SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica I. AUTORES • Liliana Soares Nogueira Paes • Nerci de Sá Cavalcante Ciarlini PRO.NEO.052 Página 1/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - II. INTRODUÇÃO As infecções fúngicas acontecem principalmente nos recém-nascidos (RN) de muito baixo peso internado em Terapia Intensiva. Incidência: RN com peso nascimento < 1000g - 10%, com peso nascimento <750g -acima de 20%. Fungos mais frequentemente isolados: Candida albicans (75%), Candida tropicalis (10%) e Candida parapsilosis (6%). A Candida parapsilosis é um agente importante de infecção em pré-termos de muito baixo peso (25%). A Malassezia furfur está associada à infusão de nutrição parenteral e tende a ser epidêmica. Outros fungos são muitos raros. III. TRANSMISSÃO VERTICAL » Intra-útero: infecção ascendente. Candida albicans é a espécie mais comum; » Candidíase congênita: transmissão por contato direto ou por via ascendente. Manifesta-se ao nascimento nas formas cutânea/ mucocutânea ou sistêmica (grave nos < 1000g com mortalidade > 60%) ou, na primeira semana de vida. IV. TRANSMISSÃO HORIZONTAL Candidíase neonatal sistêmica: ocorre após tempo prolongado de internação. Geralmente diagnosticada após segunda ou terceira semana de vida, mais frequentemente envolvidos, Candida sp e Malassezia sp. Fatores predisponentes: • Idade gestacional < 32 semanas; • Colonização fúngica prévia; • Uso prolongado de antibioticoterapia de largo espectro; • Uso de cateter venoso central ou arterial; • Intubação prolongada (≥ 7 dias); • Jejum prolongado; 1 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica PRO.NEO.052 Página 2/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - • Nutrição parenteral total; • Drogas: Corticóides, Bloqueadores H2, Aminofilina, Heparina; • Cirurgias gastrintestinais: o intestino é o reservatório da Candida; • Anomalias congênitas; • Derivações ventriculoperitoneais. As manifestações clínicas na forma sistêmica são inespecíficas, com piora clínica insidiosa. Observa-se: • Instabilidade térmica; • Hiperglicemia/glicosúria; • Apneia; • Hipotensão; • Bradicardia/taquicardia; • Insuficiência respiratória; • Resíduo Gástrico; • Distensão abdominal; • Hipoatividade. Geralmente envolvem um dos focos mais evidentes: sistema nervoso central/rins/pulmões/trato gastrintestinal. V. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de certeza baseia-se no isolamento do fungo no sangue, urina ou líquor. A investigação diagnóstica inclui: » Coleta de culturas sempre que houver suspeita de comprometimento sistêmico. • Sangue periférico: colher concomitantemente sangue do cateter venoso ou arterial, se suspeita de infecção relacionada a esse dispositivo. Se positiva, colher hemocultura a cada 3 dias até que se torne negativa. • Urocultura: por punção suprapúbica ou sonda vesical (14,8% fungo isolado). • Líquor: realizar punção lombar mesmo se terapia antifúngica empírica. Pode ser normal (50% dos RN com meningoencefalite por Candida.). Podem ocorrer meningite (pleiocitose, hipoglicorraquia), ventriculite e abscessos cerebrais. Contraindicado se plaquetas ≤ 50.000/mm3. A positividade das culturas é relativamente baixa (probabilidade de detecção ≤ 65%) e os 2 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica PRO.NEO.052 Página 3/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - resultados demoram (acima de 36 horas). Iniciar tratamento quando há forte suspeita clínica. Outros exames: • Hemograma: plaquetopenia, leucocitose e aumento das formas jovens. • Raios-X: de tórax e de ossos conforme a manifestação clínica • Pesquisa de possíveis focos profundos: • Ultrassom: renal, hepático, cardíaco e do sistema nervoso central (detecção de abscesso cerebral). • Tomografia computadorizada: útil no diagnóstico de massas fúngicas em tecidos mais profundos. • Fundo de olho. A candidíase sistêmica pode acometer dois ou mais locais (endoftalmites e bolas fúngicas renais e/ou implantes peritoneais). VI. TRATAMENTO TRATAMENTO EMPÍRICO PRECOCE O tratamento empírico precoce se impõe, devido à demora do resultado definitivo da hemocultura. Indica-se tratamento antifúngico empírico nos seguintes casos: 1. Peso ao nascer < 1500g ou RN muito doente; 2. Sinais clínicos de infecção e/ou neutropenia e trombocitopenia; 3. Uso de antibióticos de amplo espectro por tempo ≥7dias em associação com um dos seguintes fatores: • Nutrição parenteral; • Ventilação mecânica; • Uso de corticoide pós-natal; • Uso de bloqueadores H2; • Candidíase mucocutânea. Colher hemocultura e líquor e iniciar ANFOTERICINA B. » Recomendações: É mandatória a retirada do cateter central no diagnóstico da infecção. Sua manutenção associa-se à candidemia persistente, altas taxas de falha terapêutica, risco de complicações metastáticas e morte; • Retirar válvula de derivação se houver; 3 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica PRO.NEO.052 Página 4/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - • Se infecção fúngica com cultura positiva, realizar hemocultura cada 3 dias até negativar; • Manter tratamento até 14 dias após a última cultura negativa; • Se tratamento empírico, com hemocultura negativa, tratar por 14 dias; • Se após 10-14 dias a hemocultura continuar positiva, considerar resistência. Se resistência a anfotericina, associar Fluconazol. Considerar o uso dos novos antifúngicos nestes casos (Caspofungina). » Duração do tratamento • Candidemia - 14 dias após a última hemocultura positiva. • Meningite - Anfotericina B por no mínimo 4 semanas após a resolução de todos os sinais e sintomas associados à infecção devido à alta tendência de recidiva. • Endocardite - Anfotericina B por no mínimo 6 semanas. Fluconazol pode ser empregado como terapêutica de longo prazo após o tratamento inicial. O tratamento clínico isolado, sem cirurgia, tem se mostrado efetivo em RN de baixo peso. O ecocardiograma deve mostrar o desaparecimento da vegetação. • Endoftalmite - Anfotericina B cursos de 6 a 12 semanas são necessários (completa resolução da doença ou estabilização). O fluconazol pode ser usado para completar tempo de tratamento se o perfil de sensibilidade permitir. • Osteomielite e artrite - Debridamento cirúrgico + Anfotericina B por 2 a 3 semanas, seguida de fluconazol por 6 a 12 meses. Não se indica o uso de medicação intra-articular. • Candidíase cutânea congênita - ver PRO.NEO.050 – MONILÍASE CUTÂNEO-MUCOSA. • Intra-abdominal - Anfotericina B ou Fluconazol por 2 a 3 semanas. Alternativa – Caspofungina. Remover cateteres. • Infecção urinária - Anfotericina B ou fluconazol por 7 a 14 dias. A substituição do cateter de demora é recomendada. ANTIFÚNGICOS: » ANFOTERICINA B É o fármaco de escolha no tratamento da sepse fúngica e tem amplo espectro de atividade. Apresenta baixa penetração no líquor, vítreo e líquido amniótico. Reservar o uso dos preparados lipídicos de anfotericina para os pacientes refratários ao tratamento com anfotericina B original, os pacientes com insuficiência renal prévia e aqueles que apresentam aumento da creatinina durante o tratamento com a anfotericina convencional. (U.S. Food and Drug Administration - FDA). Outra situação seria na associação de drogas nefrotóxicas. Manter a 4 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica PRO.NEO.052 Página 5/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - monitorização laboratorial nos pacientes que recebem qualquer forma desta droga. » Controles: • Hemograma, sumário de urina, função hepática, K+, Mg++, Cl– e creatinina antes do início; • Eletrólitos (principalmente K+) e função renal 2 a 3 vezes por semana inicialmente, e, depois, semanalmente; • Enzimas hepáticas a cada 15 dias. » Fluconazol: antifúngico de ação fungostática. » Equinocandinas Se distribuem em todos os grandes órgãos, incluindo o cérebro. Recomendam-se no tratamento de candidíase quando toxicidade ou resistência impedem o uso de anfotericina B ou fluconazol (Guidelines para o Manuseio da Candidíase, 2009). » Caspofungina Espectro de Ação: Indicada no tratamento de aspergilose invasiva e candidemia, é a droga de escolha no tratamento empírico em pacientes neutropênicos febris. Apresenta eficácia equivalente a anfotericina B na candidíase invasiva e na candidemia, mas com efeitos tóxicos substancialmente menores. Tem custo bastante elevado. » Micafungina VII. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. Margotto, Paulo R.; Moreira, Alessandra C.G. Infecções Fúngicas. Disponível em: www.paulomargotto.com.br/documentos/Infeccoes_fungicas.doc. 2. Joseph M. Bliss, Melanie Wellington and Francis Gigliotti. Seminars in Perinatology. 27: 366. 5 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo do Documento: PROTOCOLO CLÍNICO Título do Documento: Infecção fúngica PRO.NEO.052 Página 6/6 Emissão: 30/01/2017 Revisão Nº: - FLUXOGRAMA DA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURA NA INFECÇÃO FÚNGICA 6