Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Cinemática dos Corpos Rígidos Neste capítulo serão considerados apenas movimentos planos dos corpos ou conjuntos de corpos rígidos. Os movimentos classificam-se em: translação, rotação e movimento plano geral. Translação O movimento de translação de um corpo rígido assemelha-se ao movimento da partícula. A cada instante, todos os pontos do corpo (todas as partículas que o constituem) têm os vectores de deslocamento, velocidade e aceleração exactamente iguais. A recta que liga dois pontos arbitrários A e B (duas partículas A e B que pertencem ao conjunto de partículas que constituem esse corpo) do corpo rígido mantem-se paralela em cada instante durante o movimento e por isso as trajectórias de todos os pontos mantêm-se também paralelas. A trajectória percorrida pelo corpo pode ser recta ou curva, ou seja a translação denomina-se rectilínea (figura abaixo à esquerda- as trajectórias são rectas) ou curvilínea (figura abaixo à direita- as trajectórias são curvas). Qualquer ponto do corpo pode caracterizar o movimento de translação de maneira inequívoca e igual. Seja rB/ A rB rA o vector que liga dois pontos arbitrários A e B do corpo rígido. Sendo este vector constante ao logo do tempo, todas as derivadas segundo o tempo são nulas e por isso: rB/ A rB rA vA vB rB/ A rB rA aA aB Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 O vector do deslocamento que é o vector que liga a posição inicial de um ponto com a sua posição final num dado instante de tempo, pode escrever-se como: uA rA rA Neste caso rA designou o vector de posição do ponto A na sua nova posição, ou seja A’. Das relações acima vê-se que: rB/ A rB rA rB/ A rB rA rA rA rB rB ou seja os vectores de deslocamento são iguais uA uB As deduções apresentadas comprovam as definições ditas acima. Rotação Durante o movimento de rotação, cada partícula A que constitui o corpo faz o movimento circular, ou seja a trajectória da partícula A é uma circunferência com o raio definido pela distância desta partícula ao centro de rotação C. Neste caso usam-se tal como na cinemática da partícula, grandezas angulares, ou seja: o ângulo percorrido rad , a velocidade angular rad/s e a aceleração angular rad/s 2 . Se a distância entre A e C for r o caminho percorrido coincide com o arco s r , a intensidade da velocidade linear é v r r e a direcção do vector correspondente é tangente à trajectória no sentido de progressão do movimento. A intensidade da aceleração tangencial é at r r r e a direcção do vector correspondente é tangente à trajectória no sentido de progressão do movimento quando acelera e no sentido oposto quando desacelera. Existe ainda a componente normal da aceleração cuja intensidade é, an 2 r v2 e a direcção do vector correspondente é normal à trajectória (perpendicular à r tangente) com o sentido direccionado para o centro da rotação, independente do sentido do vector at . v r r C A at A r 2 C acelerado A 2r C at desacelerado Para distinguir claramente as duas velocidades, usa-se às vezes o adjectivo “linear”, ou seja a velocidade v com a unidade [m/s] pode ser chamada, velocidade linear. Neste contexto a palavra linear não tem nada a ver com alguma função linear, apenas representa o “recto”, tal como por exemplo o termo, “mola linear”. O recto neste sentido não limita o movimento para o rectilíneo. Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Movimento plano geral O movimento plano geral pode a cada instante separar-se em translação e rotação. Esta separação pode aplicar-se ao movimento finito ou infinitesimal e aplica-se aos deslocamentos, velocidades e acelerações. Para definir esta separação utiliza-se a definição do movimento relativo, ou seja: uA uB uA/ B vA vB vA/ B aA aB aA/ B Estas equações podem ser utilizadas apenas estritamente no seu sentido vectorial. As equações é fácil de decorar, imaginando que a equação aplica-se aos índices e que “/” representa a substração, depois os índices dizem: A=B+A-B. O significado físico diz que o deslocamento (a velocidade, a aceleração) do ponto A pode ser obtida usando o deslocamento (a velocidade, a aceleração) do ponto B mais o deslocamento (a velocidade, a aceleração) relativo de A relativamente ao B. No movimento plano geral quando os dois pontos pertencem ao mesmo corpo (ou representam o mesmo movimento plano geral) o movimento relativo é representado pela rotação, o que facilita a utilização das equações acima. Ou seja, o termo do movimento relativo representa a rotação do ponto A em torno do ponto B, ou seja, o movimento em que o ponto A está a circular e o ponto B permanece fixo e representa o centro de rotação. O ponto B pode ser designado o ponto de referência, e o ponto A, cujas componentes as equações acima determinam, pode ser chamado o ponto “de interesse”. Como já deduzido para os deslocamentos no capítulo PTV, aos pontos de referência diferentes está associada a componente de translação diferente, mas a componente de rotação será sempre igual. Visto a velocidade ser tangente à trajectória, o CIR determinado para a definição dos deslocamentos elementares servirá também para a definição de velocidades, porque as velocidades induzem em tempo infinitesimal os deslocamentos infinitesimais nas mesmas direcções e sentidos. Por isso o CIR pode-se definir como o ponto de velocidade nula e esta definição vai designar o mesmo CIR que foi utilizado no capítulo PTV. Nas figuras abaixo representam-se vários casos de separações dos movimentos. A figura acima representa o movimento da barra encostada às duas superfícies. A sua posição inicial é azul, e a final é verde. Escolhendo o CIR como o ponto de referência, o movimento pode ser representado apenas como uma rotação em torno do CIR. Nota-se que o CIR muda a sua posição a cada instante, e por isso o movimento finito tem que ser construído como a soma dos Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 movimentos infinitesimais. No entanto arbitrando qualquer outro ponto como de referência, o movimento separa-se novamente em translação e rotação. A seta que corresponde ao deslocamento de translação é diferente para pontos de referência diferentes, mas a contribuição da rotação permanece igual. O movimento representado não precisa de ser infinitesimal, mas pode ser finito. O mesmo verifica-se para as esferas, rodas ou discos em movimento de rolamento sem escorregamento. O movimento representado na figura acima pode-se separar em translação e rotação, o ponto de referência que se costuma usar mais frequentemente é o ponto A. Translação Rotação Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Problemas que envolvam apenas as velocidades Barras As barras ou os conjuntos de barras em princípio formam as estruturas reticuladas. Como justificado acima, os problemas que envolvam apenas as velocidades resolvem-se da maneira explicada no capítulo PTV. A diferença baseia-se em dois pontos: (i) a estrutura do enunciado será já um mecanismo, ou seja, não se vai introduzir nenhuma libertação como no capítulo PTV; (ii) o objectivo do cálculo será o campo de velocidades, e por isso 1 valor será dado e com a sua implementação os restantes valores serão calculados. Isso é válido para mecanismos com 1 GDL, porque, em analogia, o campo de deslocamentos infinitesimais de um mecanismo com 1 GDL é definido via 1 parâmetro. Se a estrutura analisada fosse um mecanismo com mais GDL, mais dados tem que ser definidos para se poder resolver o problema em causa. Para descobrir o campo de velocidades, pode traçar-se o campo de deslocamentos infinitesimais e substituir os deslocamentos pelas velocidades lineares e os ângulos de rotação pelas velocidades angulares. Problema Sabendo que a barra AB tem a velocidade angular AB 3rad/s no sentido anti-horário, determine as velocidades angulares das barras BD e DE. Resolução: 1. Separação em corpos e a determinação dos CIRs Corpo I: barra AB Corpo II: barra BD Corpo III: barra DE Os apoios fixos correspondem aos CIRs absolutos 150 CIR2 , CIR2 o que define CIR1 e CIR3 CIR3 Rótulas internas correspondem aos CIRs relativos o que define CIR12 e CIR23 O primeiro teorema permite traçar 2 rectas (vermelhas tracejadas) que determinam a posição CIR2 CIR12 150 do CIR2 . O CIR2 está posicionado na intersecção destas rectas. Visto as rectas serem paralelas, o CIR2 está posicionado no infinito na direcção das rectas. 2. O campo de velocidades Basta estabelecer as relações entre as velocidades angulares em semelhança com os deslocamentos virtuais, onde o objectivo era estabelecer as relações entre os ângulos de rotação. CIR1 CIR23 vB DE 150 vD Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 O campo de velocidades pode ser representado na figura ou em projecção. No entanto este problema é tão simples que a visualização de campo de velocidades poderá ser feita directamente na figura. Pode-se deduzir que: vB AB150 vD DE 300 DE AB 1 1,5rad/s (horário) 2 BD 0 (corpo em translação) Nota-se que o cálculo é feito na forma escalar e sem sinais. O sentido das velocidades determina-se de acordo com o esboço. É importante realçar que o cálculo refere-se apenas a um dado instante de tempo, em que as barras encontram-se na posição mostrada. Avançando o movimento, a posição das barras (que teria de ser determinada pelas regras de movimento finito e não infinitesimal) será diferente e certamente o CIR da barra BD não vai continuar no infinito, e por isso a barra terá alguma velocidade angular. A determinação desta velocidade já não seria tão fácil como no cálculo anterior. Nota-se no entanto que os CIRs das outras barras, AB e DE permanecerão inalterados. Neste contexto faz sentido distinguir os CIRs absolutos fixos e móveis. O CIR absoluto fixo é habitualmente aquele que foi determinado na posição de apoio fixo, não muda a sua posição ao longo do movimento finito e por isso além de ter as propriedades do CIR, coincide também com o centro do movimento de rotação do corpo a que pertence. O CIR absoluto móvel é habitualmente determinado na intersecção de algumas rectas e por isso muda a sua posição a cada instante. No problema anterior determinaram-se as velocidades angulares das barras. Se forem solicitadas algumas velocidades lineares, estas determinavam-se do mesmo modo como os deslocamentos na parte de PTV. No problema anterior isso foi aplicado no cálculo das velocidades vB e vD . Rodas (Discos, Esferas) Os principais movimentos das rodas são o movimento de rotação e o movimento de rolamento. Quando o rolamento ocorre sem o escorregamento, isso significa que as superfícies cujos pontos entram em contacto avançam de tal modo que o comprimento percorrido, s, é igual. Isso significa que não há movimento relativo entre esses pontos e por isso a velocidade do ponto de contacto tem que ser igual. Se a roda rolar sobre uma superfície em repouso, a velocidade do ponto de contacto é nula e para os efeitos de análise de movimento, este ponto coincidirá com o CIR (absoluto). Se a roda rolar sobre uma superfície em movimento, ou sobre outra roda em movimento, a velocidade do ponto de contacto é diferente de zero e para os efeitos de análise de movimento, este ponto coincidirá com o CIR relativo. É necessário distinguir o ponto de contacto, do ponto comum. O ponto comum, por exemplo uma rótula interna, habitualmente pertence a dois corpos e por isso verifica as regras do movimento de cada um dos corpos e os seus vectores de deslocamento, velocidade e aceleração são únicos. O ponto de contacto em princípio representa 2 pontos distintos, e cada um pertence a um corpo Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 diferente. Quando não há escorregamento no lugar de contacto, as componentes tangenciais do deslocamento infinitesimal, da velocidade e da aceleração são iguais. No caso do deslocamento infinitesimal e da velocidade, não existem outras componentes do que as tangenciais, e por isso pode-se dizer que o deslocamento infinitesimal e a velocidade no ponto de contacto são iguais. Para as acelerações isso já não é verdade, a componente normal de aceleração dos dois pontos que entram em contacto, em geral, será sempre diferente. Este facto é bastante importante e será ainda referido na parte das acelerações. Dois pontos de velocidades conhecidas Da teoria apresentada no capítulo PTV, torna-se óbvio que sabendo as velocidades de dois pontos que pertencem ao mesmo corpo, é possível determinar a posição do CIR tal como se visualiza na figura ao lado. No entanto verifica-se que neste caso as intensidades de velocidades são dependentes, porque tem que verificar: vA ACIR vB B CIR Quando os vectores de velocidades são paralelos, o corpo sofre uma translação e os vectores têm que ter a mesma intensidade, porque o CIR correspondente está no infinito, na direcção perpendicular às direcções das velocidades (figura abaixo, à esquerda). Apenas quando se verifica que os pontos A e B estão colocados na mesma recta perpendicular aos vectores de velocidades, as intensidades de velocidades podem ser diferentes (figura abaixo, à direita) e a velocidade angular verifica: vA ACIR vB B CIR Para completar, pode-se dizer que sabendo a velocidade no ponto A e a velocidade angular, o CIR pode ser facilmente encontrado na recta perpendicular à velocidade, à distância d ACIR que verifica ACIR vA O mesmo é válido para os deslocamentos infinitesimais. Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Problema O braço AB gira com uma velocidade angular de AB no sentido horário. As rodas A e B, de raios rA e rB rolam sem escorregar sobre si. Determine a velocidade angular da roda A para a qual: a) a velocidade angular da roda B é de B no sentido antihorário; b) o movimento da roda B é uma translação curvilínea. Resolução CIRB, AB O mecanismo da figura é composto por 3 corpos, duas rodas e uma barra. A roda A está apoiada, e por isso faz o movimento de CIRB, A rotação em torno do apoio, que coincide com o seu CIR absoluto. Este ponto coincide também com o ponto em torno do vB qual roda a barra, é por isso também o CIR da barra. O centro da CIRAB CIRA AB roda B, onde há ligação entre a roda B e a barra, é o ponto B comum a dois corpos, ou seja o CIR relativo, e por isso a A velocidade neste ponto pode ser relacionada quer à roda B, quer vC à barra AB. Finalmente o ponto de contacto é o CIR relativo das duas rodas. O esboço dos movimentos foi afastado da figura das rodas para não se confundir. Neste caso não foi projectado para alguma recta particular, porque sabendo os raios das rodas, não é vantajoso visualizar o esboço em projecção com comprimentos projectados. Por isso, também as velocidades visualizam-se nos seus valores reais e não projectados. A posição deformada da roda A está representada pela recta vermelha. Esta recta de facto corresponde à posição deformada do raio da roda assumindo um movimento infinitesimal iniciado quando este raio estava alinhado com a barra. Igualmente a roda B, representada pela recta verde, corresponde à posição deformada do raio da roda B. A barra está representada pela recta azul. O esboço verifica as mesmas velocidades no ponto B, entre a roda B e a barra AB (rectas verde e azul), e no ponto C, entre a roda A e a roda B (rectas vermelha e verde). Prolongando a recta verde, encontra-se o ponto da velocidade nula da roda B. Ou seja, o CIR da roda B foi encontrado da maneira explicada anteriormente e refere-se a dois pontos de velocidades conhecidas. Os declives das rectas representam as velocidades angulares. Para se relacionar a velocidade angular B mais facilmente, foi introduzida uma recta paralela à base do esboço. Nota-se que a velocidade angular B introduzida, roda no sentido anti-horário, tal como exige a alínea a). Por esta razão é possível relacionar os valores apenas da forma escalar. Do esboço lê-se directamente: ArA vC vB B rB AB rA rB vB ou seja B Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 A AB rA rB B rB rA Este resultado corresponde à alínea a). b) Uma translação curvilínea significa que a roda B não sofre de rotação, ou seja B 0 e por isso A AB rA rB rA 48mm Problema O braço ABC gira em torno do ponto C com velocidade angular de 40rad/s no sentido anti-horário. Dois discos de atrito A e B estão pinados em seus centros ao braço ABC do modo mostrado na figura. Sabendo que os discos rolam sem escorregar nas superfícies de contacto, determine a velocidade angular: a) do disco A; b) do disco B. 30mm Resolução Seja D o ponto de contacto entre os CIRA vD dois discos, E o ponto de contacto do D C disco B com a cavidade, e F a outra vB B A F E ABC extremidade do disco A. Na figura ao ABC A B CIRB vA CIRbarra lado visualiza-se a forma deformada do conjunto. A resolução começa por A representar a barra cuja velocidade angular é dada. Faz-se a sua rotação em torno do C no sentido anti-horário (recta azul). O Ponto C corresponde ao CIR da barra. Esta deformada define as velocidades dos centros dos dois discos. Visto que o ponto E tem a velocidade nula, coincide com o CIR do disco B cuja velocidade angular é B vB ABC CB 40 18 24rad/s (horário) rB rB 30 A velocidade angular do disco B permite determinar a velocidade do ponto do contacto D com o disco A. Visto que a velocidade do centro do disco A é definida pela rotação da barra, o disco A possui dois pontos de velocidades conhecidas. Tal como explicado anteriormente, o CIR do disco A está posicionado na intersecção da recta vermelha com a horizontal. O declive corresponde à velocidade angular. Para facilitar o cálculo, é possível imaginar as rectas vermelhas tracejadas e calcular Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 A vD vA B DE ABC AC 24 60 40 24 200rad/s (anti-horário) rA rA 12 Problemas que envolvam as velocidades e as acelerações Em primeiro lugar é necessário realçar, que em geral é sempre necessário resolver o campo de velocidades antes de começar a lidar com o campo de acelerações, porque as velocidades definem as componentes normais de aceleração. Apenas se o movimento de todos os corpos se iniciasse do repouso, o campo de velocidades seria nulo e consequentemente poder-se-ia começar com as acelerações. Barras Depois de determinar os CIRs das barras na parte de velocidades, é possível separar os CIRs em fixos e móveis. Os CIRs fixos definem os centros de rotação. As barras com CIRs fixos fazem o movimento de rotação (cada partícula que constitui a barra faz movimento circular) e por isso as componentes normal e tangencial das suas acelerações são bem definidas (conhecem-se numericamente, ou é possível exprimi-las usando grandezas incógnitas). Quando o CIR fixo está posicionado no infinito, como por exemplo quando a barra tem o apoio externo na forma de encastramento deslizante, a aceleração angular da barra é nula. Quando existe um apoio móvel externo, ou as condições de movimento implicam a translação de uma das extremidades da barra, o cálculo pode ser ajudado pelo facto de que neste lugar é conhecida a direcção da aceleração total. Rodas (Discos, Esferas) Movimento de rotação Durante o movimento de rotação o centro da rotação está fixo. As trajectórias de todos os pontos são conhecidas e formadas pelas circunferências. O ponto fixo não tem a velocidade nem a aceleração e corresponde ao CIR fixo. As acelerações e as velocidades determinam-se tal como explicado anteriormente. Rolamento sem o escorregamento sobre uma superfície recta Durante o rolamento sem o escorregamento sobre uma superfície recta, o centro da roda é o único ponto da roda que se move sobre uma trajectória recta. Esta trajectória é paralela à superfície. Por isso o vector da velocidade é também paralelo à superfície e o vector da aceleração tem apenas a componente tangencial, também paralela à superfície. Neste caso costuma-se interpretar o movimento da roda como o movimento do centro da roda, ou seja quando se diz que a roda move-se com uma certa velocidade (aceleração), assume-se que o centro da roda move-se com esta velocidade (aceleração). Naturalmente outros pontos têm velocidades (acelerações) diferentes e dependentes da posição da roda num dado instante do tempo. O ponto de contacto com a superfície (somente nesse instante) tem que verificar as condições de contacto sem o escorregamento, ou seja as condições de movimento relativo nulo, ou seja os Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 pontos de contacto da roda e da superfície têm que ter as componentes de velocidades iguais e as componentes de aceleração tangenciais iguais. Mas como os pontos pertencem aos diferentes corpos, podem ter acelerações normais diferentes. Realça-se que pode-se designar a componente da aceleração como tangencial ou normal, apenas quando a trajectória é conhecida. Superfície horizontal em repouso B a v r C A O ponto de contacto A tem a velocidade nula e por isso corresponde ao CIR (móvel). As velocidades determinam-se definindo primeiro a velocidade angular e depois usa-se o mesmo procedimento como na determinação dos deslocamentos infinitesimais. B C v B v r A CIR vB C vB AB A CIR Realça-se que o vector de velocidade vB é perpendicular à recta AB e por isso não é perpendicular à superfície da roda, porque a superfície da roda não representa a trajectória do ponto B . (A superfície da roda corresponde à trajectória dos pontos de superfície apenas durante o movimento de rotação em que o centro da roda coincide com o centro de rotação). Usando o conceito das projecções, é possível determinar a velocidade do ponto B directamente em componentes, horizontal e vertical. Para a componente horizontal basta imaginar a velocidade do ponto posicionado na recta horizontal que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do A . Por outras palavras, todos os pontos posicionados na recta horizontal que passa pelo ponto B têm a mesma componente horizontal de velocidade. Para a componente vertical basta imaginar a velocidade do ponto na recta vertical que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do A . Por outras palavras todos os pontos posicionados na recta vertical que passa pelo ponto B têm a mesma componente vertical da velocidade. B B C vB vB, x r 1 cos A CIR vB C A CIR vB, y r sin Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 ou seja r 1 cos vB e r sin vB 2 r 2 1 cos 2 r 2 sin 2 2 r 2 1 cos AB Sublinha-se que este conceito de projecção podia ser generalizado, ou seja todos os pontos posicionados sobre uma recta têm a componente de velocidade na direcção desta recta igual. Este valor equivale à multiplicação de com a distância desta recta ao CIR. Este conceito já foi utilizado no capítulo PTV. Ainda é possível usar o cálculo vectorial i vB AB 0 r sin r 1 cos v 1 cos j k 0 r sin v sin r 1 cos 0 0 0 Nota-se que foi introduzido como negativo, porque a atribuição do vector usa a regra de mão direita. O cálculo poderia ser efectuado directamente usando a simplificação que reduz o resultado para 2D e em que a primeira multiplicação com a velocidade angular (cujo sinal foi introduzido de acordo com a regra de mão direita) usa a segunda componente do vector AB com o sinal inverso e a segunda multiplicação a primeira componente. r 1 cos v 1 cos r sin r 1 cos vB AB r sin r sin v sin r 1 cos Nota-se que o cálculo anterior podia justificar-se via propagação de velocidades com o ponto de referência A , ou seja vB vA vB/ A vB/ A . É ainda possível usar a propagação de velocidades com o ponto de referência coincidente com o centro da roda C : v 1 cos v r sin v r cos vB vC vB /C v,0 CB 0 r cos 0 r sin v sin Aceleração do ponto do contacto Sabe-se que o ponto do contacto A tem a componente tangencial de aceleração nula. Usando a propagação de acelerações: 0 a r a A aC a A/ C 2 a A, n 0 r Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Neste caso simples usaram-se directamente as componentes de aceleração normal e tangencial nas posições das componentes, vertical e horizontal. C a C C , fixo a a A, n a A r A 2r A Na primeira figura visualizam-se as acelerações conhecidas, ou seja sabe-se a aceleração do centro e a aceleração tangencial do ponto de contacto. Pode haver aceleração normal no ponto A , mas o seu valor a A, n ainda é desconhecido. O movimento separa-se em translação com C e a rotação em torno do C . A translação visualiza-se na segunda figura, todos os ponto inclusive A e C têm a mesma aceleração do C , ou seja a . A rotação visualiza-se na terceira figura. O ponto C está fixo e o ponto A faz o movimento de rotação. Como o movimento é de rotação, sabe-se a trajectória e podem-se usar as componentes da aceleração na forma tangencial e normal tal como definidos para o movimento circular. Para isso é preciso saber a velocidade angular , que teve que ser determinada na parte de velocidades. Falta ainda a aceleração angular , e por isso introduz-se como um valor desconhecido e arbitra-se o seu sentido. Verifica-se que as componentes no ponto A são representadas na equação acima. A equação é vectorial e tem duas incógnitas, resolvendo vem: a / r e aA,n 2 r . Pode-se assim concluir que, sabendo as componentes de aceleração total em 2 pontos distintos que pertencem ao mesmo corpo (fazem o mesmo movimento), pode-se determinar a aceleração angular do modo semelhante como se costuma determinar a velocidade angular. Para as acelerações é necessário usar as componentes que são perpendiculares à recta que une estes dois pontos. A aceleração angular corresponde ao ângulo assim definido. Aceleração do ponto B Determinação gráfica via propagação de acelerações: A separação em translação com C e a rotação em torno do C , costuma ser a separação mais vantajosa, porque o movimento de rotação depois coincide com o movimento de rotação em torno do centro da roda, em que as componentes de aceleração são bem conhecidas. C B aB ? C a 2r B r B a a C , fixo A A A a r cos r sin a 1 cos r sin aB aC aB / C 2 2 0 r sin r cos a sin r cos 2 2 Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 O cálculo vectorial segue o mesmo raciocínio a a r sin 2 r sin aB aC aB / C CB 2 CB 0 0 r cos r cos a r cos 2 r sin a 1 cos 2 r sin 2 2 0 r sin r cos a sin r cos B Superfície horizontal em movimento r v a C Admite-se que uma roda role sem escorregar sobre uma superfície que também está em movimento. A roda movev/2 A a/2 se com a velocidade v para a direita e acelera pelo a . A superfície move-se na mesma direcção com a velocidade v / 2 e desacelera pelo a / 2 . Pretende-se determinar a velocidade e a aceleração no ponto B da roda. Velocidades O ponto de contacto A não tem a velocidade nula, por isso é necessário determinar o CIR (móvel) usando o procedimento definido para 2 pontos de velocidades conhecidas. As velocidades determinam-se definindo primeiro a velocidade angular e depois usa-se o mesmo procedimento como na determinação dos deslocamentos infinitesimais. B v C A r CIR B v 2r C vB vB CIR B v/2 A CIR A posição do CIR foi determinada usando a semelhança dos triângulos. Realça-se novamente que o vector de velocidade vB é perpendicular à recta CIR B e por isso não é perpendicular à superfície da roda porque esta não representa a trajectória do ponto B . Usando o conceito das projecções, é possível determinar a velocidade do ponto B directamente em componentes, horizontal e vertical. Para a componente horizontal basta imaginar a velocidade do ponto posicionado na recta horizontal que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do CIR . Por outras palavras, todos os pontos posicionados na recta horizontal que passa pelo ponto B têm a mesma componente horizontal de velocidade. Para a componente vertical basta imaginar a velocidade do ponto na recta vertical que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do CIR . Por outras palavras, todos os pontos posicionados na recta vertical que passa pelo ponto B têm a mesma componente vertical da velocidade. Ou seja Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 r 2 cos vB e r sin vB 2r 2 2 cos 2r 2 sin 2 r 5 4cos CIR B 2 Ainda é possível usar o cálculo vectorial, que neste caso corresponde a propagação de velocidades com o ponto de referência igual ao CIR : i vB CIR B 0 r sin r 2 cos j k 0 r sin r 2 cos 0 0 O cálculo poderia ser efectuado directamente usando a simplificação que reduz o resultado para 2D: r sin r 2 cos vB CIR B r 2 cos r sin implementando r sin CIR B r 2 cos É ainda possível usar a propagação de velocidade, por exemplo, com o ponto de referência coincidente com o centro da roda: v 2 r r sin r 2 cos vB vC vB / C CB 0 0 r cos r sin Também pode ser utilizado outro ponto de referência, por exemplo o ponto A : r sin r 2 cos v / 2 r vB v A v B / A AB 0 0 r 1 cos r sin Aceleração do ponto do contacto Sabe-se que o ponto do contacto A tem a componente tangencial de aceleração definida. Usando a propagação de acelerações: a / 2 a r a A aC a A/ C 2 a A, n 0 r Neste caso simples usaram-se directamente as componentes de aceleração normal e tangencial nas posições das componentes, vertical e horizontal. C a C a A, n a/2 A a a A C , fixo r 2r A Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Na primeira figura visualizam-se as acelerações conhecidas, ou seja, sabe-se a aceleração do centro e a aceleração tangencial do ponto de contacto. Pode haver aceleração normal no ponto A , mas o seu valor a A,n ainda é desconhecido. O movimento separa-se em translação com C e a rotação em torno do C . A translação visualiza-se na segunda figura, todos os pontos, inclusive A e C têm a mesma aceleração do C , ou seja a . A rotação visualiza-se na terceira figura. O ponto C está fixo e o ponto A faz movimento de rotação. Como o movimento é de rotação, sabe-se a trajectória e podem usar-se as componentes da aceleração na forma tangencial e normal, tal como definidos para o movimento circular. Para isso tem que saber-se a velocidade angular , que teve que ser determinada na parte de velocidades. Falta ainda a aceleração angular , e por isso introduz-se como valor desconhecido e arbitra-se o seu sentido. Verifica-se que as componentes no ponto A são representadas na equação acima. A equação é vectorial e tem duas incógnitas, resolvendo vem: 1,5a / r e aA,n 2 r . Ou seja, a aceleração angular C determinou-se usando duas componentes de aceleração conhecidas, que actuam na direcção perpendicular à recta que une os pontos A e C , tal como se visualiza na figura ao lado. a a A, n a/2 A Aceleração do ponto B Determinação gráfica via propagação de acelerações: a separação em translação com C e a rotação em torno do C , costuma ser a separação mais vantajosa, porque o movimento de rotação depois coincide com o movimento de rotação em torno do centro da roda, em que as componentes de aceleração são bem conhecidas. C B aB ? a C B a 2r B r a C , fixo A A A v2 2,5 a cos sin 5 2 a r cos 2 r sin r cos r sin 4 r aB aC aB /C 3 2 v2 2 0 r sin r cos r sin r cos 1,5a sin cos 4r Foi utilizado que v 2r e 1,5a / r . O cálculo vectorial em princípio segue o mesmo raciocínio Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 a a r sin a r cos 2 r sin 2 r sin aB aC aB / C CB 2 CB 2 0 0 r cos r cos 0 r sin r cos v2 2,5 a co s sin 5 2 a r cos 2 r sin r cos r sin 4 r 3 2 2 0 r sin r cos 1,5a sin v cos r sin 2 r cos 4r Superfície inclinada em movimento B Admite-se que uma roda role sem escorregar sobre uma superfície inclinada que também está em movimento. A roda move-se com a velocidade v para baixo e acelera pelo a / 2 . A superfície move-se na direcção oposta com a velocidade v / 2 e desacelera pelo a . Determine a velocidade e a aceleração no ponto B da roda. C v a/2 r v/2 a A Resolução Velocidades O ponto de contacto A não tem a velocidade nula e por isso é necessário determinar o CIR (móvel) usando o procedimento definido para 2 pontos de velocidades conhecidas. As velocidades determinam-se definindo primeiro a velocidade angular e depois usa-se o mesmo procedimento como na determinação dos deslocamentos infinitesimais. B B v 3v 2r C CIR A v/2 vB CIR B v CIR referencial usado A v/2 A posição do CIR foi determinada usando a semelhança dos triângulos. Realça-se novamente que o vector de velocidade vB é perpendicular à recta CIR B e por isso não é perpendicular à superfície da roda porque esta não representa a trajectória do ponto B . Usando o conceito das projecções, é possível determinar a velocidade do ponto B directamente em componentes; neste caso será mais vantajoso determinar as componentes na direcção paralela e perpendicular à superfície. Para a componente paralela à superfície basta imaginar a velocidade do ponto posicionado na recta paralela que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do CIR . Por outras palavras, todos os pontos posicionados na recta paralela que passa pelo ponto B têm a mesma componente paralela à superfície de velocidade. Para a componente perpendicular à superfície basta imaginar a velocidade do ponto na recta perpendicular à superfície que passa pelo ponto B , que é o mais próximo do CIR . Por outras palavras, todos os Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 pontos posicionados na recta perpendicular que passa pelo ponto B têm a mesma componente perpendicular à superfície da velocidade. Ou seja r 2 / 3 cos vB e r sin 2 13 4 2 vB 2 r 2 cos 2 r 2 sin 2 r cos CIR B 9 3 3 Ainda é possível usar o cálculo vectorial i vB CIR B 0 r sin j k r 2 / 3 cos 0 r sin r 2 / 3 cos 0 0 O cálculo poderia ser efectuado directamente usando a simplificação que reduz o resultado para 2D (este cálculo corresponde à propagação de velocidades com o ponto de referência coincidente com o CIR ): r sin r 2 / 3 cos vB CIR B r sin r 2 / 3 cos É ainda possível usar a propagação de velocidades, por exemplo, com o ponto de referência coincidente com o centro da roda: v v r sin v r cos r 2 / 3 cos vB vC vB / C CB r sin 0 0 r cos 0 r sin Na relação anterior foi substituído v 2r / 3 . Pode ser utilizado qualquer outro ponto de referência, por exemplo o ponto A : r sin r 2 / 3 cos v / 2 v / 2 vB v A vB / A AB r sin 0 0 r 1 cos Aceleração do ponto do contacto Sabe-se que o ponto do contacto A tem a componente tangencial de aceleração definida. Usando a propagação de acelerações: a a / 2 r a A aC a A/ C 2 a A, n 0 r a / 2 a A, n C , fixo C C a A a/2 A a/2 2r r A Na primeira figura visualizam-se as acelerações conhecidas, ou seja, sabe-se a aceleração do centro e a aceleração tangencial do ponto de contacto. Pode haver aceleração normal no ponto Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 A , mas o seu valor a A,n ainda é desconhecido. O movimento separa-se em translação com C e a rotação em torno do C . A translação visualiza-se na segunda figura, todos os pontos, inclusive A e C têm a mesma aceleração do C , ou seja a / 2 . A rotação visualiza-se na terceira figura. O ponto C está fixo e o ponto A faz movimento de rotação. Como o movimento é de rotação, sabe-se a trajectória e podem-se usar as componentes da aceleração na forma tangencial e normal, tal como definidos para o movimento circular. Para isso é necessário saber a velocidade angular , que teve que ser determinada na parte de velocidades. Falta ainda a aceleração angular , e por isso introduz-se como valor desconhecido e arbitra-se o seu sentido. Verifica-se que as componentes no ponto A são representadas na equação acima. A equação é vectorial e tem duas incógnitas, resolvendo vem: a / 2r e aA,n 2 r . Ou seja, a aceleração angular C a / 2 a A, n determinou-se usando duas componentes de aceleração conhecidas, que actuam na direcção perpendicular à recta que une os pontos A e C , tal como se visualiza na figura ao lado. a A Aceleração do ponto B Determinação gráfica via propagação de acelerações: a separação em translação com C e a rotação em torno do C costuma ser a separação mais vantajosa, porque o movimento de rotação depois coincide com o movimento de rotação em torno do centro da roda, em que as componentes de aceleração são bem conhecidas. Agora torna-se mais vantajoso usar as componentes, horizontal e vertical. aB ? a/2 B B r B r 2 a/2 C a/2 C C , fixo A A aB aC aB / C A 1 a 2 a cos r r 1 cos 2 1 cos 2 2 1 a sin r r sin r a sin 9 v 2 2 2 4r Foi utilizado que v 2 r e a 2 r . 3 O cálculo vectorial em princípio segue o mesmo raciocínio Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 1 1 a cos 2 a cos 0 2 2 2 0 aB aC aB / C CB CB r r 1 a sin 1 a sin 2 2 1 a 2 a cos r 0 r 1 cos 2 1 cos 2 2 1 a sin 0 r r sin r a sin 9 v 2 2 2 4r Pode concluir-se que em todos os casos a componente de aceleração perpendicular à superfície no ponto de contacto foi de 2 r . Os casos diferentes diferiram entre si pelos valores de e , em função de velocidade v ou aceleração a do centro da roda, usando o raio da roda r . Para determinação dos valores angulares e , foi utilizado um conceito que pode ser generalizado. Dois pontos de velocidades conhecidas Já foi referido o caso da figura ao lado à esquerda, de onde segue: v A vB AB Na equação acima as velocidades entram com a sua intensidade. A subtracção (ou a soma) faz se de acordo com a actuação real que também define o sentido de velocidade angular. Considerando alguma projecção pelo ângulo , tal como na outra figura à direita, pode-se concluir: vA cos vB cos vA, p vB , p d AB cos Ou seja para determinar a velocidade angular é suficiente conhecer 2 componentes paralelas de velocidades de 2 pontos do mesmo corpo. Depois a diferença escalar de intensidades das projecções (ou a soma no caso da actuação oposta) divide-se pela distância de rectas que definem a direcção destas componentes e passam pelos pontos considerados. Dois pontos de acelerações conhecidas Ao contrário dos deslocamentos infinitesimais e das velocidades, as acelerações em 2 pontos do mesmo corpo podem ter sentidos e intensidades quase arbitrárias. Existe apenas uma condição que será definida em seguida. Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Para resolver a aceleração angular e a velocidade angular, torna-se mais vantajoso usar o referencial especificado na figura ao lado. Usando a propagação de acelerações e arbitrando no sentido antihorário: aB aA aB / A 2 aB, x aA, x AB a a B , y A, y AB ou seja a a a a B , y A, y e 2 A , x B , x AB AB Por outras palavras, basta projectar as acelerações na direcção perpendicular à recta que une os dois pontos e retirar a aceleração angular como o ângulo infinitesimal. Realça-se no entanto que isso não significa que estas componentes projectadas são as componentes tangenciais, ou seja, as trajectórias destes dois pontos não são na direcção perpendicular à recta que une os dois pontos. Para a determinação da velocidade angular, a projecção faz-se à recta que une os dois pontos. Visto que a equação define o quadrado da velocidade angular, a subtracção tem que ser positiva, o que em termos geométricos significa que as componentes não podem “alargar” a recta que une esses dois pontos. Ou seja imaginando que as projecções representam os “deslocamentos” dos pontos, o “comprimento” novo não pode ser maior. Este conceito é o mais simples e não é possível fazer a generalização como no caso das velocidades. Barras com velocidades e acelerações dadas Vários problemas que consideram as estruturas reticuladas começam por definir a velocidade angular e a aceleração angular de uma das barras. É aconselhável perceber que um dado para velocidades e um dado para acelerações tem que ser definido para mecanismos com 1GDL. Os valores angulares são os mais fáceis porque a sua definição é completamente arbitrária e não pode entrar em contradição. Mas poder-se-ia definir uma velocidade de 1 ponto e uma aceleração de 1 ponto (diferente ou igual). Estes valores já não são arbitrários e têm que obedecer às leis de cinemática. Considera-se uma barra com apoio fixo e outra com encastramento deslizante. Recorda-se que estes apoios retiram 2GDL e por isso definem exactamente a posição do CIR da respectiva barra (não dão apenas uma indicação da posição do CIR, como por exemplo o apoio móvel). Por isso estas barras podem ser consideradas como um mecanismo único ou como uma parte de mecanismo. De qualquer maneira a discussão que se mostra em seguida é valida para ambos os casos. Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Velocidade (1) Único movimento que a barra ao lado pode fazer é rotação em torno do apoio. A velocidade tem que ser paralela à recta que une o ponto em que a velocidade actua e o CIR (sentido foi arbitrado, podia ser oposto). (2) Único movimento que a barra ao lado pode fazer é translação na direcção da libertação no apoio, por isso o vector de velocidade tem que actuar na mesma direcção, porque é a direcção de trajectória de cada ponto da barra (sentido foi arbitrado, podia ser oposto). Aceleração (1) Único movimento que a barra ao lado pode fazer é rotação em torno do apoio. O CIR é fixo e por isso representa o centro de rotação. O vector da aceleração (vermelho) tem que estar desviado para o centro de rotação, porque depois de o decompor na sua componente tangencial (azul) e normal (verde), o sentido da componente normal tem que ser direccionado para o centro. A intensidade depende da velocidade e no limite pode ser nula. (2) Único movimento que a barra ao lado pode fazer é translação na direcção da libertação no apoio, por isso o vector de aceleração tem que actuar na mesma direcção. A aceleração angular é nula. Problema Sabendo que a barra AB tem a velocidade angular AB 3rad/s no sentido anti-horário, A CIR A CIR v v B CIR, A AB B CIR, A 0 v v B B AC AC an a B at C, A a B an a B at at AB C, A a 0 B 150 e aceleração angular AB 2rad/s2 no sentido horário, determine as acelerações angulares das barras BD e DE. Resolução: 1. O campo de velocidades já foi determinado num problema anterior. Para as acelerações é importante resumir as velocidades angulares (sentidos são agora indiferentes) v vB DE 150 DE 1,5rad/s , BD 0 vD Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 2. Para as acelerações, é importante definir primeiro os corpos com movimentos bem definidos, que são habitualmente os corpos com apoios externos que indicam o tipo de movimento. As barras AB e DE têm um apoio fixo, ou seja CIR fixo, ou seja, o centro de rotação, e é possível determinar as componentes normais e tangenciais de aceleração nas rótulas que ligam estas barras à barra BD. No AB AB 2 AB AB total há 2 incógnitas, BD e DE . Para estas incógnitas é AB possível escrever uma equação vectorial de propagação de acelerações que corresponde a duas equações escalares. aD aB aD/ B , onde aD/ B equivale às componentes de rotação do ponto D em torno do ponto B, como se visualiza ao lado. A equação pode ser representada assim: 2 DE DE DE DE 2 DE DE DE DE B, fixo BD 2 BD BD 0 AB AB DE BD BD BD BD 2 AB AB Na realidade as projecções podem ser determinadas directamente usando o mesmo conceito como anteriormente, ou seja AB AB DE 2 DE DE DE BD 320 2 AB AB BD 240 Substituindo os valores numéricos e comparando as componentes verticais 9 300 9 150 BD 320 675 1350 BD 320 BD 6,33rad/s 2 4 e horizontais DE 300 2 150 BD 240 DE 6,06rad/s2 Concluiu-se que BD 0 apesar de BD 0 . Isso porque a translação da barra BD só se verifica naquele mesmo instante. Também pode-se concluir que BD 0 do facto que o CIR da barra BD é móvel, o que prova que para as acelerações não é possível usar o conceito igual ao das velocidades baseado em CIRs. A equação vectorial usada no cálculo também pode ser representada da seguinte maneira aD aB aD/ B A forma acima diz que, seguindo a estrutura de um lado para o outro, a aceleração do ponto de interesse seguinte (D) equivale à aceleração do ponto anterior (B) mais a aceleração que representa a rotação do troço BD, em que o ponto anterior é fixo e o ponto de interesse roda. Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Assim chega-se às acelerações do ponto D de dois lados, mas os valores naturalmente têm que ser os mesmos, porque representam a aceleração do único ponto. Graficamente ´´e possível separar a estrutura no ponto D. AB AB 2 AB AB BD BD 2 AB AB 2 DE DE AB AB DE DE Comparando as componentes no ponto em que a estrutura foi separada, e usando novamente o conceito das projecções para a componente inclinada, obtêm-se as equações acima. Ainda existe a possibilidade de efectuar cálculos vectoriais, mas neste caso simples não se justifica. Problema Na posição mostrada, a barra AB tem uma velocidade angular de 4rad/s no sentido horário e a aceleração angular nula. Determine as velocidades angulares e as acelerações angulares das barras BD e DE. Resolução 1. Velocidades A resolução pode ser auxiliada implementação dos CIRs. Da semelhança dos triângulos: via 500 h 800 h e 400 400 x 400 400 x Resolvendo: h 615,38mm CIR1 x 92,31mm As velocidades angulares são possíveis resolver usando as projecções, para a vertical ou para a horizontal. Realça-se que as relações entre as velocidades angulares mantém-se iguais, no entanto a velocidade visualizada, é naturalmente a projecção da velocidade ou seja a respectiva componente. CIR2 I CIR3 III h II x Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Assim no esboço ao lado visualiza-se a componente horizontal das velocidades dos pontos B e D, que é igual, e no esboço em baixo, as componentes verticais das velocidades dos pontos B e D que são diferentes. Assim: CIR1 AB CIR2 AB 800 BDh DE 500 I ou analogamente: h BD CIR3 AB 400 BD 400 x e DE 400 BD 400 x II Resolvendo: x BD 5, 2rad/s , DE 6, 4rad/s 2 BD BD 2 AB AB BD 2 BD 2 AB 800 2 AB 400 BD DE vD , y vB , y DE 2 DE DE DE DE 2 DE 500 DE 400 2 DE DE BD BD 2 AB AB Em componentes BD BD vB, x vD, x AB 2. Acelerações As barras AB e DE têm o CIR fixo que representa o centro de rotação, o que permite determinar as acelerações via componentes normais e tangenciais. Aplicase a propagação de acelerações de B para D e a estrutura separa-se no ponto D. Ou seja: BD BD DE III 2 BD BD 2 AB AB BD 2 DE 400 DE 500 Ou seja comparando as componentes horizontais 16 400 5, 22 800 DE 500 6, 42 400 DE 2,304rad/s 2 (anti-horário) e verticais 16 800 BD 800 2,304 400 6, 42 500 BD 10,752rad/s 2 (anti-horário) Resolução usando o cálculo vectorial (para o referencial 0xy na posição habitual, onde a posição da origem é indiferente) 400 800 400 AB , BD , ED 800 0 500 DE DE Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Recorda-se que as acelerações angulares foram arbitradas nos sentidos positivos e por isso para o cálculo vectorial simplificado basta trocar as componentes do respectivo vector e mudar o sinal da componente que está depois na primeira posição. 800 500 2 400 2 400 aB 0 AB , aD DE DE 400 800 400 500 0 2 400 2 800 aD aB aD / B AB BD BD 800 800 0 ou seja 0 500 2 400 2 800 2 400 AB BD BD DE DE 800 800 0 400 500 400 0 500 2 800 2 400 16 BD 5, 2 DE 6, 4 800 800 0 400 500 Verifica-se que o sistema das equações é igual ao anterior e por isso vai dar a mesma solução. Nas expressões foi utilizada a já referida simplificação do produto externo, na forma i at r 0 rx j k 0 ry , rx , 0 ry 0 Ou seja directamente: r at y rx O conceito das projecções O conceito das projecções foi referido várias vezes neste capítulo e também no capítulo PTV. Este conceito simplifica de maneira significativa todos os cálculos desta parte da matéria e em vez de fazer cálculos vectoriais permite fazer um cálculo baseado em esboços na forma escalar, em que a maior parte dos sinais é deduzida dos esboços. É aconselhável resumir este conceito mais uma vez. O conceito pode ser explicado directamente através de figuras ou do cálculo vectorial Foi definido que, por exemplo, vA OA d y , d x , onde OA d x , d y . Ou seja vA, x d y e vA, y d x y Isso significa que para definir a componente horizontal de velocidade, traça-se uma recta horizontal pelo ponto onde a velocidade actua e detecta-se a distância desta recta ao ponto em torno do que se efectua a rotação (centro de rotação, CIR); o sentido determina-se no esboço. vA vA, x dx v A, y A dy O x Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Da figura vê-se que: vA, x vA sin OA sin OA dy OA d y o que novamente confirma a relação deduzida. Analogamente, para a componente de velocidade vertical traça-se uma recta vertical pelo ponto onde a velocidade actua e detecta-se a distância desta recta ao ponto em torno do que se efectua a rotação; o sentido determina-se no esboço. Da figura vê-se que: vA, y vA cos OA cos OA y vD vB, x vA, x vD , x D vC vB vA vC , x A C B dy O x dx d x OA o que novamente confirma a relação deduzida. Em consequência, todos os pontos posicionados numa recta têm a componente de velocidade na direcção desta recta igual, porque a distância da recta usada para o cálculo não se altera para diferentes pontos posicionados nessa recta. Este procedimento pode ser igualmente utilizado para deslocamentos virtuais (multiplicação pelo ângulo de rotação) e componentes de aceleração tangencial (multiplicação pela aceleração angular). Para completar, recorda-se que as componentes normais de aceleração podem projectar-se do modo mais simples, como se vê na figura. De qualquer maneira, visto as componentes tangenciais e normais serem perpendiculares, a distância usada para a projecção da componente normal é sempre oposta à que foi usada para a componente tangencial, ou seja usa-se directamente a componente do y dx anA, x anA vector OA na direcção da componente dx 2dx OA d anA sin 2 OA sin 2 OA y 2 d y OA anA, x anA cos 2 OA cos 2 OA anA, y O A anA, y dy Uma verificação rápida via produto interno confirma que os vectores são ortogonais: T 2 d x d y 2 2 anA atA 2 d x d y d x d y 0 d d x y Ângulos finitos e infinitesimais Na resolução dos problemas é necessário ter cuidado para não misturar ângulos finitos e infinitesimais. Os ângulos finitos usam-se para o cálculo dos parâmetros geométricos da estrutura e assim a sua implementação é habitualmente via funções trigonométricas. Os ângulos x Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 infinitesimais representam os ângulos de rotação infinitesimais, velocidades angulares ou acelerações angulares que nunca fazem argumentos de uma função trigonométrica. O conceito das projecções permite transferir o ângulo infinitesimal como se faz para os ângulos finitos, ou seja os ângulos delimitados pelas semi-rectas mutuamente ortogonais são iguais. Na primeira figura ao lado visualiza-se uma barra com troço vertical e horizontal (cinzenta) e a sua posição deformada (vermelha). Na outra figura mostra-se a mesma barra (cinzenta) com a sua posição deformada (vermelha), mas neste caso a posição não deformada tem uma rotação finita definida pelo ângulo . Setas verdes representam os deslocamentos totais, linhas verdes ajudam definir os ângulos rectos. Setas pretas definem directamente as componentes dos deslocamentos infinitesimais. h h h d d h sin h cos h cos h sin h cos d sin h sin d cos Casos em que a aceleração angular de um corpo do mecanismo considerado é nula A aceleração angular é nula quando o corpo efectua translação rectilínea ou curvilínea. A indicação deste movimento não se pode definir analisando apenas um dado instante, mas o movimento completo. Ou seja, quando o CIR de algum corpo que pertence ao conjunto de corpos estiver posicionado no infinito num dado instante, isso não assegura o movimento de translação e consequentemente a aceleração angular nula. O CIR daquele corpo tem que estar no infinito ao longo do movimento. O CIR posicionado no infinito na mesma direcção verifica-se por exemplo no caso da barra com encastramento deslizante. Neste caso a translação é rectilínea. CIR, A v B A v CIR, C, A a B B A a C, B Sebenta de Disciplina DCR, Zuzana Dimitrovová, DEC/FCT/UNL, 2016 Quando ao longo do movimento o CIR estiver posicionado no infinito mas mudar a sua direcção, a translação é curvilínea. Isso verifica-se por exemplo no caso do corpo ligado a duas barras rotuladas de mesmo comprimento, tal como se comprova na figura abaixo. h I 1 3 CIR, L 2 0 II h instante dado III 1h 1h 2 L 3h 2h 2h 2h 1 3 2 0 CIR, L II h h outro instante I III 1 3 1h 2 0 2h 2 L 1h 2h 3h 2h 1 3 2 0 De qualquer maneira é necessário realçar que não é indispensável decorar os casos mencionados, porque o cálculo das acelerações, usando as regras explicadas anteriormente, permite rapidamente obter a mesma conclusão. Nota final Foi realçado várias vezes que não é possível utilizar os CIRs para a determinação das acelerações. Isso foi justificado pelo facto, que no CIR absoluto móvel a aceleração não é nula, e por isso não se verificam as propriedades dos CIRs tal como para deslocamentos infinitesimais e velocidades. No entanto, também não existe algum outro ponto particular, que facilitava a determinação das acelerações. Nos casos particulares, em que num dado instante as velocidades angulares são nulas, o movimento está determinado pelas componentes tangenciais que obedecem as mesmas regras de determinação como os deslocamentos infinitesimais e velocidades. Neste caso (e somente neste caso) a determinação de acelerações pode ser ajudada pelos CIRs.