Reflexão crítica sobre as teorias e os métodos de aprendizagem

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Universidade de Évora
Psicologia
Reflexão crítica sobre as teorias e os métodos de
aprendizagem comportamentalista
Psicologia da Aprendizagem
Docente: Profª Drª. Heldemerina Samutelela Pires
Discentes: Natália Fresca (Nº 25805) e Sara Santos (Nº25854)
Ano-lectivo: 2010/2011
Índice
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Introdução………………………………………………………………………………………3
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Reflexão crítica ao Behaviorismo……………………………………………………………...4
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Conclusão……………………………………………………………………………………....7
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Referências Bibliográficas………………………………………………………………….…..8
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Introdução
“O comportamentalismo é uma teoria, o qual descreve o comportamento observado como
uma resposta previsível face à experiência.” (Papalia, D.; Olds, S. & Feldman, R., 2001)Os
comportamentalistas “defendem que os seres humanos, em todas as idades, aprendem acerca do
mundo do mesmo modo que os outros animais: reagindo às condições, ou aspectos do seu ambiente
que acham agradáveis, dolorosos ou ameaçadores. Os comportamentalistas incidem a sua atenção
nos acontecimentos que determinam se um comportamento específico será ou não repetido.”
(Papalia, D.; Olds, S. & Feldman, R., 2001, p. 27) A abordagem comportamentalista ou behaviorista
destaca, essencialmente, a aprendizagem por condicionamento clássico, condicionamento operante e
condicionamento vicariante.
O condicionamento clássico defende que “uma pessoa ou animal aprende uma resposta a um
estímulo que inicialmente não o evoca, depois o estímulo é repetidamente associado a outro que
deve estimular a resposta.” (Papalia, D.; Olds, S. & Feldman, R., 2001) “Envolve a aquisição de
uma nova resposta face a um estímulo que inicialmente não a produzia” (Pinto A. C., 2001, p. 55) e,
diferencia três tipos de estímulos: o incondicionado, o neutro e o condicionado. De acordo com este
condicionamento um estímulo inicialmente neutro produz uma resposta devido à sua associação com
um estímulo que de forma automática produz a mesma resposta ou uma semelhante (Pervin & John,
2004). Estes princípios foram desenvolvidos por Ivan Pavlov, através de experiências que este fez
com cães, e por Watson, que aplicou a teoria a crianças (pequeno Albert). (Papalia, D.; Olds, S. &
Feldman, R., 2001)
Skinner introduziu o conceito de condicionamento operante, desenvolvido a partir dos
trabalhos de Thorndike. (Pinto A. C., 2001). Por operante podemos entender um conjunto de actos
que existem num organismo quando faz algo, quando opera sobre o meio gerando consequências
(Pinto J. , 1992); a interacção que o indivíduo estabelece com o ambiente no qual está inserido
(França, A; Santos, J. & Rei, V., 2003) e, um conjunto de actos que existem num organismo quando
faz algo, quando opera sobre o meio gerando consequências. (Pinto J. , 1992) A aprendizagem
estabelece-se quando ocorre uma conexão ou ligação entre um estímulo (ou situação) e uma
determinada resposta. (Pinto A. C., 2001). A peça-chave do condicionamento operante é o reforço,
estímulo que segue a resposta e tem como consequência o aumento da tendência a dar resposta
(Pinto J. , 1992). Segundo esta perspectiva da aprendizagem, o comportamento é consequência das
“relações estabelecidas entre situações ambientais antecedentes, respostas do organismo e situações
ambientais consequentes” (França, A; Santos, J. & Rei, V., 2003), as quais se denominam de
contingências. Cada indivíduo estabelece várias relações de contingências diferentes ao longo da
vida. Pode dizer-se que o indivíduo aprende através da sua interacção com o mundo, interagindo
com o ambiente. “A análise desta interacção deve levar sempre em conta a condição na qual foi
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emitida uma resposta, a própria resposta e as consequências desta resposta.” (França, A; Santos, J. &
Rei, V., 2003) Depois deve ter-se em conta se a consequência que se segue ao comportamento vai
fazer com que este aumente a probabilidade de ocorrer em circunstâncias semelhantes (reforço) ou,
se por outro lado, vai fazer com que este diminua a probabilidade de ocorrer no futuro (punição).
(França, A; Santos, J. & Rei, V., 2003) O reforço é positivo é quando a consequência é boa e é
negativo quando a consequência consiste em se tirar uma coisa má. Quanto à punição, é positiva
quando a consequência é ocorrer algo mau, enquanto que a negativa é quando a consequência
consiste em retirar algo de bom. (Socorro, A. & Santana, I., 2010, pp. 38-39) De um modo geral,
segundo a perspectiva de Skinner as consequências às quais o comportamento está exposto são
responsáveis pela mudança comportamental dos indivíduos. (Socorro, A. & Santana, I., 2010)
Segundo França, Santos e Rei (2003), Bandura dedicou-se a trabalhos sobre a aprendizagem
por imitação e a aprendizagem por observação, tendo desenvolvido a teoria do condicionamento
vicariante. Nestes trabalhos identificou as expressões modelação, imitação, aprendizagem vicariante,
aprendizagem por observação, identificação, cópia, facilitação social, contágio, desempenho e papel,
como sinónimas. (França, A; Santos, J. & Rei, V., 2003) A aprendizagem por observação seria o
aprendizado através do qual o observador adquire novos padrões de resposta que não faziam parte
de seu repertório comportamental. Mostrar e dizer são maneiras de "incitar" comportamentos, de
levar as pessoas a se comportarem de uma dada maneira pela primeira vez, de modo que se possa
reforçar seu comportamento. No entanto, não aprendemos por imitação nem porque nos dizem o que
fazer. Devem ocorrer consequências após o comportamento. (França, A; Santos, J. & Rei, V., 2003)
A característica fundamental desta aprendizagem é a de que grande parte da aprendizagem humana
depende de processos perceptuais e cognitivos. Quer dizer, o reforço directo da própria acção é
apenas uma das variáveis que actuam o processo de aquisição de novos padrões de respostas. (Terra,
2003) Assim, as expectativas individuais de resultados produzidos pelas próprias acções, ou seja, as
respostas às acções de outros são importantes para guiar o nosso próprio comportamento. (Terra,
2003)
Reflexão crítica ao Behaviorismo
Embora o Comportamentalismo ou Behaviorismo seja uma perspectiva de grande
importância para a Psicologia, nomeadamente nos ramos da Aprendizagem e Educação, este já não é
um modelo dominante na Psicologia. Como abordaremos de seguida, as teorias comportamentais da
aprendizagem, nomeadamente o condicionamento clássico de Pavlov, o condicionamento operante
de Skinner e o condicionamento vicariante de Bandura, foram alvos de grandes críticas.
Inicialmente, o Behaviorismo, nomeadamente a teoria do condicionamento clássico de
Watson, foi acusado de ser reducionista e de descrever o comportamento humano como o de uma
máquina, totalmente desprovido de pensamento. Ou seja, o comportamentalismo inicialmente via o
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Homem como uma máquina que somente respondia a estímulos ambientais. (Lopes, C., 2008, p.
119) O próprio Skinner, segundo alguns autores (Cruz, E.; França, V.; Araujo, P.; Barbosa, K.;
Silva, J.; Santos, N., s.d.), terá afirmado que a teoria clássica de Watson suprime a influência que as
contingências ambientais têm sobre o organismo.
“Baseando-se numa explicação de tipo estímulo-resposta e de tentativa e erro, esta
perspectiva confere grande relevância à repetição, pois é através dela que se aprendem os
automatismos necessários a um bom desempenho. O que se visa não é a criatividade, é a capacidade
de reprodução, o mais exacta possível, da resposta imaginada como desejável pelo experimentador...
ou pelo professor. Contudo, na época em que esta teoria apareceu teve o mérito de levar os
professores a darem mais atenção ao aluno […] No entanto, encarando apenas o directamente
observável ignoram-se as crenças, os interesses, as expectativas, os desejos, as emoções.” (César,
2001) Isto mostra que a perspectiva behaviorista se mostrou insuficiente, pois o processo de
aprendizagem é bastante complexo, sendo que os elementos cognitivos, sociais e afectivos não
existem separadamente. (César, 2001) Deste modo, esta explicação, por si só, seria bastante
incompleta, evidenciando o reducionismo.
Outra crítica apontada ao behaviorismo é “a existência de um número de tal modo vasto de
objectivos que, rapidamente, se tornam impossíveis de gerir pelo docente; as aprendizagens serem
encaradas numa ordem linear que não é estabelecida pelo aprendente e, por isso mesmo, pode não
ser a que melhor se lhe adapta; o aluno fazer uma série de aprendizagens parciais e ser incapaz de
dar sentido às aprendizagens como um todo […].” (César, 2001, p. 106) Nesta perspectiva, nem é
discutida, de facto, a diferença entre apropriar um conhecimento e ser capaz de o mobilizar e “a
questão dos transferts, que apenas de forma imperfeita se fazem entre situações de aprendizagem
particulares e situações profissionais ou da vida quotidiana, sobretudo quando as tarefas que foram
concebidas partiam do princípio que esse tipo de transfert seria automático, pelo que nada era feito
para facilitar a existência da mobilização de conhecimentos.” (César, 2001, pp. 106-107)
A experiência conhecida por “Pequeno Albert”, proposta por Watson e Rayner, em 1920,
tinha o objectivo de testar se as reacções emocionais poderiam ser adquiridas pela experiência,
nomeadamente o medo, dentro de um paradigma de condicionamento pavloviano. Foi escolhido,
para o estudo, um bebé (Albert) de 11 meses pela sua estabilidade emocional, pois antes da
experiência ele não demonstrava nenhuma reacção de medo perante uma série de animais e objectos.
Para que o medo fosse condicionado, os experimentadores apresentavam à criança um rato branco
(estímulo que inicialmente era neutro) e, assim que ele lhe tocava, era produzido um som alto, atrás
da sua cabeça. (Bisaccioni, P. & Neto, M., 2010) Apesar dos resultados, esta experiência apresenta
algumas inconsistências e falhas. No que diz respeito ao método, a primeira questão que se coloca é
que o processo que produziu a resposta condicionada não é claro, pois apesar de ser citado como um
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exemplo clássico de condicionamento respondente em humanos, o procedimento utilizado também
envolveu punição positiva, pois o estímulo aversivo (ruído alto) foi algumas vezes apresentado
contingente à resposta de Albert de tocar nos animais, e reforçado negativamente, já que o afastar-se
dos objectos e o chorar levava a retirada dos estímulos aversivos. (Bisaccioni, P. & Neto, M., 2010)
Relativamente aos testes de generalização, as reacções iniciais do bebé eram muito fracas e, por isso,
foram feitos emparelhamentos adicionais entre os animais e o som. Mesmo que a criança tenha
desenvolvido um medo, o que o causou não está muito claro e, de acordo com alguns autores há
também a possibilidade que o bebé tenha ficado com medo de Watson e não dos animais.
(Bisaccioni, P. & Neto, M., 2010) Quanto às questões éticas envolvidas, uma das críticas aponta que
a relevância científica do estudo não seria suficiente para justificar a produção da resposta de medo
num bebé. Além disso, essa experiência também foi criticada porque os experimentadores sabiam
que Albert ficaria no hospital apenas um mês e optaram por investigar a persistência do medo em
vez de tentar a sua reversão. Apesar destas críticas, o estudo contribui de maneira decisiva para o
avanço da psicologia. (Bisaccioni, P. & Neto, M., 2010)
A Gestalt ou a Psicologia da Forma, uma outra teoria da Psicologia, foi também autora de
grandes críticas ao Comportamentalismo. De acordo com esta, o Behaviorismo vê as pessoas como
reagindo todas da mesma forma, vendo as coisas (estímulos) de forma igual e reagindo às mesmas
de forma idêntica. É neste sentido que a Psicologia da Forma se desenvolve, defendendo que a
aprendizagem não se trata apenas de estimulo-resposta e que as pessoas vêem e interpretam o
mundo de forma única. (Carvalhal, M. & Chamusca, M., 2008) “A principal crítica da Gestalt ao
Behaviorismo é que esta última ao estudar o comportamento isola o estímulo da resposta esperada,
ou seja, acredita que para um certo estímulo sempre se terá uma determinada resposta, desprezando
as nuances da percepção, que podem ser pensadas como algo ligado ao valor da consciência e por
sua vez fazer muita diferença no comportamento, podendo, inclusive, modificar o seu sentido. Para
os gestaltianos o comportamento deve ser estudado em uma visão mais generalizada, mais ampla,
levando em consideração os aspectos que podem modificar a percepção e alterar completamente a
resposta dada aos estímulos, ou seja, não se pode desprezar a informação de que entre um estímulo e
uma resposta há o fenómeno da percepção, que pode levar a comportamentos diferenciados.”
(Carvalhal, M. & Chamusca, M., 2008) Carvalhal e Chamusca (2008) abordam, ainda, a questão da
subjectividade, que o comportamentalismo ignora, tal como o facto das respostas aos estímulos
dependerem dos contextos e da própria experiência do indivíduo.
De acordo com o behaviorismo, a aprendizagem da linguagem era feita através da exposição
ao meio, ou seja, era consequência de mecanismos comportamentais através do reforço, estímulo e
resposta. (Passos, D. & Andrade, P., 2007) De acordo com os autores Justi e Araujo (2004),
Chomsky, um grande crítico do comportamentalismo, nomeadamente de Skinner, apresentou uma
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importante limitação do comportamentalismo para modelar a aprendizagem da linguagem, pois esta
perspectiva não soube explicar a aprendizagem da linguagem por parte das crianças. De acordo com
os argumentos de Chomsky (Justi, F. & Araujo, S., 2004) a linguagem era resultado de ferramentas
cognitivas gramaticais inatas, uma vez que um sujeito ao comunicar uma frase teria que fazer a
selecção das palavras correctas e da sua ordem, não sendo este processo resultado do constanto
reforçamento. (Justi, F. & Araujo, S., 2004)
No que diz respeito aos trabalhos realizados por Bandura, as críticas sugerem que este
contribuiu positivamente para a psicologia, nomeadamente para o ensino, especialmente quando nos
referimos às “crenças de auto-eficácia” (Bzuneck, J. & Guimarães, S., 2003) “As pesquisas sobre
crenças de eficácia têm evidenciado, de modo consistente, as implicações educacionais dos
julgamentos feitos pelo professor sobre sua capacidade de exercer ações que influenciem a
aprendizagem e o envolvimento de seus alunos.” (Bzuneck, J. & Guimarães, S., 2003) Nas escolas,
os “obstáculos, reveses, fracassos e frustrações” (Bzuneck, J. & Guimarães, S., 2003) podem
desmotivar os professores, prejudicando o seu desempenho Deste modo, “aprimorar os
conhecimentos sobre as crenças de eficácia do professor tem implicações educacionais importantes
na medida em que, tais crenças, revelam-se como um dos determinantes do clima de sala de aula e
das metas de realização assinaladas nesse contexto, influenciando a motivação e o desempenho dos
alunos.” (Bzuneck, J. & Guimarães, S., 2003)
Conclusão
O Behaviorismo procura dar o status de ciência à Psicologia voltando-se, unicamente, à
investigação do comportamento observável (Cruz, E.; França, V.; Araujo, P.; Barbosa, K.; Silva, J.;
Santos, N., s.d.)
Com este trabalho crítico, podemos concluir que os conceitos behavioristas têm sido usados
em várias áreas como por exemplo, a educação e os métodos de ensino programado, o controle e a
organização das situações de aprendizagem, entre outros. No entanto, são muitas as críticas
apontadas para estas teorias da aprendizagem.
Na pesquisa para o presente trabalho, notámos que Skinner foi crítico do condicionamento
clássico e, Bandura, por sua vez, apesar de concordar com Skinner no facto do comportamento humano
poder modificar-se devido ao reforço, as suas concepções diferem das dele: para Bandura, em vez do ser
humano aprender pela vivência directa do reforço, aprende por meio da modelagem, observando outras
pessoas e estabelecendo os padrões de seu comportamento; mas para Bandura, quem controla os
modelos de uma sociedade controla o comportamento.
Outros críticos importantes foram, também, Chomsky e os analistas da Gestalt. Estes
últimos, impuseram-se ao facto do Comportamentalismo não ter em conta a subjectividade do
Homem e à possibilidade de sermos todos diferentes e interpretarmos o mundo de forma diferente.
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Referências Bibliográficas
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