dia 26 de janeiro - Rede-Observatório do Programa Mais Médicos

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RELATÓRIO DE VIVÊNCIA
FORTALEZA/CE 2016.1
Vivente: Soraya da Silva Trajano
CPF: 048.504.123 –51
Curso: Fisioterapia (Concluinte)
No dia 16 de janeiro de 2016 iniciou à minha vivência no VERSUS, estava contente e curiosa, não sabia ao certo o que iria
acontecer durante 13 dias convivendo com 42 pessoas que até
então eram desconhecidas para mim. Sendo assim, saí da minha
casa em direção ao alojamento Escola Nacional Florestan
Fernandes.
Ao chegar pela manhã, fomos recebidos com uma calorosa
acolhida, organizado pela comissão do VER-SUS com participação
do programa Cirandas da Vida, em que eles esclareceram o que
era o VER-SUS, Rede Unida e como seria a vivência. Em seguida,
teve uma atividade desenvolvida por Vera Dantas para a construção
da linha do tempo sobre a saúde e seus sujeitos, onde foram
resgatadas
algumas
palavras-chaves
como
ditadura
militar,
constituição de 88, chegada da família real no Brasil, Revolta da
Vacina, quilombos, índios, movimentos populares e reforma
sanitária.
Depois das atividades, nos preparamos para viajarmos para o
assentamento do MST (Maceió), localizado em Itapipoca/CE. Ao
chegarmos, houve um espaço onde a comissão organizadora falou
sobre organicidade pelo método Josué de Castro e a divisão de
NBs.
No dia 17 de janeiro, pela manhã, houve uma reunião para falar
sobre o local, a escola de educação básica do MST (Movimento
Trabalhadores Rurais Sem Terra), que funcionava há cinco anos,
pública e que tinha por objetivo facilitar o acesso a educação as
famílias do campo. Discutiu-se sobre o MST, sua história, sua
propagação, suas lutas e seus enfrentamentos. Relatou-se a
existência de uma unidade básica de saúde que ficava atrás da
escola onde era composta por um único PSF (Programa Saúde da
Família) e a dificuldade enfrentada por não se ter uma ambulância,
exceto quem pagava o plano funerário.
À tarde, teve um espaço cuja temática era “Desconstruir Rótulos”,
assistimos um vídeo “História das coisas” e depois apresentamos
uma encenação como devolutiva do que havia sido discutido. À
noite, teve um momento na praia da Baleia, onde foi convidado um
pescador participante do movimento do MST para falar para nós
sua história de vida naquele lugar.
No dia 18 de Janeiro, ainda no assentamento Maceió, teve um
espaço com a discussão sobre gênero e saúde, onde foi feita a
diferenciação entre homem e mulher onde se retrataram as
limitações biológicas na estereotipação de gênero. Discutiu-se
como deveria os profissionais de saúde referir-se a uma pessoa que
tem uma identidade diferente de sua orientação, tendo em vista,
sempre considerar forma como a pessoa gostaria de ser tratada. De
tarde estava previsto para irmos visitar o quilombo, porém não foi
possível e então retornamos para o nosso alojamento em Fortaleza.
No dia 19 de janeiro fomos visitar a Unidade de Acolhimento Silas
Munguba, localizado no bairro José Walter, funcionam 24 horas em
caráter residencial transitório. Relatado pela coordenadora que a
unidade possui 30 leitos de internamento para homens e mulheres
adultos dependentes químicos. O paciente pode ficar internado por
até 6 meses em tratamento com uma equipe multiprofissional. Para
acesso a unidade é preciso que o paciente venha encaminhado
pelo CAPs (Centro de Atendimento Psicossocial). Relatou-se
também a importância da proximidade do hospital Gonzaguinha
com a unidade, pois a medicação, roupas e alimentação são
fornecidas pelo mesmo. Analisei uma falha na unidade quando foi
dito que não havia um dialogo entre profissionais e família do
paciente, relatando que a família tanto poderia ajudar o paciente
como poderia destruir todo o processo de tratamento.
À tarde fomos conhecer o CAPS AD Dr. Airton Monte regional I,
localizado na Barra do Ceará, com funcionamento de 24 horas,
fomos recepcionados por Ticiana Neiva que mencionou a existência
de 14 Caps em Fortaleza divididos em Caps geral, Caps AD e Caps
infantil. Foi observado um ambiente agradável e acolhedor, com
plantas e flores assemelhando o espaço de um sítio. A estrutura
física do Caps é bem organizada, com espaço para biblioteca, sala
de repouso para os profissionais, sala de massoterapia, cozinha,
refeitório e salas climatizadas. Toda a equipe trabalha com a
política de redução de danos onde objetiva melhorar a qualidade de
vida do paciente.
A noite houve um debate sobre saúde mental, redução de danos e
medicalização. Foram interessantes algumas questões debatidas
como a cultura manicomial que acomete a violação dos direitos
humanos e a cultura da medicalização onde gera sofrimento.
Refletimos sobre até que ponto a medicalização pode contribuir na
melhoria da saúde mental do indivíduo.
Em 20 de janeiro, visitamos a unidade básica de saúde (UBS)
Lineu Jucá que se situa na Barra do Ceará. Nessa UBS atende
cerca de 30 mil pessoas que vivem em extrema vulnerabilidade
social. É realizado atendimentos por demanda espontânea e
atendimento domiciliar através da Estratégia Saúde da Família
(ESF).
A UB faz parceria com a rede Cuca Barra (Regional I), um
equipamento
público,
desenvolvido
para
a
juventude
da
comunidade oferecendo esporte, cultura e lazer a fim de trazer a
mudança da realidade, a alta vulnerabilidade social que os jovens
convivem. A forma que é conduzida as metodologias para lidar com
os diferentes grupos que faz a diferença. O cuca visa trazer
cenários distintos para a comunidade como forma de interação e
promoção de saúde. Trabalha-se o dialogo da equipe com a
comunidade ao invés da repreensão por meio da tecnologia leve.
A
médica
Tatiana
nos
convidou
e
nos
acompanhou
na
territorialização no Morro de Santiago, onde pudemos observar os
determinantes sociais de saúde na comunidade, nada favoráveis à
saúde, como, por exemplo, a presença de lixo no topo do morro
pode trazer consequências para a saúde
dos adultos e,
principalmente, crianças que costumam andar de pés descalços
pelo lixo.
Um fato que me chamou a atenção durante a territorialização, foi o
atendimento humanizado a comunidade por toda equipe de saúde.
Era notável o bom relacionamento e como isso estava fazendo a
diferença na vida daquelas pessoas.
À tarde, tivemos a oportunidade de conversar com uma ACS
(Agente comunitária da Saúde) onde esclarecemos dúvidas quanto
à realidade enfrentada por eles e os principais desafios. Foi bem
pontuado pela ACS a questão da falta de prestavidade dos
profissionais de saúde entre si.
À noite houve um espaço com o tema Saúde da Família discutindo
a importância do ACS, profissional de referencia e conhecimento
das dificuldades.
No dia 21 de janeiro, visitamos um terreiro cuja religião é o
candomblé onde se cultuam os orixás. Através dessa visita foi
possível desmistificar essa religião já que ela é bastante confundida
com umbanda ou macumba, e que assim como qualquer outra
religião precisa ser respeitada por suas crenças, costumes e
hábitos.
À tarde fomos visitar o espaço EKOBÉ da Uece onde ocorrem
práticas integrativas da saúde como o Reiki, massoterapia,
biodança, vivência de farmácia viva dentre outras atividades. Nós
participamos de uma atividade chamada de “Corredor do Cuidado”,
muito interessante, pois ressalta a importância de cuidar do outro
assim como também deixar ser cuidado pelo outro. Do meu ponto
de vista, o espaço revaloriza as práticas populares e/ou alternativas
em saúde que foram esquecidas trazendo como forma de promoção
de saúde.
A noite cada um recebeu um pedaço de pano para escrever ou
desenhar sobre as práticas de saúde que vivenciavam no cotidiano
e refletir sobre como a vivência no versus seria integrada na nossa
formação. O meu desenho retratou a união dos profissionais de
saúde, todos de mãos dadas, pois onde há união, há força para
mudar a realidade que vivemos.
No dia 22 de janeiro fomos a caminho da tribo indígena dos
Pitaguarys, localizado no município de Maranguape, lá pudemos
perceber a busca pela manutenção da cultura indígena assim como
também foi relatado suas lutas para demarcação do seu território. À
tarde visitamos um polo de saúde indígena onde realiza
atendimento por demanda livre, foi observado a falta de
saneamento básico e a falta de água potável. A noite foi realizada
uma roda de conversa onde foi discutido saúde integral das
populações específicas.
No dia 23 de janeiro fomos para os quatro banhos em Sabiaguaba,
uma experiência divertida em que pudemos sentir e tocar os 4
elementos terra, ar, fogo e água. Primeiramente teve um banho com
argila terapêutica, depois caminhamos por volta da praia recolhendo
o lixo ali presente onde fomos até a trilha do mangue e encerramos
na praia com um banho para lavar-nos.
No dia 24 de janeiro, pela manhã conhecemos o que era a
biodança e seus principais elementos que são criatividade,
sexualidade, transversalidade, afetividade e vitalidade. O que mais
me chamou atenção na dança é que ela renova as energias, traz
paz e bem estar consigo mesmo.
Ao restante do dia tivemos duas brilhantes formações onde foi
discutida a formação para o SUS, na perspectiva da educação
permanente em saúde onde foi muito bem pautado a importância do
quadrilátero ensino, atenção, gestão e controle social. Em seguida
teve um espaço falando sobre a Política Nacional de Humanização
e depois assistimos um documentário sobre o Caldeirão da Santa
Cruz do Deserto.
No dia 25 de janeiro, visitamos o Hospital Infantil Albert Sabin
(HIAS) e conhecemos o seu funcionamento, estrutura e os
residentes e profissionais de saúde. Fomos ao Hospital Peter Pan,
uma entidade sem fins lucrativos, cujo qual a referida unidade
hospitalar é um anexo do hospital HIAS, porém não é dentro do
hospital fica por detrás, tem atendimento especializado no
tratamento do câncer.
À tarde fomos a Escola de Saúde Pública do Ceará, onde
explicaram sobre a residência multiprofissional e como aconteciam
os processos seletivos. Pude entender a sua importância para o
fortalecimento do SUS. À noite fomos para a roda de conversa ouvir
sobre a Privatização do SUS.
No dia 26 de janeiro, visitamos o Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua (CENTRO POP)
que realiza atendimentos coletivos, oficinas e atividades de convívio
e socialização, além de ações que incentivem o protagonismo e a
participação social das pessoas em situação de rua. Promove
acesso a espaço de guarda de pertences, de higiene pessoal, de
alimentação, provisão de documentação e endereço de referência
do usuário. O CENTRO POP ainda tem muito a ser melhorado,
principalmente em sua infraestrutura, observa-se um espaço pouco
arejado, pouco iluminado e com um espaço não adequado para
desenvolver as atividades.
No dia 27 de janeiro, iniciamos a manhã na Secretária Municipal de
Saúde onde pudemos indagar à coordenadora questões sobre o
mapa estratégico da Secretária, como era feito o controle social,
como funcionava as redes de atenção e outras perguntas a mais
que foram respondidas superficialmente deixando um ponto de
interrogação em nossos pensamentos.
Por fim, no dia 28 de janeiro, último dia da vivência, fomos entregar
uma devolutiva ao Morro de Santiago, lugar escolhido por nós,
porque foi impactante e despertou uma mistura de sentimentos
como o amor ao próximo, a admiração pelos profissionais de saúde
que atuam ali, a indignação pelas condições desumanas e
desfavoráveis à vida. Retratamos na devolutiva o morro, a unidade
básica de saúde, o cuca e a ponte.
Como considerações finais, gostaria de agradecer a comissão
organizadora que cumpriu com toda programação dentro das
possibilidades. Reafirmo que hoje, depois do VER-SUS, fui
transformada e tocada por esse projeto, eu obtive mudanças
positivas que contribuíram no meu crescimento pessoal e
acadêmico. O VER-SUS me mostrou a realidade do SUS de uma
forma singular e ao mesmo tempo cheio de pluralidades, em que
pude perceber que depende de mim e de nós continuarmos na luta
por melhorias nos atendimentos em saúde para que seja com mais
qualidade e humanização.
O SUS funciona sim, porém ele tem suas falhas, e é preciso
coragem para enfrentar e intervir nas adversidades e não nos
mantermos parados diante dos problemas.
A oportunidade de estar junto com outros estudantes de diferentes
cursos da saúde ajudou a compreender determinadas situações
com o olhar de outro profissional e isso foi muito enriquecedor. Por
fim, encerro meu relatório com a seguinte frase que me marcou
“Essa luta é nossa, essa luta é do povo, é só lutando que se
constrói um Brasil novo”. E é assim que desejo continuar meu pós
VER-SUS, com garra, determinação e atitude na busca pela
construção e até mesmo desconstrução de uma saúde para todos.
VER-SUS 2016.1
Conquistando Corações e Mentes!!!
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