Uma oportunidade para as taxas de juros A cotação do dólar

Propaganda
Uma oportunidade para as taxas de juros
A cotação do dólar americano no patamar atual abaixo de dois reais, causa
interpretações diferentes na população. Uma parte acredita que quanto mais o real valer em
relação ao dólar, mais sólida está a economia e que isto é um sinal que estamos no caminho
certo. De fato, esta cotação se deve a um conjunto de fatores , sendo que um deles é o
sucesso das exportações brasileiras que são superiores as importações, cobrindo com folga
outros gastos no exterior como pagamento de juros de dívidas e royalties (pagamentos por
uso de tecnologia estrangeira). Outra razão, é a aplicação dos investidores estrangeiros no
nosso mercado financeiro que de janeiro a março deste ano já trouxeram mais de 14 bilhões
de dólares para aproveitar a maior taxa de juros real do planeta.
Entre os aspectos positivos deste patamar do dólar no dia a dia está o controle da
inflação, pois aumenta a concorrência com produtos importados (com o dólar em baixa a
importação fica mais barata e a exportação menos rentável), incentiva empresas
exportadoras a colocar seu produto no mercado interno (soja, açúcar) para citar algumas
formas de ajuda para conter a inflação. Mas se é tão positivo, qual o problema?
Desde 2001, o setor mais dinâmico da economia brasileira é o setor exportador, ou
seja, o setor que mais cresce, tracionando a reboque o mercado interno. Quando o dólar
perde valor a receita da empresa exportadora cai em reais. Por exemplo, uma mercadoria
exportada por 100 dólares gerava uma receita de 300 reais com o dólar a três reais.Com o
dólar a dois reais gera uma receita de duzentos reais, portanto 33% a menos de receita. As
empresas mais eficientes sentem este impacto, mas continuam a sobreviver através de
constantes inovações para reduzir custos. Em geral estas empresas não entraram no
mercado exportador por causa da época do câmbio favorável, mas por possuírem vantagens
competitivas em relação as suas concorrentes em custo e inovação. As empresas menos
eficientes sentem muito mais o impacto, pois são bastante dependentes do câmbio
favorável. Para elas a concorrência se manifesta tanto no mercado externo, quanto no
interno. No mercado externo o aumento de custo em reais pode impossibilitar a exportação.
No mercado interno , os produtos importados ficam mais baratos aumentando
significativamente a competição. É o caso dos setores de confecção e calçadista que são
grandes empregadores e se vêem encurralados pelas importações chinesas.
O governo vem atuando no mercado de câmbio através de volumosas compras da
moeda americana com o objetivo de diminuir a quantidade disponível para segurar a queda
da cotação. O que causa estranheza é a parcimônia na queda da taxa de juros que é um dos
fatores para entrada de dólares. Se um dos principais motivos da manutenção dos juros
elevados é o controle da inflação , por que então não acelerar a queda dos juros da taxa
selic (taxa que baliza a remuneração dos títulos da dívida pública) se a inflação está sob
controle e contida em boa parte pelo próprio câmbio?
É fato que não se deve perder o conquistado a duras penas, para controlar a
inflação. Mas os entraves desta conquista estão se dissipando e podemos somar a esta a
queda da taxa de juro real (diferença entre a taxa de juro nominal e a inflação). O mercado
internacional está favorável ao Brasil avaliado cada vez melhor pelas agências de risco
internacional (corretoras que analisam o risco de se investir em países emergentes)
favorecendo a entrada de recursos estrangeiros a juros menores (se o risco é menor, exigese um juro menor para trazer dinheiro para o país). A janela da oportunidade está aberta
para se reduzir, com mais intensidade, as taxas de juros. Através da compra do dólar o
Brasil não vai conseguir segurar a queda do seu valor em um patamar aceitável, mesmo
porque ele está perdendo valor no mundo todo, ou seja, existem muito mais fatores do que
apenas a nossa economia para esta situação. A questão é, porque não aproveitar o momento
para uma consistente queda nas taxas de juros do país? Um pouco mais de ousadia nesta
questão pode concretizar a aceleração do crescimento econômico e a melhoria na
distribuição de renda cantadas em verso e prosa pelo governo.
Paulo André de Oliveira
Economista
Professor da Faculdade Marechal Rondon
Download