MYLENE GOMES DA SILVA – ACADÊMICA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) PORTFÓLIO SOBRE O ESTÁGIO DE VIVÊNCIA DO VER-SUS TOCANTINS 2016/1 – Edição de Verão Escrevo este portfólio com o intuito de explanar as atividades que ocorreram nos estágios de vivências da terceira edição do projeto Vivência e Estágio na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), que ocorreu majoritariamente no município de Palmas, capital do estado de Tocantins. O período de vivência aconteceu entre os dias 11 a 17 de janeiro de 2016, com a participação de 25 viventes, 5 facilitadores e comissão organizadora, sendo que que apenas as duas primeiras categorias participaram a finco das atividades realizadas durante a semana. Dentre os participantes estavam presentes acadêmicos de diversos cursos (Enfermagem, Medicina, Fonoaudiologia, Serviço Social, Ciências Biomédicas, Odontologia, Farmácia e Nutrição), distintas instituições de origem federais, estaduais e particulares, e também de diferentes estados (Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul), apesar que a maioria dos participantes residiam no próprio estado do Tocantins. O projeto VER-SUS/Brasil é uma proposta do Ministério da Saúde, em parceria com a Rede Unida, com a Rede Governo Colaborativo em Saúde/UFRGS, com a (União Nacional dos Estudantes (UNE), com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), para que seja realizado estágios de vivência no SUS com a finalidade de que os participantes possam ter a oportunidade de vivenciar e debater acerca da realidade do SUS, possibilitando uma visão ampliada e amadurecida do conceito saúde e suas temáticas, como interdisciplinaridade, educação em saúde e Redes de Atenção à Saúde. Para dinamizar e otimizar a vivência, a comissão organizadora dividiu os participantes integrais (viventes e facilitadores) em quatro grupos (Ipê Lilás, Ipê Rosa, Ipê Amarelo e Ipê Branco) e subgrupos (Javaé, Xambió, Xerente, Apinagé e Krahô). Eu pertencia ao grupo Ipê Amarelo e subgrupo Apinagé. As atividades propostas foram realizadas durante o período matutino e vespertino, encerrando o dia com o relato de experiência de cada participante sobre a vivência e com discussões a respeito de temas que estão inseridos na estrutura do SUS, como reforma política, movimentos sociais e discussão de gêneros. Do início ao término do projeto visitei as seguintes instituições: Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN), Núcleo de Assistência Henfil (HENFIL), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NORTE (NASF-NORTE), Capadócia (Comunidade Coqueirinho), Palácio Araguaia, Secretaria Estadual de Saúde, Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), Unidade de Pronto Atendimento – NORTE (UPA-NORTE), Hospital Geral de Palmas (HGP), Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Aldeia Indígena da Ethnia Xerente. PRIMEIRO DIA DE VIVÊNCIA (Segunda-feira - 11/01) No período matutino, todos acadêmicos foram dirigidos para a Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde ocorreu a recepção dos viventes por parte da comissão organizadora e dos facilitadores. Durante esse momento foi feito uma dinâmica de apresentação na qual o grupo deveria formar pares e cada um da dupla deveria apresentar seu parceiro, para isso foi disponível um breve período de tempo para que pudéssemos trocar informações e posteriormente expô-las na roda de conversa. Foi explicado com detalhes como seria o funcionamento da semana, os horários de chegada e saída no/do hotel, a divisão dos grupos e subgrupos, distribuição dos kits (mochila e camiseta), customização de uma blusa branca na qual deveríamos escrever as palavras que remetiam a mente quando falávamos do SUS e na frente da camiseta a palavra “VER-SUS”. E por fim, uma dinâmica de integração entre todas as equipes, que consistiu na retirada dos nomes dos anjos – aquelas pessoas incumbidas de cuidar de seu protegido durante todo estágio de vivência. No período vespertino, o grupo Ipê Amarelo se encaminhou para o primeiro local de visita, o LACEN-TO, na qual realiza diagnósticos laboratoriais de agravos de interesse de saúde pública, controle de qualidade das análises de saúde pública realizados nos municípios, controle de qualidade ambiental e de produtos, capacitação de profissionais multidisciplinares e supervisão na rede estadual de laboratórios. É considerado a referência no controle de qualidade laboratorial, serviços em biologia molecular, bacteriologia, imunologia e micologia. A estrutura externa do laboratório é rústica e inacabada, porém quando se adentra o local é possível identificar um ambiente totalmente diferente do exterior, com pintura finalizada, ambiente limpo e agradável. É um espaço grande, que possui várias salas - segundo os departamentos de análise - com equipamentos modernos, tecnológicos. À noite ocorreu a roda de conversa, onde cada participante relatou sua experiência do dia e discutimos sobre vários assuntos que tangenciam o Sistema Único de Saúde. SEGUNDO DIA DE VIVÊNCIA (Terça-feira - 12/01) Pela manhã, o grupo Ipê Amarelo foi visitar o Núcleo de Assistência Henfil (HENFIL) que é a unidade de referência para os usuários da rede pública municipal em tratamento ou acompanhamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), como a Aids. No HENFIL, o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) realiza atividades de informação, educação e orientação sobre DST/AIDS e oferece exames de sorologias para HIV, Sífilis, Hepatite B e C, bem como o Teste Rápido Diagnóstico para HIV gratuitamente. Também faz parte dos serviços de promoção e prevenção às DST/Aids, a realização de atividades educativas com técnicos capacitados a oferecer aconselhamento e orientações à população. Eu gostei muito deste local de vivência, pois percebi que os quadro de funcionários, profissionais são bem empenhados e capacitados no aconselhamento e acompanhamento do paciente. Eles oferecem psicólogos, terapia ocupacional, consulta de enfermagem e médica, nutricionista – principalmente para mulheres gestantes portadoras do vírus e crianças –, farmacêutico, que dispensa os medicamentos antirretrovirais e explica a sua administração e efeitos colaterais, e assistente social que irá realizar o acompanhamento do paciente com HIV e conseguir benefícios e direitos, como passe-livre para ônibus. No estado do Tocantins, os polos da HENFIL estão localizados, além de Palmas, em Porto Nacional, Gurupi e Araguaína. A estrutura física do HENFIL de Palmas é improvisada, o que dificulta a atuação dos profissionais que possuem um espaço limitado para suas ações, como por exemplo, para terapia ocupacional. A demanda do HENFIL está aumentando exponencialmente a cada ano. As pessoas procuram a instituição de maneira espontânea para efetuar testes rápidos de Aids, Sífilis e Hepatites, por encaminhamentos e campanhas para testagem e aconselhamento. Um fato interessante é que muitos pacientes que se tratam no HENFIL não moram em Palmas, e sim nas cidades e estados ao redor. O motivo desse deslocamento seria para manter o sigilo. A adesão ao tratamento dos pacientes portadores do vírus da Aids é difícil por se tratar de uma doença que não tem cura, que o tratamento é contínuo, preconceito da família, tabu que a sociedade impõe acerca da forma de contrair, entre outras questões. Quando ocorre as desistências, a equipe realiza uma procura e visita domiciliar àquele paciente, pois ele apresenta dificuldades à sua própria aceitação e consequentemente ao tratamento. Essa visita foi ímpar para mim, pois adquiri maiores conhecimentos e esclarecimento de dúvidas acerca do tema. Gostei bastante da proposta que o HENFIL trás, do acolhimento que acontece com seus pacientes e o ambiente seguro e agradável do local. Acabei fazendo meus primeiros testes rápidos de Aids, Hepatites e Sífilis nesse mesmo dia. Pela tarde fomos visitar o Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) que oferece serviços de Buco Maxilo, Endodontia, Estomatologia, Odontopediatria, Pacientes Especiais, Periodontia, Prótese e Radiologia -RX. Foi mostrado com detalhes ao grupo todos os ambientes do Centro, como a sala de esterilização, consultórios odontológicos e uma nova área para a fabricação de próteses, que ainda está sem uso, pois apresenta pequenas irregularidades, como goteiras e apenas uma porta para entrada e saída. Foi relatado a falta de materiais e a baixa qualidade dos mesmos. A estrutura do CEO é simples, porém parece suprir as necessidades dos profissionais. Nesse local é notável a dedicação e amor dos funcionários para a realização do melhor atendimento aos seus pacientes, mesmo diante as dificuldades. Isso demostra que o esforço e a entrega do profissional são essenciais para ser feito um trabalho de excelência. No período noturno, houve a roda de conversa com a avaliação individual, discussão sobre campo e núcleo de saberes e da integralidade da atenção em saúde e integração entre educação e trabalho na saúde. Houve uma palestra da Professora Marta (UFT) acerca dos temas citados acima e posteriormente debates. TERCEIRO DIA DE VICÊNCIA (Quarta-feira - 13 /01) No período matutino, o grupo na qual eu era uma das integrantes, fomos conhecer o NASF – NORTE (Núcleo de Assistência à Saúde da Família – NORTE). O objetivo desse programa é complementar a Atenção Básica, entretanto não realizam serviços específicos para atendimento aos usuários, ou seja, não são de livre acesso para atendimento individual ou coletivo. A equipe do NASF – NORTE é composta por profissionais de várias áreas da saúde, como médico, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta e assistente social. Tal equipe tem a responsabilidade de selecionar junto com a comunidade famílias ou grupos que necessitam de um olhar mais ampliado, que dê suporte nas atividades desenvolvidas nas Unidades de Saúde para um atendimento e intervenção mais abrangente. A equipe do NASF – NORTE realizam suas atividades junto com os usuários em um espaço cedido pela sede de um sindicato. No dia de nossa visita, vimos a atuação dos profissionais com um grupo de idosos, cuja intervenção proposta foi levar eles a conhecerem uma realidade não cotidiana, ir para lugares novos e fazer atividades diferentes, como ir ao cinema, atividades de artesanato, dança, entre outros. Fui surpreendida com a atuação do NASF, pois mostra a efetivação da Atenção Básica, com seus princípios de prevenção e promoção da saúde. Isso de maneira organizada, possuindo todo potencial para melhorar a qualidade de vida daquele grupo. Posteriormente a visita ao NASF – NORTE, reunimos ao restante dos três ipês e fomos ao Palácio Araguaia ter uma roda de conversa com o atual governador do estado de Tocantins, Marcelo Miranda, sobre nosso olhar mediante as visitas às unidades de saúde pública da capital na qual já tínhamos ido. A conversa fluiu de forma agradável e informal. O governador relatou que desconheci o projeto VER-SUS, o que me surpreendeu com sua humildade em admitir. Não apenas para Marcelo a reunião foi importante, para nos viventes foi de extrema importância também, pois deu mais ânimo para continuarmos a semana e pudéssemos conhecer a seriedade do VER-SUS, que é fundamental para o processo de formação de futuros profissionais de saúde mais humanizados e com uma visão ética, política e social ampliada. No período noturno, tivemos as avaliações individuas da vivência e discutimos à saúde das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais (LGBT) na atualidade. QUARTO DIA DE VIVÊNCIA (Quinta-feira - 14 /01) No período da manhã, fomos no setor de saúde indígena no Ministério da Saúde, o DSEI. A gestora da instituição apresentou slides explicando os trabalhos que eles realizavam, que desenvolviam ações de atenção integral a saúde indígena e de educação em saúde e da condição de vida dos moradores nas aldeias indígenas do estado. Eles são responsáveis por coordenar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e a Atenção à Saúde Indígena no Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, tudo não passava de um discurso bonito, pois na realidade eles não cuidam da população indígena. Para esse grupo, faltam médicos, enfermeiros, odontólogos, nutricionistas, entre outros profissionais. Como foi relato pelo Cacique da aldeia indígena Salto-Xerente, na visita do dia 16 de janeiro, o médico vai na Unidade Básica de Saúde, localizada perto da aldeia, apenas uma vez por mês, o que muitas vezes não suporta atender a alta demanda em um único dia. É possível identificar a falta de autonomia da tribo, que ficam dependentes da boa vontade dos profissionais do DSEI. Fiquei indignada com a tamanha discrepância entre as belas informações passadas pela gestora e a realidade que presenciamos na aldeia. É nítido o desinteresse, descaso que são tratados a população indígena, não apenas no âmbito da saúde, mas infelizmente de todas as aéreas. Ainda antes do almoço, fomos visitar a Capadócia (Assentamento São João) onde observamos um ambiente insalubre, inadequado para as moradias que ali existem. Registramos a precariedade e sucateamento do local, a falta de infraestrutura das casas, que são improvisadas, feitas a partir de madeira e lona, e a falta de saneamento básico. Foi relatado a falta de segurança e a dificuldade de acesso à educação para as crianças e à saúde. É uma realidade que choca, pois é um local de ocupação territorial por pessoas que são invisíveis pelo governo local e estadual. No primeiro período da tarde, fomos visitar o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que são unidades de saúde pública que possuem como atribuição fundamental prevenir e controlar as zoonoses, como raiva, calazar, leishmaniose, entre outras. O CCZ também desenvolve sistemas de vigilância sanitária e epidemiológica, como o Programa Vigiagua, Vigilância em Saúde Ambiental. Suas funções são desempenhadas através do controle de populações de animais domésticos e controle de populações de animais sinantrópicos. Logo, eles praticam a castração e a eutanásia em animais não saudáveis, ou seja, que apresentam doenças. No final da tarde, fomos ter uma conversa informal com o Secretário Municipal de Saúde de Palmas, onde foram trocadas informações adicionais sobre a Atenção Básica no munícipio e da realidade do SUS a partir de nossas vivências. À noite, novamente, teve o relato de experiência do dia de cada participante e posteriormente houve uma roda de conversa com a presença do Professor Doutor Neilton (UFT) a respeito das diretrizes e princípios do SUS. Foi muito enriquecedor, pois convergiu os acadêmicos de diversos estados e cursos para uma única discussão: realidade atual do Sistema Único de Saúde. QUINTO DIA DE VIVÊNCIA (Sexta-feira - 15 /01) No período matutino, o grupo Ipê amarelo visitou a recém inaugurada Unidade de Pronto Atendimento (UPA-NORTE). A unidade foi apresentada por um enfermeiro que mostrou todos as locais da unidade, como salas de espera, medicação, curativos, sala de emergência, refeitório, dormitórios e necrotério. Essa UPA possui quatro consultórios médicos durante o dia e a tarde. O profissional que nos recebeu alega a falta de educação dos pacientes, que querem ser atendidos imediatamente. No período vespertino, no mesmo grupo da manhã, fomos conhecer o Hospital Geral de Palmas (HGP), que é o maior hospital de Estado de Palmas possuindo cerca de três mil servidores. O hospital deveria ser um Hospital de Ensino possuindo Residência Médica própria, porém isso está longe de ser realizado devido à falta de estrutura do ambiente, não há uma biblioteca equipada, apenas um auditório para uma grande demanda dos profissionais, sem pontos de internet wifi e sem sala individualizada para a administração, tendo que dividir com outros cômodos. Atualmente, o hospital recebe uma grande demanda de pacientes que procuram o pronto atendimento com agravos que poderiam ser solucionados na Unidade Básica de Saúde (UBS). Esse grande fluxo sobrecarrega o trabalho dos profissionais e indica a falta de conhecimento dos usuários. Também, a grande busca por atendimento na situação de traumas e para idosos. Eu e mais duas alunas fomos guiadas pelo nutricionista clínico que mostrou o armazenamento das dietas parenterais, enterais e suplementos na U.T.I Pediátrica, onde não há falta dessas mercadorias e estão armazenadas de forma apropriada. Posteriormente fomos conhecer a cozinha, ampla e bem equipada, a C.T.I, sala vermelha e amarela e a U.T.I que estavam lotadas. Fiquei impressionada com a quantidade de macas espalhadas pelos corredores do hospital, pacientes debilitados, inquietos com aquela sua exposição para todos aqueles que percorressem as dependências do hospital. O grande choque de realidade foi quando conhecemos o anexo, uma estrutura totalmente insalubre, criada para comportar aqueles pacientes dos corredores, porém o que se nota é um excedente de pacientes tanto no anexo quanto os corredores. Essa estrutura improvisada abriga um aglomerado de pessoas sem que elas tenham privacidade no momento de algum procedimento mais constrangedor, por exemplo. É um local abafado e sem os meios de segurança existentes. Por último tivemos uma conversa com uma fonoaudióloga e dois cirurgiões dentistas sobre sua experiência no SUS, suas dificuldades e potencialidades. Foram relatados a falta de estrutura do prédio, que não suporta a grande quantidade de pacientes e a falta de segurança do local. Um exemplo dado foi que no segundo andar do hospital não possui rampas e que no caso de incêndio os elevadores ficam inutilizáveis, ou seja, o que fazer com os pacientes acamados. A fonoaudióloga contou que há poucos profissionais de sua área e que ela e mais sete fonoaudiólogos ficam responsáveis por todo atendimento da demanda enorme de todo hospital. Também, a falta de materiais apropriados para o seu trabalho com pacientes em agravo especiais. Já para os dentistas perecem materiais odontológicos e consultórios equipados para aqueles pacientes que conseguem se locomover. Outro problema relatado e que não atinge somente o HGP é a prepotência dos médicos, que sucateiam as outras profissões, muitas vezes ultrapassando e se impondo mediante a decisões da fonoaudióloga (o), do nutricionista, entre outros. Poderia ser desenvolvido uma capacitação ao recém profissional que ingressa no hospital, para que eles conheçam os limites de cada profissão e a que realmente ocorra uma multiprofissionalidade, a ideia de que é necessária uma equipe engajada com o agravo do paciente. A experiência de visitar o maior hospital do Estado de Tocantins foi muito chocante, ao ver a quantidade de pacientes que necessitam de maior atenção e infraestrutura de qualidade. No período noturno, todos os grupos se reuniram na Praça dos Girassóis para fazer as avaliações do dia de vivência e debater acerca do tema racismo e preconceito na área da saúde. SEXTO DIA DE VIVÊNCIA (Sábado - 16/01) No período da manhã, fomos visitar um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O MST está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais. Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois elas acreditam que a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Podemos observar várias moradias apenas com a estrutura estética, porque muitos deles não moram no assentamento, às vezes vão apenas de final de semana. Eles mantêm os assentamentos para que posteriormente possam se tornarem os proprietários daquele latifúndio ocupado. No assentamento, há poucas benfeitorias e infraestrutura, como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Em caso de agravo a saúde eles devem procurar o atendimento nas cidades ao redor. Finalizamos nosso dia, indo visitar a Aldeia Indígena Salto –Xerente, localizada no município de Tocantínia. Na aldeia pudemos comprovar que toda aquela fala bonita no DSEI era uma grande mentira. Fomos na casa do Cacique, que relatou toda realidade da aldeia, em conjunto com as fragilidades e potencialidades do território. No final do dia não tivemos roda de conversa, a avaliação individual foi realizada na volta para a capital. SÉTIMO DIA DE VIVÊNCIA (Domingo - 17/01) No período da tarde, fomos numa cidade próxima de Palmas – Taquaruçu – aproveitar o último dia da vivência na cachoeira do Roncador. É um local belíssimo! Como nunca tinha ido numa cachoeira antes, eu amei o passeio. Não teria melhor maneira de finalizar essa vivência encantadora, após uma semana intensa de atividades. No período noturno, encerramos as atividades da vivência com a avaliação individual de cada participante do VER-SUS 3º EDIÇÃO 2016.1. Houve também a revelação do anjo de cada um. Um momento de interação e confraternização com todos. Voltei para São Paulo uma pessoa melhor, com uma visão do Sistema Único de Saúde completamente diferente da qual entrei. Voltei com uma visão ampliada sobre o conceito de saúde. A partir dessa vivência, eu trago comigo uma bagagem de conhecimento enorme, tanto no campo acadêmico, profissional quanto pessoal. É preciso debater sobre a saúde para poder em conjunto identificar as deficiências do sistema e juntos buscar a melhor solução dentro das dificuldades que sempre encontramos, trabalhando multidisciplinarmente e entendendo que é impossível trabalhar sozinho. É vivendo a realidade no/do SUS que podemos construir uma opinião crítica e sensata, trazendo um crescimento não só no conhecimento do profissional em formação, mas também a formação de um indivíduo de caráter.