a gestação e lactação sobre respostas hemodinâmicas a nitroprussiato de sódio (NPS) na prole masculina. Ratas Wistar receberam FLX (5mg/kg; FLX) ou água (CTR) por gavagem entre o primeiro dia gestacional até o desmame da prole. No dia pós-natal 60-75, foi implantado na prole cânulas na artéria e veia femoral, para registro da pressão arterial e para a infusão de NPS, respectivamente. Após 24h, foi registrada a pressão arterial sob efeito do NPS para avaliação da resposta hemodinâmica. A curva dose-resposta foi analisada através do ANOVA de duas vias, seguido de pós teste de Bonferroni. O efeito máximo (Emáx) e dose para 50% do efeito (ED50) foram comparados com teste t de Student não pareado. A FLX na prole macho aumentou a velocidade de resposta ao NPS e a magnitude de Emáx (FLX: -56,33 ± 3,407, n=14; CTR: 45,89 ± 1,524, n=15), porém não alterou o valor de ED50 (FLX: 0,51 ± 0,09, n=14; CTR: 0,59 ± 0,128, n=15). Os resultados sugerem que a exposição à FLX durante a gravidez e amamentação aumentam a velocidade de resposta e a magnitude de Emáx, sem alterar o ED50 sob efeito do NPS. Introdução e objetivo A fluoxetina inibe seletivamente a recaptação da serotonina (5-HT) da fenda sináptica através do bloqueio dos transportadores de recaptação deste neurotransmissor (MORENO, 1999). 1 Os antidepressivos inibidores seletivos da recaptacão de serotonina (ISRSs) são capazes de cruzar a barreira hematoplacentária (POHLAND et al., 1989; SWERTS et al., 2010) e podem ser detectados também no leite materno (HENDRICK et al., 2001). O mecanismo dos ISRSs que pode contribuir com danos ao coração é a vasoconstrição. Assim, quanto mais serotonina liberada, maior a contração, sendo possível que os ISRSs amplifiquem este processo, uma vez que aumentam a disponibilidade de serotonina (SHELINE et al., 1997). Uma reação conhecida ao tratamento com os ISRS é chamada de síndrome de serotonina, podendo ser causada pela interação entre medicamentos utilizados no tratamento. A síndrome é expressa por uma série de instabilidades no organismo, afetando o estado emocional do paciente, causando hiperatividade do sistema nervoso autônomo e anormalidades no controle muscular (BOYER et al., 1991). O nitroprussiato de sódio (NPS) é considerado um potente agente vasodilatador direto, além disso, é utilizado para induzir a hipotensão (TINKER; MICHENFELDER, 1995). O NPS produz óxido nítrico através de mecanismos de segundos mensageiros. Diferentemente dos nitratos orgânicos, o NPS atua igualmente sobre o músculo liso arterial e venoso. Seu efeito resulta na diminuição da resposta da concentração de Ca++ responsável pela contração da célula muscular lisa. Além disso, o efeito vasodilatador também se deve ao mecanismo endotelial de L-arginina/NO, principalmente nas artérias (RANG et al., 2001). A partir destes dados, o presente estudo avaliou a resposta hemodinâmica à infusão de nitroprussiato de sódio em ratos adultos expostos à fluoxetina durante a gestação e a amamentação. Procedimentos metodológicos O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA/UEL, processo Nº208/12). Foram utilizados animais provenientes da colônia do Biotério Central da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Os animais foram transferidos para o Biotério do Departamento de Ciências Fisiológicas (CIF), onde foram mantidos sobre condições controladas, com água e ração à vontade. Foi dado início ao experimento através do acasalamento entre os animais. Aos serem consideradas prenhes, a partir deste dia, denominado dia gestacional (DG) 0, as fêmeas foram alocadas em gaiolas individuais e começaram a receber o tratamento com FLX por via oral (gavagem) o qual se estendeu até o dia do desmame da ninhada - dia pós-natal (DPN) 21. O grupo tratado recebeu FLX uma dose de 5mg/kg e o grupo controle (CTR), água. Para aferir a pressão arterial (PA), os animais (60-75 dias) dos grupos CTR e FLX foram anestesiados com tribromoetanol para a realização da 2 cirurgia de implantação de uma cânula na artéria femoral (para registro da Pressão Arterial) e outra cânula na veia femoral (para infusão do NPS). Os animais receberam o analgésico flunixina meglumina (2,5mg/kg) e foram mantidos por 24h de recuperação em caixas individuais para posterior avaliação da resposta hemodinâmica. No protocolo experimental, após 24h da cirurgia na artéria e veia femoral, os animais foram levados para a sala de experimentação e realizou-se a avaliação da resposta hemodinâmica na prole (60-75 dias) pela infusão endovenosa de NPS (70ug/Kg; 0,2mL/min) através de uma bomba de infusão. As infusões foram finalizadas após 10-40s, com a obtenção da rampa de resposta na PA. A curva dose-resposta do NPS foi gerada usando valores correspondentes de pressão arterial média (PAM) em tempo cumulativo de registro (3,5s). Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa GraphPad Prism 5. O Emáx e o ED50 de cada protocolo (FLX e CTR) foram comparados através do teste t de Student não pareado. A análise temporal da curva dose-resposta foi feita utilizando-se o teste ANOVA de duas vias, seguido por um pós teste de Bonferroni. Os dados foram expressos como média ± EPM, e o nível de significância adotado foi de 5%. Resultados e discussão O tratamento com FLX na prole macho aumentou a magnitude de resposta vasodilatadora de NPS em comparação ao grupo CTR. Também foi observado um aumento do valor de Emáx nos ratos machos tratados quando comparados com os animais controle (FLX: -56,33 ± 3,407, n=14; CTR: -45,89 ± 1,524, n=15; P=0,008, T=2,863). Não houve diferenças significativas entre os grupos no ED50. O resultado obtido indica que a FLX pode aumentar o potencial vasodilatador do NPS. Os resultados obtidos não corroboram com os demonstrados por Crestani et al. (2011), uma vez que estes observaram uma diminuição na resposta hemodinâmica para o NPS em animais machos adultos expostos à FLX durante o desenvolvimento e estágios iniciais da vida. Esta diferença pode ser justificada através da diferença metodológica: no estudo realizado por Crestani et al. (2011) o tratamento foi nos animais em idade adulta e não durante as fases iniciais do desenvolvimento, como no presente estudo. Conclusão Com os resultados obtidos no presente estudo, pode-se concluir que a exposição à FLX durante a gestação e período pós-natal aumenta a magnitude e a velocidade de resposta vasodilatadora ao NPS, porém, sem alterar o ED50 do efeito. 3 Agradecimentos Agradecimentos à Fundação Araucária pelo apoio financeiro neste projeto. Referências BOYER; SHANNON. The serotonin syndrome. Anaesthesia, v. 46, n. 6, p. 507–508, 1991. CRESTANI, C. C. et al. Chronic fluoxetine treatment alters cardiovascular functions in unanesthetized rats. European Journal of Pharmacology, v. 670, n. 2-3, p. 527–533, 2011. HENDRICK, V. et al. Fluoxetine and norfluoxetine concentrations in nursing infants and breast milk. Biological Psychiatry, v. 50, n. 10, p. 775–782, 2001. MORENO, R. A.; MORENO E MARCIA BRITO, D. H.; DE MACEDO SOARES, M. B. Psicofarmacologia de antidepressivos. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 21, n. SUPPL. 1, p. 24–40, 1999. POHLAND, R. C. et al. Placental transfer and fetal distribution of fluoxetine in the rat. Toxicology and applied pharmacology, v. 98, n. 2, p. 198–205, 1989. RANG, H. et al. Farmacologia. 4 ed. ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. SHELINE, Y. I.; FREEDLAND, K. E.; CARNEY, R. M. How safe are serotonin reuptake inhibitors for depression in patients with coronary heart disease? The American journal of medicine, v. 102, n. 1, p. 54–59, 1997. SWERTS, C. A. S. et al. Effects of fluoxetine and imipramine in rat fetuses treated during a critical gestational period: A macro and microscopic study. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 32, n. 2, p. 152–158, 2010. TINKER, J. H.; MICHENFELDER, J. D. Sodium nitroprusside. Reactions Weekly, v. 45, n. 538, p. 14, 1995. 4