A FOBIA SOCIAL COMO FATOR LIMITANTE DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR Darclei da Silva Matos (Universidade Nilton Lins) [email protected] Mônica de Oliveira Costa (Universidade Nilton Lins) [email protected] Aldalúcia Macêdo dos Santos Gomes (Universidade do Estado do Amazonas) [email protected] Resumo: O presente trabalho trata de um ensaio teórico, o qual traz a discussão sobre a fobia social presente no contexto escolar, busca ainda a realização de estratégias alternativas no sentido de oferecer apoio aos estudantes portadores de tal transtorno. Conscientizar as pessoas envolvidas com a educação de que a fobia social é um transtorno caracterizado por ansiedade intensa gerada quando o estudante é submetido a situações de exposição pública ou quando necessitam passar por um processo de avaliação. Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa proveniente de levantamento bibliográfico. A pesquisa aponta para a importância da participação dos pais e educadores na vida dos estudantes que convivem com a fobia social. Compreender minimamente as dificuldades de aprendizagem que tal transtorno pode acarretar na vida dos estudantes e que o mesmo pode ser tratado são fatores que podem contribuir para amenizar as suas consequências. Palavras chave: Fobia social, Contexto escolar, Transtorno, Ansiedade. SOCIAL PHOBIA AS A LIMITING FACTOR IN THE CONTEXT OF LEARNING SCHOOL Abstract This paper is a theoretical essay, which brings the discussion of social phobia present in the school context, seeks the realization of alternative strategies in order to offer support to students with such a disorder. Educate the people involved with the education that social phobia is a disorder characterized by intense anxiety generated when the student is subjected to situations of public exposure or when they need to go through an evaluation process. This study deals with a qualitative research from literature. The research points to the importance of involving parents and educators in the lives of students who live with social phobia. Understanding minimally learning difficulties that this disorder may result in students' lives and that it can be treated are factors that can contribute to mitigate the consequences of this disorder. Key-words: Social phobia, School context, Disorder, Anxiety. 1 Introdução O presente trabalho apresenta uma discussão a cerca da fobia social e suas possíveis implicações no processo de aprendizagem de estudantes no contexto escolar. De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 509) a fobia social atinge de 2% a 5% das pessoas, enquanto as fobias específicas afetam cerca de 10% da população. No decorrer deste trabalho, veremos a importância de conhecer o que é fobia social e as possíveis consequências ocasionadas no cotidiano dos estudantes portadores deste transtorno. Acredita-se que a fobia social é responsável pelo baixo desempenho escolar dos estudantes, uma vez que a mesma afeta diretamente o processo de aprendizagem. Comparadas aos homens, as mulheres apresentam o dobro das fobias específicas e apenas um pouco mais de fobia social (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 509). A fobia social está relacionada às pessoas muito tímidas fazendo com que o fóbico tenha um comportamento inadequado, a ponto de impedí-lo ou prejudicá-lo significativamente na realização de determinadas tarefas. Conforme Wesiack, Para lidar com a experiência do medo, superá-la, precisamos saber o que é o medo e quais são as funções que ele desempenha na nossa vida. O medo é uma das sensações elementares da vida, como o prazer, a alegria, a tristeza, a fome, a sede etc. Classificando essas sensações nas categorias “agradável” e “desagradável”, podemos considerar o medo como pertencente à categoria “desagradável” (WESIACK, 2002, p. 47). O medo ou fobia social é um obstáculo que precisa ser vencido, porém para que isto se efetive faz-se necessário ter conhecimento como ocorre, suas causas e consequências. Portanto, vale ressaltar que tal procedimento não é de fácil realização para o fóbico, uma vez, que o medo não só o impossibilita de observar com clareza tal processo como também dificulta a busca pelo tratamento adequado. Há casos em que a fobia deixa a pessoa extremamente vulnerável diante de determinadas situações, pois geralmente ocorre abalo na estrutura emocional. A escola exerce um papel fundamental na educação do estudante, pois a mesma além de desempenhar uma função instrucional é responsável pela formação social do ser humano. Portanto, acredita-se que a escola que ignora a fobia torna-se negligente com os estudantes que sofrem de tal transtorno e que necessitam de auxílio para superá-lo. Nota-se que os indivíduos com fobia social frequentemente têm baixo desempenho, devido à forte ansiedade frente a teste ou mesmo pelo fato de esquivarem-se a participar de atividades que exijam exposição em sala de aula. O presente trabalho trata-se de um ensaio teórico, após obedecidas as etapas de leituras, fichamentos e sínteses dos autores que abordam a temática, procurou-se por meio de uma discussão levantar questionamentos tanto quanto a observação, diagnóstico e tratamento dos estudantes portadores de tal distúrbio. 2 O que é fobia social? Fobia Social é um transtorno caracterizado por intensa ansiedade em situações de desempenho social. A ansiedade na fobia social, tal como em outros transtornos emocionais, pode ser experimentada de várias maneiras, uma intensa inquietação interna, um estado de pânico, ou sob a forma de alguma manifestação física, como por exemplo, suar muito nas mãos. Conforme Gazzaniga e Heartherton (2005, p. 509) a fobia social pode ser definida ainda como “o medo de ser negativamente avaliado pelos outros e inclui o medo de falar em público e de comer na frente dos outros”. Existem, contudo, duas características que são fundamentais na identificação da ansiedade própria da fobia social: a necessidade urgente de sair da situação e o reconhecimento de que o medo é irracional. A despeito de ter o anseio de manter contato com as pessoas, de conviver, a intensa sensação de ameaça impede que isso ocorra. Em geral, a pessoa faz sacrifícios para suportar o mal estar e, com o tempo, convencem-se de que eles são inúteis. A sensação de ameaça, o medo, as manifestações físicas, são os aspectos mais visíveis para a pessoa. Mas tudo isso são apenas sinais e sintomas de complexas interações internas. Segundo, Wesiack (1999, p.56) “o medo e o pânico também exercem uma influência sobre o decurso da doença”. Enquanto as formas brandas de medo têm um efeito até vantajoso, por causar estado de alarme e prontidão que se instalam no organismo, em que são ativadas as forças de defesa, as formas mais graves de medo, ou até o pânico, têm um efeito desvantajoso e negativo, pois diante de uma situação de ameaça, ao invés de a pessoa tomar uma atitude, realizar uma ação para sair da situação, ela simplismente trava. Ao se aprofundar um pouco nessas vivências percebe-se a existência de sentimentos contraditórios de julgamentos distorcidos a respeito de si, das pessoas e do mundo. A observação ainda mais detalhada revela uma história em que experiência negativa nos contatos com as pessoas, principalmente com pessoas de maior significado pessoal, como pais, superam as experiências positivas. O fóbico vive uma luta incessante, por retomar o contato com suas partes consideradas vitais e que, no entanto, se perderam. Vive a angústia da existência de verdadeiros buracos internos, que busca continuamente o contato com o que é sentido como “ruim”, estende-se de até a experiência prazerosa de sentir-se uma pessoa segundo (TRINCA, 2006). 2.1 As formas mais comuns de fobias As fobias podem ser dos mais variados objetos e situações. As formas mais comuns são: altura (acrofobia), animais (zoofobia) doença, sangue (hematofobia), tempestade (astrofobia), lugares públicos (agorafobia) situações sociais, desempenho em público, lugares fechados (claustrofobia) viajar de avião, trens e ônibus. Existem várias explicações sobre as causas das fobias. Até meados do século XX, afirmava-se que a natureza deste transtorno seria puramente psicológica (traumas e estresse). Atualmente, sabe-se que fatores ambientais, biológicos, emocionais e cognitivos influenciam na origem das fobias. Em relação aos fatores biológicos, considera-se a ocorrência de desequilíbrio das substâncias neuroquímicas que existem no cérebro, tais como: serotonina e dopamina. No aspecto cognitivo compreende-se o medo como uma reação de alarme normal, que todo o ser humano apresenta quando confrontado com alguma ameaça à própria sobrevivência ou a sua integridade física. O cérebro reage ao perigo liberando substâncias químicas que preparam o individuo para enfrentar, defender-se ou fugir da situação. No corpo as reações fisiológicas são: aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, sudorese, secura na boca, tensão muscular e tremores. Estas são as respostas adaptativas normais. Porém, a mesma reação de alarme pode ser desencadeada de forma automática em determinadas situações onde não existe perigo, quando ocorre, por exemplo, uma interpretação distorcida. As manifestações físicas são as mesmas e a sensação de medo pode chegar ao pânico, o portador de alguma fobia aprende que determinada situação ou objeto provocam ansiedade extrema e passa a evitá-la, isto é, desenvolve comportamento condicionado. 2.2 Fobias específicas O medo é um mecanismo natural do organismo, uma vez que o mesmo está destinado a protegê-lo, à medida que “avisa-o” sobre o perigo eminente. Quando o sentimento ultrapassa os limites de reação a uma ameaça real, no entanto, torna-se uma fobia, classificada como doença pela Organização Mundial de Saúde. As fobias específicas (antigamente conhecidas como fobias simples) são de objetos e situações específicos, como cobras (ofidiofobia), lugares fechados (claustrofobia) e altura (acrofobia). A principal fobia é a agorafobia, o medo de falar em público (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 509). 2.3 Grupos de risco da fobia social As pessoas mais afetadas pela fobia social são os homens, ao contrário da maioria dos transtornos de ansiedade que predominam sobre as mulheres. O inicio é indefinido, por ser muito gradual, impossibilitando os pacientes a identificarem até mesmo o ano em que este problema tenha começado. Na maioria das vezes o inicio é localizado na época em que começaram a se dá conta de que eram mais tímidos do que os outros, ou seja, na infância ou adolescência. Ainda não foram descritos casos na fobia social tendo iniciado após os trinta ou quarenta anos de idade. Isto não significa que não possa surgir nessa época, mas certamente só ocorre raramente. O mais tardar que a fobia social pode começar é no inicio da idade adulta, em torno de vinte anos, quando o paciente se dá conta e percebe que é mais acanhado que a maioria das pessoas sob as mesmas condições. 2.4 Diagnóstico da fobia social Para fazer o diagnóstico é necessário que a pessoa com fobia social apresente uma forte sensação de ansiedade ou desconforto sempre que exposta a determinadas circunstâncias. A ocorrência eventual para as mesmas situações como, por exemplo, escrever sendo observado exclui o diagnóstico de fobia social. O fóbico social sente-se muito incomodado todas as vezes que alguém o observa escrevendo. A intensidade desta reação de ansiedade é desproporcional ao nervosismo que está situação exigiria das pessoas em geral, e isso é reconhecido pelo paciente. No momento em que a pessoa é exposta a situação fóbica, a crise de ansiedade é de tal forma intensa que parece uma crise de pânico. Por causa de todo o desconforto envolvido nessa situação a pessoa passa a apresentar um comportamento de evitação para estas situações. Casos específicos devem ser analisados individualmente, como por exemplo, uma pessoa que tenha uma doença que deixe suas mãos com aspectos desagradáveis, poderá sentir-se mal ao ser observado, não por causa de uma possível fobia social, mas por causa do temor em que sua doença cause repulso em quem o observa. 2.5 Algumas sintomas da fobia Normalmente os sintomas se relacionam com o foco da fobia. Por exemplo, sendo o foco falar com o professor ou perante a turma o fóbico social pode não conseguir falar nada. Sendo para escrever suas mãos podem ficar trêmulas a ponto de impedir que se escreva, a menos que encontre um lugar onde possa escrever ou assinar sem ser observado. Quando o aluno vê que as pessoas perceberam sua ansiedade o grau de tensão se eleva enormemente alimentando ainda mais a ansiedade. Os sintomas específicos costumam ser acompanhados por sintomas inexpecificos como palidez ou ruborização, taquicardia, sudorese profusa, extremidades frias, tremores, tonteiras, enjôo e outros sintomas ligados à descarga adrenérgica. 2.6 Métodos de domínio do medo ou fobia Até agora se tentou entender o fenômeno do medo e reconhecer a função de sinal de alerta como aspecto positivo. Foram apresentados alguns pontos de vista gerais de domínio do medo; como por exemplo, que se deve enfrentá-lo, suportá-lo e não reprimí-lo nem tentar negá-lo. Além disso, a superação do isolamento, as relações humanas estreitas e calorosas, e as possibilidades de conversar e de esclarecer os fatos sobre as situações que provocam reações desagradáveis, podem ajudar o fóbico a superar seus medos, ou pelo menos a mantê-lo dentro de limites suportáveis. Porém, uma boa relação médico-paciente, plena de confiança também pode ser citado como fator de sucesso no tratamento do fóbico. Dentre os métodos de domínio do medo que podem ser utilizados pelo próprio paciente, de forma ativa, citam-se o valor do exercício de relaxamento, o valor da abstração induzida conscientemente, a intenção paradoxal - rir do medo. Os medos são sensações elementares que indicam a existência de uma determinada situação. Portanto não se pode provocá-los aleatoriamente, e também não deve-se esforçar-se para reprimí-los ou sufocá-los. A aceitação e o reconhecimento do medo como sinal biológico de uma ameaça reduz seu caráter de sensação desagradável, enquanto que o seu combate faz com que recrudesça. Pois, da tentativa de reprimir as sensações de medo surge facilmente uma ocorrência que se reforça a si mesma num circulo vicioso, na medida em que a repressão forçada do medo acaba reforçando-o. A melhor maneira de se esquivar desse círculo vicioso é concentrar-se em algo diferente do medo. Na fobia social não existem fases, ela tende a ser a mesma durante todo o tempo. Desde o inicio da manifestação, pequenas mudanças podem ser observadas como o surgimento de um novo foco da fobia (antes era só para falar, agora para escrever também), ou quanto ao sintoma dominante. 3 O que são grupos educativos Os grupos educativos servem para informar o paciente e seu familiar a respeito de suas dificuldades, de forma que possam contribuir para sua melhora. Os grupos acontecem concomitantes à terapia individual. Possibilita, também, a troca de informações entre pacientes e familiares sobre as diferentes maneiras de enfrentar a doença. Perceber que existem outras pessoas com as mesmas dificuldades faz o paciente se sentir menos estranho, melhora sua auto-estima e sua disposição em enfrentar a doença. Identificar as situações, pessoas, animais que provocam medo, identificar os locais (praças, ruas, restaurantes, supermercados) que não consegue frequentar sem estar acompanhado. Verificar qual desses lugares ou situações que são mais fáceis de enfrentar sozinho. Iniciar o enfrentamento pela situação mais fácil, estabelecendo uma rotina, enfrentar a situação que produz medo durante uma hora, diariamente. Quando a situação não causar mais desconforto, passa-se para uma tarefa inicialmente considerada mais difícil. Deve lembrar-se que nas primeiras vezes, sentirá um desconforto que em geral diminui depois de algum tempo e com repetições. Procure executar os exercícios propostos pelo terapeuta, o maior número de vezes e pelo maior tempo possível durante a semana. 3.1 Formas de tratamento O tratamento medicamentoso é indispensável também para os portadores de fobia social. O tratamento das crianças é muito mais importante do que no adulto, pois nessa fase a criança não tem autocrítica, desta forma, aceitando passivamente os comentários externos. Uma criança com fobia social será tratada e considerada pelos colegas como uma pessoa tola. Até o momento o tratamento e a terapia comportamental cognitiva são os melhores e mais indicados. Podem-se realizar inclusive uma combinação de ambos os tratamentos para os pacientes que não obtém uma resposta satisfatória com tipo de tratamento isoladamente. O tratamento medicamentoso começa a fazer efeito logo nos primeiros dias, mas os sintomas voltam quando se suspende as medicações. Já a terapia comportamental cognitiva demora a fazer efeito, mas o paciente poderá ficar livre dos sintomas depois de suspenso o tratamento. A terapia comportamental exerce um descondicionamento gradual das situações fóbicas, expondo de forma controlada o paciente ao estímulo fóbico, a fim de dessensibilizar o paciente. Com o tempo o paciente passa a viver a situação fóbica como outra pessoa qualquer. Assim como as medicações não resolve 100% dos casos a terapia comportamental também não. 4 Algumas considerações Trabalhar com as doenças e os transtornos fóbicos é uma forma de ajudar o paciente a superar seus medos ou pelos ajudá-lo a amenizar tais sintomas ocasionados pela fobia. A fobia social começa de uma forma muito discreta, dificilmente o fóbico aponta uma data ou evento a partir de quando começou. Nesta perspectiva, surgiu a necessidade de pesquisar, uma forma criativa de tratamento relecionado ao fóbico, conduzindo-o ao tratamento mais adequado, bem como, uma determinada meta escolar, por exemplo, colaborando desta forma para a sua interação e inclusão ao ambiente e ao convívio social. Entretanto, existem indivíduos que fogem dessas experiências, ou seja, ficam apavorados só em pensar na possibilidade de viver tais momentos e chegam ao extremo de evitar qualquer contato social. Desenvolvem um comportamento fóbico que se reflete no campo afetivo e profissional e compromete a qualidade de vida. O transtorno pode começar na infância, arrastar-se pela adolescência e atingir o adulto. Quanto mais cedo for enfrentado, melhores serão os resultados e menos sofrimento trará para seus portadores. Referências ALBISETTI, Valério. É possível vencer o medo?. São Paulo: Paulinas, 2005. GAZZANIGA, Michael e Heratherton, Todd. Ciência psicológica - mente, cérebro e omportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. BION, Wr. Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais. 4º edição – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. POLITO, Reinaldo. Vença o medo de falar em público. 2ª edição. São Paulo: Saraiva, 1995. TRINCA, Walter. A Personalidade Fóbica uma aproximação Psicanalítica. 3ª Edição. São Paulo: Vetor Editora, 2006. WESIACK, Wolfagang. Enfrentando o medo: uma abordagem criativa da doença e das crises. São Paulo: Paulinas, 1999.