Como é o atendimento hoje

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SETEMBRO AMARELO
É preciso
buscar
ajuda.
E ajudar
Carolina Carvalho
[email protected]
Diante de uma família desestruturada e com uma ordem de
despejo em mãos, um adolescente tomado pelo desespero
tenta o suicídio em Santa Maria,
no início de 2015. Socorrido a
tempo por uma equipe do Serviço Móvel de Atendimento de
Urgência (Samu), é encaminhado à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Santa Maria.
Recebe os primeiros-socorros.
Por falta de leitos no Hospital
Universitário de Santa Maria
(Husm), é internado na unidade mesmo. Descontrolado, foge
do local. É resgatado e internado novamente. Assim que suas
condições clínicas melhoram,
dias depois, recebe alta.Até hoje,
tenta se recuperar com a supervisão de parentes e amigos, sem
acompanhamento profissional.
– Tentamos vaga para ele
seguir com o tratamento no
Caps (Centro de Atenção Psicossocial), mas não conseguimos porque a fila de espera era
imensa. Ele não tem envolvimento com drogas, trabalhava
e estudava, mas teve problemas
sérios de depressão. Conseguimos que seguisse trabalhando e
estudando, mas não conseguimos tratamento adequado nem
medicamentos. Temos medo
que ele tenha recaídas – conta
um amigo próximo do adolescente, que não será identificado
para preservar o paciente.
O acesso difícil ao tratamento
ideal não é exclusividade desse
menino. Muitos pacientes com
transtorno emocional e ideação
suicida, em Santa Maria, esbar-
ram na falta de vagas, em portas
fechadas, em filas e em equipes
sobrecarregadas. Especialistas
concordam que a melhor saída é o trabalho desenvolvido
em rede para um atendimento
mais eficiente e eficaz.
Para tentar alavancar essa
ideia de colaboração mútua
em benefício da vida, uma vez
por semana, representantes da
prefeitura, da 4ª Coordenadoria
Regional de Saúde (4ª CRS) e
do Husm se reúnem, no hospital, para discutir o tema e a rede
de apoio no município.
De acordo com Maria Lucia
Degrandi, responsável pela vigilância de violência doméstica,
sexual e outras violências na
4ª CRS, o Grupo de Trabalho
Integrado começou como uma
tentativa de garantir que os pacientes recebam atendimento:
– A pessoa que tenta suicídio
não pode esperar por um agendamento. Nossas discussões
buscam garantir que as unidades de saúde estejam abertas
para receber essas pessoas, que
garantam o melhor encaminhamento e que a família dos pacientes estejam presentes para
acompanhá-los e garantir que
eles não ficarão sozinhos. Mas
Santa Maria ainda está muito
longe de ser um lugar ideal para
o tratamento das pessoas que
tentam o suicídio.
A secretária municipal de
Saúde, Vânia Olivo, garante que
a prefeitura está trabalhando
para que as unidades básicas
da cidade estejam preparadas
para acolher esses pacientes
e fazer os encaminhamentos
mais adequados, no menor
tempo possível.
O trabalho
ideal funciona
em conjunto
Gabriela Costa, psiquiatra forense que trabalha
no ambulatório de psiquiatria do Husm e dá aulas
no curso de Medicina da Unifra, concorda que o
trabalho em rede seria o mais eficaz, tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde mental:
– Se a gente recebe uma pessoa que vem encaminhada por uma unidade básica ou por um assistente social, nosso trabalho é mais eficiente. Muitas
vezes, a pessoa que tenta o suicídio está em surto e
não consegue explicar com clareza o momento pelo
qual está passando. Quando a gente tem contato
com profissionais que acompanham e sabem onde
o paciente mora, fica mais fácil entendermos qual é
o contexto de vida em que ele se encontra. O diagnóstico e o tratamento ficam mais fáceis. Todo médico precisa saber identificar quando um paciente
tem comportamento suicida. A gente aprende a
fazer avaliação de risco de suicídio na faculdade de
Medicina. Então, o ideal é que o paciente passe mesmo pela unidade básica.
Apesar de acreditar que a rede esteja funcionando, já que o ambulatório de psiquiatria do Husm recebe, em média, de cinco a seis pacientes por dia, a
médica acha que é preciso capacitar os profissionais
que trabalham nos postos:
– Sinto falta de maior treinamento de profissionais de saúde básica para o reconhecimento da
ideação suicida. Também seria importante que a
cidade tivesse mais unidades especializadas para
pacientes dependentes de uso de substâncias.
Como é o atendimento hoje
O paciente com transtorno mental e ideação
suicida deve, hoje, procurar a unidade básica de
saúde ou os profissionais do plano Estratégia
Saúde da Família (ESF) perto de casa. Esses profissionais vão avaliar as condições emocionais
dessa pessoa e encaminhá-la ao atendimento
mais adequado. Esse local pode ser o Ambulatório de Saúde Mental do município, que faz o
acompanhamento ou encaminha para os Centros
de Apoio Piscossocial (Caps), ou o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). O problema,
quando o encaminhamento é feito via município,
é o tempo para conseguir uma consulta, que pode
demorar meses.
A responsável pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Husm, Vergínia Rossato, faz as
notificações das tentativas de suicídio que ocorrem em Santa Maria e costuma entrar em contato
com os pacientes que tentaram o autoextermínio
e precisam de tratamento:
– Muitas pessoas relatam para a gente que
optam por tratamento particular porque, no município, precisam esperar até três meses por uma
consulta. Isso não pode acontecer. A pessoa com
ideação suicida ou que tenta se matar não pode
ficar desamparada, esperando em uma fila. Ela
precisa de ajuda imediata.
A secretária municipal de Saúde, Vânia Olivo,
reconhece que há sobrecarga de trabalho nos
Caps, mas garante que o assunto está entre as
preocupações mais imediatas da pasta e que conta com a mobilização de outras áreas para que a
rede seja efetiva:
– As portas do ambulatório estão sempre abertas, mas vamos reformar o espaço e precisamos
aumentar a equipe para dar conta da demanda.
De forma mais imediata, estamos trabalhando
para desafogar os Caps e tratar esses pacientes na
unidade básica de saúde.
jean pimentel
Rede de apoio à pessoa com
ideação suicida é problemática em
Santa Maria, mas há alternativas
Equipe focada em suicídio
Conforme a secretária de saúde Vânia Olivo, o
município estuda se é possível ter uma equipe de
profissionais focados exclusivamente no suicídio.
– O que falta, na minha opinião, é um Caps para
tratar do suicídio e ser referência para as unidades. Não temos uma equipe específica para tratar
de suicídio na cidade. O Caps Prado Veppo é o que
trabalha com todos os tipos de transtorno mental,
mas tem uma superdemanda. Estamos estudando
se é possível ter profissionais focados na prevenção
ao suicídio. A ideia é desenvolver o apoio matricial,
para que essa equipe vá para os bairros e oriente as
turmas das unidades básicas – acrescenta Vânia.
Para Vivian Roxo Borges, doutora em Psicologia e
professora da PUC-RS, o acompanhamento é essencial para que a pessoa não cometa o suicídio:
– O acompanhamento e o tratamento de saúde
mental são fundamentais, mesmo que a pessoa não
esteja mais em risco. A conscientização, o controle
de acesso a meios letais, o tratamento de transtornos mentais, o seguimento intensivo de pessoas que
pensam ou tentaram o suicídio são fundamentais
como estratégias de prevenção.
O psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do
Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Centro de Saúde Mãe de Deus, em Porto Alegre, acredita que a rede de apoio deve começar nos
agentes de saúde:
– A pessoa com ideação suicida precisa de acompanhamento, ela não pode ficar só em nenhum
momento. Esse paciente precisa de companhia e
tratamento continuado. E os profissionais de atenção primária desempenham um papel chave, assegurando a continuidade dos cuidados e a adesão
correta ao tratamento.
Husm oferece
internação e
ambulatório
Há psiquiatras 24 horas por dia, 7 dias por semana, a postos no Husm para atender o paciente
que tenta suicídio e corre risco de morte ou aquele que é referenciado para consulta no hospital.
A partir do primeiro atendimento, o profissional
avalia se é caso de seguir tratamento ambulatorial ou de internação.
Se o paciente precisar apenas de acompanhamento ambulatorial, passará por consultas regulares com um residente em psiquiatria, orientado
por um professor, ou com um psiquiatra. O tratamento é desenvolvido no ambulatório de psiquiatria do hospital.
Se o paciente precisar de internação, será encaminhado para a unidade Paulo Guedes, que fica
no terceiro andar da instituição. O espaço conta
com 30 leitos e abriga pessoas com transtornos
psicóticos, depressivos, obsessivos compulsivos e
bipolares e estresse pós-traumático, entre outros.
Na última segunda-feira, um jovem de 18 anos,
que tentou o suicídio, seria acolhido no local para
o tratamento adequado. O espaço é o único a receber homens maiores de idade em Santa Maria.
O encaminhamento para o Husm também é
feito via 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª
CRS). Segundo a psicóloga Alessandra Gamermann, especialista em saúde da coordenadoria,
o trabalho consiste em organizar a procura por
leitos e dar apoio ao município:
– Temos bastante demanda de pessoas dependentes de álcool e drogas e de transtornos de
humor. Os hospitais de referência são o Husm e
a Casa de Saúde, em Santa Maria, e instituições
em Cacequi, Nova Palma, São Francisco de
Assis e Santiago. Mas o que a gente procura é
que a pessoa consiga fazer o tratamento em seu
ambiente. A internação ocorre só em último caso.
Na UPA, na Casa de
Saúde e no Hospital
São Francisco
PROCURE Apoio
z O primeiro passo a ser tomado
por quem tem transtorno mental
e ideação suicida é procurar uma
unidade básica de saúde perto de
casa ou conversar com a equipe
do programa Estratégia Saúde da
Família que atende o bairro
z No posto, será feito o
encaminhamento necessário para
o Ambulatório de Saúde Mental
do município, para o Centro de
Atenção Psicossocial (Caps) ou
para o Hospital Universitário de
Santa Maria (Husm, foto acima)
z Nesses locais, será definido o
tratamento e sua continuidade
z A Unidade de ProntoAtendimento (UPA) e o Husm só
atendem casos de urgência e
emergência, que envolvam risco
de morte
A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), em
Santa Maria, também atende casos de urgência e
emergência que envolvam pacientes com ideação
suicida. Via de regra, os casos são encaminhados
para o Hospital Universitário de Santa Maria
(Husm) para acompanhamento psiquiátrico e
internação. Isso porque a Casa de Saúde, que fica
em um prédio anexo à UPA e também tem leitos
de internação psiquiátrica, atende mais pacientes que tenham problemas emocionais relacionados ao uso de drogas.
A instituição conta, via Sistema Único de Saúde (SUS), com 10 leitos para mulheres adultas, 14
leitos para homens com menos de 18 anos e um
leito para saúde mental infantil, na unidade Madre Madalena.
O Hospital São Francisco de Assis também
oferece leitos de internação psiquiátrica em Santa Maria. Mas a unidade Santo Antônio só atende
pacientes particulares ou conveniados. O espaço oferece 12 leitos para homens, 12 leitos para
mulheres e um leito para casos de pessoas com
necessidades especiais.
segue
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