Edição Especial de Lançamento A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NO MARKETING, ANÁLISE DE ESTUDO DE CASO NO SETOR DE FRANQUIAS THE IMPORTANCE OF ETHICS IN MARKETING, ANALYSIS OF CASE STUDY IN THE FRANCHISE SECTOR Tiago Cavalcante Coutinho (UFC) [email protected] Antônio Carlos Giuliani (UNIMEP) [email protected] Luiz Rodrigues da Silva (UNIMEP) [email protected] Nádia Kassouf Pizzinatto (UNIMEP) [email protected] Berenice Pereira Assis (UNIVAG) [email protected] RESUMO: Nos dias atuais é cada vez mais comum ouvir-se falar sobre ética e responsabilidade social nas empresas, isto se evidencia devido à facilidade de acesso a uma imensa quantidade diária de informação por parte da sociedade. A multiplicação de cursos superiores, de jornais e revistas especializadas e principalmente a globalização, gerada com o advento da internet, são apenas alguns dos muitos exemplos da revolução na chamada geração do conhecimento. Esta tendência, aliada a uma economia capitalista altamente competitiva, cria a necessidade de adoção de novas práticas e padrões de comportamento por parte das empresas, para satisfazer o desejo de consumidores e sociedade, com vistas à perpetuidade dos negócios. O estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa exploratória pautada em dados secundários como livros, artigos e dissertações. Entender como empresas podem beneficiar-se da busca proativa de práticas éticas e socialmente responsáveis que entreguem valores aos seus clientes e à sociedade e entender o papel da ética e da responsabilidade social nas negociações e estratégias são os objetivos do presente trabalho. Palavras-chave: ética, responsabilidade social, marketing, críticas sociais. ABSTRACT: Nowadays it is very common to hear talk about ethics and corporate social responsibility; it is evident due to the ease of access to a huge amount of daily information by society. The multiplication of higher education, especially newspapers and magazines, and globalization, generated with the advent of the internet, are just some of the many examples of so-called revolution in knowledge generation. This trend, combined with a competitive capitalist economy, creates the need to adopt new practices and patterns of behavior by companies to satisfy the desire of consumers and society, with a view to the perpetuity of business. The study is characterized by being an exploratory research guided by secondary data such as books, articles and dissertations. Understand how companies can benefit from the proactive pursuit of ethical and socially responsible practices that deliver value to its customers and society and understand the role of ethics and social responsibility in the negotiations and strategies are the goals of this work. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 23 Edição Especial de Lançamento Keywords: ethics, social responsibility, marketing, social criticism. 1 INTRODUÇÃO Para que uma nação possua um processo de desenvolvimento econômico sustentável, além do aumento de produtividade e da renda per capita, devem evidenciar-se avanços nos indicadores de qualidade de vida de seus habitantes. O chamado desenvolvimento econômico sustentável de uma nação também precisa considerar assuntos não diretamente relacionados com o crescimento, como pobreza, educação, inflação, distribuição de renda, entre outros (Arruda et al., 2001). Desta forma não podemos deixar de destacar elementos sociais, culturais, políticos e ambientais, tendo em mente que a responsabilidade por este desenvolvimento não deve restringir-se unicamente aos governantes. As empresas e a sociedade como um todo devem dar sua contribuição, fiscalizando, reivindicando e cumprindo leis, pautados pela moral e pela ética em suas ações (Arruda et al., 2001). Nos dias atuais é cada vez mais comum a discussão sobre ética e responsabilidade social nas empresas. Isto se evidencia devido à facilidade de acesso à grande quantidade diária de informação por parte da sociedade. A multiplicação de cursos superiores, de jornais e revistas especializadas e, principalmente, a globalização, gerada com o advento da internet, são apenas alguns dos exemplos da revolução na chamada geração do conhecimento. Esta tendência, aliada a uma economia capitalista altamente competitiva, cria a necessidade de adoção de novas práticas e padrões de comportamento por parte das empresas, para satisfazer o desejo de consumidores e sociedade, com vistas à perpetuidade e sustentabilidade dos negócios. Entender como empresas podem beneficiar-se da busca proativa de práticas éticas e socialmente responsáveis que entreguem valores aos seus clientes e à sociedade e entender o papel da ética e da responsabilidade social nas negociações e estratégias são os objetivos do presente trabalho. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 24 Edição Especial de Lançamento 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Inicialmente, são relatadas críticas sociais ao marketing e na sequencia expostos os principais conceitos de ética e responsabilidade social no marketing. 2.1 CRÍTICAS SOCIAIS AO MARKETING De forma geral, ações de marketing são frequentemente alvo de críticas sociais. Em sua grande maioria, estas críticas alegam que tais ações prejudicam consumidores individuais, outras empresas e, por conseguinte, a sociedade como um todo. Estes fatos exaltam a importância de discussões sobre ética e responsabilidade social em negociações e estratégias de marketing. Desta forma, são apresentadas algumas das principais críticas sociais ao marketing segundo Kotler e Armstrong (1993). 2.1.1 O IMPACTO DO MARKETING SOBRE OS CONSUMIDORES INDIVIDUAIS Pesquisas mostram que os consumidores norte-americanos preocupam-se muito com a forma como o sistema de marketing atende seus interesses. Estes consumidores, seus advogados, órgãos governamentais e outros críticos, têm atitudes ligeiramente desfavoráveis com relação às práticas de marketing adotadas (Kotler e Armstrong, 1993). Veem-se agora, as principais práticas condenadas pelos consumidores segundo os autores, entre elas: preços elevados, práticas enganosas, vendas de alta pressão, produtos inferiores ou perigosos, obsolescência planejada e serviços de baixa qualidade para consumidores em desvantagem. 2.1.1.1 PREÇOS ELEVADOS Segundo Kotler e Armstrong (1993), os preços nos Estados Unidos poderiam ser bem menores caso três fatores fossem mais sensatos: alto custo de distribuição; altos custos de Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 25 Edição Especial de Lançamento propaganda e promoção e markup excessivo. Os altos custos de distribuição seriam resultado de intermediários gananciosos, ineficientes ou mal administrados que determinam altas margens de lucro, bem acima do padrão dos serviços prestados. Em contra partida, os varejistas defendem-se argumentando que a elevação da margem de lucro é necessária devido a melhorias nos serviços prestados, maior conveniência e maior sortimento das lojas. Quanto aos elevados custos de propaganda e promoção, que encarecem os preços finais aos consumidores, são resultado da utilização descomedida das ações de propaganda e promoção de vendas adotadas. Os profissionais de marketing se defendem da acusação de que estes custos podem passar de 40% do preço do fabricante para o varejista, afirmando que os consumidores estão dispostos a pagar mais por benefícios psicológicos, marcas conhecidas que inspirem qualidade e confiança, para se diferenciar dos concorrentes e para adequar a oferta e demanda. Finalmente, o markup exagerado seria prática de algumas indústrias e seguimentos de mercado como farmacêutica, serviços de funerárias e reparos de eletroeletrônicos e automóveis. A defesa da parte contrária argumenta que a maioria das empresas tenta lidar honestamente com os consumidores, pois desejam a continuidade dos negócios e que é um dever dos consumidores denunciar empresas desonestas. Afirma ainda que muitas vezes o markup considera custos de compra, promoção, distribuição e pesquisa e desenvolvimento, entre outros. 2.1.1.2 PRÁTICAS ENGANOSAS Para Kotler e Armstrong (1993), os profissionais de Marketing valem-se de práticas que fazem os consumidores crer que irão obter mais vantagens do que recebem na realidade. Segundo os autores, estas práticas estariam divididas em três grupos, preços enganosos, promoção enganosa e embalagens enganosas. Vejamos agora alguns exemplos destas práticas. Preços enganosos: anunciar falsamente preços de fábrica ou de atacado ou ainda anunciar considerável redução de preços em relação a preços já bastante elevados. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 26 Edição Especial de Lançamento Promoção enganosa: exagerar os aspectos ou desempenho de produtos, atrair consumidores à loja com uma promoção de produto fora de estoque ou promover sorteios fraudulentos. Embalagem enganosa: não encher a embalagem até o topo, utilizar rótulos enganosos, exagerar o design das embalagens ou descrever o tamanho, quantidade ou conteúdo de forma enganosa. A argumentação dos profissionais de marketing está na capacidade do consumidor de identificar as poucas empresas que se utilizam destas práticas, procurando produtos provenientes de empresas sérias. Afirma ainda que estas são práticas utilizadas por pequena parte do mercado, visto que isto prejudica os negócios a longo prazo. 2.1.1.3 VENDAS DE ALTA PRESSÃO Os profissionais de marketing sabem que os consumidores podem ser facilmente convencidos a comprar coisas que não desejam ou não necessitam. Vendedores são treinados com discursos convincentes que induzem consumidores a comprar, devido às competições de vendas que prometem grandes prêmios àqueles que mais vendem (Kotler e Armstrong, 1993). As contra argumentações apresentadas pelos autores orientam que os consumidores a devolverem os produtos dentro do prazo estabelecido por lei e a procurarem órgãos de defesa do consumidor. No Brasil pode-se consultar órgãos como o PROCON para obter maiores orientações. 2.1.1.4 PRODUTOS OU SERVIÇOS INFERIORES OU PERIGOSOS Neste quesito encontram-se produtos ou serviços de baixa qualidade, mal fabricados, com problemas de fábrica, com poucos benefícios ou até mesmo inseguros para consumo e manuseio. A recomendação aqui é que os consumidores não adquiram mais produtos de empresas com quaisquer dos problemas anteriormente mencionados, além de alertar outros consumidores que façam o mesmo. Empresas que fabricam produtos com estas características Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 27 Edição Especial de Lançamento podem ser alvo de ações judiciais de responsabilidade civil, podendo as mesmas serem condenadas ao pagamento de multas e indenizações milionárias. 2.1.1.5 OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA Têm-se aqui fabricantes que seguem um programa de obsolescência planejada, fazendo com que seus produtos se tornem obsoletos antes que necessitem realmente de substituição. Como exemplo, tem-se a rápida mudança da moda de roupas, utilização de materiais de qualidade inferior para encurtar a vida útil do produto ou ainda a ocultação de aspectos funcionais atrativos e seguida introdução em modelos mais novos para tornar os modelos já lançados obsoletos. Em resposta, as empresas afirmam que os consumidores apreciam mudanças de estilo, que anseiam por novidades por terem cansado dos modelos antigos, além de que, ninguém é obrigado a comprar algo novo. Além disso, frequentemente as empresas retêm novos aspectos quando não foram completamente testados ou quando irão acrescentar mais custo ao produto do que os consumidores estão dispostos a pagar, além de que por vezes novos materiais são lançados visando redução de custos e preços. Segundo Kotler e Armstrong (1993) a chamada obsolescência planejada é apenas o funcionamento de forças tecnológicas e competitivas na sociedade, o que leva a uma melhoria de produtos e serviços. 2.1.1.6 SERVIÇOS DE BAIXA QUALIDADE PARA CONSUMIDORES EM DESVANTAGEM Esta prática acusa o sistema de marketing de atender precariamente aos consumidores menos favorecidos ou em situação desvantajosa. Pessoas pobres pagam mais caro, muito em função dos altos juros dos financiamentos, além de empresas que anunciam falsos valores ou produtos usados por preços de novos. Mais uma vez a orientação é procurar os órgãos de defesa do consumidor e denunciar as empresas que realizam estes tipos de práticas. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 28 Edição Especial de Lançamento A figura 1 refere-se à pesquisa sobre as principais preocupações dos consumidores. • • • Preços elevados dos produtos • Alta taxa de juros • Baixa qualidade dos produtos • Baixa qualidade de serviços e consertos Quebra ou mal funcionamento dos produtos • Produtos perigosos Não cumprimento das mensagens de propaganda • Embalagem ou rotulagem enganosos • Incapacidade da empresa de atender bem as reclamações • Garantias inadequadas • Obtenção de crédito 67% 59% 51% 49% 46% 40% 39% 39% 39% 36% 18% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% FIGURA 1 – Pesquisa sobre as preocupações dos consumidores. Adaptado de Kotler e Armstrong (1993). 2.1.2 O IMPACTO DO MARKETING NA SOCIEDADE COM UM TODO O impacto do marketing na sociedade como um todo é exercido por quatro principais pontos, enumerados a saber. 2.1.2.1 FALSOS DESEJOS E EXCESSO DE MATERIALISMO O ser humano vive em um mundo em que falsos desejos são criados para beneficiar a indústria, permitindo o reinar do materialismo. Kotler e Armstrong (1993) dão sua visão sobre o tema afirmando que o sistema de marketing provoca um fenômeno denominado materialismo. Pessoas não são julgadas pelo que são, mas pelo que tem. A sociedade considera bem-sucedidas pessoas que possuem bens como casas, carros, roupas e eletrodomésticos da moda. Além das influências do marketing, pessoas também são influenciadas pela família, religião, educação, grupos de referência e descendência étnica. 2.1.2.2 MUITO POUCOS BENS SOCIAIS Para Kotler e Armstrong (1993), empresas são acusadas de venderem muitos bens Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 29 Edição Especial de Lançamento privados em detrimento de bens públicos. A conclusão é que quanto mais bens privados, maior a demanda por bens públicos, que não surgem com a mesma agilidade que aqueles causando inúmeros problemas sociais, como por exemplo, o aumento do número de automóveis que gera congestionamentos, infraestrutura deficiente, mais poluição e mortes, entre outros. A solução aqui estaria em uma imposição governamental no intuito de restaurar o equilíbrio entre bens públicos e privados, forçando empresas a arcar com custos sociais em sua produção. 2.1.2.3 POLUIÇÃO CULTURAL As pessoas estão sendo bombardeadas pela propaganda constantemente, fato este que enche suas cabeças com mensagens. Comerciais desapropriados no intervalo de programas sérios, páginas de anúncios não relacionados em meio a matérias impressas e outdoors que poluem a beleza da paisagem são alguns exemplos de mensagens de materialismo, sexo, poder, ou status. A defesa dos profissionais do marketing é que seus anúncios são direcionados a um público alvo, apesar de nem sempre estes serem atingidos e que seus anúncios ajudam a reduzir custos de jornais e revistas, desta forma, este seria um pequeno preço a se pagar (Kotler e Armstrong, 1993). 2.1.2.4 EXCESSO DE PODER POLÍTICO Ainda segundo os autores, o excesso de poder político por parte das grandes empresas resulta em controle de mídias de massa, limitando sua liberdade de transmitir notícias de forma independente e objetiva. Outro ponto relevante é o envolvimento de políticos de alto escalão em grandes grupos empresariais, apoiando os interesses desses grupos em detrimento do interesse público. Muitos dos renomados jornais e revistas são subsidiados por grandes anunciantes o que os impedem de publicar qualquer notícia contrária a seus interesses. Contudo, o poder público, através de denúncias e da criação de novas leis tem tentado aos poucos combater essas práticas. Outro fato a ser considerado é que, quanto mais pulverizado é o setor, mais anunciantes, tornando menor a influência do mesmo sobre a mídia. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 30 Edição Especial de Lançamento 2.1.3 O IMPACTO DO MARKETING SOBRE OUTROS NEGÓCIOS O problema aqui está baseado em três questões fundamentais, aquisições de concorrentes, práticas de marketing que criam barreiras a entradas de novos concorrentes e práticas desleais de marketing. Kotler e Armstrong (1993) afirma que estas ações de marketing podem prejudicar outras empresas criando barreiras de entrada a novos negócios, mantendo preços de venda abaixo dos custos de produção, aumentando gastos com promoção para manter concorrentes afastados, ameaçando o rompimento de negócios com fornecedores, ou desencorajando a compra de produtos de um concorrente, o que consequentemente reduz a concorrência. Apesar disto, há a possibilidade de ganhos reais ao mercado consumidor através do aumento de eficiência, melhoria na gestão das empresas adquiridas e da competitividade do mercado, redução de preços devido a ganhos de produção em escala, entre outros. Desta forma, conclui-se que estas questões precisam ser reguladas por órgãos governamentais para garantir o equilíbrio de mercado. 2.2 PROPAGANDA ENGANOSA Para Lopes (2003), a propaganda enganosa é caracterizada por levar alguém ao erro por meio de uma mensagem publicitária, induzido pela ânsia de lucro, faturar urgente ou muito e pela venda incontida. Muitas vezes as agências de publicidade podem utilizar-se de mensagens ilegais, imorais e sem ética com a conivência do anunciante. O autor afirma que não cabe a desculpa de que o cliente pediu assim, pois as agências tem o dever de agir de acordo com um código de ética. Fazendo um comparativo com a medicina, não vemos médicos perguntando aos pacientes quais tipos de técnicas deverão ser utilizadas para determinada cirurgia ou qual tratamento ou remédio o paciente gostaria de tomar. 3 ÉTICA DO MARKETING Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 31 Edição Especial de Lançamento Considera-se o termo “moral” como sendo uma norma de conduta que se refere às situações particulares e quotidianas, enquanto a ética seria uma examinadora da moral. A moral normatiza e direciona as práticas das pessoas e a ética estuda as concepções que dão suporte à moral destas condutas. Deste modo, deduz-se que ética é a ciência da moral (Passos, 2004). “Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade dos atos humanos, enquanto livres e ordenados a seu fim último” (Arruda et al., 2001). Lopes (2003), por sua vez, afirma que ética é um estudo científico da moral. Segundo o autor, a ética faria o juízo de valores e o contingenciamento de condutas humanas através de princípios morais (julgamento do bem e do mal). Frente às muitas críticas ao marketing feitas pela sociedade e por considerar que nem todos os gerentes de marketing tem alta sensibilidade moral, Kotler e Armstrong (1993) dão sua contribuição sobre o tema, fazendo um ponto de ligação entre ética e marketing. Todas as empresas precisam desenvolver e seguir políticas corporativas de ética de marketing e que estas políticas devem cobrir relações com distribuidores, serviço ao consumidor, padrões de propaganda, desenvolvimento de produtos, padrões éticos gerais e preços. Ainda segundo os mesmos, são apresentadas duas filosofias básicas existentes no meio empresarial quanto aos princípios que deveriam nortear empresas e gerentes de marketing em questões de ética e responsabilidade social. Primeira filosofia: questões éticas devem ser decididas livremente pelo sistema de marketing e ou sistema legal. Este princípio pressupõe que as empresas e seus gerentes não são responsáveis por julgamentos morais e podem fazer tudo que o sistema permite de consciência tranquila. Segunda filosofia: a responsabilidade sobre ações morais está diretamente nas mãos de empresas e gerentes e não do sistema. De acordo com esta filosofia, consciência social e padrões éticos e morais devem ser atribuídos a empresas e gerentes ao tomar suas decisões, independente daquilo que o sistema permite. Kotler e Armstrong (1993) afirmam que empresas e gerentes de marketing devem desenvolver filosofias de comportamento ético e socialmente responsável. Cada gerente deve Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 32 Edição Especial de Lançamento desenvolver padrões de integridade pessoal, bem-estar do consumidor e consciência corporativa, de acordo com o conceito de marketing social. A criação de filosofias claras e responsáveis ajudarão estes gerentes a lidar com muitas questões difíceis do marketing e de outras atividades humanas. Segundo os autores, várias associações industriais e profissionais sugerem códigos de ética, e muitas empresas já estão adotando seus próprios códigos, além de desenvolver programas que ajudam gerentes a encontrar respostas corretas. Os autores complementam suas ideias afirmando que códigos escritos ou programas de ética não garantem comportamentos éticos. A ética e a responsabilidade social requerem um compromisso total das empresas, devendo ser um componente inerente à cultura geral das mesmas. Desta forma, os profissionais de marketing da atualidade terão muitos desafios devido às grandes oportunidades que o marketing proporcionará devido aos avanços tecnológicos nos mais diversos ramos de atividades. Em contrapartida, as forças nos ambientes socioeconômico, cultural e natural ampliarão os limites dentro dos quais o marketing poderá ser feito. Segundo o dicionário Aurélio, Ferreira (1993) contribui com definições para moral e ética. Moral: “Conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer de modo absoluto, quer para grupo ou pessoa determinada”. Ética: “Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal”. 4 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NO MARKETING Srour (2003) define responsabilidade social como sendo o compromisso das empresas com o bem-estar social quando convertem parte de seus lucros em ganhos sociais. Trata-se de ações conjuntas e decisões empresariais que contribuem para a melhoria da qualidade de vida de funcionários, clientes, fornecedores, governo e sociedade como um todo, baseadas nos interesses dos favorecidos. Para Passos (2004), a responsabilidade social requer consciência e compromisso das empresas com mudanças sociais. Isto implica na obrigação com a construção de uma Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 33 Edição Especial de Lançamento sociedade mais honesta, solidária, justa e melhor para todos, sendo assim uma prática moral. Trata-se de práticas orientadas pela ética, que vão além de obrigações legais e econômicas, mas também sociais e que devem respeitar a cultura, as necessidades e desejos das pessoas. Ainda segundo a autora, responsabilidade social pressupõe uma nova filosofia orientada para organizações produtivas. Trata-se de prática revolucionária, que coloca em questão a relação entre capital e trabalho, preconizando uma alteração em sua essência. Ela classifica ainda as empresas em três grandes modelos, segundo os critérios da responsabilidade social: aquelas que visam apenas o lucro e são assumidamente negócios; as que se colocam como organizações sociais e procuram satisfazer aos interesses de uma rede de pessoas e, por último, as empresas socialmente responsáveis, que não se preocupam apenas com o lucro econômico, mas também com o social, com a transformação social. A autora continua, afirmando que a verdadeira responsabilidade social deve promover a cidadania e o bem-estar, colocando seus recursos econômicos a serviço de clientes internos e externos, da comunidade como um todo e em defesa do meio ambiente. Responsabilidade e ética se misturam e implicam em dignidade, justiça, compromisso com a humanidade, respeito aos direitos humanos e ao planeta e comportamento responsável e comprometido com a sustentabilidade. Para Kotler e Keller (2006), existem diversos motivos pelos quais as empresas devem praticar o marketing socialmente responsável. Dentre eles temos a ascensão das expectativas dos clientes, a mudança nas expectativas dos funcionários, legislações e pressões por parte do governo, o interesse dos investidores em critérios sociais e as práticas de aquisição de negócios. “O sucesso nos negócios e a satisfação contínua dos clientes e outros públicos estão intimamente ligados à adoção e à implementação de altos padrões de conduta nos negócios e no marketing” (Kotler e Keller, 2006). Os autores afirmam que algumas das ações de marketing utilizadas pelas empresas são antiéticas ou ilegais. Como exemplo, tem-se o suborno e o furto de segredos comerciais; a transação exclusiva e os contratos comprometedores; a propaganda falsa ou enganosa; os defeitos de qualidade ou de segurança; os rótulos imprecisos; falsas garantias; o controle de preços ou a discriminação indevida; a concorrência predatória e as barreiras de entrada. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 34 Edição Especial de Lançamento Kotler e Keller (2006) prosseguem afirmando que para elevar o nível do marketing socialmente responsável é preciso atacar em três frentes: Comportamento legal - A lei deve ser utilizada pela sociedade para uma definição clara do que são práticas ilegais, antissociais ou anticompetitivas. Comportamento ético - Um código de ética escrito deve ser adotado e difundido pelas empresas, com vistas a criar uma tradição para este comportamento e tornar equipes totalmente responsáveis pelo cumprimento de suas diretrizes. Comportamento de responsabilidade social - Uma consciência social em relacionamentos com o público é dever dos profissionais de marketing. 5 ESTUDO DE CASO: AQUISIÇÃO DE FRANQUIA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Após anos de descontentamento com o emprego em uma das maiores empresas do país, resolvi procurar alternativas de negócio para investimento. O sonho de tornar-me empresário era antigo e se intensificava ao ver amigos e conhecidos prosperando em seus próprios negócios. Queria realizar este sonho sem incorrer em grandes percalços, com riscos calculados. Por este motivo comecei a procurar negócios baseados no modelo de franquias, o que teoricamente seria bem mais garantido por tratar-se de negócios consolidados e com suporte gerencial. A partir de minhas preferências e habilidades, estudei cuidadosamente o mercado em busca de oportunidades. Visitei feiras de franquias, conversei com amigos e empresários e pesquisei diversos ramos de atividade para identificar os mais promissores. Cheguei então à conclusão que um negócio no ramo da construção civil seria perfeito, frente a franca expansão e devido a massa de investimentos públicos e privados programados para os próximos anos, como em infraestrutura, moradia, construções para a copa do mundo e olimpíadas, entre outros. Após rápida pesquisa de mercado, verifiquei que a demanda por serviços de reformas e reparos em imóveis na cidade de Piracicaba – SP era muito maior do que a oferta. Ademais, a grande maioria dos profissionais existentes no mercado não possuía capacitação adequada Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 35 Edição Especial de Lançamento para atender as necessidades dos consumidores. Conversei então com um amigo de longa data e decidimos estabelecer uma sociedade. Investiríamos em uma franquia neste ramo de atividade. Apesar de existirem algumas opções de franquias do ramo no mercado, utilizamo-nos de alguns indicadores para a escolha da eleita. Os indicadores foram percentuais de crescimento de mercado, quantidade de unidades espalhadas pelo país, faturamento, visibilidade nos principais meios de comunicação e investimento massivo em marketing de divulgação. Depois de analisar um sólido plano de negócios, que previa alto e rápido retorno sobre o investimento e após várias sessões de negociação assinamos o contrato com a empresa escolhida. Em paralelo, pedia demissão do antigo emprego de longa data para dedicar-me ao novo empreendimento, visto que meu sócio entraria apenas como investidor, permanecendo em seu emprego. Em meados de 2012 nos tornávamos os mais novos empresários do ramo da construção civil. A franquia prometia treinamento operacional, acompanhamento de vendas e desempenho através de consultores de campo, forte investimento em diversas mídias em nível nacional, entre vários outros benefícios. Confiantes de que estávamos fazendo a coisa certa, iniciamos o investimento de nossas economias na aquisição de veículos, ferramentas, locação e reforma de ponto comercial, material de divulgação, contratação de mão de obra, treinamento, taxa de franquia, entre outros. Tudo de acordo com a orientação da franqueadora e baseado no plano de negócios fornecido. Saliento que apesar de não possuirmos conhecimento prévio no ramo da construção civil, a franqueadora afirmava não ser necessário, pois teríamos todo um treinamento completo e adequado para a operação do negócio. Após a euforia inicial começamos então a perceber que algumas coisas não iam bem. O primeiro indício veio com a descoberta de que já houvera um franqueado na cidade e que o mesmo teria falido alguns meses antes de nossa assinatura do contrato. O representante da empresa então deu várias explicações para a causa de seu insucesso e apesar da “pulga atrás da orelha”, deixei a conversa tentando me convencer de que o problema teria sido ingerência do antigo franqueado. Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 36 Edição Especial de Lançamento Uma semana antes de ir ao treinamento inicial da franquia tive a oportunidade de ir a uma reunião com os franqueados da região. A ocasião era para discutir formas de aumentar o faturamento, porém acabei por descobrir que praticamente todos que ali estavam possuíam problemas financeiros, incluindo fraqueados que apesar de estarem há cerca de um ano após a inauguração ainda não haviam conseguido equilibrar suas contas. Mais uma vez o representante da empresa argumentou dizendo que de 40 franqueados convidados só haviam aparecido cerca de dez, dando a entender, portanto, que os demais estariam bem financeiramente. Uma semana depois, já no treinamento na sede da franqueadora, tive novas surpresas. Descobri que outros franqueados também estavam assumindo negócios repassados por antigos franqueados com problemas financeiros e só então descobri que não haveria treinamento para os funcionários operacionais. O treinamento apesar de bastante impressionante e instigador, com palestras motivacionais e profissionais de excelente oratória, não passou de dicas e vagas orientações de gestão, momento este em que entregaram um manual que seria a bíblia do negócio. Outro fato descoberto durante o treinamento, em conversa com o funcionário responsável pela ouvidoria, foi que a empresa estava repleta de reclamações referentes a serviços mal prestados espalhados por todo o país, tanto em sua ouvidoria como em sites internet especializados. Ele me passou diversos contatos de clientes insatisfeitos com serviços prestados pelo antigo fraqueado de Piracicaba para que eu entrasse em contato e verificasse a necessidade de realização de qualquer eventual reparo em serviços mal executados. Mais uma semana se passou e fui à uma nova reunião com franqueados da região e conheci novos casos de colegas com dificuldades financeiras, alguns até já tendo realizado diversos financiamentos para injetar mais dinheiro no negócio. Somente neste momento o representante da empresa reconheceu que havia diversos casos como estes, que a franqueadora já tinha ciência e que estavam estudando uma forma de ajudar os franqueados a contornar a situação. Disse ainda que eu era um privilegiado por ter entrado em um negócio promissor e em um momento de mudanças para melhor, só não disse quais seriam as melhorias. O próprio representante mostrava-se preocupado e desmotivado para com o rumo dos Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 37 Edição Especial de Lançamento negócios. Disse que tivera vários embates com os diretores da empresa e que não estava mais se esforçando para vender unidades de um outro negócio de franquias pertencente ao grupo por não acreditar na prosperidade da mesma. Por este motivo, fora convidado pelo presidente da organização a deixa-la, caso estivesse descontente ou não concordasse com as formas de trabalho. Em outras ocasiões, afirmou que a diferença do “Zé da esquina” para o nosso profissional era que nós éramos o “Zé da esquina” de uniformes, frente à ausência de preparo e treinamento. Este mesmo representante também possuía uma unidade franqueada em sua cidade. Segundo relatos, após dois anos de inauguração o mesmo ainda não havia realizado qualquer retirada financeira do negócio e, eventualmente, fazia-se necessário novos aportes de capital para o fechamento das contas. Neste momento, depois de várias noites sem dormir e após horas de conversa com meu sócio, resolvemos levantar quanto já havíamos investido até o momento. Constatamos então que dos cem mil previstos pelo plano de negócios fornecido já havíamos gasto oitenta e que seria necessário muito mais de cem até o dia da inauguração. Conversamos com vários representantes e diretores da empresa e nos foi sugerido até que fizéssemos empréstimos para colocar mais dinheiro no negócio. Frente aos fatos e após várias sessões de negociação com a franqueadora decidimos descontinuar o negócio, demitir funcionários, devolver o ponto e perder todo o dinheiro já investido. Os indícios de insucesso eram grandes, juntamente com todo o despreparo da franqueadora, que sequer possuía um padrão de preços e prestação de serviços na cadeia de franqueados. Mesmo apesar dos acontecimentos, ainda nos restava o contentamento de salvar pequena parte do dinheiro planejado para o investimento. Poucos dias depois de acertarmos o distrato dos contratos com um dos diretores via telefone, recebi a ligação do presidente da empresa. Ele ainda tentava nos convencer de que deveríamos permanecer no negócio e que estávamos desistindo de algo sem ao menos tentar. Deu-nos várias garantias de sucesso através de exemplos e após uma longa conversa onde expusemos todos os acontecimentos e insatisfações, ele disse que não éramos empreendedores e que não queria medrosos como nós como franqueados em seu negócio. Quando resolvemos entrar no negócio, sabíamos de antemão que nenhum Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 38 Edição Especial de Lançamento investimento está livre de riscos e que mesmo se tratando de uma franquia o negócio poderia não dar certo. Contudo procuramos nos acercar do maior número de informações possíveis para realizar a melhor escolha e acima de tudo acreditamos na seriedade, honestidade e ética da empresa escolhida. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Examinado o estudo de caso no âmbito do referencial teórico adotado, pode-se identificar algumas práticas de gestão que norteiam ausência de práticas éticas as quais contribuíram para o insucesso do empreendimento. Em linhas gerais, talvez o desconhecimento do mercado aliado a falta de moral e ética do franqueador, leve muitos novos empreendedores ao insucesso. Entretanto, seria injusto atribuir-se toda a culpa pelo insucesso do negócio única e exclusivamente aos problemas e fatos apresentados no presente estudo de caso. Sempre há algo a mais que pode ser feito para minimizar riscos em qualquer que seja o ramo de negócio, abaixo, destacam-se algumas ações que poderiam ter sido adotadas neste caso em específico: 1. Buscar conhecer de maneira mais detalhada a realidade financeira e grau de satisfação de franqueados existentes; 2. Não confiar apenas em relatos da franquia; 3. Buscar dados sobre a taxa de insucessos de unidades existentes; 4. Buscar queixas e reclamações dos consumidores finais; 5. Conhecer as causas do insucesso daqueles que não prosperaram; 6. Analisar se as dificuldades levantadas são inerentes ao negócio ou a má gestão em particular; 7. Buscar empresas que apresentem valores como responsabilidade social, desenvolvimento sustentável, respeito pelo meio ambiente, moral e ética; 8. Buscar conhecer o presidente da empresa para constatar se ele está verdadeiramente preocupado com a prosperidade de seus clientes. Algo que pode dar um bom indicativo quanto a moral e ética de empresas de uma forma geral é a preocupação com o meio ambiente, com práticas socialmente responsáveis, Revista de Administração do Sul do Pará (REASP) – FESAR – v. 1, n. 1, Jan/Abr – 2014 Página 39 Edição Especial de Lançamento que entreguem valores não somente aos seus clientes, mas a toda uma comunidade. Empresas que se preocupam com aspectos sociais, demonstram desapego ao lucro desmedido e exacerbado, provendo bons indícios de empresa ética e moralmente confiável. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de; WHITAKER, Maria do Carmo; RAMOS, José Maria Rodriguez. Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica. 1ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 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