SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ O marketing holístico e a sua dimensão socioambiental Márcia Célia Galinski Professora do Curso de Administração, Gestão Portuária e Gestão de Pessoas Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá Iesa – Instituto de Ensino Superior Santo André Unimonte – Universidade Monte Serrat má[email protected] André Bezerra da Silva Professor dos Cursos de Administração, Relações Internacionais e Gestão Portuária Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá [email protected] Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee Resumo O presente artigo pretende apresentar uma reflexão sobre as práticas de marketing holístico, considerando a sua dimensão social e ambiental. Verifica-se que cada vez mais existe uma preocupação com os aspectos éticos, legais, sociais e ambientais. Assim sendo, as empresas devem assumir a sua responsabilidade junto à comunidade onde estão inseridas contribuindo de forma proativa. Uma pesquisa publicada pelo Anuário Gestão Ambiental 2008 apresenta um levantamento das práticas relacionadas à gestão ambiental das grandes empresas do Brasil. Conclui-se que o despertar para questões de âmbito social e ambiental estão direcionando as estratégias de muitas empresas, ainda assim, existe um longo caminho a percorrer, e isto requer o alcance de competências importantes, tais como, flexibilidade, eficiência, senso de urgência, visão global, criatividade e ações com foco no consumidor, para um comprometimento alinhado às questões sociais e ambientais que devem ser consideradas pela empresa na articulação de suas ações e intenções. Palavras-chave: marketing holístico; responsabilidade social; gestão ambiental. Seção 1 - Curso de Administração de empresas - Meio Ambiente Apresentação: oral 1. Introdução Nas últimas décadas as empresas passaram por profundas mudanças decorrentes da mobilização da sociedade em torno das questões relacionadas com a qualidade do meio ambiente e com as preocupações de âmbito social. Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar a importância do marketing holístico e a sua dimensão socioambiental. Foi 1 utilizado um estudo descritivo do tipo qualitativo e quantitativo. A coleta de dados foi por levantamentos bibliográficos e por meio eletrônico. O significativo aumento do movimento socioambiental pode ser atribuído, entre outros fatores, à maior conscientização do consumidor e aos meios instantâneos de comunicação, resultado principalmente do avanço tecnológico. Outro aspecto importante, quando se discute alterações de grande complexidade, é a globalização, que segundo Ribeiro (2003), pode ser entendida como um processo social que promove mudança na estrutura política e econômica das sociedades, e economicamente significa a integração dos mercados em âmbito mundial. Neste contexto, a informação se torna vital para a empresa compreender a complexidade das interações entre parceiros diversos. As empresas que se destacam por seu conhecimento com o cliente buscam combinar os dados que obtêm nas transações com as informações relativas ao comportamento de compra do consumidor. Davenport (2002) identifica sete práticas comuns direcionadas a gerar, reunir e utilizar o conhecimento: a. Colocar o foco nos clientes mais valiosos; b. Estabelecer objetivos e prioridades; c. Buscar uma combinação ótima de conhecimentos; d. Evitar que todas as informações se concentrem numa única base; e. Analisar caminhos criativos para a compreensão do fator humano; f. Ampliar o contexto de análise; e g. Desenvolver processos adequados e ferramentas eficazes. Os recursos estratégicos essenciais são o conhecimento e as habilidades que uma organização adquire com o passar do tempo. No entanto, muitas ainda não estão suficientemente organizadas para enfrentar e gerenciar este novo desafio, que é identificar e avaliar as suas próprias competências. (KING; FOWLER; ZEITHAML, 2002). Kumschlies (2002) argumenta que novas demandas continuarão a ganhar importância neste contexto, assim como, novas tecnologias, serviços e produtos, e a expectativa é que a velocidade destas mudanças aconteça em um ritmo cada vez maior, exigindo que as empresas, sejam elas grandes ou pequenas, tenham flexibilidade, eficiência, senso de urgência, visão global, criatividade e ações com foco no consumidor. As empresas, desta forma, são pressionadas a atuar com um alto grau de competitividade. Para Davidson, Sweeney e Stampft (1988), elas precisam buscar um posicionamento estratégico claro e adotar programas de ação consistentes e alinhados à expectativas dos consumidores. Para Hamel e Prahalad (1995), o primeiro passo para compreender o que significa a competitividade é observar os resultados competitivos, assim como, entender o que é competitividade é considerado um pré-requisito para alcançá-la, e por fim, entender porque as empresas são competitivas é também um pré-requisito para descobri-la. Porter (1997) define que toda empresa possui uma estratégia competitiva implícita ou explícita, sendo a combinação dos fins (metas) que a empresa busca e os meios (políticas) utilizados para obter os melhores resultados. 2 Falar de competitividade nos momentos atuais é considerar os aspectos ambientais que estão em pauta na agenda de negócios da classe empresarial. Segundo Silveira (2000), alguns acontecimentos na década de 70 contribuíram para despertar a preocupação com as questões relacionadas à gestão ambiental, fazendo com que a sociedade e governo começassem a discutir este assunto: o agravamento da poluição nos países industrializados; a repercussão internacional da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, em 1972; a ocorrência de desastres ecológicos; a publicação do primeiro informe do Clube de Roma e, principalmente, a crise do petróleo em 1973, que induziu o pensamento de uma nova concepção de desenvolvimento. E, mais recentemente, a Agenda 21, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992. Atualmente, está em pauta discussões sobre as preocupações ambientais alinhadas por meio do Protocolo de Quioto, que constitui um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa. As metas de redução não são homogêneas a todos os países, colocando níveis diferenciados para os 38 países que mais emitem gases. Países em franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e Índia) não receberam metas de redução, pelo menos momentaneamente. A redução dessas emissões deverá acontecer em várias atividades econômicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de algumas ações básicas: reformar os setores de energia e transportes; promover o uso de fontes energéticas renováveis; eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção; limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; e proteger florestas e outros sumidoros de carbono. No Brasil, a ação do Estado, no que se refere à criação de organizações que estruturaram ações na área ambiental, remonta ao início dos anos 70. Mas as ações só frutificaram efetivamente, depois que o país saiu de um longo período de instabilidade política e econômica. Para a Confederação Nacional da Indústria, as empresas precisam compreender que o lucro e a gestão ambiental não podem ser vistos como conceitos excludentes, mas complementares. Conforme exposto por Armando Monteiro, presidente da CNI, o “desenvolvimento sustentável deve ser resultado da conciliação entre crescimento econômico e os aspectos ambientais e sociais”. (EMPRESA VERDE, 2007, p.21). Hooley, Saunders e Piercy (2001, p.15) verificam outra mudança cultural e social nas atitudes voltadas para o meio ambiente e nas preocupações daí decorrentes. Eles assinalam que os grupos de ambientalistas iniciam um movimento de pressão e exercem profundo impacto na forma de gestão das empresas, “a tal ponto que as grandes multinacionais do setor de petróleo e de outros setores vêem-se obrigadas a gastar muito em propaganda institucional anualmente, para provar a sua preocupação e cuidado com o meio ambiente”. Assim, além dos desafios da administração em termos de complexidade do ambiente que operam, as empresas se vêem diante de novas demandas, onde o cliente não quer mais um produto que apenas ofereça satisfação em termos de necessidades e desejos, a busca passou a ser por um produto que, 3 além disso, contribua para o seu bem estar e não provoque impacto ambiental negativo. Diante do cenário competitivo no qual as empresas estão inseridas, o marketing estratégico ganha especial relevância. Toledo e Silva (1992) descrevem que ocorre uma evolução do reconhecimento do papel do marketing na obtenção e na sustentação de vantagens competitivas. Assim, as empresas devem traçar cenários alternativos, criando novas formas de gestão. Oliveira (2008) acredita que não basta predizer como será o futuro, mas, principalmente, proporcionar meios para que os profissionais compreendam quais são e como se comportam as tendências atuais, e assim, criar tendências futuras, através de uma ação proativa. 2. O marketing holístico Segundo Kotler e Keller (2006, p.14), a orientação de marketing surgiu no início do ano de 1950 nos Estados Unidos, onde a filosofia de fazer um produto e convencer o cliente a comprá-lo, passou a ser, desenvolver um produto que estivesse alinhado às necessidades e expectativas do cliente, assim, “o que se precisa não é mais encontrar os clientes certos para o seu produto, mas sim, os produtos certos para os clientes”. Os autores acreditam que cada vez mais a área de marketing deve se esforçar a fim de entender os clientes e tratá-los de forma apropriada. As empresas devem construir as suas marcas mais por meio do seu desempenho do que apenas investir em uma comunicação maçante e persuasiva. No caminho para fazer com que uma empresa adote uma orientação voltada para os clientes e assuma a sua responsabilidade social e ambiental, surgiu o marketing holístico e na visão de Kotler e Keller pode ser entendido como: O desenvolvimento, o projeto e a implementação de programas, processos e atividades de marketing, com o reconhecimento da amplitude e das interdependências de seus efeitos. Ele reconhece que no marketing “tudo é importante” – o consumidor, os funcionários outras empresas e a concorrência, assim como a sociedade como um todo – e que muitas vezes se faz necessária uma perspectiva abrangente e integrada. (KOTLER; KELLER, 2006, p.15) O marketing holístico é uma resposta às novas demandas sociais e ambientais, pois prioriza a satisfação do cliente em consonância com o seu bem estar, com a preocupação com a sociedade e com o meio ambiente, e de que forma esta relação pode otimizar os resultados organizacionais. Mesmo com sensíveis progressos, ainda busca-se chegar a uma equação mais justa nas relações entre as empresas e consumidores no Brasil. Mas ainda percebe-se uma busca na compreensão pelos longos séculos de ditadura do mercado produtor e distribuidor, onde o consumidor não tinha voz e nem poder. Gonçalves (2001) registra que algumas empresas continuam insistindo em não reconhecer que o poder está gradativamente mudando para o lado do consumidor. Esta nova abordagem do marketing, sob uma visão holística, tenciona reconhecer e harmonizar as ações de marketing com os stakeholders, que pode ser entendido como os grupos de interesse. 4 MARKETING HOLÍSTICO Marketing Interno Departamento de marketing Gerência sênior Outros departamentos Marketing Integrado Marketing de Relacionamento Comunicação Produtos serviços e Canais Marketing Socialmente Responsável Clientes Ética/legalidade Canal Meio ambiente Parceiros Comunidade Quadro 2.1 - Dimensão do marketing holístico Fonte: Elaboração própria conforme Kotler e Keller (2006). Esta orientação possibilita entender o processo de captura de valor para o cliente, onde os processos integram as atividades de criação de valor e construção de relacionamentos que possibilitem negociações mutuamente satisfatórias. Desta forma, o marketing assume a sua responsabilidade social e a compreensão de preocupações mais abrangentes, considerando o contexto ético, legal, ambiental e social das atividades e dos programas de marketing, dentro das suas ações e intenções. O desenho da estrutura de marketing holístico pretende viabilizar três questões básicas: a exploração de valor, a criação de valor, e a entrega de valor. A figura abaixo ilustra uma perspectiva de como estes elementos atuam de forma interdependente e a interação entre os participantes relevantes e as atividades baseadas em valor. Foco no cliente Competências centrais Rede colaborati-va Exploração de valor Espaço cognitivo Espaço de competência Espaço de recurso Criação de valor Benefícios para o cliente Domínio da empresa Parceiros de negócios Entrega de valor Gestão do relacionamento com o cliente Gestão dos recursos internos Gestão das parcerias de negócios Figura 2.1 – A estrutura do marketing holístico Fonte: Kotler e Keller, 2006. 5 A exploração de valor sinaliza como o valor flui dentro de mercados e entre eles, para alcançar a eficácia é necessário que a estratégia seja bem definida e que considere alguns aspectos: o espaço cognitivo do cliente; o espaço de competência da empresa; e o espaço de recurso do colaborador. Para explorar uma oportunidade de valor, a empresa precisa de competências relacionadas à criação de valor, assim, a empresa deve identificar os benefícios que são relevantes sob o ponto de vista do cliente; utilizar as competências centrais que domina; selecionar e gerenciar os parceiros de negócios, e isto, só é possível quando a empresa compreende muito bem as necessidades e desejos dos seus clientes, bem como, as expectativas e influências que afetam a sua decisão de compra. O último elemento é entender que a entrega de valor necessita de investimentos consistentes em infra-estrutura e capacidades. A empresa deve investir nos relacionamentos, a fim de consolidar uma equipe interna atenta à satisfação do cliente, por meio da atração e retenção de clientes e de parcerias que proporcionem o alcance dos objetivos organizacionais. Dentro desta perspectiva holística, o marketing reconhece que “tudo é importante” – o consumidor, os funcionários, a concorrência, os fornecedores, o governo, os acionistas, a sociedade, dentre outros. Assim, faz-se necessário atuar de forma integrada, para que uma decisão articulada em um determinado departamento não se torne incoerente ou conflitante com outros departamentos. 3. A dimensão socioambiental O marketing socialmente responsável impõe que a empresa passe a considerar os aspectos éticos, legais, a gestão ambiental e a comunidade como elementos importantes no alinhamento das suas estratégias. Isso significa equilibrar pressões eventualmente conflitantes, exercidas por diferentes grupos de interesse. (NICKELS; WOOD, 1999). Os autores argumentam que o comportamento socialmente responsável é mais do que simplesmente não incorrer em aspectos antiéticos ou ilegais, significa um comprometimento com a sociedade para o auxílio à melhoria das condições de vida ou para a resolução dos problemas. As empresas estão desenvolvendo atitudes em frentes diversas, incluindo o meio ambiente, serviços comunitários, saúde e filantropia. A experiência do profissional de marketing, neste sentido, é instrutiva. 3.1 Responsabilidade social empresarial A responsabilidade social da empresa pode ser vista como a extensão do papel empresarial além dos seus objetivos meramente econômicos. Bateman e Snell (1998) especificam que os argumentos favoráveis à esta prática propõem que as organizações têm ampla responsabilidade que vai além da produção de bens e serviços para obter lucro. As organizações devem participar ativa e responsavelmente da comunidade e do ambiente mais amplo. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social define: Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de 6 metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. (ETHOS, 2009. Não paginada) A orientação do marketing socialmente responsável convoca as empresas a incluir considerações éticas, sociais e ambientais em suas práticas, buscando integrar os interesses da alta administração com seus parceiros. Muitas vezes esta relação é conflituosa, gerando discordâncias sobre as ações a serem estruturadas. Contudo, cabe salientar, que cada vez mais empresas que acreditam e assumem o seu compromisso social e ambiental, estão obtendo lucros notáveis e ganhando uma imagem sólida e de confiança com os mais diversos públicos. Alinhado à esta filosofia empresarial, Kotler e Keller (2006) relacionam algumas iniciativas que podem ser elencadas dentro de um escopo de responsabilidade social: a. Marketing social corporativo: apóia campanhas de mudança de comportamento. b. Marketing de causas: promove questões sociais por meio de esforços como patrocínio à causas sociais. c. Filantropia corporativa: oferece ajuda (dinheiro, bens ou tempo) para organizações, grupos ou indivíduos. d. Envolvimento empresarial na comunidade: fornece produtos ou serviços voluntários à comunidade. e. Prática de negócios socialmente responsáveis: adapta e conduz práticas de negócios que protejam o ambiente, os seres humanos e os animais. As ações de responsabilidade social são normatizadas por meio da implantação da SA 8000 (Social Accountability) que é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social para empresas fornecedoras e vendedoras, baseada em convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras convenções das Nações Unidas (ONU). A empresa De Nadai situada na cidade de Santo André no Estado de São Paulo foi a primeira empresa do mundo do segmento de alimentação a receber a certificação SA 8000. Segundo Montana e Charnov (2005) a responsabilidade social caminha de mãos dadas com o poder social, e uma vez que a empresa pode ser considerada como a força mais poderosa de influência da vida moderna, ela tem que assumir a responsabilidade social correspondente. Algumas ações sobre responsabilidade social são verificadas no Brasil atualmente: a. Um beijo pela vida – programa da Avon contra o câncer de mama; b. O Mc Dia Feliz realizado pelo Mc Donald´s; c. Sorrido saudável, futuro brilhante – programa social desenvolvido pela Colgate; d. A Associação Brasileira de Distribuidores Ford com o programa de RS que incentiva o desenvolvimento de projetos de inclusão social voltados à população em situação de risco. e. O Banco Real com o Programa Talentos da Maturidade. 7 f. O Bradesco desenvolve um programa que remunera famílias na Amazônia para serem guardiãs da floresta. g. O Grupo Votorantim, por meio do Instituto Votorantim, apoiou 103 projetos nas áreas de educação, trabalho, cultura e proteção de crianças e adolescentes. O investimento social beneficiou diretamente aproximadamente de 315 mil pessoas, com idades entre 15 e 24 anos, de 233 municípios. h. A empresa Contmatic apóia a Fundação IDEPAC que oferece cursos de qualificação profissional e inclusão no mercado de trabalho de jovens de baixa renda. i. De Nadai – campanha “Buscando Talentos Especiais”, que objetiva a contratação de pessoas portadoras de necessidades especiais. 3.2 A gestão ambiental Conforme Nickels e Wood (1999), uma das questões mais críticas e desafiadoras enfrentadas por todas as pessoas do nosso planeta consiste em proteger, restaurar e sustentar o meio ambiente. Esta proposta há duas décadas enfrentava muito mais resistência por parte das empresas em virtude do custo e do tempo necessários à sua execução. Esta mentalidade gradativamente vem mudando, resultando em produtos politicamente corretos e associados à uma estratégia do “marketing verde”, isto é, produtos que são seguros ou benéficos ao meio ambiente, sinalizando que exercem ações que buscam o equilíbrio ecológico, e se possível, possam ter um efeito positivo. Esta abordagem contribui para a construção de relacionamentos com um público que tem sensibilidade e preocupação com o meio ambiente. As empresas têm buscado por meio da certificação da ISO 14000 implantar as melhores práticas de gerenciamento do impacto ambiental, e com isso melhorar a sua imagem institucional. A ISO 14000 é uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO) que estabelecem as diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro das empresas. (WIKIPÉDIA, 2009). As empresas cada vez mais terão que buscar formas inovadoras de gestão, onde é necessário elaborar planos, estabelecer políticas, definir caminhos a serem percorridos, e efetivar ações para viabilizar esses desejos. Estes elementos possibilitam a efetiva elaboração de uma estratégia empresarial, considerando as oportunidades oferecidas pelo ambiente e os recursos da organização. (FERNANDES; BERTON, 2005). Os autores argumentam que a análise do ambiente envolve o conhecimento e monitoração das realidades econômicas, tecnológicas, sociais, políticas, legais e éticas e seus efeitos na empresa. Nickels e Wood (1999) complementam a importância também da análise ambiental. As empresas que desejam crescer neste cenário extremamente complexo e competitivo deverão desenvolver uma atitude proativa na gestão ambiental, envolvendo clientes, funcionários, fornecedores, comunidades, órgãos competentes e demais partes interessadas, como forma de assegurar a sustentabilidade dos seus projetos, empreendimentos e produtos ao longo do seu ciclo de vida, adequando as estratégias em cada estágio. Para Fernandes e Berton (2005), quando a empresa está orientada ao mercado, ela busca vantagens competitivas para conseguir crescer e se 8 perpetuar. Desta forma, a atenção às necessidades dos seus clientes aponta para a importância que o departamento de marketing possui na relação empresa-cliente, pois é ele que vai contemporizar os interesses da organização, dos clientes e dos demais grupos de interesse. Pesquisa realizada pela Análise – Gestão Ambiental (2008, p.25), apresenta um levantamento das práticas ambientais das grandes empresas de diversos setores do país. Embora os dados reflitam empresas que estão no topo da pirâmide empresarial, as conclusões apresentadas sinalizam práticas que podem ser estendidas para demais empresas a médio e longo prazo: a. 23% das empresas já fecharam negócios para a obtenção de crédito de carbono. b. 25% mantêm voluntariamente área verde nativa sob seu domínio. c. 42% das empresas entrevistadas utilizam fontes renováveis de energia. d. 46% das empresas só contratam fornecedores que empregam procedimentos de gestão ambiental. e. 48% têm projetos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. f. 56% possuem programas de plantio de árvores. g. 62% das empresas pesquisadas têm metas de redução de consumo de água. h. 68% publicam suas informações sobre gestão ambiental. i. 76% das empresas monitoram com indicadores específicos o consumo de energia elétrica. j. 85% utilizam papel reciclado, porcentual composto pelos que usam pouco (49%), usam muito (14%) e usam preferencialmente (22%). k. 98% dão treinamento sobre gestão ambiental para funcionários. A qualificação da amostra das empresas respondentes pode ser identificada a partir do gráfico abaixo: RESPONDENTES POR SETOR ECONÔMICO 10,6% 5,4% Indústria Serviços Agroindústria 26,4% 57,6% Comércio Gráfico 3.1 – Respondentes da pesquisa por setor econômico Fonte: Anuário análise gestão ambiental, 2008. Com relação às práticas e procedimentos relativos à gestão ambiental, dentre outras, buscou-se conhecer primeiramente se as empresas possuem política ambiental, como a organizam, e se possuem certificação ISO 4000. Os dados estão assinalados no gráfico abaixo. 9 POSSUEM OU NÃO POLÍTICA AMBIENTAL E COMO A ORGANIZAM? 13,1% 0,5% Sim. Int egrada com as demais polí t icas da companhia Sim. Especí f ica para meio ambient e 23,9% 62,5% Não. M as adot am prát icas não sist emat izadas Não possuem Gráfico 3.2 - Práticas e procedimentos da gestão ambiental Fonte: Anuário análise gestão ambiental, 2008. POSSUEM OU NÃO CERTIFICAÇÃO ISO 14001? 11,2% Possue 13,6% 48,1% Não possuem, mas palnejam obt er Não possuem, mas cumprem as et apas para obt ê-la Não possuem e não vêem necessidade da cert if icação no moment o 27,1% Gráfico 3.3 – Percentual de empresas certificadas pela ISO 14001 Fonte: Anuário análise gestão ambiental, 2008. A pesquisa identificou também a estrutura da gestão ambiental, para conhecer como a responsabilidade pela área de gestão ambiental está dimensionada e quais as ações que estão sendo definidas para o aprimoramento das metas ambientais, conforme segue: COMO DEFINEM A RESPONSABILIDADE PELA ÁREA AMBIENTAL? 21,0% 2,9% Formalment e e declarada no organograma De maneira inf ormal Não def inem 76,1% Gráfico 3.4 – Estrutura da gestão ambiental Fonte: Anuário análise gestão ambiental, 2008. 10 TÊM PROGRAMAS DE GESTÃO PARA MELHORAR METAS AMBIENTAIS? 3,4% 21,0% Sim, de maneira document ada Sim, de maneira inf ormal Não 75,6% Gráfico 3.5 – Percentual de empresas que têm programas para melhorar as metas ambientais Fonte: Anuário análise gestão ambiental, 2008. O conjunto de informações levantadas pela pesquisa constitui uma fonte rica de estudos para diagnosticar o estágio da discussão ambiental no meio público e privado, e em que direção ela caminha, além de promover uma reflexão acerca dos desafios que a gestão ambiental requer e suas implicações. Considerações finais O momento atual impõe imensos desafios sociais, econômicos e ambientais. Dada a complexidade da situação, é de vital importância que debates objetivando encontrar alternativas viáveis sejam compartilhadas pelo maior número possível de pessoas, pois as soluções para os problemas gerados requerem ações inteligentes (para serem efetivas) em diversas áreas e dimensões da vida humana. Os negócios estão mudando, e isso requer que o marketing também mude. As estratégias de sucesso para crescer em um cenário extremamente competitivo e dinâmico exigem um ajuste entre as exigências do mercado escolhido, os recursos da empresa e suas competências para atender de forma eficaz as novas demandas. Para alcançar um desenvolvimento sustentável no complexo mercado mundial, as empresas do amanhã deverão ser capazes de aprender rapidamente e de mudar rapidamente, quando preciso. Para alcançar este dinamismo, a empresa deve inspirar seu pessoal a atingir novos patamares de excelência, eficiência e inovação, apoiado por um senso de comprometimento e responsabilidade com os aspectos sociais e ambientais inerentes ao contexto organizacional, rumo às práticas de sucesso. Desta forma, o marketing contemporâneo continuará a evoluir e enfrentar os novos desafios e oportunidades que exigirão cada vez maior proximidade com seus clientes e parceiros, na busca por um mundo mais justo e seguro e de empresas sustentavelmente mais rentáveis. Referências ANÁLISE. 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