A DIMENSÃO DO MARKETING HOLÍSTICO SOB UMA PERSPECTIVA SOCIOAMBIENTAL THE DIMENSION OF HOLISTIC MARKETING UNDER AN ENVIRONMENTAL PERSPECTIVE Márcia Célia Galinski Coordenadora e Professora do Curso de Gestão Portuária, Administração e Gestão de Pessoas Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá Unimonte – Centro Universitário Monte Serrat [email protected] Resumo O presente artigo apresenta uma reflexão sobre as práticas do marketing holístico, considerando a sua dimensão social e ambiental. Verifica-se que cada vez mais existe uma preocupação com os aspectos éticos, legais, sociais e ambientais. Assim sendo, as empresas devem assumir a sua responsabilidade junto à comunidade onde estão inseridas contribuindo de forma efetiva. Uma pesquisa publicada pelo Anuário Gestão Ambiental 2011/2012 apresenta um levantamento das práticas relacionadas à gestão ambiental das grandes empresas do Brasil. Conclui-se que o despertar para questões de âmbito social e ambiental está direcionando as estratégias de muitas empresas que já resolveram os seus desafios mais básicos de gestão ambiental. Assim, ainda existe um longo caminho a percorrer, e a área de marketing precisa ter sensibilidade e criatividade para um comprometimento alinhado às questões sociais e ambientais que devem ser consideradas pela empresa na articulação das suas ações e intenções. Palavras-chave: marketing holístico; responsabilidade social; gestão ambiental. 1. Introdução Nas últimas décadas as empresas passaram por profundas mudanças decorrentes da mobilização da sociedade em torno das questões relacionadas com a qualidade do meio ambiente e com as preocupações de âmbito social. O significativo aumento desse movimento pode ser atribuído, entre outros fatores, à maior conscientização do consumidor e aos meios instantâneos de comunicação, resultado do avanço tecnológico. Outro aspecto importante, quando se discute alterações de grande complexidade, é a globalização, que segundo Ribeiro (2003), pode ser entendida como um processo social que promove mudança na estrutura política e econômica das sociedades, e significa a integração dos mercados em âmbito mundial. Neste contexto, a informação se torna vital para a empresa compreender a complexidade das interações entre parceiros diversos. As empresas que se destacam por seu conhecimento com o cliente buscam combinar os dados que obtêm nas transações com as informações relativas ao comportamento de compra do consumidor. Davenport (2002) identifica sete práticas comuns direcionadas a gerar, reunir e utilizar o conhecimento: 1. Colocar o foco nos clientes mais valiosos; 2. Estabelecer objetivos e prioridades; 1 3. 4. 5. 6. 7. Buscar uma combinação ótima de conhecimentos; Evitar que todas as informações se concentrem numa única base; Analisar caminhos criativos para a compreensão do fator humano; Ampliar o contexto de análise; e Desenvolver processos adequados e ferramentas eficazes. Os recursos estratégicos essenciais são o conhecimento e as habilidades que uma organização adquire com o passar do tempo. No entanto, muitas ainda não estão suficientemente organizadas para enfrentar e gerenciar este novo desafio que é identificar e avaliar as suas próprias competências. (KING; FOWLER; ZEITHAML, 2002). Kumschlies (2002) argumenta que novas demandas continuarão a ganhar importância neste contexto, assim como, novas tecnologias, serviços e produtos, e a expectativa é que a velocidade destas mudanças aconteça em um ritmo cada vez maior, exigindo que as empresas, sejam elas grandes ou pequenas, tenham flexibilidade, eficiência, senso de urgência, visão global, criatividade e ações com foco no consumidor. As empresas, desta forma, são pressionadas a atuar com um alto grau de competitividade. Para Davidson et alli (1988), elas precisam buscar um posicionamento estratégico claro e adotar programas de ação consistentes e alinhados às expectativas dos consumidores. Para Hamel e Prahalad (1995) o primeiro passo para compreender o que significa a competitividade é observar os resultados competitivos, assim como, entender o que é competitividade é considerado um pré-requisito para alcançá-la, e por fim, entender porque as empresas são competitivas é também um pré-requisito para descobri-la. Porter (1997) define que toda empresa possui uma estratégia competitiva implícita ou explícita, sendo a combinação dos fins (metas) que a empresa busca e os meios (políticas) utilizados para obter os melhores resultados. Segundo Silveira (2000), alguns acontecimentos na década de 70 contribuíram para despertar a preocupação com as questões relacionadas à gestão ambiental, fazendo com que a sociedade e governo começassem a discutir este assunto: o agravamento da poluição nos países industrializados; a repercussão internacional da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, em 1972; a ocorrência de desastres ecológicos, resultantes de vazamentos de óleo de petroleiros; a publicação do primeiro informe do Clube de Roma e, principalmente, a crise do petróleo em 1973, que induziu o pensamento de uma nova concepção de desenvolvimento. Atualmente, está em pauta discussões sobre as preocupações ambientais alinhadas por meio do Protocolo de Quioto, que se constitui de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigações científicas, com causa antropogênica do aquecimento global. As metas de redução não são homogêneas a todos os países, colocando níveis diferenciados para os 38 países que mais emitem gases. Países em franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e Índia) não receberam metas de redução, pelo menos momentaneamente. A redução dessas emissões deverá acontecer em várias atividades econômicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de algumas ações básicas: a) Reformar os setores de energia e transportes; b) Promover o uso de fontes energéticas renováveis; 2 c) Eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da convenção; d) Limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; e) Proteger florestas e outros sumidouros de carbono. No Brasil, a ação do Estado, no que se refere à criação de organizações que estruturaram ações na área ambiental, remonta ao início dos anos 70. Mas as ações só frutificaram, efetivamente, depois que o país saiu de um longo período de instabilidade política e econômica. Deve-se considerar que as empresas precisam compreender que o lucro e a gestão ambiental não podem ser vistos como conceitos excludentes, mas complementares. Conforme exposto por Armando Monteiro, presidente da CNI, o “desenvolvimento sustentável deve ser resultado da conciliação entre crescimento econômico e os aspectos ambientais e sociais”. (EMPRESA VERDE, 2007, p.21). Hooley, Saunders e Piercy (2001, p.15) verificam outra mudança cultural e social nas atitudes voltadas para o meio ambiente e nas suas preocupações daí decorrentes. Eles assinalam que os grupos de ambientalistas iniciam um movimento de pressão e exercem profundo impacto na forma de gestão das empresas, “a tal ponto que as grandes multinacionais do setor de petróleo e de outros setores vêem-se obrigadas a gastar muito em propaganda institucional anualmente, para provar a sua preocupação e cuidado com o meio ambiente”. Desta forma, além dos desafios da administração em termos de complexidade do ambiente que operam, as empresas se vêem diante de novas demandas, onde o cliente não quer mais um produto que apenas ofereça satisfação em termos de necessidades e desejos. A busca passou a ser por um produto que, além disso, contribua para o seu bem estar e não provoque impacto ambiental negativo. Diante do cenário competitivo no qual as empresas estão inseridas, o marketing estratégico ganha especial relevância. Toledo e Silva (1992) descrevem que ocorre uma evolução do reconhecimento do papel do marketing na obtenção e na sustentação de vantagens competitivas. Assim, as empresas devem traçar cenários alternativos, criando novas formas de gestão. Oliveira (2008) acredita que não basta predizer como será o futuro, mas, principalmente, proporcionar meios para que os profissionais compreendam quais são e como se comportam as tendências atuais, e assim, criar tendências futuras, através de uma ação proativa. 2. Objetivo O presente artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre as práticas do marketing holístico, considerando a sua dimensão social e ambiental. 3. Métodos Foi utilizado um estudo descritivo do tipo qualitativo. Procedeu-se um levantamento de dados a partir de livros, revistas, trabalho científico, meio eletrônico e uma análise das informações contidas na pesquisa sobre gestão ambiental da Revista Análise 2011/2012. 4. O marketing holístico 3 Segundo Kotler e Keller (2006, p.14), a orientação de marketing surgiu no início do ano de 1950 nos Estados Unidos, onde a filosofia de fazer um produto e convencer o cliente a comprá-lo, passou a ser, desenvolver um produto que estivesse alinhado às necessidades e expectativas do cliente, assim, “o que se precisa não é mais encontrar os clientes certos para o seu produto, mas sim, os produtos certos para os clientes”. Os autores acreditam que cada vez mais a área de marketing deve se esforçar a fim de entender os clientes e tratá-los de forma apropriada. As empresas devem construir as suas marcas mais por meio do seu desempenho do que apenas investir em uma comunicação maçante e persuasiva. Para desenvolver uma estratégia de marketing eficaz, é necessário um conjunto de competências aplicadas às áreas específicas: a) Gestão do relacionamento com o cliente. b) Gestão de relacionamento com parceiros. c) Database marketing e data mining. d) Gestão de centro de contatos e telemarketing. e) Marketing de relações públicas. f) Gestão de construção de marca e ativo de marca. g) Marketing experiencial. h) Comunicação integrada de marketing. i) Análise de lucratividade por segmento, cliente e canal. No caminho para fazer com que uma empresa adote uma orientação voltada para os clientes e assuma a sua responsabilidade social e ambiental, surgiu o marketing holístico e na visão de Kotler e Keller pode ser entendido como: O desenvolvimento, o projeto e a implementação de programas, processos e atividades de marketing, com o reconhecimento da amplitude e das interdependências de seus efeitos. Ele reconhece que no marketing “tudo é importante” – o consumidor, os funcionários outras empresas e a concorrência, assim como a sociedade como um todo – e que muitas vezes se faz necessária uma perspectiva abrangente e integrada. (KOTLER; KELLER, 2006, p.15) O marketing holístico é uma resposta às novas demandas sociais e ambientais, pois prioriza a satisfação do cliente em consonância com o seu bem estar, com a preocupação com a sociedade e com o meio ambiente, e de que forma esta relação pode otimizar os resultados organizacionais. Mesmo com sensíveis progressos, ainda busca-se chegar a uma equação mais justa nas relações entre as empresas e consumidores no Brasil. Mas ainda percebe-se uma busca na compreensão pelos longos séculos de ditadura do mercado produtor e distribuidor, onde o consumidor não tinha voz e nem poder. Algumas empresas continuam insistindo em não reconhecer que o poder está gradativamente mudando para o lado do consumidor. (GONÇALVES, 2001). Esta nova abordagem do marketing, sob uma visão holística, tenciona reconhecer e harmonizar as ações de marketing com os stakeholders, ou grupos de interesse. Verifica-se a sua dimensão no Quadro 4.1 a seguir: MARKETING HOLÍSTICO 4 Marketing Interno Marketing Integrado Marketing Relacionamento de Departamento de marketing Comunicação Clientes Marketing Socialmente Responsável Ética/legalidade Gerência sênior Produtos e serviços Canal Meio ambiente Outros departamentos Canais Parceiros Comunidade Quadro 4.1 - Dimensão do marketing holístico Fonte: Elaboração própria conforme Kotler e Keller (2006). Esta orientação possibilita entender o processo de captura de valor para o cliente, onde os processos integram as atividades de criação de valor e construção de relacionamentos que possibilitem negociações mutuamente satisfatórias. Desta forma, o marketing assume a sua responsabilidade social e a compreensão de preocupações mais abrangentes, considerando o contexto ético, legal, ambiental e social das atividades e dos programas de marketing, dentro das suas ações e intenções. O desenho da estrutura de marketing holístico pretende viabilizar três questões básicas: a exploração de valor, a criação de valor, e a entrega de valor. A figura abaixo ilustra uma perspectiva de como estes elementos atuam de forma interdependente e a interação entre os participantes relevantes e as atividades baseadas em valor. Departamento de marketing Gerência Outros sênior departamentos Comunicações Produtos e serviços Marketing Interno Canais Marketing Integrado Marketing Holístico Marketing Socialmente Responsável Ética Meio Legalidade Comunidade ambiente Marketing de Relacionamento Clientes Canal Parceiros Figura 4.1 – Estrutura do marketing holístico Fonte: Kotler e Keller, 2006. 5 A exploração de valor sinaliza como o valor flui dentro de mercados e entre eles, para alcançar a eficácia é necessário que a estratégia seja bem definida e que sejam considerados alguns aspectos: o espaço cognitivo do cliente; o espaço de competência da empresa; e o espaço de recurso do colaborador. Para explorar uma oportunidade de valor, a empresa precisa de competências relacionadas à criação de valor, assim, a empresa deve identificar os benefícios que são relevantes sob o ponto de vista do cliente; utilizar as competências centrais que domina; selecionar e gerenciar os parceiros de negócios, são ações possíveis quando a empresa compreende muito bem as necessidades e desejos dos seus clientes, bem como, as expectativas e influências que afetam a sua decisão de compra. O último elemento é entender que a entrega de valor necessita de investimentos consistentes em infraestrutura e capacidades. A empresa deve investir nos relacionamentos, a fim de consolidar uma equipe interna atenta à satisfação do cliente, por meio da atração e retenção de clientes e de parcerias que proporcionem o alcance dos objetivos organizacionais. Dentro desta perspectiva holística, o marketing reconhece que “tudo é importante” – o consumidor, os funcionários, outras empresas e a concorrência, assim como a sociedade como um todo. Assim, faz-se necessário atuar de forma integrada, para que uma decisão articulada em um determinado departamento não se torne incoerente ou conflitante com outros departamentos. 5. A dimensão socioambiental O marketing socialmente responsável impõe que a empresa passe a considerar os aspectos éticos, legais, a gestão ambiental e a comunidade como elementos importantes no alinhamento das suas estratégias. Isso significa equilibrar pressões eventualmente conflitantes, exercidas por diferentes grupos de interesse. (NICKELS; WOOD, 1999). Os autores argumentam que o comportamento socialmente responsável é mais do que simplesmente não incorrer em aspectos antiéticos ou ilegais, significa um comprometimento com a sociedade para o auxílio à melhoria das condições de vida ou para a resolução dos problemas. As empresas estão desenvolvendo atitudes em frentes diversas, incluindo o meio ambiente, serviços comunitários, saúde e filantropia. A experiência do profissional de marketing, neste sentido, é instrutiva. 5.1 Responsabilidade social empresarial A responsabilidade social da empresa pode ser vista como a extensão do papel empresarial além dos seus objetivos meramente econômicos. Conforme Para Bateman e Snell (2006), os argumentos favoráveis a esta prática propõem que as organizações têm ampla responsabilidade que vai além da produção de bens e serviços para obter lucro. As organizações devem participar ativa e responsavelmente da comunidade e do ambiente mais amplo. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social apresenta: Uma ampla visão sobre o que é a responsabilidade social empresarial (RSE) vai permitir a avaliação do papel das empresas na promoção de mudanças favoráveis às gerações futuras e à construção de um mundo melhor e mais justo. A RSE deve estar diretamente ligada aos valores da companhia e o direcionamento a ela deve estar claro para os empregados, fornecedores e consumidores/clientes, bem como para a própria comunidade e para o governo. Engana-se aquela empresa que enxerga sua responsabilidade como 6 limitada apenas às suas ações diretas. E isso vale também para o governante e para o cidadão comum. (ETHOS, 2013. Não paginada) As empresas interessadas em avaliar sua gestão na perspectiva da sustentabilidade e da responsabilidade social têm à disposição os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, oferecidos gratuitamente desde a sua criação, no ano de 2000. Por meio do preenchimento dos Indicadores Ethos, que se apresentam na forma de um questionário, as empresas conseguem fazer seu autodiagnóstico e levantar subsídios para o planejamento estratégico em sete temas: valores, transparência e governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes; comunidade; e governo e sociedade. A orientação do marketing socialmente responsável convoca as empresas a incluir considerações éticas, sociais e ambientais em suas práticas, buscando integrar os interesses da alta administração com seus parceiros. Muitas vezes esta relação é conflituosa, gerando discordâncias sobre as ações a serem estruturadas. Contudo, cabe salientar, que cada vez mais empresas que acreditam e assumem o seu compromisso social e ambiental, estão obtendo lucros notáveis e ganhando uma imagem sólida e de confiança com os mais diversos públicos. Alinhado a esta filosofia empresarial, Kotler e Keller (2006) apresentam algumas iniciativas que podem ser elencadas dentro de um escopo de responsabilidade social: a) Marketing social corporativo: apoia campanhas de mudança de comportamento. b) Marketing de causas: promove questões sociais por meio de esforços como patrocínio a causas sociais. c) Filantropia corporativa: oferece ajuda (dinheiro, bens ou tempo) para organizações, grupos ou indivíduos. d) Envolvimento empresarial na comunidade: fornece produtos ou serviços voluntários à comunidade. e) Prática de negócios socialmente responsáveis: adapta e conduz práticas de negócios que protejam o ambiente, os seres humanos e os animais. As ações de responsabilidade social são normatizadas por meio da implantação da SA 8000 (Social Accountability) que é uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social para empresas fornecedoras e vendedoras, baseada em convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras convenções das Nações Unidas (ONU). Segundo Montana e Charnov (2005) a responsabilidade social caminha de mãos dadas com o poder social, e uma vez que a empresa pode ser considerada como a força mais poderosa de influência da vida moderna, ela tem que assumir a responsabilidade social correspondente. Algumas ações sobre responsabilidade social e ambiental são verificadas no Brasil atualmente: a) Um beijo pela vida – programa da Avon contra o câncer de mama; b) O Mc Dia Feliz realizado pelo Mc Donald´s; c) Sorrido saudável, futuro brilhante – programa social desenvolvido pela Colgate; d) Projeto Coletivo Coca Cola para capacitar jovens para o mercado de trabalho; e) O Banco Santander Brasil com o Programa Talentos da Maturidade. f) Programa Acolher Natura; g) A empresa Contmatic apoia a Fundação IDEPAC que oferece cursos de qualificação profissional e inclusão no mercado de trabalho de jovens de baixa renda. 7 5.2 A gestão ambiental Conforme Nickels e Wood (1999), uma das questões mais críticas e desafiadoras enfrentadas por todas as pessoas do nosso planeta consiste em proteger, restaurar e sustentar o meio ambiente. Esta proposta há duas décadas enfrentava muito mais resistência por parte das empresas em virtude do custo e do tempo necessários à sua execução. Esta mentalidade gradativamente vem mudando, resultando em produtos politicamente corretos e associados a uma estratégia do “marketing verde”, isto é, produtos que são seguros ou benéficos ao meio ambiente, sinalizando que exercem ações que buscam o equilíbrio ecológico, e se possível, possam ter um efeito positivo. Esta abordagem contribui para a construção de relacionamentos com um público que tem sensibilidade e preocupação com o meio ambiente. As empresas têm buscado por meio da certificação da ISO 14000 implantar as melhores práticas de gerenciamento do impacto ambiental, e com isso melhorar a sua imagem institucional. A ISO 14000 é uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO) que estabelecem as diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro das empresas. (WIKIPÉDIA, 2013). As empresas cada vez mais terão que buscar formas inovadoras de gestão, onde é necessário elaborar planos, estabelecer políticas, definir caminhos a serem percorridos, e efetivar ações para viabilizar esses desejos. Estes elementos possibilitam a efetiva elaboração de uma estratégia empresarial, considerando as oportunidades oferecidas pelo ambiente e os recursos da organização. (FERNANDES; BERTON, 2005). Os autores argumentam que a análise do ambiente envolve o conhecimento e monitoração das realidades econômicas, tecnológicas, sociais, políticas, legais e éticas e seus efeitos na empresa. Nickels e Wood (1999) complementam a importância também da análise ambiental. As empresas que desejam crescer neste cenário extremamente complexo e competitivo deverão desenvolver uma atitude proativa na gestão ambiental, envolvendo clientes, funcionários, fornecedores, comunidades, órgãos competentes e demais partes interessadas, como forma de assegurar a sustentabilidade dos seus projetos, empreendimentos e produtos ao longo do seu ciclo de vida, adequando as estratégias em cada estágio. Para Fernandes e Berton (2005), quando a empresa está orientada ao mercado, ela busca vantagens competitivas para conseguir crescer e se perpetuar. Desta forma, a atenção às necessidades dos seus clientes aponta para a importância que o departamento de marketing possui na relação empresa-cliente, pois é ele que vai contemporizar os interesses da organização, dos clientes e dos demais grupos de interesse. Pesquisa realizada pelo Anuário Análise – Gestão Ambiental (2011/2012) apresenta um levantamento das práticas ambientais das grandes empresas de diversos setores do país. Embora os dados reflitam empresas que estão no topo da pirâmide empresarial, as conclusões apresentadas sinalizam práticas que podem ser estendidas para demais empresas a médio e longo prazo: a) De 613 empresas respondentes, 86,9 possuem política ambiental; b) 48,9% possuem a certificação da ISO 14001; c) 42% das empresas entrevistadas utilizam fontes renováveis de energia; 8 d) 48,8% das empresas só contratam fornecedores que empregam procedimentos de gestão ambiental; e) 49,1% têm projetos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa; f) 61,3% possuem programas de plantio de árvores; g) 63,5% das empresas pesquisadas têm metas de redução de consumo de água; h) 84% têm programa de comunicação das ações ambientais; i) 79,4% das empresas monitoram com indicadores específicos o consumo de energia elétrica; j) 83,9% utilizam papel reciclado, porcentual composto pelos que usam pouco (50,6%), usam muito (12,6%) e usam preferencialmente (20,7%); k) 90,4% dão treinamento sobre gestão ambiental para funcionários. O caminho para construir e ampliar uma política de gestão ambiental inserida no processo produtivo requer por parte das empresas muito compromisso e alinhamento das ações estratégicas, táticas e operacionais. Estes esforços devem também estar em consonância com a cultura organizacional. Segundo o Anuário, verifica-se que para manter uma gestão ambiental eficaz e que produza resultados reais em relação à mitigação de danos ambientais, melhoria de práticas de uso e descarte de materiais, é necessário que o comando das organizações esteja diretamente envolvido no processo. É um longo caminho a ser percorrido. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde 2010, está plenamente de acordo com as mais modernas normas e práticas fixadas internacionalmente. Ela não segue um modelo específico de legislação, mas baseia-se nas experiências mundiais para estabelecer os seus padrões. O modelo alemão, pioneiro e líder em reciclagem total do planeta, serve de referência para muitos países elaborarem as suas ações ambientais. A Lei alemã, assim como a brasileira, prevê a responsabilidade compartilhada entre fabricantes de embalagens, distribuidores, envasadores e importadores quanto ao destino dado ao resíduo. No mundo atual, a tecnologia que avança em ritmo veloz, confere um novo desafio ao gerenciamento do resíduo sólido: o lixo eletrônico. Nesta questão, a Europa possui uma das mais avançadas legislações para a disposição destes resíduos, estimulando os fabricantes a planejar o desenvolvimento do produto visando à facilidade de reuso e reciclagem dos componentes. A seguir apresenta-se um Quadro com o ranking global da reciclagem: Reciclagem de papel: Coréia do Sul: 92% Alemanha: 85% Estados Unidos: 64% Brasil: 46% China: 40% Reciclagem de vidro: Alemanha: 81% França: 63% Inglaterra: 62% Japão: 56% Brasil: 47% Reciclagem de plástico: Reciclagem de alumínio: Japão: 78% Brasil: 98% Brasil: 56% Japão: 93,4% Austrália: 42% Argentina: 92% Estados Unidos: 28% Estados Unidos: 57% México: 18% Quadro: 5.1 - Ranking global da reciclagem 9 Fonte: Análise – Gestão Ambiental 2011/2012. Com relação às práticas e procedimentos relativos à gestão ambiental, dentre outras, buscou-se conhecer primeiramente se as empresas possuem política ambiental, como a organizam, e se possuem certificação ISO 14000. Os dados estão assinalados no gráfico abaixo: Sim. Integrada com as demais políticas da empresa 70 60 Sim. Específica para o meio ambiente 50 40 Adotam práticas não sistematizadas 30 20 Não possuem 10 0 Gráfico 5.1 – Práticas e procedimentos com a política de gestão ambiental Fonte: Análise – Gestão Ambiental 2011/2012. A pesquisa identificou também a estrutura da gestão ambiental, para conhecer qual área corporativa responde pela gestão ambiental, conforme segue. 25 20 15 Segurança e saúde Operação Controle de qualidade Sistema Presidência 10 5 0 RH Manutenção Comunicação Outra Gráfico 5.2 – Área corporativa responsável pela gestão ambiental Fonte: Análise – Gestão Ambiental 2011/2012. O conjunto de informações levantadas pela pesquisa constitui uma fonte rica de estudos para diagnosticar o estágio da discussão ambiental no meio empresarial e público e em que direção ela caminha, além de promover uma reflexão acerca dos desafios que a gestão ambiental requer e suas implicações. 6. Considerações finais O momento atual impõe imensos desafios sociais, econômicos e ambientais. 10 Dada a complexidade da situação, é de vital importância que debates objetivando encontrar alternativas viáveis sejam compartilhados pelo maior número possível de pessoas, pois as soluções para os problemas gerados requerem ações inteligentes (para serem efetivas) em diversas áreas e dimensões da vida humana. Os negócios estão mudando, e isso requer que o marketing também mude. As estratégias de sucesso para crescer em um cenário extremamente competitivo e dinâmico exigem um ajuste entre as exigências do mercado escolhido e os recursos da empresa e suas competências para atender de forma eficaz as novas demandas. Para alcançar um desenvolvimento sustentável no complexo mercado mundial, as empresas do amanhã deverão ser capazes de aprender rapidamente e de mudar rapidamente, quando preciso. Para alcançar este dinamismo, a empresa deve inspirar seu pessoal a atingir novos patamares de excelência, eficiência e inovação, apoiado por um senso de comprometimento e responsabilidade com os aspectos sociais e ambientais inerentes ao contexto organizacional rumo às práticas de sucesso. Desta forma, o marketing contemporâneo continuará a evoluir e enfrentar os novos desafios e oportunidades que exigirão cada vez maior proximidade com seus clientes e parceiros, na busca por um mundo mais justo e seguro. 7. Referências ANÁLISE. Gestão ambiental. Anuário 2012/2013. BATEMAN, Thomas S; SNELL, Scott. Administração: novo cenário competitivo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. DAVENPORT. Thomas H. Missão crítica. Rio de Janeiro: Campus, 2002. DAVIDSON, William R.; SWEENEY, Daniel J.; STAMPFT, Ronald W. Retailing management. New York: John Wiley & Sons, 1988. ETHOS. Instituto Ethos de Responsabilidade Social. <http://www.ethos.org.br>. Acesso em 16/10/2009 às 17h30. 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