CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior | Prof. André Almeida Aula no 11: Derivação Implícita, Funções Trigonométricas Inversas e Derivada da Função Inversa Objetivos da Aula • Apresentar a técnica de derivação implícita; • Determinar a derivada da função inversa; • Denir as inversas das funções trigonométricas e calcular suas respectivas derivadas. 1 Derivação Implícita As funções apresentadas até agora podem ser descritas expressando-se uma variável explicitamente em termos de outras. Por exemplo: ou y = x2 − 3x + 1 y = sen(x) ou, em geral, y = f (x). Algumas funções, entretanto, são denidas implicitamente por uma relação entre x e y , tais como x2 + y 2 = 1 ou x3 + y 3 = 6xy. Observe que o gráco da equação x2 + y 2 = 1 é uma curva chamada circunferência de raio 1 com centro na origem. Se você separar y da equação, é possível escrever explicitamente em relação a x, porém temos duas funções, uma positiva e outra negativa: y= √ 1 − x2 ou √ y = − 1 − x2 . Apresentaremos a seguir, algumas curvas denidas implicitamente. (a) Círculo:x 2 + y2 = 1 (b) Cardióide: 1 x2 + y 2 = (2x2 + 2y 2 − x)2 Cálculo I (c) Curva do Diabo: Aula n y 2 (y 2 − 4) = x2 (x2 − 5) (d) Fólio de Descartes: o 11 x3 + y 3 = 6xy Denição 1. Dizemos que uma função y = f (x) é dada implicitamente pela equação Q(x, y) = 0, se para todo x no domínio de f , o ponto (x, f (x)) for solução da equação, isto é, Q(x, y) = 0. sen2 (x) é dada implicitamente pela equação sen2 (x) + y = 3xy , uma vez 3x − 1 ( ) 1 sen2 (x) que para todo x ̸= , o par x, é solução desta equação. 3 3x − 1 Exemplo 1. A função f (x) = 1.1 Derivação Implícita Suponha y = f (x) uma função diferenciável e dada implicitamente pela equação: Q(x, y) = 0. Usando a regra da cadeia podemos derivar Q(x, y) = 0, isto é, derivamos os dois lados desta equação em relação a x: d [Q(x, y)] = 0, dx considerando x como variável independente e lembrando que y é função de x. Desta forma, é possível obter a derivada das funções implícitas, mesmo não conhecendo explicitamente a função f (x). Basta achar a derivada usando as propriedades e a regra da cadeia para y . Este processo é chamado de derivação implícita. Exemplo 2. Seja y = f (x) uma função dada implicitamente pela equação −3x2 + 6y + 2x = 6. Calcule dy . dx Solução: Derivando a equação dada em relação a x, temos: d d (−3x2 + 6y + 2x) = (6) dx dx dy −6x + 6 +2 = 0 dx dy 1 = x− . dx 3 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 2 Cálculo I Aula n o 11 Exemplo 3. Se g(x) + xsen(g(x)) = x2 , encontre g ′ (0). Solução: Derivando a equação em relação a x, temos: d 2 d [g(x) + xsen(g(x))] = [x ] dx dx g ′ (x) + sen(g(x)) + x cos(g(x)).g ′ (x) = 2x 2x − sen(g(x)) g ′ (x) = 1 + x cos(g(x)) ′ g (0) = −sen(g(0)). Como g(x) satisfaz a equação dada, então fazendo x = 0 nesta equação: g(0) + 0.sen(g(0)) = 0 ⇒ g(0) = 0. Substituindo este valor em g ′ (0), obtemos: g ′ (0) = −sen(0) = 0. √ Exemplo 4. Encontre a equação da reta tangente a curva x2 + y 2 = 9, no ponto (2, 5). Solução: Derivando em relação x, temos: d dy dy x d 2 (x + y 2 ) = (9) ⇒ 2x + 2y =0 ⇒ = , y ̸= 0. dx dx dx dx y Para escrever a equação da reta, precisamos calcular m: √ dy x 2 2 5 = = −√ = − . dx y 5 5 Assim: √ √ √ √ 2 5 y− 5=− (x − 2) ⇒ 5y + 2 5x = 9 5. 5 Exemplo 5. Use derivação implícita para encontrar uma equação da reta tangente à curva sen(x + y) = 2x − 2y , no ponto de abscissa (π, π). Solução: Considere y = f (x) uma função dada implicitamente pela equação sen(x + y) = 2x − 2y . Como já temos o ponto de tangência, resta determinar o coeciente angular da reta, dado por f ′ (π). Derivando implicitamente a equação dada e usando a regra da cadeia: d d (sen(x + y)) = (2x − 2y) dx ( dx ) dy dy cos(x + y). 1 + = 2−2 dx dx dy 2 − cos(x + y) = dx 2 + cos(x + y) Aplicando no ponto (π, π), temos: f ′ (π) = 2 − cos(2π) 1 = . 2 + cos(2π) 3 Portanto, a equação da reta tangente é dada por 1 1 2π y − π = (x − π) ⇒ y = x + . 3 3 3 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 3 Cálculo I Aula n o 11 Exemplo 6. Encontre a equação das retas tangente e normal à Curva do Diabo, dada implicitamente por y 2 (y 2 − 4) = x2 (x2 − 5), no ponto (0, −2). Solução: Derivando implicitamente a equação dada, temos: 4y 3 dy dy dy 4x3 − 10x dy − 8y = 4x3 − 10x ⇒ = ⇒ = 0. dx dx dx 4y 3 − 8y dx (0,−2) Portanto, a reta tangente é a reta horizontal y = −2 e a reta normal é a reta vertical x = 0. Exemplo 7. Se x3 + y 3 = 1, encontre y ′′ por derivação implícita. Solução: Derivando implicitamente, temos: d 3 d (x + y 3 ) = (1) ⇒ 3x3 + 3y 2 .y ′ = 0. dy dy Derivando implicitamente novamente, temos d −2(x + y.y ′ ) (3x3 + 3y 2 .y ′ ) = 0 ⇒ 6x + 6y.y ′ + 3y 2 .y ′′ = 0 ⇒ y ′′ = . dy y2 2 Função Inversa Na Aula 02, denimos função inversa. Apresentaremos a seguir, a condição para que uma função seja inversível, bem como algumas de suas propriedades. Denição 2 (Função Inversível). Dizemos que f é uma função inversível se existe uma função g tal que f ◦ g = g ◦ f = x, sendo Df = Img . Neste caso, denotaremos g = f −1 e diremos que g é a função inversa de f . Observação 1. Seja f um função inversível e f −1 a sua inversa. Temos as seguintes propriedades: • f −1 é única. • Os grácos de f e f −1 são simétricos em relação a y = x (função identidade). Teorema 1. Uma função f é inversível se, e somente se, f é bijetora. √ Exemplo 8. Para todo x ∈ R+ , verique que g(x) = x é a função inversa de f (x) = x2 . Solução: De fato, note que: Analogamente, √ (f ◦ g)(x) = f (g(x)) = ( x)2 = x. (g ◦ f )(x) = g(f (x)) = √ x2 = x. Portanto, a função inversa de f (x) = x2 é: f −1 (x) = √ x. Gracamente, temos: Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 4 Cálculo I Aula n o 11 Ainda, na Aula 02, denimos função crescente e função decrescente. Deniremos a seguir uma função monótona. Denição 3 (Função Monótona). Se f é uma função sempre que f é uma função monótona. crescente ou sempre decrescente, diz-se Suponha f uma função monótona crescente ou decrescente em um intervalo I , tomemos dois números quaisquer distintos x1 < x2 em I . Se f é crescente, temos que f (x1 ) < f (x2 ) e se f é decrescente, então f (x2 ) < f (x1 ). Em quaisquer dos casos, f (x1 ) ̸= f (x2 ), logo f é injetora. Temos, assim, a seguinte proposição. Proposição 1. Se a função f é monótona (crescente ou decrescente) em um intervalo I , então é injetora em I . Exemplo 9. A função f (x) = x2 é injetora no intervalo I = [0, +∞), pois é monótona em I . Solução: De fato, tomando 0 ≤ x1 < x2 , temos: x1 < x2 ⇒ x21 < x22 ⇒ f (x1 ) < f (x2 ). Agora, considere uma função f denida em um intervalo fechado [a, b]. Se f for contínua, pelo Teorema do Valor Intermediário (visto na Aula 07), para todo y compreendido entre f (a) e f (b), existe x ∈ (a, b) tal que f (x) = y . Temos assim, a proposição a seguir. Proposição 2. Toda função contínua f : [a, b] → [f (a), f (b)] é sobrejetora. Note que, na Proposição 2, estamos assumindo que f (a) ≤ f (b). Caso, f (b) < f (a), a função ca f : [a, b] → [f (b), f (a)]. Juntando as Proposições 1 e 2, temos a seguinte proposição: Proposição 3. Toda função monótona (crescente ou decrescente) e contínua f : [a, b] → [f (a), f (b)] é inversível. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 5 Cálculo I Aula n o 11 Exemplo 10. A função g : [0, π] → [−1, 1] denida por g(x) = cos(x) é bijetora, pois é uma função contínua e monótona (decrescente) no intervalo considerado, logo pela Proposição 3 é inversível. [ π π] Exemplo 11. A função f : − , → [−1, 1], denida por f (x) = sen(x) é bijetora, pois sen(x) é uma 2 2 função contínua e monótona (crescente) no intervalo considerado, logo pela Proposição 3 é inversível. 2.1 Funções trigonométricas inversas Denição 4 (Inversa da função cosseno). A função inversa do cosseno é a função chamada arco-cosseno, denotada por arccos ou cos−1 , denida por: y = arccos(x) ⇔ x = cos(y) e 0 ≤ y ≤ π. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 6 Cálculo I Aula n o 11 Denição 5 (Inversa da função seno). A função inversa do seno é a função chamada arco-seno, denotada por arcsen ou sen−1 , denida por: y = arcsen(x) ⇔ x = sen(y) e− π π ≤y≤ . 2 2 Denição 6 (Inversa da função tangente). A função inversa do tangente é a função chamada tangente, denotada por arctg ou tg−1 , denida por: arco- y = arctg(x) ⇔ x = tg(y) e− π π <y< . 2 2 3 Derivada da função inversa Suponha f uma função inversível e derivável em um ponto x, com f ′ (x) ̸= 0. Já vimos que: y = f (x) ⇒ e Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida x = f −1 (x) ⇒ dy = [f (x)]′ dx dx = [f −1 (y)]′ . dy 7 Cálculo I Aula n o 11 Da denição de função inversa, segue que para todo x ∈ Df , temos: f −1 (f (x)) = x. Derivando esta última identidade em relação a x e usando a regra da cadeia, obtemos: [f −1 (f (x))]′ .f ′ (x) = 1 Substituindo f (x) por y na inversa, temos: [f −1 (y)]′ = Ou ainda: 1 . [f (x)]′ dy 1 = dy . dx dx Com isto, temos a seguinte proposição: Proposição 4. Seja f uma função inversível com inversa f −1 . Se f é derivável em um ponto x e f ′ (x) ̸= 0, então sua inversa é também derivável em y = f (x). Além disso: (f −1 )′ (y) = 1 f ′ (x) . Exemplo 12 (Derivada da função arco-cosseno). Calcule f ′ (x) para f (x) = arccos(x). Solução: Da denição de inversa, temos que: y = arccos(x) ⇒ x = cos(y), com y ∈ [0, π]. Usando a derivada da inversa, segue que: 1 1 . =− [cos(y)]′ sen(y) √ √ Como x = cos(y) e sen2 y + cos2 y = 1, então sen(y) = 1 − cos2 y = 1 − x2 . Substituindo este [arccos(x)]′ = valor na equação anterior, temos: 1 [arccos(x)]′ = − √ , 1 − x2 x ∈ (−1, 1) Exemplo 13 (Derivada da função arco-seno). Calcule f ′ (x) para f (x) = arcsen(x). Solução: Da denição de inversa, temos que: y = arcsen(x) ⇒ x = sen(y), [ π π] com y ∈ − , . Usando a derivada da inversa, segue que: 2 2 [arcsen(x)]′ = 1 1 1 1 = =√ =√ . ′ 2 [sen(y)] cos(y) 1 − x2 1 − sen y Portanto, [arcsen(x)]′ = √ 1 , 1 − x2 x ∈ (−1, 1) Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 8 Cálculo I Aula n o 11 Exemplo 14 (Derivada da função arco-tangente). Calcule f ′ (x) para f (x) = arctg(x). Solução: Da denição de inversa, temos que: y = arctg(x) ⇒ x = tg(y), [ π π] com y ∈ − , . Usando a derivada da inversa e a identidade tg2 x + 1 = sec2 x, segue que: 2 2 [arctg(x)]′ = Portanto: 1 1 1 1 = = . = 2 ′ 2 [tg(y)] sec (y) 1 + x2 1 + tg y [arctg(x)]′ = 1 . 1 + x2 Resumo Usando um procedimento análogo ao que foi feito, construa a inversa das funções cossecante, secante e tangente e calcule suas respectivas derivadas. Aprofundando o conteúdo Leia mais sobre o contúeudo desta aula no Capítulo 1 - Seções 1.6 e no Capítulo 3 - Seção 3.5 do livro texto. Sugestão de exercícios Resolva os exercícios da seção 3.5 do livro texto. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 9