Relato de vivência: III EDIÇÃO VERS

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Relato de vivência: III EDIÇÃO VERS-SUS TOCANTINS
Layane Soares Bonfim, acadêmica do curso de Biomedicina – Ceulp/Ulbra
INTRODUÇÃO:
O Sistema Único de Saúde- SUS- está presente em quase todo território brasileiro,
dificilmente se encontrará um cidadão que nunca foi usuário do mesmo. O programa
VER-SUS nos permite vivenciar o que é o SUS e como ele funciona na prática.
Na graduação nos deparamos com algumas matérias que enfocam em especial esse
sistema, dessa forma, podemos nos familiarizar com toda história de como começou,
as leis que o sustenta, as lutas, enfim tudo que aconteceu e ainda acontece para que
hoje pudéssemos ter acesso a saúde pública. Porém essa abordagem teórica se torna
superficial diante do que observamos na realidade.
Acompanhar de perto através de visitas, rodas de conversas diárias, ouvindo os
gestores, usuários e servidores, fizeram todo o diferencial durante esses dias de
vivência para meu futuro profissional e também como ser humano.
Primeiro dia de vivência no VER-SUS:
Após a apresentação nos dividimos em grupos para os momentos de visita para
facilitar essa visita os grandes grupos foram denominados de Ipês nas cores branco,
rosa e amarelo e os pequenos grupos em etnias Xerente, Krahô, Xambioá, Javaé e
Apinajé.Neste primeiro dia eu e meu grupo visitamos o Centro de reabilitação de
fisioterapia na região sul*, durante a tarde que passei nesse lugar pude perceber que o
sistema único de saúde possibilita um bom atendimento para pacientes que precisam
dessa atenção fisioterapêutica. Os próprios profissionais que lá trabalham disseram o
quanto a estrutura, materiais proporciona para um bom atendimento. Interessante
notar que há uma interação entre o profissional fisioterapeuta e educador físico
naquele local, ambos trabalham pela qualidade do atendimento e a real melhoria do
paciente, quando também colabora. É um local que funciona, apesar de ter uma lista
de espera, mas percebemos que aqueles profissionais que ali estão (todos
concursados) almejam não só números, como também a qualidade, estão em busca
de implantar projetos, entre outros. Esse ponto de atendimento em si é um espaço
amplo, com vários instrumentos de trabalho, conta com cerca de 15 fisioterapeutas e 1
educador físico, trabalham com agendamento. Foi ótimo conhecer esse lugar, muitas
conversas frutíferas e prazerosas.
Segundo dia de vivência no VER-SUS:
No segundo dia de vivência no VER-SUS, pela manhã, visitei o Henfil- Núcleo de
Assistência. Funciona o serviço de atenção especializada (SAE) e Centro de
Testagem e Aconselhamento (CTA). Neste lugar os profissionais trabalham com
tratamento e aconselhamento de doenças sexualmente transmissíveis e doenças
tropicais. È do município, trabalham por encaminhamento de pacientes. A equipe
conta com médicos, técnicos em enfermagem, enfermeiros, psicólogos, nutricionista,
farmacêuticos e atendem nas áreas de gastrologia, pediatria, infectologia, ginecologia,
urologia. Também fazem teste rápido. Pelo que foi explicado pude compreender que
os profissionais que ali estão trabalham não só pelo retorno financeiro, mas com
dedicação, pois é uma área difícil, aonde ainda tem muito preconceito. O SUS ali
funciona, e além disso tem uma equipe formada para dar assistência em outros
lugares, com palestras e testes rápidos. Também há a distribuição dos medicamentos.
O que me chamou atenção foi conhecer sobre os benefícios que um portador de HIV
pode ter, por exemplo, o passe livre na cidade. Foi uma visita proveitosa.
A tarde visitamos o CEO- Centro de Especialidades Odontológicas. O gestor do local
foi bem receptivo nos ressaltou qualidades e problemas enfrentados, problemas como
pacientes faltosos (tendo em vista que são encaminhados), funcionários acomodados,
conflito de entendimento, entre outros. Como qualidades muitos profissionais (contam
com uma equipe de 22 dentistas), conscientização da importância do trabalho.
Conversamos também com outra dentista, a qual está a muitos anos no mercado de
trabalho e qualifica o SUS como muito bom, quase perfeito, perde no quesito que é
SUS é formado por pessoas e enquanto a forma de pensar e agir de algumas pessoas
não mudar o sus também não vai mudar. Enfim, foi uma visita rica que espero levar
comigo onde for.
Terceiro dia de vivência no VER-SUS:
Visitamos o NASF (Núcleo de apoio da saúde da família) da região central. Foi criado
para resolver problemas da atenção primária, é composto por uma equipe de apoio e
não é porta aberta. A localidade depende da população a ser atendida, por exemplo,
se é sus-dependente. Na prática funciona da seguinte maneira: médico faz
atendimento no consultório, a situação problema é encaminhada para o Nasf, neste
lugar acontece uma conversa para elaborar uma estratégia de atendimento para o
paciente e em seguida dar-se o início do tratamento. O desafio abordado pelos
funcionários é para que a rede, a população, entenda que, é um núcleo de apoio e
assim desenvolver o real propósito do Nasf. Eu particularmente não conhecia sobre
esse serviço oferecido pelo SUS e achei de grande valor e resultados. Também
tivemos a oportunidade de nos encontrar com o governador do estado do Tocantins
para uma roda de conversa sobre a saúde, em especial a de Palmas-To, que era o
lugar visitado.
No período vespertino visitamos a Unidade Saúde da Família localizada na 712 sul.
Encontramos residentes de enfermagem, odontologia, medicina. Utilizam a estratégia
de divisão de equipes para o atendimento, assim assistem mais de 4 mil pessoas por
equipe, dando um total de aproximadamente 13 mil pessoas. A população matricida
por essa unidade não é totalmente sus- dependente. Fazem também teste do pezinho,
teste rápido, e diversas qualificações. Desenvolvem ainda trabalhos sociais como,
apoio às mulheres dependentes, atividades com idosos e uma vez por mês vão ás
chácaras que competem a eles o atendimento.
Quarto dia de vivência no VER-SUS:
No quarto dia pela manhã, todo o grupo visitou o DSEI- que é definido como uma
unidade gestora descentralizada, do subsistema, responsável pela execução de ações
de atenção à saúde nas aldeias e de saneamento ambiental e edificações de saúde
indígena. Neste local foram abordados á nós estudantes todo trabalho realizado pelo
DSEI, como também apresentados aos profissionais que fazem este trabalho. Até o
ano de 2009 a saúde indígena era coordenada pela FUNASA. O atendimento
acontece da seguinte forma: o usuário vai até o posto de saúde mais próximo de sua
comunidade, se for um caso mais complexo, existe um transporte para traze-los para
um atendimento pela rede, enquanto recebem o atendimento ficam hospedados na
CASAI (Casa de apoio à saúde indígena) ou hotel. Também foi citado sobre p PNASPI
(Plano nacional de atenção à saúde indígena) e SESI (Secretaria especial de saúde
indígena).
Logo após o debate seguimos a uma visita numa ocupação denominada Capadócia.
Um lugar de extrema carência, falta de saneamento básico, saúde, segurança, entre
outros. Os moradores não recebem nenhum tipo de matriciamento pela rede. Quando
necessitam de atendimento buscam aquele mais próximo geograficamente, porém não
são assistidos na promoção e prevenção à saúde. É uma realidade que poucos
conhecem, mas que é frequente. Mesmo que se trata de uma ocupação as pessoas ali
viventes são cidadãs e precisam ter o mesmo tipo de atenção e assistência como
qualquer outro usuário do SUS.
O período vespertino foi marcado com a visita no Laboratório Municipal de Palmas, foi
apresentado toda estrutura física e explicado que não se realiza exames de rotina
(hemograma, lipidograma, parasitológico...), estes, são encaminhados para o Lacen,
que é o laboratório de apoio e que também é responsável pelo controle de qualidade.
NO Laboratório Municipal realiza-se exames de agravos como leishmaniose,
tuberculose, dengue. As notificações são enviadas para secretaria de saúde.
Observamos neste local um equipamento que é destinado a realização de exames
para detecção de hepatite, porém não está em uso por falta de Kits para o mesmo.
Neste mesmo período tivemos um momento oportuno com o secretário municipal de
Palmas-To, com uma conversa produtiva, levamos problemáticas ouvidas durante
alguns dias de vivência, como também ouvimos o seu parecer como secretário.
Quinto dia de vivência no VER-SUS:
Pela manhã visitamos o SAMU. Neste departamento pude perceber a organização e
complexidade do serviço. As equipes estão sempre a postos para receber ligações, os
médicos de plantão dão as primeiras orientações para o atendimento, é o chamado
TARME (Técnico de atendimento de regulação médica). O SAMU recebe recurso
financeiro de todas as esferas, governo federal, estado e município. O localizado em
Palmas abrange outras regiões mais próximas. As unidades de transporte vão do
básico ao avançado, este último –e utilizado em casos de urgência. AS maiores
dificuldades enfrentadas hoje por este serviço são os carros sucateados, a falta de
padronização das macas, falta de um acompanhamento psicológico e falta d e
segurança. Foi uma visita prazerosa e de descobertas.
Na visita ao Hospital Infantil nesta III edição do VER-SUS tivemos a oportunidade de
vivenciar, na realidade, o serviço que o SUS (Sistema Único de Saúde) ali oferece. Ao
princípio nos deparamos com funcionários que estão em greve por falta de
pagamento, entre outros. Após conhecer toda estrutura física e conversar alguns
minutos com alguns funcionários destaco pontos fortes como empenho da equipe em
fazer um bom atendimento, a criação recente de um atendimento diferenciado para
mulheres que sofreram algum tipo de abuso sexual. Também outros pontos menos
favorecidos como a estrutura física, pois ainda que a direção organize da forma mais
estratégica possível, algumas salas deixam a desejar. Algumas como a sala de
brinquedos se destacam pelo ambiente muito agradável. Ainda sobre a estrutura,
agora no lado externo, observamos três estruturas metálicas retangulares, todas
climatizadas, que servem de reuniões em geral por não ter outro local mais propício a
este propósito. Nos deparamos com a situação de um garoto, que espera por uma
cirurgia em outro estado que custa 120 mil reais, a quase 7 meses, é justo dizer já foi
liberada uma verba de 60 mil reais, porém como não houve laudo médico para que
essa criança pudesse ser transferida por transporte aéreo ou terrestre o dinheiro foi
devolvido ao estado. A mudança constante de gestores também foi apontada como
uma das dificuldades. Questões práticas ajudariam ou minimizariam essa realidade,
como uma assistência aos servidores da saúde sendo no âmbito financeiro, ouvindo
em reuniões, constantes capacitações para todos, incluindo gestores, inclusive
procurar gestores que já tenham um conhecimento prévio da área da saúde, procurar
pensar em ter uma estrutura própria, bem arquitetada. Em suma, o corpo trabalhador
deste hospital atende com competência seus usuários, dentro de suas limitações,
utilizando para isso uma equipe multiprofissional, ressalvo os pontos que ainda
precisam ser melhorados, principalmente a valorização do funcionário, mas já citados
neste relatório. Observamos ainda que o que falta muitas vezes é o melhor
conhecimento por parte dos usuários pelo sistema. E o que faz o diferencial é ser um
profissional que trabalha por uma saúde solidária, com empenho, como também ter
um olhar crítico das situações, por exemplo, ao invés de só criticar o que está
acontecendo, melhor é dar valor ao que posso fazer diante do que está se passando.
Sexto dia de vivência no VER-SUS:
O sexto dia foi de constante deslocamento. Pela manhã visitamos o MST (Movimento
sem-terra). Bem recepcionados e acolhidos. Aqueles guerreiros nos contaram um
pouco da luta e algumas conquistas. É difícil imaginar pessoas vivendo em lugares
com difícil acessibilidade á praticamente tudo, saneamento básico, água, energia,
saúde, segurança. O acampamento fica ás margens de uma br e o número de famílias
é grande, consequentemente o de crianças também. Não estão satisfeitos e por isso o
contato com os poderes executivo e legislativo é constante. As crianças têm acesso á
educação. Aos poucos eles lutam para mudar essa realidade.
Logo após de nos deliciarmos com um almoço oferecido pelo MST, nos direcionamos
á aldeia Salto em Tocantínia. Como já era tarde, o tempo que lá passamos foi pouco.
Na conversa com o líder da aldeia nos deparamos com uma realidade diferente
daquela apresentada pelo DSEI em dias anteriores. Existe um técnico de enfermagem
que mora na aldeia. Outros profissionais como médico, enfermeiro, nutricionista,
aparecem por lá uma a duas vezes por mês. Muitos recorrem aos tratamentos
transmitidos pela própria cultura, ou quando é algo grave, solicitam um transporte para
ser levado até a rede. A aldeia visitada é referência para outras que ficam próximas,
pois nela foi construído um pequeno posto de saúde, mas que funciona de maneira
desorganizada. As crianças são vacinadas, começam a estudar em média aos sete
anos de idade em uma escola próxima, aprendem a língua cultural dos índios, como
também o português. A pesar do pouco tempo, foi uma rica experiência.
Sétimo dia de vivência no VER-SUS:
Neste último dia de VER-SUS separamos um momento de lazer, fomos até as
cachoeiras de Taquaruçu. No segundo momento fizemos a revelação do anjo e
encerramos essa edição.
Participar do VER-SUS foi de grande valia, cada visita, conversa, foram de extrema
importância para construir uma visão do Sistema Público de Saúde enquanto ainda
acadêmico. Em suma, quero ressaltar três pontos mencionados por um médico em
uma de nossas rodas de conversa, são eles:
1-eu não sou profissional da saúde-doença, e sim da saúde- solidariedade, empenho.
Não estou sozinho;
2-Como estou me preparando para conhecer os assuntos da saúde pública?
3- Menos crítica e mais valor ao que posso fazer diante do que está acontecendo.
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