Cólica nefrética em adultos

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Cólica nefrética em adultos
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1.
INTRODUÇÃO
A cólica nefrética é uma entidade frequentemente encontrada no atendimento de urgência em pronto
atendimentos de todo o mundo. A causa mais frequente é a passagem de cálculos urinários pelo trato
urinário. A incidência estimada anual é de cerca de 16 casos para cada 1000 pessoas e 2-5% da
população terá pelo menos um episódio durante a vida.
O rápido reconhecimento e pronto atendimento com analgesia adequada é de suma importância
para o cuidado adequado do paciente diminuindo o sofrimento devido à dor severa que aflige estes
doentes. O quadro clinico normalmente é muito característico com dor em cólica unilateral associada a
náuseas e vômitos, porém pode-se apresentar como dor abdominal inespecífica, urgência miccional,
aumento da frequência miccional ou dor referida em região testicular ou de grandes lábios.
Mecanismo da dor
A obstrução ao fluxo urinário leva a um aumento da pressão intraluminal do trato urinário e
consequente elevação da tensão nas paredes do ureter, pelve e cálices renais. Esta elevação de tensão
dentro do trato urinário estimula a produção e liberação local de prostaglandinas com consequente
vasodilatação e aumento da diurese o que leva a um aumento ainda maior da pressão intraluminal. Esta
liberação de prostaglandinas também atua no ureter acarretando em contração da musculatura lisa com
espasmo e piora da dor.
A obstrução pode ser causada por um cálculo urinário ou após a sua passagem pelo ureter
levando a edema da mucosa e consequente estreitamento da luz ureteral.
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Objetivos

Otimizar o diagnóstico da cólica nefrética em adultos.

Otimizar o tratamento da cólica nefrética com base na sua fisiopatologia.

Racionalizar a utilização de recursos diagnósticos para o pronto reconhecimento e definição da
conduta terapêutica.
Público Alvo

Pacientes maiores de 16 anos com quadro sugestivo de cólica nefrética.
População excluída

Pacientes com insuficiência renal diagnosticada.

Pacientes com cirurgias de reconstrução do trato urinário.

Pacientes com patologias gastrointestinais que impeçam o uso de anti-inflamatórios não hormonais
(AINHs).
2.
DIRETRIZ
A anamnese completa, atentando para a história da moléstia atual e antecedentes pessoais, é
muito importante para o correto atendimento do paciente e utilização de ferramentas diagnósticas e
terapêuticas adequadas para cada individuo. Apesar disso, muitas vezes, o paciente encontra-se em
situação de muita dor e não consegue se comunicar adequadamente ou compreender as nossas
perguntas. Nestas situações uma anamnese mais simples e direcionada ao quadro atual deve ser
empregada e a analgesia deve ser oferecida ao paciente. Assim, com o paciente mais tranquilo após o
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controle inicial da dor podemos obter a história completa e detalhada do problema do paciente.
Portanto, o controle da dor deve ser nosso primeiro objetivo, antes mesmo do diagnóstico definitivo.
2.1 Controle da dor
Esta é a primeira etapa no atendimento do paciente com cólica nefrética, antes da coleta de
exames laboratoriais ou da realização de exames de imagem. Os AINHs tem a melhor eficácia no
controle da dor na cólica nefrética (Tabela 1), sendo melhores que os opiáceos e devem ser a primeira
opção terapêutica em pacientes sem história de insuficiência renal ou gestantes. O controle da dor pode
ser realizado fora do ambiente hospitalar, após o controle inicial da dor, apenas se o paciente conseguir
tomar medicações por via oral e não apresentar suspeita de infecção ou de complicações.
Habitualmente os pacientes procuram o atendimento médico com dor intensa e náuseas necessitando
de medicamentos endovenosos para adequada analgesia.
Medicações auxiliares no cuidado ao paciente como analgésicos comuns e antieméticos são
úteis e devem ser utilizados em sinergia com os AINHs (Tabela 2 e 3).
Tabela 1 – Anti-inflamatórios recomendados na cólica nefrética
Droga
Dose
Cetoprofeno
Cetorolaco EV
Cetorolaco VO
Apresentação
100mg
30mg
10mg
VO ou EV
EV
VO
Posologia Mecanismo
de Efeitos Colaterais
ação
12/12hs
Inibição da síntese Efeitos gastrointestinais
de prostaglandinas se uso prolongado
6/6hs
6/6hs
Tabela 2 – Analgésicos e opióides recomendados na cólica nefrética
Droga
Dose
Apresentação
Dipirona
Paracetamol
2g
750mg
VO ou EV
VO
Tramadol
100mg
VO ou EV
Posologia Mecanismo
ação
6/6hs
6/6hs
6/6hs
de Efeitos Colaterais
Ativação indireta de
receptores CB1 do
sistema canabioide analgesia
Ativação
dos
Náuseas,
vômitos,
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Morfina
2mg
EV
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receptores opióides analgesia
depressão respiratória
Tabela 3 – Anti-eméticos recomendados na cólica nefrética
Droga
Dose
Apresentação
Posologia
Ondansetrona
8mg
VO ou EV
8/8hs
Metoclopramida
10mg
VO ou EV
8/8hs
2.2 Avaliação Diagnóstica
O quadro clínico muito característico auxilia no diagnóstico. Os pacientes normalmente
apresentam dor intensa em região lombar, flanco ou inguinal ipsilateral ao cálculo urinário de início
súbito. Tipicamente a dor é em ondas associadas à movimentação do cálculo dentro do trato urinário e
associada a náuseas e vômitos. Usualmente a dor é de grande intensidade e pode-se observar o
paciente ansioso e sudoreico sem posição para o alívio da dor (Quadro 1).
A localização da obstrução determina a localização da dor referida pelo paciente. Obstruções
proximais determinam dor em região lombar e em flanco enquanto em obstruções distais, próximas ao
meato ureteral acarretam em dor inguinal, testicular ou em grandes lábios. Também podem determinar
sensação de urgência miccional com aumento da frequência e disúria quando junto ao meato ureteral
ou em seu trajeto intramural na bexiga.
Devido à característica do cálculo urinário, a sua passagem pelo ureter leva a lesão da mucosa
que pode levar a presença de hematúria. Esta pode ser observada em exame de urina ou referida pelo
paciente na observação da micção.
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A presença de febre, história de manipulação prévia do trato urinário, portadores de derivações
urinárias, dor de difícil controle, gestantes, imunossuprimidos ou com rim único a avaliação deve ser
mais atenciosa incluindo exames laboratoriais para excluir presença de complicações.
Quadro 1 – Sintomas e características da cólica nefrética Dor em cólica de forte intensidade
Inicio abrupto
Dor lombar ou em flanco
Dor inguinal com irradiação região genital
Náuseas e vômitos
Urgência ou aumento da frequência miccional
Disúria
Hematúria
2.3 Avaliação Laboratorial
Uma avaliação bioquímica simples é recomendada a todos os pacientes com cálculo urinário na
emergência. Exame de urina tipo I pode ajudar no diagnostico apesar de a ausência de hematúria não
excluir o diagnóstico.
Em caso de suspeita de infecção ou em situações especiais (Quadro 2) a coleta de exames
laboratoriais deve ser realizada (creatinina, uréia, sódio, potássio, hemograma, PCR e urocultura) já que
podem requerer procedimento urológico de urgência para desobstrução do trato urinário.
Quadro 2 – Situações especiais
Febre (T >37,8ºC)
Dor de difícil controle
Manipulação prévia do trato urinário
Derivações urinárias
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Gestantes
Imunossuprimidos
Rim único
Diabéticos
Insuficiência renal crônica
Dilatação importante do trato urinário
2.3 Diagnóstico por imagem
Duas modalidades de exame de imagem são adequadas para a investigação diagnóstica em
pacientes com cólica nefrética: ultrassonografia e tomografia computadorizada.
As vantagens da ultrassonografia são sua facilidade de realização e ausência do uso da
radiação iônica. Porém sua sensibilidade é moderada, cerca de 55% quando realizada em caráter de
urgência sem o preparo adequado. Portanto, muitos pacientes com quadro muito sugestivo de cólica
nefrética podem não ter seu diagnóstico definido pela ultrassonografia e acabarão sendo submetidos à
tomografia computadorizada. Apesar disso, em pacientes gestantes a ultrassonografia deve ser o
método de escolha para iniciar a investigação diagnóstica devido a não utilização de radiação ionizante.
A tomografia computadorizada é a modalidade com a melhor sensibilidade na detecção de
cálculos urinários aproximando-se de 100% de sensibilidade. Atualmente protocolos de litíase utilizam
baixa radiação para sua realização não impactando significativamente a sensibilidade do exame. Além
disso, a tomografia é capaz de identificar diagnósticos alternativos que podem similar uma cólica renal.
Deve-se atentar para pacientes em uso de antirretrovirais, indinavir especificamente, que podem
apresentar cálculos renais por inibidores de proteases que não são radio-opacos e, portanto, não
observáveis na tomografia.
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3.
TRATAMENTO
Cálculos urinários que geram cólica nefrética normalmente estão em movimentação e causam
incomodo quando passam pelo ureter e obstruem sua luz no mínimo parcialmente. Na maioria dos
casos ocorre eliminação espontânea destes cálculos. Alguns critérios tem bom valor preditivo positivo
de eliminação espontânea: posição do cálculo em ureter distal, eliminação anterior de cálculos e cálculo
menor de 6mm. Cálculos de pequeno tamanho tem uma chance muito grande de serem expelidos
espontaneamente e os pacientes devem ser informados sobre tal fato. Mesmo nestas situações
podemos auxiliar a resolução do caso com orientação, adequado tratamento da dor e utilização de
medicamentos que favorecem a expulsão do cálculo.
A avaliação do urologista na urgência se faz necessária quando situações especiais forem
identificadas.
3.1 Terapia medicamentosa expulsiva
A expulsão do cálculo urinário pode ser facilitada com a utilização de medicações. Duas classes
de medicamentos mostraram eficácia na eliminação de cálculos urinários na fase aguda: alfabloqueadores e bloqueadores de canal de cálcio. Apesar de eficaz, o uso de bloqueadores de canal de
cálcio é significativamente menos efetivo que o uso de alfa-bloqueadores na expulsão de cálculos. Entre
os alfa-bloqueadores não existe diferença na taxa de sucesso. As medicações utilizadas são a
Tansulozina e a Doxazosina (Tabela 4). Em cálculos de até 5 mm o uso de alfa-bloqueadores aumenta
pouco a taxa de sucesso na expulsão, já que são elevadas, porém melhoram o controle da dor.
Tabela 4 - Alfa-bloqueadores recomendados na cólica nefrética
Droga
Tansulosina
Dose
0,4mg
Apresentação
VO
Posologia
1x/d noite
Mecanismo de ação
Relaxamento
da
Efeitos Colaterais
Hipotensão
postural,
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Doxazosina
4mg
VO
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1x/d noite
musculatura
ureter
lisa
do
ejaculação retrógrada.
3.2 Filtragem da urina
Durante o acompanhamento do paciente com cálculo urinário, este deve ser orientado sobre a
realização de filtragem da urina com filtro adequado. Este procedimento facilita a identificação da
eliminação do cálculo e pode fornecer material para análise laboratorial do cálculo para investigação
metabólica.
3.3 Critérios para avaliação urológica de urgência
Pacientes que não apresentam os critérios abaixo podem ser liberados com analgesia oral
incluindo AINHs, um alfa-bloqueador, orientação de filtragem da urina e avaliação urológica em 7 dias.
Se alguma das situações abaixo estiver presente, a avaliação do urologista é preconizada para a
definição se o paciente necessitará de internação ou de alguma intervenção.

Febre (T>37,8 ºC)

Suspeita de infecção do trato urinário

Dilatação importante via urinária

Dor de difícil controle

Insuficiência renal aguda

Cálculo obstrutivo em rim único

Cálculo > 5 mm

Gestante
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4. FLUXOGRAMA
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Türk C, Knoll T, Petrik A, Sarica K, Skolarikos A, Straub M, Seitz C. Guidelines on Urolithiasis, EAU
(European Association of Urology), 2015.
2. Curhan GC, Aronson MD, Preminger GM. Diagnosis and acute management of suspected
nephrolithiasis in adults. www.Uptodate.com (última atualização em Junho de 2015 e acessado em
Setembro de 2015).
3. Campschroer T, Zhu Y, Duijvesz D, Grobbee DE, Lock M. Alpha-blockers as medical expulsive
therapy for ureteral stones. Cochrane Database of Systematic Reviews 2014, Issue 4.
4. American Urological Association (AUA) Nephrolithiasis Clinical Guideline Panel. Guideline for the
management of Ureteral Calculi. AUA (American Urological Association), 2007.
ELABORAÇÃO DESTE DOCUMENTO
Autores: Bruno Camargo Tiseo, Jose Roberto Colombo Junior.
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CÓLICA NEFRÉTICA EM ADULTOS
ORIENTAÇÕES PÓS ALTA HOSPITALAR
Informações sobre a doença
A cólica nefrética é a manifestação dolorosa causada pela passagem de um cálculo pelo trato
urinário. Aproximadamente 9% da população vai desenvolver cálculos urinários durante a vida e 2 a 5%
das pessoas apresentarão um quadro de cólica por estes cálculos. A formação de cálculos é mais
frequente em homens do que em mulheres. O diagnóstico definitivo é baseado em exames de imagens,
normalmente Ultrassonografia ou Tomografia Computadorizada. É comum o aparecimento de sangue
na urina, que na maior parte das vezes não é notado pelo paciente a olho nu, devido à passagem do
cálculo pelo trato urinário e consequente trauma das paredes do ureter e sangramento em pequena
quantidade.
Apenas em circunstâncias especiais a remoção destes cálculos deve ser realizada na urgência.
Na maioria dos casos os cálculos passam pelo trato urinário e são expelidos espontaneamente pelos
pacientes.
Sobre o tratamento
O tratamento visa controlar os sintomas para que o cálculo seja eliminado pelo paciente. O uso
de analgésicos controla a dor durante o período que o cálculo transita pelo trato urinário e o uso de
medicações que relaxam a musculatura do ureter facilita sua eliminação.
Situações em que existe infecção urinária associada, piora da função renal ou dor incontrolável
são abordadas com intervenção cirúrgica para desobstrução do trato urinário. É importante atentar para
os sinais de alerta e seguir as orientações de tratamento recebidas.
Orientações para casa


Agende uma consulta/retorno com o médico especialista (Urologista) para seguimento do quadro
atual e para monitorizar a eliminação do cálculo;
Realize a filtragem da urina para conseguir recuperar o cálculo. Se o fizer, leve ao seu médico
para que possa ser realizada uma análise que pode auxiliar na prevenção de novos episódios.
Retorne com seu médico ou ao pronto atendimento se:



Aparecimento de febre (T>37,8°C);
Dor local de forte intensidade que não cessa com a medicação prescrita;
Diminuição da diurese durante o dia;
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

Náuseas e vômitos que impossibilitem a alimentação;
Prostração, mal estar, cansaço excessivo. RESUMO
Descrição em forma de resumo para acesso em meios alternativos de conectividade como tablets ou celulares
ANEXOS
DOCUMENTOS RELACIONADOS
DESCRIÇÃO RESUMIDA DA REVISÃO
00
Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires (24/12/2015 03:36:27 PM) - Diretriz de cólica nefrética em adultos atendimento UPA.
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