A MORTE DE SKINNER

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A MORTE DE SKINNER
Fonte: http://www.roadnet.com.br/pessoais/ilo/textos12.htm
Jesus de Paula Assis
"Behaviorismo" do inglês "behavior", comportamento. Eis a chave para entrar na mente, essa entidade fugidia que há
séculos escapa da investigação filosófica. Pelo menos era assim que pensavam os behavioristas do início deste século,
como John Watson (1878-1958) que cunhou o termo em 1913: para os animais, não existe como perguntar "o que você
está sentindo?". O possível é apenas estimulá-los e observar sua reação ao estímulo. Porque deveria ser diferente com
seres humanos?
Não que seres humanos sejam incapazes de "sentir", seja lá o que isso signifique exatamente. O problema é como ter
acesso a isso. No início do século 20 (e ainda hoje, dirão seus críticos), a psicanálise era muito nova - a palavra mesmo
só aparece na língua inglesa, oficialmente, em 1923 - e tinha pouco a oferecer nesse sentido. Seu método é
introspectivo, isto é, o indivíduo estuda a si mesmo. Logo, o resultado de seus estudos - o que o pesquisador "observa" não pode ser compartilhado com outros. Isso se afasta do alvo de toda ciência: erigir conhecimento público, que não
exija dotes especiais de observação.
O ponto então era: se a filosofia jamais deu conta de explicar como pensa o homem, porque não abandonar conceitos
como "mente", "estado mental", ("alma", se se quiser) e voltar os olhos apenas para o comportamento? Um enfoque que
dê caráter realmente científico ao estudo da mente deve tratá-la como se ela fosse uma "caixa preta". Injetam-se
estímulos e se recebem respostas. A equação entre essas duas variáveis é tudo o que uma psicologia realmente
experimental pode pretender.
O mesmo projeto move, por exemplo, a física. O cientista deseja equacionar a magnitude de uma força a de um
movimento resultante. Tudo o que acontecer pelo caminho fica por conta das teorias do freguês. Se as duas pontas,
causa e efeito, estiverem relacionadas - se dada uma, o físico puder prever a outra -, o resto é supérfluo.
Quem teme hoje o behaviorismo? Na esteira da crítica ao positivismo - especialmente em sua vertente mais moderna, o
positivismo lógico - o behaviorismo aparece como uma teoria que se deve desprezar, que não fica bem defender. É certo
que muitas das teses fortes da teoria estão ultrapassadas. Watson pretendia que todos os fenômenos psicológicos
poderiam ser reduzidos a movimentos moleculares e que comportamentos complexos seriam resultados da soma de
maldefinidos "comportamentos elementares". Skinner, mais prático, observou que não era preciso esposar essas teses
fortes. Seu behaviorismo descritivo, ou ateórico, deixava de lado os "estados mentais" nas explicações de como funciona a
mente, mas não afirmava que tais estados não existiam: eram apenas supérfluos do ponto de vista de uma psicologia
científica. A prova de que esse behaviorismo é ainda muito forte é que qualquer estudioso sério deve se posicionar a
seu respeito. Se fosse elementar ou infrutífero, não haveria por que combatê-lo. Bastaria, como se faz com tantas
teorias fora de moda, ignorá-lo.
Uma coisa é dizer algo como "a mente comanda o corpo" ou "a vontade domina as ações". Essas são afirmações difíceis de
se testar na prática. Por exemplo, dada uma ação qualquer (o movimento dos olhos ao se ler este texto), como dizer que
isso é fruto da "vontade"? Seria preciso definir claramente esse conceito. Depois, seria preciso explicar quais os
mecanismos de causa e efeito que unem vontade e ação, e assim por diante. Essas sentenças são daquele tipo que todo
mundo parece compreender, mas que ninguém é capaz de explicar corretamente o porquê de sua plausibilidade.
Outra coisa bem diferente é dizer "dado este estímulo, devo obter tal e tal resposta, o que mostra que o cérebro opera
sempre nesse sentido". Se, dado o estímulo, a ação correspondente resolver não aparecer, pode-se dizer que a hipótese
que afirmava a relação de causa e efeito falhou. Assim, uma teoria como essa é muito mais aberta a críticas e,
consequentemente, a testes que ponham a descoberto suas incorreções. Em casos extremos, pode ser difícil definir
"comportamento", mas a tarefa parece bem mais tratável que a de definir "vontade".
Francis Bacon dizia que o progresso nasce mais facilmente do erro que da confusão. Constatado um erro, é possível
progredir.
A confusão não deixa saída. Contra a obscuridade das teorias clássicas sobre o pensamento se insurgem os claros
"erros" behavioristas. Tanto melhor para a ciência.
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Produzido em: 13 June, 2017, 05:37
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